Tudo aconteceu da forma mais inesperada possível, e a questão agora é: até quando isso vai durar?
O ouro e o paládio, os dois metais mais valiosos do planeta, estão registrando novos picos em 2020. No caso do paládio, é uma retomada das máximas recordes vistas no mês passado. Os analistas estão divididos a respeito desses ralis e da sua duração.
“O complexo dos metais industriais continua subindo gradativamente, na expectativa de uma forte recuperação após os efeitos do coronavírus, mas o apetite para os ativos de segurança ainda parece insaciável”, declarou em nota a consultoria TD Securities.
“Os metais preciosos e os títulos do Tesouro americano continuam apresentando forte demanda, mas o tamanho médio das posições dos operadores ainda não é excessivo, o que mitiga de certa forma o risco de uma corrida para encerrar essas posições. De fato, seria necessária uma mudança na narrativa do mercado para que houvesse um declínio no posicionamento do ouro, com a redução do número de operadores comprados."
O ouro rompeu a resistência de US$ 1.600 por onça na terça-feira (18) pela primeira vez em seis semanas, retornando para um importante nível psicológico altista que atingiu pela última vez durante as tensões entre EUA e Irã, após o governo Trump assassinar Qassem Soleimani, um dos principais generais do país persa.
Embora a retomada dos US$ 1.600 não parecesse ser tão difícil para os investidores do ouro, o mais curioso foi o que fez o mercado chegar a esse patamar. A disparada do ouro na terça-feira foi provocada, entre outros fatores, por um alerta da Apple (NASDAQ:AAPL) referente às suas receitas. A empresa de tecnologia mais valiosa do mundo afirmou que a disseminação do Covid-19 evitará que suas previsões de receita sejam atingidas no segundo trimestre fiscal, devido à queda na produção e nas vendas na China, onde mantém um importante centro industrial, além de ser um dos seus maiores mercados de iPhones.
A bem da verdade, os mercados acionários ao redor do mundo sucumbiram, junto com Wall Street, às últimas estatísticas chinesas sobre o Covid-19, que mostraram um acréscimo no número de infecções para 72.436 na manhã de terça-feira, uma alta de quase 1.888 casos em relação ao dia anterior, e o número de mortos passou de 1.770 para 1.868.
Isso fez com que os investidores corressem para os ativos de segurança, provocando o rompimento da resistência de US$ 1.600 no ouro.
Embora tanto o mercado futuro quanto à vista do metal amarelo estivessem prestes a registrar novas máximas em 2020 durante o pregão asiático desta quarta-feira (19), ainda não estava claro se o {{[0|ouro}} tinha mais espaço para subir na rodada atual.
No momento em que escrevo, os futuros do ouro com entrega em abril na COMEX de Nova York haviam atingido a máxima intradiária de US$ 1.608,55 por onça. Já o ouro spot alcançava o pico de US$ 1.605,40.
“A média móvel de 55 dias, a 87,15, está acima da média móvel de 200 dias, a 87,085, desde segunda-feira (17), fornecendo o primeiro nível de suporte técnico em caso de queda”, afirmou a corretora online Oanda, em uma nota técnica sobre os futuros do ouro.
A Eagle FX, outra corretora, afirmou que a ação no ouro está sendo respaldada por aspectos técnicos no gráfico diário, mas “o estocástico sobrecomprado serve de alerta aos investidores para possíveis ventos contrários”.
Um eventual retorno e fechamento abaixo de US$ 1.572 seria um sinal de fraqueza nos futuros do ouro, deteriorando a estrutura de curto prazo e desincentivando a entrada de novos investidores.
Quanto ao paládio, o recorde de quarta-feira no mercado futuro ocorreu a US$ 2.755,90, enquanto o preço spot chegou a atingir US$ 2.843,50.
A história de alta do paládio é a mesma apresentada no mês passado: uma crise no fornecimento de energia na África do Sul, principal país produtor, gerando um gargalo na produção do metal usado em catalisadores automotivos.
Apesar de essa ter sido uma desculpa perfeita para a corrida anterior no paládio, agora existe mais um problema: a disseminação do Covid-19 e seu impacto nas indústrias chinesas, principalmente no setor automotivo.
Chris Griffith, CEO da Anglo American Platinum (OTC:ANGPY), afirmou na terça-feira que havia sinais de que a demanda do paládio estava começando a se enfraquecer por causa dos preços elevados.
Griffith acredita que os fabricantes automotivos podem começar a usar mais platina – que custa quase US$ 1.500/onça mais barato do que o paládio – como substituto para catalisadores em motores à gasolina. A platina, que também é um material purificador de emissões dos motores, é geralmente usada em veículos a diesel. Alguns fabricantes automotivos dizem que, embora a substituição seja lógica por razões econômicas, os custos de reestruturação das linhas de montagem podem dissuadir algumas empresas.
O paládio é “o mercado mais disfuncional que já vi na minha vida”, declarou Michael Widmer, analista de metais do Bank of America, em entrevista ao periódico The Wall Street Journal, apontando os cortes e as interrupções na maioria dos fabricantes automotivos com operações na China.