História do Islão: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Arabian Peninsula dust SeaWiFS.jpg|thumbnail|150px|A [[Península Arábica]], local de nascimento do Islão]]
 
AO [[islã|Free]] fire(ou éislão, jogoem de corno[[Portugal]]) nasceu na [[Arábia]], região à qual os [[árabes]] se referem como ''Jazirat Al-'Arab'', "a ilha dos árabes", o que denota o seu carácter isolado, separada da [[África]] e da [[Ásia]] pelo mar. É uma região inóspita marcada pela presença do [[deserto]], onde a água é um bem raro.
 
Distinguem-se na [[península Arábica]] três grandes conjuntos geográficos:
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*O Sul, região conhecida como a "Arábia Feliz", que recebia a chuva trazida pelas [[monção|monções]]. É a terra do [[incenso]], onde viviam populações sedentárias.
 
=== Contexto político, social e religioso ===
Antes do advento do islão, os árabes não formavam uma unidade política coerente. Nos inícios do {{séc|VI}} a Arábia posiciona-se em torno de dois impérios que se defrontam. A oeste, [[Império Bizantino|Bizâncio]], cristã e herdeira de Roma, dominava o norte de África, a [[Palestina (região)|Palestina]], a [[Síria (região)|Síria]], a [[Anatólia]], a [[Grécia]] e o Sul da [[Itália]]. A Leste, o [[Sassânida|Império Persa Sassânida]] ocupa uma área que corresponde aos atuais [[Iraque]] e [[Irão]] e tinha como religião oficial o [[zoroastrismo]], mas nele também viviam cristãos, judeus e maniqueus. A oeste da Arábia situava-se a [[Abissínia]], que professava o cristianismo copta.
 
A base desta sociedade era a tribo que reunia descendentes de um mesmo antepassado. Uma tribo era composta por vários clãs, e agrupava famílias alargadas que se encontram sob a autoridade de um homem. Algumas tribos eram sedentárias e outras eram nómadas (beduínos). As tribos viviam em guerra constante.
 
Do ponto de vista religioso, a Arábia era a terra do politeísmo, mas também viviam nela comunidades monoteístas. Tribos judaicas, talvez chegadas à península Arábica após a destruição do [[Segundo Templo]] em 70, formavam comunidades que habitavam os locais de Fardaque e [[Iatrebe]], nome pré-islâmico da cidade de [[Medina]]. Algumas tribos da Arábia setentrional tinham se convertido ao [[monofisismo|cristianismo monofisitamonofisista]] ou ao [[nestorianismo|cristianismo nestoriano]]. Influências zoroastrianas e cristãs faziam-se sentir a sul, no [[Iêmem]].
 
As principais divindades eram adoradas sob a forma de uma árvore ou de um bétilo (pedra sagrada). Alguns bétilos eram transportáveis e acompanhavam os nómadas nas suas deslocações. Os Árabes erguiam santuários e sacrificavam animais em sua honra. Outras práticas religiosas incluíam o jejum e a peregrinação. Acreditava-se igualmente na presença dos ''djins'', espíritos, alguns dos quais tinham um carácter maligno.
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A 12 de ''Rabi-al-awwal'' (terceiro mês do calendário árabe), no ano do Elefante - o que corresponde a 570/571 da era cristão - nasce em Meca um homem que viria a alterar a história da Arábia e do Mundo. O seu nome era Maomé (''Muhammad'').
 
Maomé era filho de AbduláAbedalá e de Amina. O seu pai faleceu pouco antes do seu nascimento e a sua mãe quando ele tinha seis anos. O menino teve como tutor o avô Abdul Mutalibe e depois o seu tio Abu Talibe. Maomé pertencia a um clã empobrecido da poderosa tribo dos Coraixitas (''Quraysh'', "tubarão"), os [[hachemitas]]. O poder dos Coraixitas advinha do facto de controlarem o santuário da Caaba. Maomé tornou-se um mercador, realizando nesse contexto viagens à Síria; aos vinte e cinco anos casou com uma rica viúva de nome Cadija.
 
Maomé tinha por hábito jejuar e meditar nas montanhas próximas de Meca. Por volta de 610, aos quarenta anos e enquanto fazia um desses retiros espirituais na montanha Hira, ele experimentou uma revelação divina. Um ser misterioso (''Jibril'', o [[Gabriel (arcanjo)|arcanjo Gabriel]]) ordenou-lhe que recitasse; vencida a hesitação inicial, Maomé recitou aquilo que viria a ser a primeira revelação do livro que mais tarde seria compilado como o [[Corão|Alcorão]].
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A comunidade muçulmana decidiu convocar a ''Nidwa'' (Assembleia) para resolver o impasse e nomear um novo líder, que recebeu o título de califa (''khalifa'', "representante"). Nos anos que se seguiram à morte de Maomé houve quatro califas, aos quais os muçulmanos se referem como os "Califas Bem Guiados" (''al-Khulufa al-Rashidun'').
 
O primeiro foi [[Abu BaquirAbacar]] {{nwrap|r.|632|634}}, um dos sogros de Maomé e um dos seus companheiros mais próximos, encarregado por ele de dirigir a oração quando a sua doença o impedira de fazê-lo pessoalmente. Apesar de só ter governado dois anos, o seu califado foi determinante na medida em que consolidou o islão na península Arábica. Após a morte de Maomé, algumas tribos de beduínos tinham abandonado o Islão e entendiam que não deviam lealdade à Abu BaquirAbacar. Para além disso, vários homens que se apresentavam como profetas geravam agitação. A revolta dos beduínos ficou conhecida como Rida ([[:wikt:apostasia|apostasia]]) e foi solucionada por Abu BaquirAbacar através da diplomacia e do recurso à força militar.
Uma vez unificada a Arábia, o califa [[Omar]] {{nwrap|r.|634|644}}, nomeado por Abu BaquirAbacar para o suceder antes da sua morte, centrou-se na expansão do Islão para fora da península. As suas primeiras conquistas territoriais ocorreram na Síria, com a tomada da cidade de [[Damasco]] (635). Em 638, é a vez de [[Jerusalém]]. Ao mesmo tempo, as tropas islâmicas avançavam para leste em direção à Mesopotâmia e à Pérsia. O [[Império Sassânida|Império Persa Sassânida]] encontrava-se numa situação bastante debilitada devido às guerras com Bizâncio e não foi difícil para as forças islâmicas vencer a decisiva [[Batalha de Cadésia]], perto do rio [[Rio Eufrates|Eufrates]]. As tropas islâmicas continuam o seu avanço e [[Cerco de Ctesifonte (637)|conquistam a capital]] do [[Império Sassânida]], [[Ctesifonte]] (637). Avançam igualmente em direcção ao ocidente e em 642 conquistam a cidade de [[Alexandria]], no Egito. Nos territórios conquistados foram instituídos dois tributos, caraje (incidindo sobre a produtividade da terra) e ''jizya'' (garantia da liberdade religiosa para os não muçulmanos).
 
Após a morte de Omar em 644 - assassinado por um cristão persa - é eleito um genro do profeta, [[Otomão]] {{nwrap|r.|644|656}}, que continua a obra de expansão territorial. Em 647, envia uma expedição militar para oeste do Egito, naquilo que era território bizantino. A ilha de [[Chipre]] é conquistada em 649 e por volta de 653 toda a Pérsia encontrava-se submetida ao seu poder (conquista da província oriental de [[Coração (região histórica)|Coração]]). É geralmente aceite que o primeiro contacto da [[China]] como o islão ocorreu durante este califado, quando Otomão enviou, em 650, uma embaixada presidida por [[Sa’ad ibn Waqqas]] (um tio materno do profeta) ao imperador chinês [[Yung-Wei]]. A missão não logrou converter o imperador ao Islão, mas este mostrou-se interessado pela religião e permitiu a construção de uma mesquita em [[Quanzhou]].
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Com a morte de Otomão gerou-se uma certa confusão em torno de quem deveria ser o novo califa. Para alguns era claro que essa honra deveria ter recair sobre [[Ali]], que já tinha sido excluído do califado três vezes seguidas após a morte de Maomé. Ali era casado com [[Fátima (filha de Maomé)|Fátima]], uma das filhas do profeta, com que tinha tido os únicos descendentes de Maomé. Outra facção apoiava o primo de Otomão, Moáuia.
 
Ali foi eleito califa em 656, mas foi contestado não só por Moáuia, mas também por [[Talha]]{{dn}} e [[AbduláAbedalá ibne ZubairZobair]], dois companheiros de Maomé, e por [[Aixa]], uma das viúvas do profeta. Na [[Batalha do Camelo]] (Dezembro de 656) Talha e ZubairZobair foram mortos e Aixa feita prisioneira. Em Julho de 657 as forças de Ali e Moáuia enfrentam-se na [[Batalha de SiffinSifim]], mas nenhum dos lados consagra-se como vencedor. Ali concorda então com uma arbitragem proposta por Moáuia, que terminou na nomeação deste como califa. Uma parte dos apoiantes de Ali entendeu que ele procedeu incorrectamente ao aceitar a arbitragem e retirou-se, dando origem à primeira cisão no islão, a dos [[carijitas]]. Outro partido permaneceu fiel a Ali e às suas pretensões ao califado e deu origem aos [[xiitas]].
 
Ali foi assassinado por um carijita em 661 em [[Cufa]] e Moáuia alcança o poder. A esta guerra civil no coração do Islão, que chocou muitos muçulmanos, a historiografia muçulmana chamou de a "tormenta maior".
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{{lknb|Moáuia|I}} {{nwrap|r.|661|680}} divide o império em províncias e coloca à frente de cada uma um governador. Nomeia o seu filho {{lknb|Iázide|I}} como seu sucessor, o que gerou nova contestação, pois Iázide era conhecido por ser um debochado. Iázide {{nwrap|r.|680|683}} enfrentou a oposição do filho mais novo de [[Ali]], [[Huceine ibne Ali|Huceine]], que parte de Meca com um grupo de apoiantes em direcção a Cufa. Em [[Carbala]], a 10 de Outubro de 680, ele e os seus homens foram derrotados pelo exército enviado por Iázide, apenas tendo sobrevivido dois dos seus filhos. O evento marcou a mente dos xiitas, que todos os anos recordam o massacre de Hussein num festival de penitência e de luto conhecido como [[Ashura]].
 
Após a morte de Iázide, a sucessão recaiu sobre o seu filho {{lknb|Moáuia|II}} que governou por alguns meses. Desencadeia-se uma pequena luta de sucessão, da qual saiu como califa {{lknb|Maruane|I}} {{nwrap|r.|684|685}}. Maruane I foi sucedido pelo seu filho [[AbdalAbedal MaliqueMaleque ibne Maruane]].
 
AbdalAbedal MaliqueMaleque ibne Maruane {{nwrap|r.|685|705}} fez do árabe a língua da administração, substituindo o [[língua grega|grego]] e o [[língua persa|persa]] nos locais em que estas línguas tinham continuado a ser utilizadas. Ele também introduziu um novo modelo de cunhagem de moedas, do qual se eliminaram os símbolos cristãos e zoroastrianoszoroastristas, substituídos por inscrições em árabe que proclamavam a unicidade de Deus.
 
Entre 680 e 692 ocorreu uma segunda guerra civil no mundo islâmico. Desta feita o movimento foi liderado pelos ''[[mawalimaula]]''s, os muçulmanos não árabes que se sentiam discriminados pelos muçulmanos árabes.
 
Em 711, durante o reinado de {{lknb|Ualide|I}} {{nwrap|r.|705|715}}, o islão alcançou a [[Península Ibérica]]. O [[Reino Visigótico]] que ali existia encontrava-se decadente, dilacerado por problemas internos. A invasão foi liderada por [[Tárique]], um [[Berberes|berbere]]. A população judia, que tinha experimentado perseguições durante os últimos tempos do reino visigodo, apoiou e facilitou a entrada dos muçulmanos; por volta de 714 já quase toda a Península estava conquistada. Uma parte da população converteu-se ao islão, mas a conversão forçada não foi uma característica do governo dos Omíadas, que se revelaram tolerantes em relação a outras religiões. Outra parte da população permaneceu cristã, mas aderiu à língua e à cultura árabe (os [[moçárabe]]s). Em 720, os exércitos islâmicos ultrapassam os [[Pirenéus]], mas a vitória de [[Carlos Martel]] em [[Batalha de Poitiers (732)|Poitiers]] trava a expansão do islão na Europa Ocidental.
 
Na [[Ásia]], os árabes tornaram-se senhores do [[SindSinde]]e e de uma parte de [[Panjabe]] entre os anos de 711 e 713. A conquista foi liderada pelo general [[Maomé ibne AlcacimAlcácime]], que não discriminou a população local [[Budismo|budista]] e [[Hinduísmo|hindu]]; tomando conhecimento de que estes povos possuíam escrituras sagradas, tratou-os como ''[[dhimmis]]'' ("Povos do Livro"), tal como era hábito considerar judeus ou cristãos. Este foi o primeiro momento da entrada do Islão na [[Índia]]. Na Ásia, salienta-se ainda a conquista do [[Afeganistão]], da [[Transoxiana]] e da [[Sogdiana]].
 
Uma série de intrigas palacianas marcou o reinado dos últimos Omíadas. Os opositores à dinastia omíada, durante a qual a religião foi relegada para um segundo plano, uniram-se a um grupo liderado pelos descendentes de um tio do profeta Maomé, [[Abas (tio de Maomé)|Abas]], ficando por isso conhecidos como os [[Abássidas]]. Os Abássidas prometeram aos seus apoiantes que a religião teria um papel mais central se tomassem o poder e que as diferenças entre os muçulmanos árabes e os não árabes terminariam. Desencadeando a revolta a partir da província do [[CoraçãoGrande (Irã)Coração|Coração]], tomam o poder em 750. Todos os membros da família omíada foram exterminados, com excepção de {{lknb|Abderramão|I}} que fugiu para a [[Península Ibérica]] onde fundou um estado.
 
== Califado Abássida {{nwrap|750|1258}} ==
{{AP|Califado Abássida}}
Composta por 37 califas, o [[Califado Abássida]] foi iniciada com [[AçafaAçafá]]. O seu sucessor, [[Almançor (califa abássida)|Almançor]] {{nwrap|r.|754|775}}, mudou a capital do império em 762 para [[Bagdade]], uma cidade construída para servir esse propósito. A influência persa vai predominar na vida política do califado e a nível cultural o fundo árabe mistura-se com elementos persas, sírios e indianos.
 
Os xiitas tinham sido apoiantes dos abássidas na sua investida pelo poder; porém os abássidas abandonam as pretensões destes em pouco tempo. Em 786, em Meca, ocorreu um massacre de descendentes de Ali. Alguns conseguiram fugir e estabelecem em 789 o reino independente dos [[Idríssidas]] no actual território de [[Marrocos]], que perdurará até ao {{séc|X}}.
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Por volta de 945 o território que é hoje o [[Iraque]] caiu nas mãos da dinastia dos emires [[buídas]], antigos prefeitos do palácio abássida.
 
O islão prosseguiu o seu avanço na Ásia, começando a atingir as populações do Turquestão Ocidental. No início do {{séc|XI}} a casa dos turcos [[Império GaznévidaGasnévida|gaznévidasgasnévidas]], com o sultão [[Mahmud de Gázni]] {{nwrap|r.|998|1030}}, lança grandes incursões muçulmanas na [[Subcontinente Indiano|Índia]].
 
Em 1055 os [[turcos seljúcidas]] colocam o califado abássida sob sua tutela e torna-se defensores da ortodoxia sunita contra os fatímidas xiitas do Egito. Os seljúcidas constituem um império que começava no Turquestão e englobava todo o Próximo Oriente.