Prefeitura pretoriana da África: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m →‎Bibliografia: Robô a corrigir língua não reconhecida de predefinição de citação
 
(Há 42 revisões intermédias de 3 utilizadores que não estão a ser apresentadas)
Linha 1:
{{Ver desambig||África (desambiguação)}}
[[Imagem:Karte aus dem Buch Römische Provinzen von Theodor Mommsen 1921 09.jpg|500px|thumb|Mapa das [[província romana|províncias romanas]] no [[norte da África]]: à esquerda, a região da ''Mauritânia'' (dividida em ''[[Mauritânia Tingitana|Tingitana]]'' e ''[[Mauritânia Cesariense|Cesariense]]'') e à direita (e no detalhe), a [[Numídia]]. Ao norte, a [[Hispânia]].]]
{{Mais notas|data=março de 2020}}
 
{{Info/Subdivisão extinta
A '''Prefeitura pretoriana da África''' ({{lang-la|'''''praefectura praetorio Africae'''''}}) foi uma grande subdivisão do [[Império Romano do Oriente]], fundada após a reconquista da região noroeste da África das mãos dos [[vândalos]] em 533-534 pelo [[imperador bizantino|imperador]] [[Justiniano I]]. Ela continuou a existir até o final da década de 580, quando foi substituída pelo [[Exarcado da África]].
|native_name = {{Smallcaps|Praefectura praetorio Africae}}
|conventional_long_name = Prefeitura pretoriana da África
|common_name = Prefeitura da África
|continent = África
|subdivision = [[Prefeitura pretoriana|Pref. pret.]]
|nation = [[Império Romano do Oriente]]
|era = [[Antiguidade Tardia]]
|capital = [[Cartago]]
|title_leader = [[Prefeito pretoriano]]
|
|image_map = Karte aus dem Buch Römische Provinzen von Theodor Mommsen 1921 09.jpg
[[Imagem:Karte|image_map_caption aus= dem Buch Römische Provinzen von Theodor Mommsen 1921 09.jpg|500px|thumb|Mapa das [[província romana|províncias romanas]] no [[norte da África]]: à esquerda, a região da ''Mauritânia'' (dividida em ''[[Mauritânia Tingitana|Tingitana]]'' e ''[[Mauritânia Cesariense|Cesariense]]'') e à direita (e no detalhe), a [[Numídia]]. Ao norte, a [[Diocese da Hispânia]].]]
|
|life_span = {{dtlink|||534}}–{{ca.}} {{dtlink|||590}}
|year_start = 534
|event_start = [[Guerra Vândala|Conquista do Reino Vândalo]]
|year_end = 590
|event_end = Criação do [[Exarcado de Cartago]]
|event1 = Fim das [[guerras mouras]]
|date_event1 = 548
|p1 = Reino Vândalo
|p2 =
|s1 =Exarcado da África
|s2 =
}}
A '''Prefeitura pretoriana da África''' ({{lang-la|'''''praefectura praetorio Africae'''''}}) foi uma grande subdivisão do [[Império Romano do Oriente]], fundada após a reconquista da região noroeste da África das mãos dos [[vândalos]] em 533-534 pelo [[imperador bizantino|imperador]] [[Justiniano I]]. Ela continuou a existir até o final da década de 580, quando foi substituída pelo [[Exarcado da África]].
 
== História ==
=== Fundação ===
{{AP|prefixo=Mais informações|Guerra Vândala}}
Em 533, o [[exército romano]] liderado por [[Belisário]] derrotou o [[Reino Vândalo]] que se estabelecera nos antigos territórios romanos no [[norte da África]]. Imediatamente depois da vitória, em abril de 534, o imperador Justiniano [[:wikt:outorgar|outorgou]] uma lei sobre a organização administrativa dos territórios recém-conquistados. As antigas províncias da [[Diocese da África|diocese romana da África]] foram, em grande parte, preservadas pelos vândalos, mas extensos territórios, incluindo quase toda a ''[[Mauritânia Tingitana]]'', a maior parte da ''[[Mauritânia Cesariense]]'' e da ''[[Mauritânia Sitifense]]'', além de grandes extensões do interior da [[Numídia]] e ''[[Bizacena]]'', se perderam para as cada vez mais próximas tribos [[berberes]], chamadas coletivamente de [[mauros]] (''mauri'' ([[mouros]]). Mesmo assim, Justiniano restaurou as antigas subdivisões administrativas e elevou o governador geral de [[Cartago]] à posição suprema de [[prefeito pretoriano]], encerrando assim a tradicional subordinação administrativa da Diocese da África à [[Prefeitura Pretorianapretoriana da Itália|Prefeitura da Itália]] (que estava, na época, sob controle dos [[ostrogodos]]). Sete províncias - sete delas consulares e três ''praesides''[[presidente (Roma Antiga)|presidentes]] - foram criadas:
{{citação2|A partir da já mencionada cidade [Cartago], com a ajuda de Deus, sete províncias com seus próprios juízes devem ser controladas, das quais Tingi, Cartago, [[Bizácio]] e Trípoli, anteriormente sob a jurisdição de [[procônsul|procônsul]]es, deverão ter governantes [[consularis|consularesconsular]]es (''consularis''); enquanto que as outras, nomeadamente, Numídia, Mauritânia e Sardenha deverão, com a ajuda de Deus, se sujeitar a [[praeses|governadores]]presidente.|''[[CodexCódigo de IustinianusJustiniano]], I.XXVII''}}
 
Deve-se assumir que ''Mauritânia Tingitana'', tradicionalmente parte da [[Diocese da EspanhaHispânia]] (na época sob o [[VisigotiaReino Visigótico|controle dos visigodos]]), foi temporariamente extinta enquanto província separada no esquema de Justiniano e fundida com a ''Mauritânia Cesariense'' para formar a província governada a partir de [[Tânger|Tingi]], e que "Mauritânia" se refere a ''Mauritânia Sitifense''.<ref>Julien (1931, v.1, p.260-61)</ref>. É importante também notar que a [[Sardenha]] foi formalmente retirada do controle italiano e anexada pela África.
 
A intenção de Justiniano era, nas palavras do historiador [[J.B. Bury]], ''"eliminar todos os resquícios da conquista vândala, como se ela jamais tivesse ocorrido"'' .<ref>Bury (1923), Vol. II, p. 139</ref>. As igrejas foram devolvidas ao clero [[calcedonianos|calcedoniano]] e os [[arianos]] que restaram sofreram perseguições. Até mesmo a propriedade das terras foi restaurada à situação anterior à conquista vândala, ainda que a falta de escrituras de posse válidas após mais de 100 anos de controle vândalo tenham provocado um caos administrativo e jurídico.
 
A administração militar era liderada pelo novo posto de ''[[magistermestre militumdos soldados da África]] (''magister militum Africae''), com um [[mestre de infantaria]] (''magister peditum'') subordinado e quatro comandos de fronteira regionais ([[Léptis Magna]] para [[Tripolitânia (província romana)|Tripolitânia]], [[Gafsa|Capsa]] ou [[Telepte]] para Bizacena, [[Cirta]] para Numídia e [[Cherchell|Cesareia]] para Mauritânia<ref>Julien (1931: v.1, p.261)</ref>) sob ''[[duxduque (Roma Antiga)|ducesduque]]''s. Esta nova organização foi se estabelecendo gradualmente conformo os romanos iam afastando os ''mauri''mauros e reconquistando os territórios.<ref>Bury (1923), Vol. II, p. 140</ref>.
 
{{Âncora|Guerras mouras}}
 
=== As guerras mouras ===
[[Imagem:The Byzantine State under Justinian I-pt.svg|thumb|upright=1.3|[[Império Bizantino]] sob o [[imperador bizantino|imperador]] [[Justiniano I]], {{ca.}} 565.]]
 
Quando os romanos desembarcaram na África, os mouros permaneceram neutros, mas, após as rápidas vitórias romanas, a maior parte das tribos se bandeou para o lado romano. As mais importantes delas eram a dos leuatas, em Tripolitânia, e dos ''frexi''freixos em Bizacena. Estes e seus aliados eram liderados por [[Antalas]], enquanto que as outras tribos da região seguiam [[CutzinasCusina]]. Os aurásios (tribos dos [[montes Aurès[[Orés]]) na Numídia eram liderados por [[IaudasJaudas]] e os mouros mauritâneosmauritanos eram liderados por [[Mastigas]] e [[Masuna]].<ref>Bury (1923), Vol. II, p. 142, note 52</ref>.
 
==== A primeira revolta moura ====
Depois que Belisário voltou para Constantinopla, ele foi sucedido na posição de ''magistermestre militumdos soldados da Africae''África por seu ''[[domesticusdoméstico (Império Romano)|domesticusdoméstico]]'' (principal assessor), o [[eunuco]] [[Salomão (general)|Salomão]] de [[Dara (Mesopotâmia)|Dara]]. As tribos dos Maurimauros que viviam em [[Bizacena]] e na [[Numídia]] quase que imediatamente se rebelaram e Salomão marchou com suas forças, que incluiamincluíam tribos mouras aliadas, contra eles. A situação era tão crítica que Salomão também foi encarregado da autoridade civil, substituindo o primeiro prefeito, [[Arquelau (prefeito pretoriano)|Arquelau]], no outono de 534. Salomão conseguiu derrotar os ''mauri''mauros de Bizacena em MammaMama e, novamente, desta vez decisivamente, na batalha[[Batalha dode monte BourgaonBurgaão]] no início de 535. No verão, ele iniciou a campanha contra Iabdas e os ''aurasii''aurásios, que estavam devastando a Numídia, mas não teve sucesso. Salomão então começou a erigir fortalezas ao longo das fronteiras e das principais estradas, esperando assim conter [[raide]]s mouros.
 
{{Âncora|Motim militar de Stotzas}}
==== Motim militar ====
Na [[Páscoa]] de 536, porém, uma revolta militar em larga escala irrompeu, provocada pela insatisfação dos soldados com Salomão. Ele, juntamente com [[Procópio de Cesareia|Procópio]], que era seu secretário, conseguiram escapar para a Sicília, que [[Guerra Gótica (534-554535–554)|havia sido recém-conquistada]] por Belisário. Os tenentes de Salomão, MartinoMartinho e Teodoro, ficaram para trás, o primeiro tentando alcançar as tropas na Numídia enquanto os segundo lutava para manter Cartago.<ref>ProcopiusProcópio, BV II.XIV</ref>. Ao saber do motim, Belisário, com Salomão e 100 homens de confiança, zarparam para a África. Cartago estava sob o cerco de 9 000 rebeldes, incluindo muitos vândalos liderados por um tal [[StotzasEstútias]]. Teodoro já pensava em se render quando eles apareceram. As novas sobre a chegada do famoso general foram suficientes para que os rebeldes levantassem o certo e recuassem para o oeste. Belisário, apesar de ter conseguido juntar apenas 2dois 000mil homens, imediatamente os perseguiu e conseguiu tomar-lhes de surpresa, [[Batalha do rio Bagradas (536)|derrotando]] as forças rebeldes em Membresa. O grosso dos rebeldes, porém, conseguiu fugir e continuou a marchar em direção da Numídia, onde se juntou às tropas locais.<ref>ProcopiusProcópio, BV II.XV</ref>. O próprio Belisário foi forçado a fugir para a Itália e Justiniano nomeou seu primo, [[Germano (primo de Justiniano I)|Germano]] como ''magistermestre dos militum''soldados para lidar com a crise.
 
Germano conseguiu convencer muitos dos rebeldes a se juntarem a ele por sua postura conciliatória e pagando os débitos vencidos. Eventualmente, na primavera de 537, os dois exércitos se [[Batalha das Escadas Ancestrais|enfrentaram em ScalaeEscadas VeteresAncestrais]], o que resultou numa dura vitória para Germano. StotzasEstútias fugiu para os seus na Mauritânia e Germano passou os dois anos seguintes re-estabelecendorestabelecendo a disciplina no exército. Finalmente, Justiniano julgou que a situação estava estável o suficiente e, em 539, Germano foi substituído por Salomão. Ele continuou o trabalho de Germano limpando o exército de todos sobre os quais pairassem quaisquer dúvidas e reforçando as fortalezas. Esta organização cuidadosa permitiu-lhe atacar com sucesso os aurásios, expulsando-os de seus fortes nas montanhas e estabelecer firmemente o jugo romano na Numídia e na ''[[Mauritânia Sitifense]]''.<ref>ProcopiusProcópio, BV II.XIX-XX</ref>.
 
==== Segunda revolta moura e a revolta de Guntárico ====
[[Imagem:MeisterMosaic vonof Justinian I - San Vitale in- Ravenna 0032016.jpg|thumb|upright=1.3|[[Justiniano I]] e seus oficiais. [[Belisário]] pode ser o homem barbado à sua direita.<br><small>{{ca.}} 547. [[Mosaico]] [[bizantinos|bizantino]] na [[Basílica de São Vital]] em [[Ravena]]. </small>]]
A África desfrutou de paz e prosperidade por alguns anos até a chegada da [[Praga de Justiniano|grande praga]] de 542, que provocou um grande sofrimento na população da província. Ao mesmo tempo, o comportamento arrogante de alguns governadores romanos alienou alguns líderes dos ''mauri'', como Antalas em Bizacena, e levou-os a se revoltar e a atacar o território romano. Numa batalha contra os ''mauri'' em Cílio, em Bizacena por volta de 544, os romanos foram derrotados e o próprio Salomão foi morto<ref>Procopius, BV II.XXI</ref><ref>Bury (1923), Vol. II, p. 145</ref>. Ele foi sucedido por seu sobrinho, [[Sérgio (general)|Sérgio]], que, como ''dux'' da Tripolitânia, havia sido um dos principais responsáveis pela revolta. Sérgio era impopular e dispunha de limitadas habilidades, ao passo que os ''mauri'', agora reunidos ao renegado [[Stotzas]], se juntaram sob a liderança de [[Antalas]]<ref>Procopius, BV II.XXII</ref>. Os mouros, com a ajuda de Stotzas, conseguiram invadir e saquear a cidade de [[Hadrumeto]] através de uma artimanha. Um sacerdote chamado Paulo conseguiu recuperar a cidade com uma pequena força sem a ajuda de Sérgio, que se recusou a marchar contra os mouros. Apesar deste revés, os rebeldes continuavam a vagar pelas províncias à vontade, obrigando a população rural a fugir para as cidades fortificadas e para a Sicília<ref>Procopius, BV II.XXIII</ref>.
 
A África desfrutou de paz e prosperidade por alguns anos até a chegada da [[Praga de Justiniano|grande praga]] de 542, que provocou um grande sofrimento na população da província. Ao mesmo tempo, o comportamento arrogante de alguns governadores romanos alienou alguns líderes dos ''mauri''mouros, como Antalas em Bizacena, e levou-os a se revoltar e a atacar o território romano. Numa [[batalha contrade osCílio|Numa ''mauri''batalha em Cílio,]] emcontra Bizacenaos mouros, por volta de 544, os romanos foram derrotados e o próprio Salomão foi morto.<ref>ProcopiusProcópio, BV II.XXI</ref><ref>Bury (1923), Vol. II, p. 145</ref>. Ele foi sucedido por seu sobrinho, [[Sérgio (general)|Sérgio]], que, como ''dux''duque da Tripolitânia, havia sido um dos principais responsáveis pela revolta. Sérgio era impopular e dispunha de limitadas habilidades, ao passo que os ''mauri''mouros, agora reunidos ao renegado [[Stotzas]]Estútias, se juntaram sob a liderança de [[Antalas]].<ref>ProcopiusProcópio, BV II.XXII</ref>. Os mouros, com a ajuda de StotzasEstútias, conseguiram invadir e saquear a cidade de [[Hadrumeto]] através de uma artimanha. Um sacerdote chamado Paulo conseguiu recuperar a cidade com uma pequena força sem a ajuda de Sérgio, que se recusou a marchar contra os mouros. Apesar deste revés, os rebeldes continuavam a vagar pelas províncias à vontade, obrigando a população rural a fugir para as cidades fortificadas e para a Sicília.<ref>ProcopiusProcópico, BV II.XXIII</ref>.
Justiniano então enviou [[Areobindo (morto em 546)|Areobindo]], um [[senador romano|senador]] e marido de sua sobrinha [[Prejecta]], mas que, para além disso, não tinha distinção nenhuma, com uns poucos homens para a África, não para substituir Sérgio, mas para dividir com ele o comando. Sérgio foi encarregado da guerra na Numídia, enquanto que Areobindo tentou subjugar Bizacena. Areobindo enviou um força sob o comando do habilidoso general João contra Antalas e Stotzas, mas, como Sérgio não veio ajudá-lo como havia sido ordenado, os romanos foram derrotados em Trácia, mas não antes de João ter ferido mortalmente Stotzas em um combate singular. Os efeitos deste desastre ao menos forçaram Justiniano a convocar Sérgio e restaurar a unidade de comando sob Areobindo<ref>Procopius, BV II.XXIV</ref>. Logo depois, em março de 546, Areobindo foi derrubado e morto por [[Guntárico]], o ''dux Numidiae'', que havia negociado com os mouros e pretendia se posicionar como um rei independente na região. O próprio Guntárico foi derrubado por tropas legalistas sob o armênio [[Artabanes]] no início de maio. Artabanes foi então elevado à posição de ''magister militum Africae'', mas logo foi reconvocado a Constantinopla<ref>Procopius, BV II.XXV-XXVIII</ref>.
 
Justiniano então enviou [[Areobindo (morto em 546senador)|Areobindo]], um [[senador romano|senador]] e marido de sua sobrinha [[Prejecta]], mas que, para além disso, não tinha distinção nenhuma, com uns poucos homens para a África, não para substituir Sérgio, mas para dividir com ele o comando. Sérgio foi encarregado da guerra na Numídia, enquanto que Areobindo tentou subjugar Bizacena. Areobindo enviou um força sob o comando do habilidoso general João contra Antalas e StotzasEstútias, mas, como Sérgio não veio ajudá-lo como havia sido ordenado, os romanos foram derrotados em Trácia, mas não antes de João ter ferido mortalmente StotzasEstútias em um combate singular. Os efeitos deste desastre ao menos forçaram Justiniano a convocar Sérgio e restaurar a unidade de comando sob Areobindo.<ref>ProcopiusProcópio, BV II.XXIV</ref>. Logo depois, em março de 546, Areobindo foi derrubado e morto por [[Guntárico]], o [[duque da Numídia]] (''dux Numidiae''), que havia negociado com os mouros e pretendia se posicionar como um rei independente na região. O próprio Guntárico foi derrubado por tropas legalistas sob o armênio [[Artabanes (general)|Artabanes]] no início de maio. Artabanes foi então elevado à posição de ''magistermestre militumdos Africae''soldados da África, mas logo foi reconvocado a Constantinopla.<ref>ProcopiusProcópio, BV II.XXV-XXVIII</ref>.
O homem que Justiniano enviou para substituí-lo foi o talentoso general [[João Troglita]], cujos feitos foram celebrados no poema épico ''Iohannis'', escrito por [[Flávio Crescônio Coripo]]. Troglita já havia servido na região sob Belisário e Salomão e já tinha uma carreira de sucesso no oriente, onde fora nomeado ''[[dux Mesopotamiae]]''. Apesar de suas forças serem numericamente inferiores, ele conseguiu vencer diversas tribos mouras e, no início de 547, derrotou decisivamente Antalas e seus aliados, expulsando-os de Bizacena. Como relembra Procópio:
 
O homem que Justiniano enviou para substituí-lo foi o talentoso general [[João Troglita]], cujos feitos foram celebrados no poema épico ''IohannisJoão'', escrito por [[Flávio Crescônio Coripo]]. Troglita já havia servido na região sob Belisário e Salomão e já tinha uma carreira de sucesso no oriente, onde fora nomeado ''[[duxduque Mesopotamiaeda Mesopotâmia]] (''dux Mesopotamiae''). Apesar de suas forças serem numericamente inferiores, ele conseguiu vencer diversas tribos mouras e, no início de 547, derrotou decisivamente Antalas e seus aliados, expulsando-os de Bizacena. Como relembra Procópio:
{{citação2|E este João, imediatamente após ter chegado na Líbia, combateu com Antalas e os mouros em Bizácio e, conquistando-os no campo de batalha, assassinou vários; ele arrancou destes bárbaros todos os [[:wikt:estandarte|estandarte]]s de Salomão e os enviou ao imperador - estandartes que eles haviam conseguido saquear quando Salomão foi levado deste mundo.|[[Procópio de Cesareia|Procópio]]|''[[De Bello Vandalico]] II.XXVIII''}}
 
Uns meses depois, porém, a tribo dos [[leuatas]], na Tripolitânia, se revoltou e infligiu uma dura derrota às forças imperiais na planície de GallicaGálica. Os leuatas receberam o apoio de Antalas e os mouros novamente vagavam livremente, chegando até Cartago.<ref>Bury (1923), Vol. II, p. 147</ref>. No início do ano seguinte, João juntou suas forças e, juntamente com diversas tribos mouras aliadas, incluindo o antigo rebelde CutzinasCusina, derrotou decisivamente os mouros na Batalha dos Campos de CatoCatão, matando dezessete de seus líderes e encerrando de vez a revolta que já atormentava a África por quinze anos.
 
=== Paz restaurada ===
Nas décadas seguintes, a África permaneceu em tranquilidade, o que permitiu que a região se recuperasse. A paz não teria durado tanto se Troglita não tivesse percebido que a expulsão dos ''mauri''mauros do interior das províncias e a completa restauração das antigas fronteiras eram tarefas impossíveis. Ao invés disso, ele optou pela acomodação com os mouros, prometendo-lhes autonomia em troca de lealdade, tornando-os ''[[foederatifederados (Roma Antiga)|federados]]'' imperiais.<ref>Moderan (2003), p.816</ref>. A lealdade destes príncipes dependentes das várias tribos mouras foi assegurada através do pagamento de pensões anuais e de presentes. A paz também foi mantida através de uma poderosa rede de fortificações, muitas das quais ainda existem hoje em dia.
 
A única interrupção na tranquilidade da província foi uma breve revolta moura em 563. Ela foi provocada pelo assassinato injustificado do idoso líder tribal CutzinasCusina quando ele veio à Cartago para receber sua pensão anual por João Rogatino. Seus filhos e dependentes se revoltaram até que uma força expedicionária, sob o [[tribuno da plebe|tribuno]] Marciano, sobrinho do imperador, conseguiu restaurar a paz.<ref>Bury (1923), Vol. II, p. 148</ref>.
 
Durante o reinado de [[Justino II]] ({{nwrap|r. |565-|578)}}, a região foi tratada com todo cuidado. Sob o prefeito TomasTomás ({{nwrap||565-|570)}}, a rede de fortalezas foi novamente reforçada e expandida, a administração foi reformada e descentralizada enquanto que um vitorioso esforço [[proselitismo|proselitista]] converteu os [[garamantes]] de [[Fezã]] e os [[getúliosgetulos]], que viviam ao sul de ''[[Mauritânia Cesariense]]''.<ref>El Africa Bizantina, p. 38</ref>. Ao mesmo tempo, a África se tornou uma das reuniões mais tranquilas do Império que, por sua vez, sofria ataques de todos os lados, o que permitiu que tropas da região fossem transferidas para o oriente<ref>El Africa Bizantina, p. 44</ref>
 
{{Âncora|Guerra contra Garmul}}
=== Conflito com o reino mouro de Garmul ===
[[Imagem:Roman-Empire 477ad-pt.svg|thumb|upright=1.5|Reino romano-mouro de Garmul no [[norte da África]], à esquerda.]]
Em Mauritânia, entre o entreposto romano de Septo e a província de ''Cesariense'', vários pequenos reinos mouros, que também governavam sobre populações urbanas romanizadas, foram fundados desde a chegada dos vândalos. Pouca informação existe sobre eles, mas eles jamais foram subjugados pelos vândalos e reivindicava continuidade desde o [[Império Romano]], seus líderes auto-proclamando títulos como ''[[imperator]]'', como o chefe Masties em [[Arris (Batna)|Arris]] (nos [[Aurès]]) no final do século V, ou, no caso do rei [[Masuna]] de [[Altava]] (atual [[Ouled Mimoun]], a noroeste da [[Argélia]]), ''rex gentium Maurorum et Romanorum'' no início do século VI<ref>Julien (1931: v.1, p.253-54). For a survey, see C. Courtois (1955) ''Les Vandales et l' Afrique''. Paris: AMG.</ref>.
 
Em Mauritânia, entre o entreposto romano de Septo e a província de ''Cesariense'', vários pequenos reinos mouros, que também governavam sobre populações urbanas romanizadas, foram fundados desde a chegada dos vândalos. Pouca informação existe sobre eles, mas eles jamais foram subjugados pelos vândalos e reivindicava continuidade desde o [[Império Romano]], seus líderes auto-proclamando títulos como ''[[imperator]]'', como o chefe Masties em [[Arris (Batna)|Arris]] (nos [[AurèsOrés]]) no final do século {{séc|V}}, ou, no caso do rei [[Masuna]] de [[Altava]] (atual [[Ouled Mimoun]], a noroeste da [[Argélia]]), "rei dos mouros e romanos" (''rex gentium Maurorum et Romanorum'') no início do século {{séc|VI}}.<ref>Julien (1931: v.1, p.253-54). For a survey, see C. Courtois (1955) ''Les Vandales et l' Afrique''. Paris: AMG.</ref>.
Quando Belisário derrotou os vândalos, os reis mouro-romanos aparentemente reconheceram a [[suserania]] romana (ao menos nominalmente), mas logo, aproveitando-se das revoltas mouras, renegaram-na. No final da década de 560, o rei mouro [[Garmul]] (provavelmente o sucessor do já mencionado Masuna de Altava) lançou uma série de [[raide]]s em território romano e, embora tenha falhado em capturar qualquer cidade importante, três generais foram mortos em sucessão pelas forças de Garmul segundo [[João de Biclaro]]: o [[prefeito pretoriano]] Teodoro e o ''magister militum'' Teoctisto em 570 e o sucessor deste, Amabilis, no ano seguinte<ref>PLRE IIIa, p. 504</ref>. Suas atividades, especialmente quando consideradas em conjunto com os ataques [[visigodos]] na [[Província da Espânia|Espânia]], se mostraram uma ameaça real às autoridades provinciais. Garmul não era o líder de meras tribos semi-nômades, mas de um completamente formado reino bárbaro, com um exército profissional. Assim, o novo imperador, [[Tibério II]], renomeou Tomas como prefeito pretoriano e o hábil general [[Genádio (século VI)|Genádio]] como ''magister militum'' com o objetivo de reduzir o poder do reino de Garmul. Os preparativos foram longos e cuidadosos, mas a campanha em si, iniciada em 577-578, foi breve e eficaz, com Genádio se utilizado de táticas intimidatórias contra os súditos de Garmul. O rei bárbaro foi derrotado e morto em 579 e o corredor costeiro entre ''[[Mauritânia Tingitana|Tingitana]]'' e ''[[Mauritânia Cesariense|Cesariense]]'' assegurado<ref>El Africa Bizantina, pp. 45-46</ref>.
 
Quando Belisário derrotou os vândalos, os reis mouro-romanos aparentemente reconheceram a [[suserania]] romana (ao menos nominalmente), mas logo, aproveitando-se das revoltas mouras, renegaram-na. No final da década de 560, o rei mouro [[Garmul]] (provavelmente o sucessor do já mencionado Masuna de Altava) lançou uma série de [[raide]]s em território romano e, embora tenha falhado em capturar qualquer cidade importante, três generais foram mortos em sucessão pelas forças de Garmul segundo [[João de Biclaro]]: o [[prefeito pretoriano]] Teodoro e o ''magistermestre militum''dos soldados Teoctisto em 570 e o sucessor deste, Amabilis, no ano seguinte.<ref>PLRE IIIa, p. 504</ref>. Suas atividades, especialmente quando consideradas em conjunto com os ataques [[visigodos]] na [[Província da Espânia|Espânia]], se mostraram uma ameaça real às autoridades provinciais. Garmul não era o líder de meras tribos semi-nômades, mas de um completamente formado reino bárbaro, com um exército profissional. Assim, o novo imperador, [[{{lknb|Tibério |II]]}} {{nwrap|r.|574|582}}, renomeou TomasTomás como prefeito pretoriano e o hábil general [[Genádio (séculomestre VIdos soldados da África)|Genádio]] como ''magistermestre militum''dos soldados com o objetivo de reduzir o poder do reino de Garmul. Os preparativos foram longos e cuidadosos, mas a campanha em si, iniciada em 577-578, foi breve e eficaz, com Genádio se utilizado de táticas intimidatórias contra os súditos de Garmul. O rei bárbaro foi derrotado e morto em 579 e o corredor costeiro entre ''[[Mauritânia Tingitana|Tingitana]]'' e ''[[Mauritânia Cesariense|Cesariense]]'' assegurado.<ref>El Africa Bizantina, pp. 45-46</ref>.
 
=== Fundação do Exarcado ===
{{AP|Exarcado da África}}
Genádio permaneceu na África como ''[[magistermestre militumdos soldados]]'' por um longo tempo (até o início da década de 590) e foi ele quem se tornou o primeiro ''exarchus''exarca da África<ref>PLRE IIIa, pp. 509–511</ref><ref>O exarcado africano foi mencionado pela primeira vez em 591. (El Africa Bizantina, p. 47)</ref> quando o imperador [[Maurício (imperador)|Maurício]] {{nwrap|r.|582|602}} fundou o exarcado no final da década de 580, unindo as autoridades civil e militar em suas mãos. O exarcado se estendia por todo o [[norte da África]], pelas possessões imperiais na Espanha, as [[Baleares (província romana)|ilhas Baleares]], [[Córsega e Sardenha|Sardenha e Córsega]]. Ele prosperou enormemente e, sob [[Heráclio]] {{nwrap|r.|610|641}}, as forças africanas conseguiram derrubar o tirano [[Focas]] em 610. O exarcado era praticamente uma entidade autônoma a partir de 640 e sobreviveu até a [[Batalha de Cartago (698)|queda de Cartago]] para os [[conquistaConquista omíadamuçulmana do norte da ÁfricaMagrebe|omíadas]] em 698.
 
== Lista dos prefeitos pretorianos da África conhecidos ==
{{AP|Lista dos governadores romanos da África#Prefeitos pretorianos da África{{!}}Prefeitos pretorianos da África}}
{{Dividir em colunas}}
* Arquelau (534)
* [[Salomão (general)|Salomão]] - 1ª vez - (534-536)
* Símaco (536-539)
* [[Salomão (general)|Salomão]] - 2ª vez - (539-544)
* [[Sérgio (general)|Sérgio]] (544-545)
* [[Atanásio (prefeito pretoriano)|Atanásio]] (545-548, talvez até 550)
* Paulo ({{ca.}} 552)
* João (''ca.'' 558)
* João Rogatino (''ca.'' 563)
* Tomas - 1ª vez - (563-565)
* Teodoro (''ca.'' 570)
* Tomas - 2ª vez - (574-578)
* Teodoro (''ca.'' 582)
{{Dividir em colunas fim}}
 
{{Referências|col=2}}
 
== Bibliografia ==
{{Refbegin|2}}
*{{cite bookcitar livro|primeiro first=Michael |último last=Brett | coauthorscoautor=Fentress, Elizabeth | titletítulo=The Berbers | publisherpublicado=Blackwell Publishing | yearano=1996 | isbn=0-631-20767-8 }}
*{{cite bookcitar livro|primeiro first=John Bagnell |último last=Bury |autorlink authorlink=John Bagnell Bury | titletítulo= History of the Later Roman Empire Vols. I & II |url=http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/secondary/BURLAT/home.html | publisherpublicado=Macmillan & Co., Ltd. | yearano=1923}}
*{{cite bookcitar livro|primeiro first=Averil |último last=Cameron | titletítulo=Late Antiquity: Empire and Successors A.D. 425-600, The Cambridge Ancient History Vol. XIV | chaptercapítulo=Vandal and Byzantine North Africa | pagespáginas= 552–569 | publisherpublicado=Cambridge University Press | yearano=2000 | isbn=0-521-32591-9 }}
*{{cite bookcitar livro|primeiro first=Averil |último last=Cameron | titletítulo=University of Michigan Excavations at Carthage, Vol. VII | chaptercapítulo=Byzantine Africa: The Literary Evidence | pagespáginas= 29–62 | publisherpublicado=University of Michigan Press | yearano=1982 }}
*{{cite bookcitar livro|último last=Diehl |primeiro first=Charles |autorlink authorlink=Charles Diehl | titletítulo=L'Afrique byzantine. Histoire de la domination byzantine en Afrique (533– 709) | locationlocal=Paris | publisherpublicado=Ernest Leroux | yearano=1896 | language língua= Frenchfr | url = http://www.archive.org/details/lafriquebyzanti00diehgoog}}
* Julien, C.A. (1931) ''Histoire de l'Afrique du Nord, vol. 1 - Des origines a la conquête arabe'', 1961 edition, Paris: Payot
* {{cite bookcitar livro|último last=Martindale |primeiro first=John R. | coauthorscoautor=Jones, A.H.M.; Morris, J. | titletítulo=The Prosopography of the Later Roman Empire | volume=IIIa | yearano=1992 | publisherpublicado=Cambridge University Press | isbn=0-521-20160-8}}
*{{fr icon}} {{cite bookcitar livro|primeiro first=Yves |último last=Moderan | titletítulo= Les Maures et l'Afrique romaine, IV-VII siècle | yearano=2003}}
*{{cite bookcitar livro|primeiro first=Denys |último last=Pringle | titletítulo=The Defence of Byzantine Africa from Justinian to the Arab Conquest: An Account of the Military History and Archaeology of the African Provinces in the Sixth and Seventh Century | publisherpublicado=British Archaeological Reports | locationlocal=Oxford | yearano=1981 | isbn=0-86054-119-3}}
*[[ProcopiusProcópio de Cesareia]], ''De Bello Vandalico'' (''BV''), [[s:History of the Wars/Book IV#I|Volume II.]]
*{{es icon}} {{PDFlink|[http://www.biblioteca-tercer-milenio.com/sala-de-lectura/HistoriaUniversal/ImperioRomano/AfricaBizantina-conquistayocaso.pdf Francisco Aguado - El Africa Bizantina]|2.03&nbsp;[[Mebibyte|MiB]]<!-- application/pdf, 2138812 bytes -->}}
*{{es icon}} {{PDFlink|[http://www.miniweb.com.br/historia/artigos/i_media/pdf/caf.pdf Hilario Gómez - Ciudades del Africa Romano Bizantina]|1.16&nbsp;[[Mebibyte|MiB]]<!-- application/pdf, 1225481 bytes -->}}
*{{cite bookcitar livro|primeiro first=Susan |último last=Raven | titletítulo= Rome in Africa | publisherpublicado=Routledge | yearano=1993 | isbn=0-415-08150-5}}
{{Refend}}
 
[[Categoria:PrefeiturasPrefeitura pretoriana da África| pretorianas]]
[[Categoria:História da Argélia]]
[[Categoria:História de Marrocos]]
[[Categoria:História da Tunísia]]
[[Categoria:Século VI no Império Bizantino]]
[[Categoria:Justiniano]]