Trindade (cristianismo): diferenças entre revisões
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Após controvérsias quanto ao conceito da divindade de [[Jesus]] entre alguns cristãos, como o presbítero Ário e o bispo, [[Alexandre I de Alexandria|Alexandre de Alexandria]], a doutrina passou a ser discutida entre a [[Igreja]] e [[Roma]] durante o [[Primeiro Concílio de Niceia]] em 325 D.C, solicitado pelo imperador [[Romano]] [[Constantino]]. O concílio declarou que o [[Deus, o Filho|Filho]] era verdadeiro Deus, co-eterno com o Pai e gerado de sua mesma substância, argumentando que tal doutrina codificava melhor a apresentação bíblica do Filho, assim como a crença cristã tradicional sobre ele transmitida pelos [[Apóstolo|apóstolos]]. Essa crença foi expressa pelos bispos no Credo de Niceia, que formou a base do que é conhecido atualmente como [[Credo niceno-constantinopolitano|Credo Niceno-Constantinopolitano]].<ref>{{harvnb|González|1984|p=165}}</ref>
Em Niceia, questões relativas ao [[Espírito Santo]] foram deixadas, em grande parte, sem solução e assim permaneceram pelo menos até que o relacionamento entre o Pai e o Filho ter sido resolvido por volta do ano 362.<ref>{{harvnb|Fairbairn|2009|pp=46–47}}</ref> Assim, a doutrina em uma forma mais completa foi formulada no [[Concílio de Constantinopla (360)|
A doutrina não atingiu sua forma definitiva até o final do quarto século.<ref name="chr-theol-intro2">McGrath, Alister E. ''Christian Theology: An Introduction'' Blackwell, Oxford (2001) p.324. {{en}}</ref> Durante o período várias soluções tentativas foram propostas, algumas mais e outras menos satisfatórias.<ref name="early-doctrines">Kelly, J.N.D. ''Early Christian Doctrines'' A & G Black (1965) p. 88. {{en}}</ref> O trinitarismo contrasta com as posições [[Antitrinitarismo|antitrinitárias]], que incluem o binitarianismo (uma deidade em duas pessoas, ou duas deidades), com o [[unitarismo]] (uma deidade em uma pessoa, análogo à interpretação [[Judaísmo|judia]] da ''[[Shemá Israel|Shema]]'' e à crença [[Islão|muçulmana]] no ''[[Tawhid]]'') e com o [[pentecostalismo]] unitarista ou [[sabelianismo]] (uma deidade manifestada em três aspectos separados).<ref name="oxfdhdbk">{{citar livro|título=The Oxford Handbook of the Trinity|ano=2012|editor-sobrenome1=Emery|editor-nome1=Gilles, O.P.|língua=en|isbn=978-0199557813|editor-sobrenome2=Levering|editor-nome2=Matthew}}</ref><ref name="holmes">{{citar livro|título=The Quest for the Trinity: The Doctrine of God in Scripture, History and Modernity|último=Holmes|primeiro=Stephen R.|ano=2012|língua=en|isbn=9780830839865}}</ref><ref name="historia">{{citation|último=Tuggy|primeiro=Dale|título=Trinity (History of Trinitarian Doctrines)|url=http://plato.stanford.edu/entries/trinity/trinity-history.html|obra=[[Stanford Encyclopedia of Philosophy]]|data=verão de 2014|língua=en}}</ref>
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*E na fórmula tardia de Mateus:<ref>Mateus 28:19</ref> ''«Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo»''.
*No relato em que a Trindade se revelaria por três anjos que apareceram a Abraão próximo ao Carvalho de Mambré (Gn 18,ss)
*Na criação do homem se apresenta um criador ''plural''": «Façamos o homem a nossa imagem e semelhança»" (Gn 1,26)
*No episódio da torre de Babel o Senhor Deus fala no plural: "«Vamos: Desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro.»” (Gn 11,7)
*No inicio do [[Evangelho segundo João]] em que Jesus é chamado de "Verbo" ou "Palavra" e de que seria Deus. (João 1
Ainda segundo os defensores da doutrina trinitária, ao longo da Bíblia há várias passagens que revelam a natureza divina da Trindade, e até a personalidade de cada uma das três pessoas divinas:
* No que concerne à divindade de Deus-Filho, referem-se, por exemplo, a sua onisciência,<ref>Colossenses 2:3</ref> a sua onipotência,<ref>Mateus 28:18</ref> a sua onipresença,<ref>Mateus 28:20</ref> ao fato de perdoar os pecados<ref>Marcos 2:5-7; conferir a afirmação de Isaías 1:18 </ref> e ser doador da vida<ref>João 10:28</ref> em íntima unidade, porém diferenciando as pessoas: ''«Eu e o Pai somos um»''.<ref>João 17:21-22</ref> Contudo, mais do que estas simples passagens isoladas, a afirmação da plena divindade de Jesus é o resultado da reflexão, na
* No que concerne à divindade do Espírito Santo, os trinitários reportam-se, por exemplo, à passagem bíblica que o chama de Deus em Atos,<ref>Atos 5:3-4</ref> a sua onisciência,<ref>I Coríntios 2:10-11</ref> a sua onipotência,<ref name="I Coríntios 12:11">I Coríntios 12:11</ref> a sua onipresença<ref>João 14:10</ref> e sobretudo ao fato de ser Espírito ''"de"'' verdade<ref>João 16:13</ref> e ''"de"'' vida,<ref>Romanos 8:2</ref> prerrogativas que, tais como as apresentadas para Deus-Filho, segundo a Bíblia são única e exclusivamente divinas
* No que concerne à personalidade do Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, assunto que foi muito debatido ao longo dos primeiros séculos do cristianismo, é comum referirem-se aos atributos deste que, tal como os que no Antigo Testamento são aduzidos para a personalidade do Deus do Antigo Testamento,
== O desenvolvimento do dogma ==
=== Do kerigma aos símbolos de fé ===
[[Imagem:Trinity (Guiard des Moulins, Bible historiale, 15 c.).jpg|thumb|upright=1.0|[[Iluminura]] medieval com a representação clássica da Santíssima Trindade]]
[[Kerigma]] (do [[Língua grega|Grego]] κήρυγμα, ''kérygma'') significa ''mensagem'', ''pregação'', ''proclamação''. Desde o acontecimento pascal e sua proclamação catequética -
Defensores da doutrina trinitária afirmam que a [[Igreja antiga|Igreja primitiva]] já acatava plenamente essa ideia, com base nos escritos de [[Inácio de Antioquia]], [[Inácio aos Efésios|Carta aos Efésios]], 9,
Na realidade, mais do que a partir da especulação teórica e
Somente depois da pacificação do [[Império Romano]], sob [[Constantino]], é que ocorreu aquela convergência de
=== Os símbolos de fé ===
[[Imagem:Nicaea icon.jpg|thumb|upright=1.0|[[Ícone]] oriental que representa [[Constantino I]] entre os padres reunidos no [[Primeiro Concílio de Niceia]] (ano 325): o dístico por ele suspenso contém o texto do [[credo de Niceia]], mas na forma modificada pelo [[Primeiro Concílio de Constantinopla]] (ano 381)]]
A primeira formulação dogmática do pensamento teológico cristão trinitário, no que concerne à relação entre cada uma das três
Estes credos foram progressivamente formulados e ratificados pela Igreja dos séculos III e V, em reação a algumas noções envolvendo a natureza da
O credo de Niceia, que é uma formulação clássica desta doutrina, usou o termo ''[[homoousia]]'' (em grego: da mesma substância) para definir a relação entre as três pessoas. A ortografia desta palavra difere em uma única letra grega, "iota", da palavra usada por não-trinitários do mesmo tempo, ''[[homoiousia]]'', (grego: de substância semelhante): um
=== Investigação e conclusão teológica de Santo Agostinho ===
A Igreja Católica anuncia e ensina o mistério da Santíssima Trindade com base em citações bíblicas, porém desencoraja uma profunda investigação no sentido de querer decifrá-lo, visto que torna-se complexo usando simplesmente nossa razão humana.
[[Agostinho de Hipona]], grande teólogo e [[doutor da Igreja]], tentou e esforçou-se exaustivamente por compreender e desvendar este enigma. Após muito tempo de reflexão, esforço e trabalho, chegou à conclusão que nós, devido à nossa mente extremamente limitada, nunca poderíamos compreender e assimilar plenamente a dimensão (infinita) de [[Deus]] somente com as nossas próprias forças e o nosso raciocínio. Concluiu que a compreensão plena e definitiva deste grande enigma só é possível quando, na [[vida eterna]], nos encontrarmos no [[Paraíso (religião)|Paraíso]] com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Logo, a compreensão da trindade está dentro dos mistérios de Deus.
== Operações e funções das pessoas da Trindade ==
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As três pessoas da Santíssima Trindade estabelecem uma comunhão e união perfeita, formando um só Deus, e constituem um perfeito modelo transcendente para as relações interpessoais. Elas possuem a mesma natureza divina, a mesma grandeza, sabedoria, poder, bondade e santidade, mas, em algumas vezes, certas atividades são mais reconhecidas em uma pessoa do que em outra. As funções, as suas principais atividades desempenhadas e o seu modo de operar está registrado nas [[Bíblia|Sagradas Escrituras]] e claramente resumido no [[Credo niceno-constantinopolitano]], o credo oficial de muitas denominações cristãs.
*[[Deus Pai|Pai]] – Não foi criado nem gerado. É o "princípio e o fim, princípio sem princípio" da vida e está em absoluta comunhão com o Filho e com o Espírito Santo. Foi o Pai que enviou o seu Filho, [[Jesus|Jesus Cristo]], para salvar-nos da morte espiritual, pelo [[sacrifício vicário]]. Isto revela o amor infinito de Deus sobre os homens e o não-abandono aos seus filhos
*[[Jesus|Filho]] – Eterno como o Pai e [[consubstancial]] (pertencente à mesma natureza e substância) a Ele. Não foi criado pelo Pai, mas gerado na eternidade da substância do Pai. Encarnou-se
*[[Espírito Santo]] – Não foi criado nem gerado. Esta pessoa divina personaliza o Amor íntimo e infinito de Deus sobre os homens, segundo a reflexão de Agostinho. Manifestou-se primeiramente no [[Batismo]] e na [[Transfiguração (cristianismo)|Transfiguração]] de Jesus e plenamente revelado no dia de [[Pentecostes]]. Habita nos corações dos fiéis e estabelece entre estes e Jesus uma comunhão íntima, tornando-os unidos num só Corpo. O Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, é considerado como o puro nexo de amor. Atribui-se a esta pessoa divina a santificação da Igreja e do mundo com os seus dons, além de ser o agente que [[Inspiração (teologia)|inspirou]] a escrita de cada parte da [[Bíblia]].
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''Assim diz o S<small>ENHOR</small> [
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J. Cabral explica que ''Jesus e
== Unidade composta ==
[[Imagem:Adoração da Santíssima Trindade.jpg|thumb|upright=1.3|''Adoração da Santíssima Trindade'',<br><small>por [[Albrecht Dürer]], no ''[[Kunsthistorisches Museum]]''</small>. <br>O [[Deus-Pai|Pai]] segura a cruz do [[Deus-Filho|Filho]] e o [[Espírito Santo]] em forma de pomba sobre a cabeça do Pai. Os três são adorados pelos [[anjos]] e [[santos]]]]Os trinitários, refutando a apresentação dos [[unitarismo|unitários]], sustentada principalmente em Deuteronômios 6
Certos unitários concebem [[Jesus]] como um anjo criado, negando-lhe a natureza Divina, enquanto outros o veem apenas como um homem perfeito ou dotado de um caráter exemplar, modelar, embora rejeitem a sua pré-existência e divindade.
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Os trinitários refutam o entendimento, dado por alguns unitários em suas cartilhas catequéticas, de que a Santíssima Trindade seriam três deuses, o que consideram uma provocação insultuosa ao credo monoteísta.
Os unitários entendem que o citado versículo (''Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor'') excluiria o Filho da divindade e da unidade com o Pai. Os trinitários reagem que aceitam e concordam que: ''há um só [[YHVH|YHWH]]'', e que o presente versículo em nada ofende, mas ajuda a explicar o conceito de unidade composta, fortalecendo o entendimento sobre referido [[dogma]].
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A palavra [[Língua hebraica|hebraica]] originalmente usada para chamar
Também o faraó teve "um" [[sonho]] que tinha "dois" acontecimentos que o intrigaram e José, antes de interpretar, disse: ''o sonho é "um" (echad) só'', dando clara conotação que o [[faraó]] tivera "dois" sonhos em "um", ou "um" sonho sobre um "evento" com duas personificações que diziam a mesma verdade. Percebeu [[José (filho de Jacob)|José]] que o sonho era "um só", usando o termo ''echad'' que significa um conjunto fazendo "uma unidade".
Para que seja mais bem compreendido o termo ''echad'', em Gênesis 2
Se o texto quisesse expressar a unidade absoluta, teria usado a palavra ''yachid''. Marido e mulher são pessoas distintas, entretanto, no plano espiritual, seus corpos sendo unos.
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Os trinitários não expressam uma ''questão'' simplesmente racional, mas também de [[fé]].
Para os trinitários, as Escrituras dão pistas sobre a pluralidade do único Deus
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''YHWH, nosso Elohím, é um só YHWH'' ou seja, ''
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Com a transcrição acima pode-se perceber o entendimento sobre a unidade composta, pois o termo Elohím é plural, ainda que se fale na pessoa de
Conforme nos explica Warren Wiersbe:
:''O termo [echad] é empregado dessa forma em Gênesis 2
Como havia a tradição dos escribas na transcrição dos pergaminhos letra por letra, não acreditam os trinitários que houvesse "erro" ou "acidente", contudo destinava-se ao propósito de referir-se ao Deus único em pluralidade de pessoas. Desta forma é aceito pelos que creem na Santíssima Trindade que Pai, Filho (Jesus) e Espírito Santo são a unidade plural de
== Pluralidade em Elohim ==
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