Campanha Balcânica

Campanha Militar na Primeira Guerra Mundial

A Campanha Balcânica da Primeira Guerra Mundial foi um conflito entre os Impérios Centrais, compostos por Bulgária, Alemanha e Áustria-Hungria de um lado, e dos Aliados da Primeira Guerra Mundial de outro, compostos por França, Rússia, Reino Unido, Romênia e Grécia.

Campanha Balcânica
Primeira Guerra Mundial

Forças búlgaras na Frente Macedônica
Data 28 de julho de 191411 de novembro de 1918
Local Península Balcânica
Desfecho Derrota das Potências Centrais;
Tratado de Neuilly-sur-Seine
Beligerantes
Bulgária Bulgária
Alemanha
Áustria-Hungria
Império Otomano
Rússia
França França
Reino Unido Reino Unido
Sérvia Sérvia
Roménia Romênia
Grécia Grécia
Montenegro Montenegro
Comandantes
Bulgária Nikola Zhekov
Bulgária Georgi Todorov
Bulgária Vladimir Vazov
Bulgária Stefan Toshev
Paul von Hindenburg
Erich von Falkenhayn
August von Mackensen
Conrad von Hötzendorf
Oskar Potiorek
Aleksei Brusilov
França Louis Franchet d'Esperey
França Maurice Sarrail
Sérvia Radomir Putnik
Sérvia Stepa Stepanović
Roménia Constantin Prezan
Grécia Panagiotis Danglis
Montenegro Nicolau I
Forças
~ 1 200 000 + 2 349 638
Baixas
~ 855 000 mortos, feridos, capturados ou desaparecidos + 1 100 000 mortos, feridos, capturados ou desaparecidos

Visão geral

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A causa imediata para o espoletamento da Primeira Guerra Mundial foi a hostilidade entre a Áustria-Hungria e a Sérvia, e algumas das primeiras batalhas da Grande Guerra deram-se entre estes dois países, com grandes confrontos entre o estado balcânico da Sérvia e sua poderosa vizinha do norte, a Áustria-Hungria.[1] O reino dos Bálcãs conseguiu conter a potência austro-húngara por mais de um ano, antes de ser conquistada no final de 1915.

A diplomacia aliada foi capaz de fazer a Romênia entrar na guerra em 1916, mas esta investida mostrou-se desastrosa para os romenos. Logo depois que o país ingressou na disputa, uma força combinada de alemãs, austríacos, búlgaros e otomanos lançou uma rápida ofensiva que conquistou dois terços do país até dezembro de 1916. Os exércitos russos combinados aos dos romenos conseguiram apenas estabilizar a frente na Moldávia.

Em 1917, a Grécia entrou na guerra do lado aliado, e em 1918, o multinacional Exército do Oriente, baseado no norte do reino grego finalmente lançou uma ofensiva que fez a Bulgária capitular, recaptou a Sérvia, e só conseguiu ser impedida na fronteira húngara em novembro de 1918.

Campanha Sérvia

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 Ver artigo principal: Campanha Sérvia

O exército sérvio foi capaz de enfrentar o exército da Áustria-Hungria graças, em grande parte, ao fato de que os austro-húngaros tinham de concentrar suas forças na luta contra o imenso exército da Rússia.

Em 1915, a Áustria-Hungria, aliada à Alemanha, levou mais soldados à frente,[2] e fazendo uso da diplomacia conquistou a Bulgária como aliada. Forças sérvias foram atacadas tanto ao norte quanto ao leste e foram forçadas a recuar. A recuada acabou fazendo com que o território sérvio ficasse desprotegido e os soldados seguissem para o norte da Grécia, continuando funcionais durante o resto da Grande Guerra.

Campanha Romena

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 Ver artigo principal: Campanha Romena

Antes do início da guerra, a Romênia era uma aliada da Áustria-Hungria, porém, assim como a Itália, recusou-se a ingressar na guerra em seu início. O governo romeno finalmente decidiu-se por apoiar os aliados da Entente em agosto de 1916, levada principalmente pelas promessas de anexação da Transilvânia. A guerra mostrou-se um completo desastre para a Romênia, e antes que o ano terminasse, a força conjunta de alemães, austríacos, búlgaros e otomanos já havia conquistado a Válaquia e a Dobruja,[3] e capturado mais de metade dos combatentes do exército romeno como prisioneiros.

Em 1917, exércitos retreinados e rearmados por uma força expedicionária francesa comandando pelo General Henri Berthelot, mesmo com a desintegração do exército russo, foram capaz de conter o avanço alemão na Moldávia.

Em maio de 1918, depois do avanço alemão na Ucrânia e da assinatura do Tratado de Brest-Litovsk pela Rússia, a Romênia rendeu-se às forças dos Impérios Centrais, e não teve outra chance senão aceitar os termos do Tratado de Bucareste de 1918.[4] Entretanto, a paz não duraria por muito tempo, já que com a ofensiva de Tessalônica, que tirou a Bulgária da guerra, a Romênia entrou novamente na guerra em 10 de Novembro de 1918.

Campanha Búlgara

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Depois do término das Guerras Balcânicas, a opinião pública da Bulgária voltou-se contra o Império Russo e as potências ocidentais, que a Bulgária sentiu que nada fizeram para ajudá-la. O governo alinhou o reino com a Alemanha e a Áustria-Hungria, mesmo que isso significasse uma aliança também com o Império Otomano, o tradicional inimigo da coroa búlgara.[3] Mesmo assim, a Bulgária não tinha clamava mais por conquistar territórios otomanos, mas sim territórios tomados pela Sérvia, pela Grécia e pela Romênia (aliados de França e Reino Unido), ao final das Guerras Balcânicas. Ainda recuperando-se das guerras nos Bálcãs, a Bulgária passou o primeiro ano da Grande Guerra neutra, mas assim que a Alemanha prometeu restaurar as fronteiras do Tratado de San Stefano, o país, que tinha o maior exército entra as potências balcânicas, declarou guerra à Sérvia em outubro de 1915. Na seqüência, Reino Unido, França e Itália declararam guerra à "Prússia dos Bálcãs".

Mesmo que a Bulgária, aliada com alemães, austro-húngaros e otomanos, tenha conseguido várias vitórias militares contra Sérvia e Romênia e tenha ocupado boa parte da Macedônia (tomando Escópia em outubro) e retomado a Dobruja dos romenos em setembro de 1916, a guerra logo tornou-se impopular entre a população, que enfrentava enormes dificuldades econômicas. A Revolução Russa de 1917 teve grandes efeitos no país, e espalhou um sentimento anti-guerra e anti-monarquia entre os soldados e entre a população das cidades.

Em setembro de 1918, os sérvios, britânicos, franceses, italianos e gregos conseguiram romper as defesas na frente macedônica, e geraram revoltas entre as tropas búlgaras.[5] O czar Fernando foi forçado a buscar a paz. Para conter os revolucionários, ele abdicou em favor de seu filho Bóris III.[5] O exército foi desintegrado e as revoltas reprimidas,[5] e de acordo com o Tratado de Neuilly (novembro de 1919) a Bulgária perdia sua costa no Mar Egeu para os países aliados (que depois a transfeririam para a Grécia),[5] e aproximadamente todos os seus territórios na Macedônia para o novo estado da Iugoslávia, além de ter que devolver a Dobruja para os romenos.

Frente Macedônica

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Forças britânicas na Frente Macedônica
 Ver artigo principal: Frente Macedônica

Em 1915, os austríacos ganharam apoio militar da Alemanha e, com diplomacia, conquistaram a Bulgária como aliada. Forças sérvias foram atacadas e tiveram que recuar para a Grécia. A frente se estabilizou próxima à fronteira grega e o exército sérvios manteve-se operacional. Uma força expedicionária anglo-franco-italiana chegou à Salônica, e os generais alemães não deixaram os búlgaros tomarem a cidade, tentando persuadir os gregos a se juntarem às Potências Centrais. Três anos depois, este erro mostraria-se irreparável.

Em 1918, depois de longos períodos em confrontação, os Aliados, sob o comando do general francês Franchet d'Esperey lideraram uma força combinada de franceses, sérvios, gregos e britânicos que atacou a partir da Grécia.[4] Foram as vitórias iniciais do general Franchet que forçaram o governo búlgaro a buscar a paz.[4] Ele então atacou e derrotou os exércitos alemães e austríacos que tentaram contra-atacar e então recapturou toda a Sérvia em outubro de 1918, preparando-se em seguida para invadir a Hungria. A ofensiva foi cancelada apenas porque as lideranças húngaras ofereceram a rendição em novembro.

Resultados

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Enquanto os Aliados esperavam que a adição da Grécia e da Romênia fosse aumentar suas forças contra os Impérios Centrais, na verdade, ambos custaram mais à Entente em termos materiais, já que apenas assim puderam ser salvos da destruição de alemães, austro-húngaros e búlgaros.

Os russos tiveram que oferecer mais divisões e suprimentos aos romenos, para salvar os exércitos do pequeno país da destruição total. De acordo com John Kiegan, o general russo Alekseev estava muito decepcionado com as forças romenas e argumentou que elas drenariam as reservas russas, muito mais do que ajudariam na guerra.[6] Alekseev estava correto.

Os franceses e britânicos mantiveram seis divisões cada na fronteira grega de 1916 até o final de 1918. Originalmente os franceses e britânicos foram à Grécia para ajudar a Sérvia, mas com a conquista deste no outono de 1915, suas presenças foram reduzidas. Por aproximadamente três anos, essas divisões não conseguiram nenhum feito notável, e apenas foram um peso a mais contra o exército búlgaro.

De fato, Keegan argumenta que "a instalação de um governo violentamente nacionalista e anti-turco em Atenas levou os gregos à mobilização pela 'Grande Grécia' - a recuperação do Império Grego a leste - que complicaria os esforços aliados para reinstalar a paz na Europa nos anos seguintes ao fim da Grande Guerra.[7]

Referências

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  1. FROMKIN, 2005, p. 318.
  2. LOHBAUER, 2005, p. 30.
  3. a b LOHBAUER, 2005, p. 33.
  4. a b c História do Mundo. «História da Primeira Guerra Mundial». Consultado em 7 de dezembro de 2008 
  5. a b c d BrasilEscola. «História da Bulgária». Consultado em 7 de dezembro de 2008 
  6. KEEGAN, 2000, p. 307.
  7. KEEGAN, 2000, p. 308.

Bibliografia

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  • FROMKIN, David (2005). O Último Verão Europeu. Quem Começou a Grande Guerra de 1914?. Rio de Janeiro: Objetiva. ISBN 85-7302-654-5 
  • KEEGAN, John (2000). The First World War (em inglês). [S.l.]: Vintage. 528 páginas. ISBN 0-375-70045-5 
  • LOHBAUER, Christian (2005). História das Relações Internacionais II. O Século XX: do Declínio Europeu à Era Global. Petrópolis: Vozes. ISBN 85-326-3227-0 


 
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