Hiberno-nórdico
- Não confundir com hiberno-normando, termo que corresponde aos colonos anglonormandos em Irlanda (século XII)
O termo hiberno-nórdico ou nórdico-gaélico faz referência à população escandinava procedente das incursões viquingues que se assentaram em Irlanda, Escócia, Gales, Hébridas, Órcadas e Mann como parte do processo de expansão e colonização durante a Era Viquingue e que durou uns 300 anos (789–1100).
Também chamados Gall-Ghàidheil, cuja tradução seria "gaels estrangeiros" (ou forasteros) e não era exclusivo para os estrangeiros nórdicos, mas que era um termo genérico para os estrangeiros em general, não a um grupo étnico concreto. Este termo sofreu muitas variações dependendo do momento cronológico e diferenças geográficas nas línguas goidélicas, por exemplo Gall Gaidel, Gall Gaidhel, Gall Gaidheal, Gall Gaedil, Gall Gaedhil, Gall Gaedhel, Gall Goidel, etc. O qualificativo moderno em irlandês é Gall-Ghaeil, enquanto em escocês é Gall-Ghàidheil.[1] Não obstante, se diferenciava-se a procedência dos escandinavos, enquanto Fionnghaill (forasteros loiros) referia-se aos colonos de ascendência noruega, Dubhghaill (forasteros morenos) eram de ascendência dinamarquesa.[2]
Como passava lá onde se assentavam permanentemente os escandinavos, se produziu com o tempo um sincretismo cultural e assimilação do idioma local como próprio, processo que se iniciou no século IX. O caso dos normandos na França merovíngia é o mais conhecido.[3]
História
editarIrlanda
editarO primeiro testemunho da chegada dos nórdicos inicia-se em 795 com o saque da [[ilha de Lambay]]. Outras incursões seguem até 832, quando começam as construções de fortalezas em seus assentamentos permanentes por todo o país. As expedições são constantes ao longo do século X, mas também a resistência da população local. Nascem pequenos reinos, cidades-Estado:
Estes reinos tiveram um rápido crescimento entre 850 e 860 e compunham-se principalmente de irlandeses nativos que tinham renunciado ao cristianismo e abraçado as crenças dos viquingues e celtas compartilhando numa boa percentagem parentesco com eles, bem como colonos nórdicos. A mistura de raças, cultura, religião e interesses políticos fez-lhes praticamente independentes e sem laços de compromisso com ninguém; os mestiços batalhavam contra noruegueses, irlandeses ou forças combinadas de ambos quando criavam oportunidade.[4] Não sobreviveriam as invasões normandas do século XII, ainda que as cidades seguiram crescendo e prosperando. Os escandinavos sofreram severas derrotas por parte de Máel Sechnaill mac Domnaill, e em 1014 Brian Boru acaba com a supremacia dos homens do norte na batalha de Clontarf, e foram finalmente absorvidos na vida religiosa e política da ilha.[5]
Escócia, Mann e as Ilhas
editarOs hiberno-nórdicos gaelizados dominaram o mar da Irlanda até a invasão normanda do século XII, fundando reinos e dinastias que perduraram gerações como a ilha de Man, ilhas Orcadas, ilhas Hébridas, ilhas Xetlândia, bem como Argyll, Galloway, Caithness e Sutherland no norte de Escócia e em alguns períodos o poder dos caudilhos viquingues também se estendeu a Iorque na Inglaterra. Em Escócia, o equivalente dos Gall Gaidhel irlandeses foram chamados Gall-Gael (escoceses estrangeiros).[6]
Desta população mista, procedem os famosos gallowglass (soldados estrangeiros), um exército mercenário que serviu à Coroa da Irlanda desde princípios do século XIII até mediados do XVI.[7] Ao finalizar seu serviço, a maioria assentaram-se em território irlandês.
Islândia e as Ilhas Feroé
editarSegundo recolhe-se em Landnámabók (livro dos assentamentos) teve uma presença de papar em Islândia antes da chegada da colonização escandinava, mais ou menos confirmado pelos comentários de Dicuil. Não obstante, a falta de registros arqueológicos é uma conjectura amparada só por escritos contemporâneos ainda que é verdadeiro tanto Islândia como as ilhas Feroé tiveram uma importante presença de hiberno-nórdicas, bem como colonos, escravos, serventes ou esposas. A esta população denominava-lha Vestmen (Gaels), um apelativo que se conserva na cidade feroesa de Vestmanna, e Vestmannaeyjar em Islândia onde se diz que chegavam os thralls (escravos) irlandeses que escapavam de seu cativeiro. No entanto, «Vestman» pode referir-se só aos colonos procedentes das ilhas ocidentais escandinavas.
Nas sagas nórdicas aparecem várias personagens de origem gaélico, por exemplo Njáll Þorgeirsson da saga de Njál. Niall é um nome próprio de origem gaélico. Patreksfjörður em Islândia, tem sua origem no nome Padraig. E várias localizações têm nomes relacionados com os monges hiberno-nórdicos papar, em Islândia e as ilhas Feroé.
Grímur Kamban, considerado o descubridor e primeiro colono das ilhas Feroé, pôde ser de origem hiberno-nórdico. Segundo a saga Faereyinga o primeiro colono em sentar nas Ilhas Feroé foi Kamban - Hann bygdi fyrstr Færeyar, que junto a seus seguidores obrigou aos anacoretas (papar) ao abandono de suas localizações. O apelido Kamban tem provavelmente uma origem gaélica e uma interpretação é que se refira a certa malformação física, ainda que também pode referir a uma condição atlética e valor como desportista. É bastante provável que fosse um jovem procedente da Irlanda viquingue e segundo a tradição local seu assentamento esteve em Funningur, Eysturoy.[8]
Herança
editarMuitos nomes e sobrenomes atuais, especialmente nas ilhas ocidentais e Man, têm sua origem na colônia hiberno-nórdica:
Sobrenomes
editarGaélico | Forma anglicanizada | "Filho de-" |
---|---|---|
MacAsgaill | MacAskill, MacCaskill | Áskell |
MacAmhlaibh | MacAulay, MacAuliffe | Óláf |
MacCorcadail | McCorquodale, Corkill, McCorkindale | Thorkell |
Cotter | Cotter, MacCotter | Óttar |
MacÌomhair | MacIver, MacIvor | Ivar, Ingvar |
MacShitrig[9] | MacKitrick, McKittrick | Sigtrygg |
MacLeod | MacLeod | Ljótr (literalmente "feio")[10] |
Nomes próprios
editarGaélico | Forma anglicanizada | Equivalente nórdico |
---|---|---|
Amhlaibh (às vezes confunde-se com o gaélico Amhlaidh/Amhalghaidh) | Aulay (Olaf) | Ólaf |
Goraidh | Gorrie (Godfrey, Godfred), Orree (Ilha de Man) | Godfrið |
Ìomhar | Ivor | Ívar (Ingvar) |
Raghnall | Ranald (Ronald, Randall) | Rögnvald |
Somhairle | Sorley (às vezes anglicanizado como "Samuel") | Sumarliði (Somerled) |
Tormod | Às vezes tem-se anglicanizado como "Norman" | Þormóðr |
Torcuil | Torquil | Torkill, Þorketill |
Ver também
editar- Hiberno-normando
- Uí Ímair
- Dubgaill e Finngaill
Referências
- ↑ Hiberno-Norwegians and Anglo-Danes:anachronistic ethnicities and Viking-Age England (Clare Downham.
- ↑ CELT
- ↑ & http://www.ucc.ie/celt/hibfrbib.html Textos hiberno-normandos, dialecto francés de los normandos
- ↑ J.H. Todd (1876) The War of the Gaedhil with the Gael, p. 11.
- ↑ Conell Mageoghagan, trad.
- ↑ Gwyn Jones, A History of the Vikings, Oxford University Press, 1973, p. 206.
- ↑ «gallowglass» (em inglês). Consultado em 27 de setembro de 2011[ligação inativa]
- ↑ Schei, Liv Kjørsvik & Moberg, Gunnie (2003) The Faroe Islands.
- ↑ McKittrick, significado e historia Revisado 2011-09-22
- ↑ Mcleod, significado e historia Revisado 2011-09-22
Bibliografia
editar- Downham, Clare (2009). Hiberno-Norwegians and Anglo-Danes. [S.l.: s.n.]Mediaeval Scandinavia 19. University of Aberdeen: [s.n.] ISSN 0076-5864
- Haywood, John (1995). The Penguin Historical Atlas of the Vikings. London: Penguin. ISBN 0-14-051328-0
- McDonald, R. Andrew (1997). The Kingdom of the Isles: Scotland's Western Seaboard, c.1100-c.1336. East Linton: Tuckwell Press. ISBN 1-898410-85-2
- Ó Cróinín, Dáibhí (1995). Early Medieval Ireland, 400-1200. London: Longman. ISBN 0-582-01566-9
- Oram, Richard (2000). The Lordship of Galloway. Edinburgh: John Donald. ISBN 0-85976-541-5
- Scholes, Ron (2000). Yorkshire Dales. Derbyshire: Landmark. ISBN 1-901522-41-5