Kurt Welter
Kurt Welter (Lindenthal, 25 de Fevereiro de 1916 — Leck, 7 de Março de 1949) foi um piloto alemão da Luftwaffe durante a Segunda Guerra Mundial. Foi o maior ás a jato da história da aviação.[Notas 1] Um ás, ou ás da aviação, é um piloto militar que tenha abatido cinco ou mais aeronaves inimigas em confronto aéreo.[1] Welter abateu um total de 63 aeronaves inimigas ao longo da sua carreira, em apenas 93 missões de combate. 56 das suas vitórias ocorreram de noite, incluindo 33 Mosquitos,[Notas 2] e também abateu mais de 20 aeronaves pilotando o Messerschmitt Me 262, fazendo dele o maior ás da aviação em aviões a jato da Segunda Guerra Mundial e da história da aviação.[2]
Kurt Welter | |
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Welter c. 1945 | |
Nascimento | 26 de fevereiro de 1916 Lindenthal, Reno, Império Alemão |
Morte | 7 de março de 1949 (33 anos) Leck, Schleswig-Holstein, Alemanha Ocidental |
Nacionalidade | alemão |
Serviço militar | |
País | Alemanha Nazista |
Serviço | Luftwaffe |
Anos de serviço | 1934–1945 |
Patente | Oberleutnant |
Unidades | JG 301, JG 300, NJGr 10, Kdo Stamp, Kdo Welter, NJG 11 |
Conflitos | Segunda Guerra Mundial |
Condecorações | Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro |
Welter nasceu em Lindenthal a 25 de Fevereiro de 1916. Ele juntou-se à Luftwaffe em 1934 e recebeu instrução e treino de pilotagem. Demonstrou uma forte habilidade natural como piloto e depressa foi escolhido para ser instrutor de voo, ficando neste cargo durante muitos anos. Em 1943 Welter foi transferido para uma unidade operacional de caças noturnos, pilotando aviões de caça a pistão. A 18 de Outubro de 1944, depois de 40 missões de combate, Welter foi agraciado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro.
No início de 1945, foi novamente transferido para uma unidade de caças experimentais onde iria pilotar o Messerschmitt Me 262. A 11 de Março de 1945 foi agraciado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho pelas suas 48 vitórias aéreas. Welter sobreviveu à guerra, mas foi vítima de um acidente enquanto esperava numa passagem de nível, a 7 de Março de 1949.[3]
Biografia
editarWelter nasceu a 25 de Fevereiro de 1916 em Lindenthal. Depois de completar os estudos, juntou-se à Luftwaffe no dia 1 de Outubro de 1934, recebendo instrução e treino de pilotagem.[4] Dada a excelente prestação durante a sua formação como piloto, Welter foi colocado como instrutor de pilotagem. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi promovido a Feldwebel no dia 1 de Agosto de 1940, sendo transferido para a escola de voo Flieger-Ausbildungs-Regiment 63 e, mais tarde, para outra escola em Quedlinburg; nesta, serviu como instrutor até 10 de Agosto de 1943, quando foi transferido para a sua última escola, a Blindflugschule 10 em Altenburg, com a patente de Oberfeldwebel, instruindo futuros pilotos de caças noturnos.[5]
A 2 de Setembro de 1943 Welter é transferido para a Jagdgeschwader 301 (JG 301), uma unidade de caças noturnos que estava a testar o uso de caças Fw 190A-5 e Fw 190A-6 à noite, muitas vezes equipados com o sistema Naxos, em missões referidas como Wilde Sau. Na primeira missão em que aplicou a técnica Wilde Sau, onde interceptou bombardeiros aliados na noite de 22 de Setembro de 1943, Welter abateu dois bombardeiros quadrimotor. Abateu mais dois na sua terceira missão na noite de 3 de Outubro de 1943. No início de Abril de 1944, já havia acumulado 17 vitórias em apenas 15 missões. Consequentemente, a 10 de Maio de 1944, Welter foi condecorado com a Cruz Germânica em ouro. A 7 de Julho de 1944, é transferido para a Jagdgeschwader 300 (JG 300).[5] Neste mês, Welter ceifou mais dois bombardeiros B-17 norte-americanos e três caças P-51.[6] A partir de 25 de Julho, Welter serviu o Nachtjagdgruppe 10 (NJGr 10), onde continuou a aplicar a técnica Wilde Sau. Abateu mais quatro bombardeiros britânicos Lancaster na noite de 29 de Agosto de 1944.[5]
Welter é novamente transferido para a 10. Staffel da JG 300 a 4 de Setembro de 1944, uma Staffel criada para combater os Mosquitos da RAF. Em Setembro, Welter abateu 7 Mosquitos, incluindo um por abalroamento. Estima-se que Welter, enquanto piloto na JG 300, tenha abatido 12 vitórias em apenas 18 missões.[7] Na noite de 19 de Setembro de 1944, de acordo com Hinchliffe, Welter poderá ter abatido o famoso piloto britânico Guy Gibson. O Mosquito de Gibson despenhou-se perto de Steenbergen, nos Países Baixos. Welter foi novamente condecorado, desta vez com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro, no dia 18 de Outubro de 1944, pelas suas 33 vitórias em apenas 40 missões.[5]
Messerschmitt Me 262
editarA 2 de Novembro de 1944, Welter é transferido para o II. Gruppe da Nachtjagdgeschwader 11 (NJG 11), uma versão renovada da sua antiga unidade. Aqui, foi-lhe dado o comando de um Kommando especial, criado a 11 de Novembro de 1944, dedicado a efectuar intercepção de Mosquitos com o Messerschmit Me 262. De acordo com algumas fontes, Welter adicionou mais um Lancaster à sua lista de vitimas, na noite de 12 de Dezembro de 1944, sendo a primeira vitória aérea nocturna de um avião a jato.[8] Outras fontes relatam que a sua primeira vitória aérea pilotando um Me 262 apenas ocorreu a 2 de Janeiro[9] de 1945 ou a 5 de Janeiro.[10] No dia 28 de Janeiro, a unidade que inicialmente se chamava Sonderkommando Stamp, baptizada em honra ao seu fundador, o Major Gerhard Stamp, e depois se chamou Sonderkommando Welter, foi redesignada 10. Staffel/NJG 11 e transferida de Rechlin–Lärz para Magdeburg. A unidade foi equipada com aviões Me 262 sem radar, e foi-lhe atribuída a missão de interceptar Mosquitos do Grupo N.º 8 da RAF na área de Berlim, com a ajuda de radares terrestres e holofotes.[11] No início de Fevereiro de 1945, Welter já havia ceifado três aeronaves aliadas com o seu Me 262.[11]
Mais tarde, Welter fez uma série de reivindicações questionáveis sobre vitórias aéreas contra Mosquitos na área de Berlim - três na noite de 21 de Fevereiro (nenhum Mosquito perdido),[12] e outras três na noite de 2 de Março de 1945 (apenas um Mosquito ficou danificado).[13] 10./NJG 11 também reivindicou diversos Mosquitos que atacavam Berlim nas noites de 21 de Março (três reivindicados, mas apenas um se perdeu),[14] 23 de Março (de três, apenas um se perdeu e outro ficou danificado),[15] 24 de Março (de dois, apenas um Mosquito ficou danificado),[16] 27 de Março (de dois, realmente dois Mosquitos foram abatidos),[17] 30 de Março (de quatro, um Mosquito perdeu-se e outro ficou danificado),[18] 2 de Abril (de um, realmente um foi abatido),[19] 3 de Abril (de dois, um foi abatido e outro ficou apenas danificado),[19] e de 19 de Abril (de duas reivindicações, dois Mosquitos foram realmente abatidos).[20] A última vitória de Welter ocorreu na noite de 3 de Abril de 1945, quando um Mosquito do Esquadrão N.º 139 da RAF foi abatido em Berlim.[19] Welter foi condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho a 11 de Março de 1945 pelas suas 48 vitórias.[5][21]
Controvérsia das vitórias
editarGrande parte da controvérsia que envolve as vitórias de Welter com o Me 262 tiveram origem num memorando, escrito pelo próprio, a 29 de Maio de 1945, para os seus carcereiros britânicos. Neste memorando, Welter relata que entre Dezembro de 1944 e o final de Janeiro de 1945, como único piloto do Kommando Welter, ele voou 7 missões de combate e obteve três vitórias contra Mosquitos e duas contra bombardeiro Lancaster. Welter também alegou que, de 28 de Janeiro de 1945 até ao final da guerra, a 10./NJG 11 voou cerca de 63 missões de combate, e obteve 38 vitórias aéreas contra Mosquitos à noite, e 5 de dia; destas, ele pessoalmente havia abatido 20 Mosquitos à noite e dois durante o dia. Assim, de acordo com o meu memorando, um total de 25 Mosquitos e dois bombardeiros Lancaster haviam sido abatidos por ele enquanto pilotava o Me 262.[22] Documentos oficiais da Luftwaffe relatam que, no dia 4 de Abril de 1945, a 10./NJG 11 obteve 34 vitórias aéreas;[23] contudo, de acordo com os registos da RAF, apenas um máximo de 15 Mosquitos podem ter sido abatidos.[23]
Oficialmente, Kurt Welter é creditado com 63 vitórias aéreas em 93 missões, das quais 56 foram durante a noite e 7 durante o dia. Entre as 63 vitórias, pensa-se que 33 possam ter sido Mosquitos.[24] Assim, existe muita controvérsia sobre os números exactos deste piloto, com apenas três vitórias sobre Mosquitos a coincidirem com os registos históricos da RAF. Welter sobreviveu à guerra e foi trabalhar para uma fábrica de açúcar.[25] Faleceu em Leck no dia 7 de março de 1949 enquanto esperava que um comboio passasse por uma passagem de nível, contudo parte da mercadoria do comboio desprendeu-se e caiu em cima da sua viatura, vitimando-o mortalmente.[5]
Condecorações
editar- Dienstauszeichnung 4ª classe (1938)[26]
- Troféu de Honra da Luftwaffe (20 de março de 1944)[5]
- Distintivo de Voo do Fronte da Luftwaffe[26]
- Cruz Germânica em Ouro (10 de maio de 1944)[27]
- Cruz de Ferro (1939)
- Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro (18 de outubro de 1944)[29]
Notas
editar- ↑ Para ver a lista dos ases a jato da Luftwaffe, ver: Lista de ases a jato da Alemanha na Segunda Guerra Mundial
- ↑ Para ver a lista dos ases noturnos da Luftwaffe, ver: Lista de ases noturnos da Alemanha na Segunda Guerra Mundial
Referências
- ↑ Spick 1996, pp. 3–4.
- ↑ Samuel 2004, p. 46.
- ↑ Smith & Creek 2000, p. 453.
- ↑ Stockert 2008, p. 133.
- ↑ a b c d e f g Obermaier 1989, p. 73.
- ↑ Lorant & Goyat 2005, p. 237.
- ↑ Morgan & Weal 1998, p. 63.
- ↑ Radinger & Schick 1993, p. 74.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 212.
- ↑ Hinchliffe 1998, p. 306.
- ↑ a b Boiten & Mackenzie 2008, p. 208.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 275.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 289.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 341.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 342.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 343.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 347.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 348.
- ↑ a b c Boiten & Mackenzie 2008, p. 353.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 363.
- ↑ Morgan & Weal 1998, p. 64.
- ↑ Boiten & Mackenzie 2008, p. 350.
- ↑ a b Boiten & Mackenzie 2008, p. 351.
- ↑ Radinger & Schick 1993, p. 75.
- ↑ Stockert 2008, p. 134.
- ↑ a b Kurt Welter @ Ritterkreuzträger 1939–1945. Arquivado em 2015-09-24 no Wayback Machine
- ↑ Patzwall & Scherzer 2001, p. 505.
- ↑ a b Thomas 1998, p. 434.
- ↑ a b Scherzer 2007, p. 777.
- ↑ Fellgiebel 2000, p. 98.
- ↑ Von Seemen 1976, p. 56.
Bibliografia
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