Real (antiga moeda brasileira)

primeira moeda brasileira
 Nota: Este artigo é sobre o Real como moeda antiga brasileira. Para a moeda vigente no Brasil, veja Real (moeda brasileira). Para a moeda antiga portuguesa, veja Real (moeda portuguesa).

Real (plural réis) foi a unidade monetária utilizada no Brasil[3] desde sua colonização[4] até 5 de outubro de 1942, quando foi substituída pelo cruzeiro na razão de 1 cruzeiro por 1 mil-réis.[5]

Real (mil-réis)
Real (antiga moeda brasileira)
Unidade
Plural Réis
Símbolo Rs[1]
Inflação 0,23% aprox. (1869-1941, média anual)[2]
Denominações
Super-unidade Conto de réis (Rs 1:000$000)
Sub-unidade
1/1000

Real
Moedas 20, 40, 80, 100, 200, 300, 400, 640, 1.000, 2.000
Notas 500, $1.000, $2.000, $5.000, $10.000, $20.000,

$50.000, $100.000, $200.000, $500.000 e $1.000.000

Demografia
Data de retirada 1 de novembro de 1942
Substituído por Cruzeiro
Usuário(s)  Brasil
Emissão
Banco central Tesouro Nacional, Banco do Brasil
Fabricante Diversos

Como essa unidade monetária não era fracionável (diferente do Real adotado em 1994, que se fraciona em centavos) o uso do termo réis, no plural, era predominante. Um real na realidade seria equivalente a um centavo, 100 réis é que seria equivalente a 1 real (a moeda atual, lembrando que esta comparação não é no sentido de conversão de moeda). O réis funcionava de maneira similar ao iene, moeda moderna que não é fracionária. Além disso, como essa unidade monetária circulou por um longo período de tempo em cédulas múltiplas de 1000, à época, tornou-se comum o uso do termo "mil-réis" (comumente pronunciado "mirréis" ou até "merréis") como se fosse uma única palavra ou uma nova unidade monetária. "Mil-réis" seria o equivalente hoje de forma genérica a "dez reais".

Conto de réis foi uma expressão adotada no Brasil e em Portugal para indicar um milhão de réis (Rs 1:000$000). Por se tratar de uma moeda não fracionária, de forma genérica e simplista um conto de réis equivaleria a "dez mil reais" numa comparação com a moeda moderna (e se ignorarmos a conversão de moeda)[6] "Conto" deriva do latim computus, a conta dez vezes cem mil.[7] Um conto de réis correspondia a mil vezes a importância de um mil-réis (Rs 1$000), sendo assim o real 1/1 000.000 de um conto de réis em representação matemática decimal atual.

Um conto de réis era uma quantia de grande valor intrínseco: em 1833, 2$500 era representado por uma oitava (equivalente a aproximadamente 3,59 gramas) de ouro de vinte e dois quilates,[8] sendo que um conto de réis corresponderia a 1,4 quilogramas do mesmo material.

Origens e história

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O Real, cujo plural é "réis", foi a primeira moeda oficial do Brasil, utilizada desde o período colonial até 5 de outubro de 1942. Sua história está profundamente entrelaçada com a evolução econômica e política do país.[9][10][11]

Origens e Primeiros Anos

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A moeda Real foi introduzida no Brasil durante o período colonial, logo após a chegada dos portugueses. Originalmente, o Real foi trazido de Portugal, onde já era utilizado como unidade monetária. A primeira moeda cunhada no Brasil foi o Real Português, ainda no século XVI. No entanto, durante grande parte do período colonial, o Brasil utilizava uma mistura de moedas, incluindo a moeda espanhola (o peso), e até mesmo o ouro em pó, como meio de troca.[9][10][11]

Adoção e Consolidação

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Com a independência do Brasil em 1822, o país continuou a utilizar o Real como sua unidade monetária oficial. Durante o século XIX, o governo brasileiro começou a cunhar suas próprias moedas em reais, consolidando a moeda como símbolo da soberania nacional. A moeda de mil-réis, que equivalia a 1 000 réis, tornou-se uma denominação comum e amplamente utilizada no comércio e nas transações diárias.[9][10][11]

Desvalorização e Reforma Monetária

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No início do século XX, o Real passou por diversas crises inflacionárias, resultando em uma contínua desvalorização da moeda. O processo inflacionário foi exacerbado por fatores econômicos e políticos, incluindo as crises econômicas globais, como a Grande Depressão. Essa desvalorização levou à necessidade de uma reforma monetária.[9][10][11]

Em 5 de outubro de 1942, o Real foi finalmente substituído pelo Cruzeiro, na razão de 1 Cruzeiro para cada 1 000 mil-réis. Esta mudança marcou o fim da longa história do Real como moeda oficial do Brasil.[9][10][11]

Legado

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O Real permaneceu como a moeda do Brasil por mais de quatro séculos, sendo testemunha de diversos períodos históricos importantes, desde o Brasil colonial, passando pela independência, o Império, e as várias fases da República. Apesar de ter sido substituído pelo Cruzeiro em 1942, o nome "Real" foi resgatado em 1994, quando uma nova moeda foi introduzida como parte do Plano Real, um programa de estabilização econômica que ajudou a controlar a hiperinflação no Brasil.[9][10][11]

 
Cartão do início do século XX explicando valores para moedas estrangeiras.

Moedas e cédulas que se destacaram

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  • 200 réis (1889 e 1900)
Família de moedas em cuproníquel composta por moedas de 100 e 200 réis com desenho aproveitado das moedas do final do II Reinado. O anverso passou a ter a legenda "15 de novembro de 1889" - data da Proclamação da República e o reverso teve o Brasão Imperial trocado pelas Armas Nacionais da República do Brasil. Como o réis não era fracionável, pode ser comparado a "2 reais" de hoje.[12][13][14]
  • 400 réis (1901)
Moeda de maior valor da série batida em cuproníquel em 1901, encomendada à firma Basse & Selve, da Alemanha, que contratou serviços de diferentes Casas da Moeda estrangeiras. Foi cunhado um total de 161 250 000 peças, a maior produção de moedas do mundo, na época (única moeda brasileira em que a data está em algarismo romano - MCMI). A série é composta de moedas de 100, 200 e 400 Réis, com a figura da Abundância no anverso e efígie Representando a República no Reverso. Como o réis não era fracionável, pode ser comparado a "4 reais" de hoje.[12][13][14]
  • 40 e 20 réis (até 1912)
A cunhagem das moedas de bronze, iniciada no final do Império, recomeçou no período republicano. As peças inovavam com a apresentação de legendas e temas diferentes, de acordo com o valor. Deixaram de ser cunhadas em 1912. A moeda de 20 Réis trazia o lema "Vintém Poupado, Vintém Ganho". A moeda de 40 Réis tem como lema "A Economia Faz a Prosperidade". Como o réis não era fracionável, pode ser comparado a "20 centavos" e a "40 centavos" de hoje.[12][13][14]
  • Prata da República
Assim como as moedas de ouro, as de prata começaram a cair em desuso no meio circulante no período republicano, uma vez que o valor de face era depreciado pela inflação. A república abandonou as moedas de ouro em 1921 (moedas de 20$000 Réis). Já as moedas de prata continuaram em circulação até o fim do padrão Mil-réis (em 1942), sendo a última emissão em 1936, em uma moeda de 5$000 Réis homenageando Santos Dumont. No entanto o teor de prata era cada vez menor em sua composição (variando entre 50% e 60% de acordo com a moeda). É curioso observar que as moedas de prata de 1906 traziam marcado seu peso em apenas uma das faces.[12][13][14]
  • 30 000 réis
O Governo Provisório republicano também permitiu que alguns bancos emitissem cédulas. Este período ficou conhecido como período da "Pluralidade Bancária". As emissões multiplicaram-se desordenadamente, gerando inflação, o que resultou no retorno à ideia de um único emissor que, de 1892 a 1896, foi o Banco da República do Brasil. Como o réis não era fracionável, pode ser comparado a "300 reais" de hoje.[12][13][14]

Tesouro Nacional, Caixa de Conversão, Caixa de Estabilização e Banco do Brasil

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10 Réis emitido pelo Tesouro Nacional em 1833.

Após a crise causada pela "Pluralidade Bancária", as emissões foram centralizadas no Tesouro Nacional. Como o mil-réis já estava bastante desgastado pela inflação, surgiu a ideia de se adotar uma moeda lastreada no Ouro, que se chamaria Cruzeiro. Para preparar o país para esta mudança foram emitidas cédulas de Mil-réis em nome da "Caixa de Conversão" e em nome da "Caixa de Estabilização".[12][13][14]

O projeto do Cruzeiro-Ouro foi abandonado e as Cédulas da Caixa de Conversão e Estabilização foram incorporadas às demais cédulas do Tesouro Nacional. Também houve uma tentativa, na década de 1920, de se padronizar as cédulas em emissões assinadas pelo Banco do Brasil.[12][13][14]

Denominações especiais

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Moedas

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Moeda de 400 réis do período colonial (1721).
  • Vintém - 20 réis (equivalente a "20 centavos")
  • Tostão - 80 réis (período Colonial e Imperial); 100 réis (em cuproníquel emitida entre 1917 a 1932). Equivalente a "80 centavos" ou "1 real" de hoje.
  • Pataca - 320 réis (equivalente hoje a "3 reais e 20 centavos)
  • Cruzado - 400 / 480 réis (equivalente a "4 reais/4 reais e 80 centavos")
  • Patacão - 960 réis (equivalente a "9 reais e 60 centavos")
  • Dobra - 12 800 réis (12$800) (equivalente a "128 reais" de hoje)
  • Dobrão - 20 000 réis (20$000) (equivalente a "200 reais")

O réis não era fracionável, comparações acima ignoram a conversão de moeda e foram feitas para a melhor abstração de um público-alvo que cresceu num ambiente com moeda fracionável.[12][13][14]

Cédulas

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  • 500 réis - 1ª estampa (1874), 4ª estampa (1901). Equivalente a "5 reais" de hoje.
  • 1$000 réis - 1ª estampa (1835), 13ª estampa (1923). Equivalente a "10 reais" de hoje.
  • 2$000 réis - 1ª estampa (1835), 15ª estampa (1923). Equivalente a "20 reais" de hoje
  • 5$000 réis - 1ª estampa (1835), 19ª estampa (1925). Equivalente a "50 reais " de hoje.
  • 10$000 réis - 1ª estampa (1835), 17ª estampa (1925). Equivalente a "100 reais" de hoje.
  • 20$000 réis - 1ª estampa (1835), 16ª estampa (1931). Equivalente a "200 reais" de hoje.
  • 50$000 réis - 1ª estampa (1835), 17ª estampa (1936). Equivalente a "500 reais" de hoje.
  • 100$000 réis - 1ª estampa (1835), 17ª estampa (1936). Equivalente a "mil reais" de hoje.
  • 200$000 réis - 1ª estampa (1835), 17ª estampa (1936). Equivalente a "dois mil reais" de hoje.
  • 500$000 réis - 1ª estampa (1836), 15ª estampa (1931). Equivalente a "cinco mil reais" de hoje.
  • 1:000$000 réis (um conto de réis), única estampa (1921). Equivalente a "dez mil reais" de hoje.

O réis não era fracionável, comparações acima ignoram a conversão de moeda e foram feitas para a melhor abstração de um público-alvo que cresceu num ambiente com moeda fracionável.[12][13][14]

Moedas

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Valor Cara Coroa Cara Coroa Cara Coroa
100            
1871/Fundo Liso 1936/Brasileiros Ilustres 1 1940/Getúlio Vargas
200    
1937/Brasileiros Ilustres 1
300        
1938/Brasileiros Ilustres 1 1942/Getúlio Vargas
400        
1918/República 1936/Brasileiros Ilustres 1
1000            
1922/Centenário da Independência 1931/Fortuna 1938/Brasileiros Ilustres 1
2000        
1938/Brasileiros Ilustres 1 1939/Brasileiros Ilustres 2
4000    
1812

Comparação dos valores

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Anverso de moeda de prata de 1000 réis de 1866. Período do Segundo Reinado.

No livro 1808, Laurentino Gomes faz uma conversão de réis em Real, baseando-se em outros autores que se empenharam para torná-la a mais próxima do valor atual, levando em consideração os valores da inflação.[15] Cabe lembrar que a conversão, mesmo próxima, não é exata. O valor aproximado é o seguinte:[12][13][14]

  • 1 Real (Réis) - R$ 0,123
  • 1 Mirréis (Mil Réis) - R$ 123,00
  • 1 Conto de Réis (Mil mirréis) - R$ 123.000,00
  • 900 Contos de Réis - R$ 110 700 000,00
  • Em 1846, o Império conseguiu o 1º orçamento superavitário graças às novas rendas da Alfândega. Nessa época 1 saca de café era comprada por 12$000 réis e um escravo valia 350$000 réis, os escravos com habilidades (carpinteiro, fundidor¸ maquinista, etc.) valiam 715$000 réis.
  • Em 1854, a receita total do Império foi de 35.000 contos de réis.
  • Entre  1856 1862, em Vassouras, 1 conto de réis (1:000$000=1 milhão de réis) comprava 1 escravo. 
  • Em 1860, 1 conto de réis (1:000$000= 1 milhão de réis) comprava 1 kg. de ouro.
  • Considerando que, em 15 de novembro de 1889, o menor salário mensal (de uma pessoa sem nenhum conhecimento) do Brasil Imperial era 25$000 Réis ou 22,5 gramas de ouro, ou para o caso do ouro cotado em R$ 130,00 o grama (2017) o salário mínimo seria de R$ 2 925,00 (2017), o salário de uma professora primária era 45$000 Réis (aproximadamente R$ 5 269,00), o salário mensal de um Reitor/Professor Secundário 167$000 Réis (R$ 19 555,00), o maior salário mensal do País em 300$000 Réis (R$ 35 125,00) e para fins de referência e cálculos toma-se aqui o ouro puro, ou seja, 9 (nove) gramas de ouro 24 quilates, em 15 de novembro de 1889 valiam 10$000 réis. Vale recordar que os valores expostos são meramente simbólicos e a conversão se baseia somente na cotação do ouro.

Referências

  1. Moedas do Brasil. «Reformas Monetárias». Consultado em 27 de setembro de 2015 
  2. Paulo Neuhaus (1978). «A inflação brasileira em perspectiva histórica». Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 27 de setembro de 2015 
  3. BRASIL, Banco do. Brasil através da Moeda. Rio de Janeiro, Centro Cultural Banco do Brasil/Oswaldo Colin, 1995.
  4. O Caixa. «Histórico das Alterações na Moeda Nacional». Consultado em 27 de setembro de 2015. Arquivado do original em 15 de novembro de 2015 
  5. Antonelli, Diego (20 de julho de 2013). «Do pau-brasil ao real». Gazeta do Povo. Arquivado do original em 23 de outubro de 2013 
  6. Quanto era 1 conto de réis?
  7. GVOZDANOVIĆ, Jadranka (1991). Indo-European Numerals (em inglês). [S.l.]: Walter de Gruyter. p. 473. ISBN 3110113228. Consultado em 27 de setembro de 2015 
  8. Cândido José de Araújo Viana. «Lei nº 59, de 8 de outubro de 1833». Câmara dos Deputados do Brasil 
  9. a b c d e f Bueno, Eduardo. A História do Brasil para quem tem pressa. 2013.
  10. a b c d e f Fausto, Boris. História do Brasil. 1994.
  11. a b c d e f Furtado, Celso. Formação Econômica do Brasil. 1959.
  12. a b c d e f g h i j Amato, C.; Neves, I.S.; Russo, Arnaldo: Cédulas do Brasil, São Paulo, 4ª edição, 2007.
  13. a b c d e f g h i j Amato, C.; Neves, I.S.; Russo, Arnaldo: Livro das moedas do Brasil, São Paulo, 11ª edição, 2004.
  14. a b c d e f g h i j Souza, S.D.: Cédulas Brasileiras, São Paulo, 7ª edição, 1994.
  15. Gomes, Laurentino, 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil, São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.