Utrículo
O utrículo (em latim: utriculus, diminutivo de uter, que significa "bolsa de couro"), junto com o sáculo, é um dos dois órgãos otolíticos localizados no ouvido interno de vertebrados. O utrículo e o sáculo são parte do aparato de equilíbrio (labirinto membranoso), localizado no vestíbulo do labirinto ósseo (pequena câmara oval).[1]
Eles utilizam pequenas pedras e um fluido viscoso para estimular células ciliadas, propiciando assim a detecção de orientação e movimento. O utrículo detecta aceleração linear e a inclinação da cabeça no plano horizontal.
Estrutura
editarO utrículo é maior que o sáculo e é de forma oblonga, comprimida transversalmente e ocupa a parte traseira do vestíbulo, em contato com o recesso elíptico e a parte abaixo desse. A mácula utricular é uma região espessa da parede do utrículo onde o epitélio contém células ciliadas vestibulares que permitem a percepção de mudanças na aceleração longitudinal e efeitos gravitacionais
A camada gelatinosa e os otólitos são referidos conjuntamente como membrana otolítica, onde a ponta de estereocílios e cinocílios são alojados. Quando a cabeça é inclinada, a gravidade puxa os otólitos e, consequentemente, a membrana gelatinosa, levando os pelos sensoriais a dobrarem-se.
Dentro do utrículo, horizontalmente no "chão", há uma zona de 2x3mm de células ciliadas mecanoceptoras. As células da chamada mácula utricular consistem de 40 a 70 estereocílios e um único cílio verdadeiro, chamado cinocílio. O cinocílio é o único aspecto sensorial da célula e é responsável pela polarização da célula. As pontas desses cílios encontram-se na membrana otolítica gelatinosa.[2] Essa membra fica mais pesada devido a grânulos de proteína-carbonado de cálcio chamados otólitos. A membrana otolítica adiciona peso ao topo das células ciliadas e aumentam sua inércia. A adição em peso e inércia é crucial para a habilidade do utrículo de detectar aceleração linear, como descrito abaixo, e para determinar a orientação da cabeça[3]
Histologia
editarA mácula consiste em três camadas. A inferior é feita células ciliadas sensoriais alojadas na parte inferior da camada gelatinosa. Cada célula tem de 40 a 70 estereocílios e o cinocílio. Esse último é o receptor mais importante para esse processo.
No topo dessa camada, encontram-se cristais de carbonato de cálcio chamados otólitos. Os otólitos são pesados, provendo peso à membrana, assimcomo inércia. Isso permite uma melhor sensação de gravidade e movimento
A atividade labiríntica responsável pelo nistagmo induzido por rotação fora do eixo vertical tem origem nos órgãos otolíticos e é acoplada ao sistema oculomotor pelo mecanismo de acúmulo de velocidade.[4]
A porção que aloja-se no recesso forma uma bolsa, ou cul-de-sac, o piso e a parede anterior dos quais se tornam espessos e formam a macula acústica utricular, que é inervadas pelos filamentos utrículares do Nervo VIII.
A cavidade do utrículo comunica-se atrás com os dutos semicirculares por cinco orifícios.
O duto utriculosacular parte da parede anterior do utrículo e se abre no ducto endolinfático
Função
editarO utrículo contém mecanoceptores chamados de células ciliadas capazes de distinguir entre graus de inclinação da cabeça graças aos seus estereocílios. Esses são cobertos por otólitos que, devido à gravidade, os puxam e dobram. Dependendo da direção da inclinação, a resposta da célula pode ser excitatória(depolarização) ou inibitória (hiperpolarização). Qualquer orientação da cabeça gera uma combinação de estímulos aos utrículos e sáculos de ambas orelhas. O encéfalo então interpreta a orientação da cabeça através de comparação de ambos inputs entre si e com inputs dos olhos e de receptores de estiramento no pescoço, o que leva a percepção de inclinação só da cabeça ou do corpo todo. A inércia das membranas otolíticas é especialmente importante para detectar aceleração linear. Supondo que você está num carro, parado no semáforo, e,então, você entra em movimento. A membrana otolítica da mácula utricular se "atrasa " (devido à inércia) brevemente em relação ao resto dos tecidos, os esterocílios são dobrados para trás e as células depolarizam. Quando você para, a mácula para, mas a membrana otolítica continua por um momendo, dobrando para frente os estereocílios. As células convertem esse padrão de estimulação em sinais nervosos e o cérebro é então avisado de mudanças na sua velocidade linear.[5] Esse sinal para o nervo vestibular não se adapta, não "acostuma", com o tempo . Ou seja, mesmo um indivíduo dormindo por horas e horas irá continuar detectando sua posição como deitado.
Ver também
editarReferências
- ↑ Moores, Kieth L.
- ↑ Johnsson, LG; Hawkins JE, Jr (22 de setembro de 1967). «Otolithic membranes of the saccule and utricle in man.». Science. 157 (3795): 1454–6. PMID 5341324. doi:10.1126/science.157.3795.1454
- ↑ Saladin, Kenneth S. (2010). Anatomy & physiology : the unity of form and function 5th ed. Dubuque: McGraw-Hill. ISBN 0073525693
- ↑ Cohen, B; Suzuki, JI; Raphan, T (3 de outubro de 1983). «Role of the otolith organs in generation of horizontal nystagmus: effects of selective labyrinthine lesions.». Brain Research. 276 (1): 159–64. PMID 6626994. doi:10.1016/0006-8993(83)90558-9
- ↑ Saladin, Kenneth S.
Esse artigo incorpora tradução livre de texto em domínio público da vigésima edição de Gray's Anatomy (1918)