Mostrar código-fonte de Mauritânia Tingitana

{{Ver desambig|este=a província romana|o país moderno|Mauritânia|ou=Mauritânia (desambiguação)}}
{{Info/Subdivisão extinta
|native_name = {{Smallcaps|Provincia Mauretania Tingitana}}
|conventional_long_name = Província da Mauritânia Tingitana
|common_name = Mauritânia Tingitana
|continent = África
|subdivision = [[Província romana|Província]]
|nation = [[Império Romano]] e [[Império Bizantino]]
|era = [[Antiguidade Clássica]], [[Antiguidade Tardia]]
|capital =[[Tingis]] {{NotaNT|Segundo algumas fontes, no {{DC|{{séc|I}}|x}} a capital era [[Volubilis]].<ref>{{Citation|last=Rogerson|first=Barnaby|year=2010|title=Marrakesh, Fez and Rabat|publisher=Cadogan Guides|location=Londres|lingua=en|isbn=978-1-86011-432-8}}</ref>}}
|title_leader =''[[Praeses]]''
|
|image_map = Provinciaromana-MauritaniaTingitana-pt.svg
|image_map_caption = Província da Mauritânia Tingitana em destaque dentro do Império Romano, 117 d.C.
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|life_span = {{dtlink|||42}}—{{ca.|{{Dtlink|||590}}}}
|year_start = 42
|event_start =Morte do último [[rei da Mauritânia]], [[Ptolemeu da Mauritânia|Ptolemeu]]
|year_end = ''ca.'' 590
|event_end = Fundida na [[Mauritânia Secunda]]
|year_event1 = 430s
|event1 = Conquistada pelos [[vândalos]]
|year_event2 = 534
|event2 = Reconquistada depois da [[Guerra Vândala]]
|date_post=Séc. VII
|event_post=[[Conquista muçulmana do Magrebe]]
|p1=Reino da Mauritânia
|s1=Califado Omíada
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}}
'''Mauritânia Tingitana''' foi uma [[província romana]] localizada no noroeste da [[África]], no território onde está o [[Marrocos]] e as cidades [[Espanha|espanholas]] de [[Ceuta]] e [[Melilla]]. Ela se estendida da península mais ao norte, no [[estreito de Gibraltar]], até Sala ([[Chellah]]) e [[Volubilis]] no sul<ref>[http://www.megalithic.co.uk/article.php?sid=17910 C. Michael Hogan, ''Chellah'', The Megalithic Portal, ed. Andy Burnham]</ref>. Para o leste, a fronteira era o [[rio Laou]]. A capital era [[Tingis]] ({{langx|ber|''Tingi''}}), no local onde está Tânger. Outras grandes cidades da província eram [[Júlia Valência Banasa]] e [[Lixo (cidade)|Lixo]]<ref>[http://hera.ugr.es/tesisugr/15472954.PDF  University of Granada: Mauretania Tingitana (in Spanish)]</ref>.

== História ==
Depois da morte de [[Ptolemeu da Mauritânia]], o último [[rei da Mauritânia]], em {{DC|40|x}}, o [[imperador romano]] [[Cláudio]] organizou o território em duas províncias: a [[Mauritânia Cesariense]] e a Mauritânia Tingitana, com o [[rio Mulucha]], cuja foz se situa cerca de 12&nbsp;km a oeste da fronteira atual entre Marrocos e a [[Argélia]], separando as duas<ref>Richard J.A. Talberts, ''Barrington Atlas of the Greek and Roman World'' - p. 457</ref>.

A ocupação romana, porém, não avançava muito para o interior. No extremo ocidente, o limite sul deste avanço era [[Volubilis]], que estava cercada de acampamentos militares como o de [[Tocolósida]], ligeiramente para o sudeste, e Ain Chkour para o noroeste, além de um [[fosso]]. Na costa do [[Atlântico ]], [[Sala Colônia]] era também protegida por um fosso, uma muralha e uma sequência de torres.

Porém, não havia uma linha contínua de fortificações: não há evidências de que tenha existido uma muralha como [[Muralha de Adriano|a que protegia]] a turbulenta fronteira na [[Britânia (província romana)|Britânia]], na outras extremidade do império. O que havia era uma rede de fortes e fossos que funcionavam mais como um filtro. O ''[[limes]]'' — palavra da qual deriva o termo "limite" em português — protegia as regiões que estavam sob controle direto romano ao canalizar os contatos com o interior através dos grandes assentamentos, regulando as ligações entre os nômades e viajantes com as cidades e fazendas das áreas ocupadas.

O mesmo povo vivia dos dois lados do ''limes'', embora a população fosse bem reduzida. Volubilis tinha, no máximo, {{formatnum|20000}} habitantes no {{séc|II}}. Com base nas evidências [[epigrafia|epigráficas]], por volta de 10 a 20% dela era formada por pessoas de origem europeia, majoritariamente da [[Península Ibérica]]. O resto era nativo da região.

Historiadores romanos como [[Ptolemeu (geógrafo)|Ptolemeu]] considerava que todo o território do Marrocos para o norte dos [[Montes Atlas]] como sendo parte do [[Império Romano]] pois, na época de [[Augusto]], a Mauritânia era um [[reino cliente]] e seus monarcas, como {{Lknb|Juba|II}}, controlavam toda a região ao sul de Volubilis. O controle efetivo das [[legião romana|legiões romanas]] chegava no máximo até a região de Sala Colônia (o [[Castro (acampamento)|Castro]] "Exploração dos Mercúrios" (''Exploratio Ad Mercurios''), ao sul de Sala, é o assentamento romano mais meridional descoberto na região até hoje). Alguns historiadores, como [[Leão Africano]], acreditam que a fronteira romana alcançava a região de [[Casablanca]], fundada pelos romanos como um porto. De fato, a moderna cidade de [[Azamor]] está sobre a antiga [[Azama]], um porto comercial [[fenícios|fenício]] e, posteriormente, [[Roma Antiga|romano]].

[[Plínio, o Velho]], descreveu detalhadamente a região ao sul dos [[Montes Atlas]] por ocasião da campanha de [[Caio Suetônio Paulino]] em 41:
{{Citação2|Suetônio Paulino, que foi [[cônsul romano|cônsul]] em nosso tempo, foi o primeiro general romano a avançar por uma distância de algumas [[milha romana|milhas]] além dos Montes Atlas. Ele nos deu as mesmas informações que já havíamos recebido de outras fontes sobre a extraordinária altura dessas montanhas e, ao mesmo tempo, ele afirmou que as partes baixas no sopé deles estão cobertas por uma floresta densa e alta, composta por árvores de espécies até então desconhecidas. A altura destas árvores, diz ele, é incrível; os troncos não têm nós e tem uma casca lisa e brilhante; a folhagem é como a dos [[cipreste]]s e, além de exalarem um forte odor, estão cobertas por uma sedosa penugem a partir da qual, pela habilidade artística, um fino tecido pode ser facilmente fabricado, muito similar aos que se produzem pelo [[bicho da seda]]. Ele nos informa que o cume da montanha é recoberto de neve mesmo no verão e diz que, tendo chegado lá depois de uma marcha de dez dias, avançou por algum tempo para além até chegar num rio que tem o nome de "Ger"{{
NotaNT|Esse ''rio Ger'' pode referir-se a um afluente setentrional do [[rio Níger|Níger]].
}}; a estrada que atravessa os desertos está recoberta por uma areia negra a partir da qual rochas que parecem ter sido expostas pelo fogo se projetam de vez em quando; as localidades se tornaram praticamente inabitáveis por causa da intensidade do calor, como ele próprio experimentou, embora fosse inverno quando as visitou.|''[[História Natural (Plínio)|História Natural]]'' 5.1|Plínio, o Velho <ref>Plínio, o Velho, ''[[História Natural (Plínio)|História Natural]]'' [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?lookup=Plin.+Nat.+5.1 5.1]</ref> {{NotaNT|Há uma contradição geográfica nesta narrativa de Plínio, pois a parte mais alta do que se chama atualmente Atlas, muito provavelmente a única onde há neve todo o ano, é também a parte mais a sul, o [[Alto Atlas]]. Se incluirmos o [[Anti-Atlas]] e o [[Jbel Saghro]] como sendo aina parte do Atlas, então deixa de ser a região mais a sul, mas é improvável que houvesse neve no verão e de qualquer forma são regiões áridas, ao contrário de muitas áreas do Alto Atlas, que se encaixam na descrição das florestas mencionadas por Plínio. A contradição desaparece se considerarmos que para Plínio o Atlas só ia até ao Médio Atlas. Por outro lado, a areia negra pode referir-se a certas áreas do Jbel Saghro.}}}}

=== Província romana ===
[[Imagem:Roman Spain - AD 400.png|thumb|300px|A Mauritânia Tingitana num mapa da [[Diocese da Hispânia]], {{ca.|400}}]]
Durante o reinado de [[Juba II]], o [[imperador romano|imperador]] [[Augusto]] já havia fundado três [[colônia romana|colônias]] (habitadas [[cidadão romano|cidadãos romanos]]) na Mauritânia, próximas da costa: [[Júlia Constância Zilil]], [[Júlia Valência Banasa]] e [[Júlia Campestre Babba]]. Havia também na região uma colônia judaica, cuja presença se comprovou arqueologicamente<ref>''Two Thousand Years of Jewish Life in Morocco'', [[Haim Zafrani]], Ktav, 2005, p. 2</ref>.

Esta porção ocidental da Mauritânia tornar-se-ia a província da Mauritânia Tingitana logo depois. Ela permaneceu como parte do Império Romano até 429, quando os [[vândalos]] cruzaram o [[estreito de Gibraltar]] e conquistaram a região, encerrando o domínio romano.

A mais importante cidade da Mauritânia Tingitana era [[Volubilis]], o centro administrativo e econômico da província. As terras da Mauritânia, muito férteis, produziam uma variedade de produtos agrícolas, principalmente [[Cereal|cereais]] e [[azeite]], que eram exportados para Roma e contribuíam para a prosperidade da província.

Além disso, a Mauritânia era famosa também por sua [[Púrpura tíria|tintura púrpura]], por suas madeiras nobres e pela grande variedade de animais selvagens, como [[leão|leões]] (o hoje extinto [[leão-do-atlas]]) e [[leopardo]]s (o hoje raríssimo [[leopardo-do-atlas]]). Os nativos [[mauros]] eram soldados muito apreciados pelos romanos, especialmente em unidades de [[cavalaria ligeira]].

De acordo com a tradição, o [[martírio]] de [[Marcelo de Tânger|São Marcelo]] ocorreu em 28 de julho de 298 em Tingis.

Durante a [[reforma de Diocleciano|reforma]] de [[Diocleciano]] {{nwrap|r.|284|305}} em 296, a Mauritânia Tingitana foi subordinada à [[Diocese da Hispânia]] da [[Prefeitura pretoriana das Gálias]].

O ''[[Notitia Dignitatum]]'' demonstra ainda que, na organização militar, um conde de Tingitana (''comes Tingitaniae'') comandava um exército composto de duas [[legião romana|legiões]], três ''[[vexillatio]]'' e dois {{ilc|auxiliares palatinos||auxilia palatina}}. [[Flávio Memório]] foi um deles na metade do {{séc|IV}}. Porém, está implícito nesta fonte que havia um único comando militar para as duas províncias mauritânias, com um [[duque (Roma Antiga)|duque]] da Mauritânia (''dux Mauretaniae''; de [[patente (militar)|patente]] mais baixa) controlando sete [[coorte]]s e uma [[ala (exército romano)|ala]].

Os [[vândalos]], de origem [[tribos germânicas|germânica]], se estabeleceram na [[Bética]] em 422 sob o rei [[Gunderico]] e, a partir dali, passaram a atacar sistematicamente a Mauritânia Tingitana. Em 427, o [[conde da África]] (''comes africae''), Bonifácio, rejeitou uma ordem do imperador [[Valentiniano III]] para se apresentar na capital e derrotou um exército enviado para prendê-lo. Porém, ele teve menos sorte quando uma segunda força apareceu em 428. No mesmo ano, Gunderico foi sucedido por [[Genserico]], a quem Bonifácio convidou para África, fornecendo-lhe inclusive a frota necessária para a travessia. Bonifácio tinha a intenção de mantê-los na Mauritânia, mas, uma vez na África, os vândalos não se submeteram e marcharam para [[Cartago]].

=== Período bizantino ===
Em 533, o general bizantino [[Belisário]] reconquistou a antiga [[Diocese da África]] dos vândalos em nome do imperador [[Justiniano]] durante a chamada [[Guerra Vândala]]. Todo o território a oeste de [[Cesareia na Mauritânia]] (Cherchell) já havia sido conquistado pelos mauros, mas o recriado duque da Mauritânia mantinha uma unidade militar em [[Septem (cidade)|Septem]] (Ceuta). Este foi o último entreposto bizantino na Mauritânia Tingitana; todo o resto do que um dia fora a província romana foi organizada na nova [[Prefeitura pretoriana da África]].

O imperador [[Maurício (imperador)|Maurício]], em algum momento entre 585 e 590, criou o [[Exarcado de Cartago]]<ref name = julien273>Julien (1931, v.1, p.273)</ref> e Mauritânia Tingitana, agora efetivamente reduzida à cidade de ''[[Septem (cidade)|Septem]]'' (Ceuta), foi combinada com as [[cidadela]]s da costa espanhola (a efêmera província da [[Espânia]]) e as [[Baleares (província romana)|ilhas Baleares]] para formar a nova [[Mauritânia Secunda]], subordinada à [[Diocese da Hispânia]].

Quando os [[omíadas]] [[Conquista muçulmana do Magrebe|conquistaram todo o norte da África]], substituindo o [[cristianismo]] pelo [[islamismo]], as duas mauritânias foram reunidas na província de [[Magrebe]] ("o ocidente" em árabe), que incluía na época, além do território no Marrocos, a metade do noroeste da moderna Argélia.

== Panorama ==
{{Panorama|Panoramic view of Volubilis - Morocco.jpg|1500px|Panorama da mais importante cidade da Mauritânia Tingitana, [[Volubilis]]}}

{{Notas|grupo=nt}}

{{Referências|col=2}}

== Bibliografia ==
{{Refbegin}}
* J. B. Bury, ''History of the Later Roman Empire'' ([http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/secondary/BURLAT/home.html online])
* A. H. M. Jones, ''The Later Roman Empire,'' Blackwell, Oxford 1964. ISBN 0-631-15076-5
* [[Pauly-Wissowa]] (em alemão)
* {{Citation|author=Westermann|title=Großer Atlass zur Weltgeschichte|lingua=de}}
{{Refend}}

== Ligações externas ==
{{Commonscat|Mauretania Tingitana}}
{{Refbegin|2}}
* [http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places/Africa/Morocco/_Periods/Roman/home.html Thayer's Gazetteer] at [[LacusCurtius]]
* [https://web.archive.org/web/20050504175024/http://2.1911encyclopedia.org/M/MA/MAURETANIA.htm ''Encyclopædia Britannica'' 1911:] "Mauretania"
* [http://books.google.com/books?id=HdPYaA4nG8QC&pg=PA500&lpg=PA500&dq=exploratio+ad+mercurios+mauretania+tingitana&source=bl&ots=bMXJlDIYvm&sig=lOHx73x0Hur2uXZ6s_ZdE2mOaU4&hl=en&ei=VlLLTNwRzKzwBpTenAk&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=4&ved=0CB8Q6AEwAw#v=onepage&q=exploratio%20ad%20mercurios%20mauretania%20tingitana&f=false  Mauretania Tingitana (in Spanish)]
* [http://www.ucc.ie/milmart/Marcellus.html Passion of St Marcellus ]
{{Refend}}

{{Províncias romanas - 117}}
{{Províncias romanas tardias}}

[[Categoria:Mauritânia Tingitana]]