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Druida

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 Nota: Para outros significados, veja Druida (desambiguação).

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Druidas (no feminino druidesas ou druidisas[1]) eram pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento e ensino, e de orientações jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta. Embora não haja consenso entre os estudiosos sobre a origem etimológica da palavra, druida parece provir do vocábulo dru-wid-s, formado pela junção de deru (carvalho) e wid (raiz indo-europeia que significa saber). Assim, druida significaria aquele(a) que tem o conhecimento do carvalho.[2] O carvalho, nesta acepção, por ser uma das mais antigas e destacadas árvores de uma floresta, representa simbolicamente todas as demais. Ou seja, quem tem o conhecimento do carvalho possui o saber de todas as árvores. Demencia mútua A visão cristã mostra os druidas como sacerdotes, mas isso na verdade não é comprovado pelos textos clássicos, que os apresentam na qualidade de filósofos (embora presidissem rituais, o que pode soar conflitante). Se levarmos em conta que o druidismo era uma filosofia natural, da terra baseada no animismo, e não uma religião revelada (como o Islamismo ou o Cristianismo), os druidas assumem então o papel de diretores espirituais do ritual, conduzindo a realização dos ritos, e não de mediadores entre os deuses e o homem.

Dois druidas num baixo-relevo encontrado em Autun

Ao contrário da ideia corrente no mundo pós-Iluminismo sobre a linearidade da vida (nascemos, envelhecemos e morremos), no druidismo como entre outras culturas da Antiguidade, a vida é um círculo ou uma espiral. O druidismo procurava buscar o equilíbrio, ligando a vida pessoal à fonte espiritual presente na Natureza, e dessa forma reconhecia oito períodos ao longo do ano sendo quatro solares (masculinos) e quatro lunares (femininos), marcados pelos rituais especiais.[carece de fontes?]

A sabedoria druídica era composta de um vasto número de versos aprendidos de cor e conta-se que eram necessários cerca de 20 anos para que se completasse o ciclo de estudos dos aspirantes a druidas. Pode ter havido um centro de ensino druídico na ilha de Anglesey (Ynis Mon, em galês), mas nada se sabe sobre o que era ensinado ali. De sua literatura oral (cânticos filosóficos, fórmulas mágicas e encantamentos) nada restou, sequer em tradução. Mesmo as lendas consideradas druídicas chegaram até nós através do prisma da interpretação cristã, o que torna difícil determinar o seu sentido original.

As tradições que ainda existem do que seriam seus rituais, foram conservadas no meio rural e incluem a observância do Halloween (Samhaim), rituais de colheita, plantas e animais, baseados nos ciclos solar, lunar e outros. Tradições que seriam partilhadas pela cultura de povos vizinhos.

Segundo León Denis[3], o estabelecimento de uma data específica para a comemoração dos mortos é uma iniciativa dos druidas, que acreditavam na continuação da existência depois da morte. Reuniam-se nos lares, e não nos cemitérios, no primeiro dia de novembro, para homenagear e evocar os mortos.

Arqueologia

Evidências de antropofagia e sacrifícios humanos no druidismo

Aos olhos da arqueologia tradicional os trabalhos de arqueologia da professora Miranda Aldhouse-Green[4] da Universidade de Cardiff confirmam os ditos dos autores clássicos e demonstram a participação crucial dos druidas na realização de sacrifícios humanos e antropofagia.

Segundo estes arqueólogos há evidencias que possivelmente os druidas cometiam antropofagia em rituais de sacrifícios humanos, como afirmavam os "historiadores romanos". Depois do primeiro século da Era Cristã, recém-chegados da Grã-Bretanha, os romanos trouxeram notícias com histórias horríveis, sobre os sacerdotes celtas, que se espalharam por toda a Europa durante um período de 2000 anos. Júlio César afirmava que os druidas sacrificavam presos e prisioneiros aos deuses, dando, assim, continuidade ao mito de sacrifícios cometidos pelos Druidas, cujo verdadeiro erro foi estimular o povo a não aceitar as leis e a suposta "paz" romanas.

Também Plínio, o Velho, sugeriu que os celtas praticavam a antropofagia como ritual, comiam carne de seus inimigos como uma fonte de força espiritual e física.[5][6].

Os estudos

De acordo com o estudo do cadáver de um homem encontrado pelos arqueólogos, encontrava-se este com a cabeça violentamente esmagada e seu pescoço havia sido estrangulado e quebrado. Segundo a arqueóloga Miranda, o cadáver tinha uma corda estrangulando o pescoço, e no mesmo instante a garganta foi cortada, o que causaria um enorme fluxo de sangue.

Grãos de pólen de visco foram encontrados no interior dos intestinos. Essa planta era sagrada para os druidas. A idade deste cadáver é datada do ano 60 d.C, coincidindo com a nova ofensiva romana na ilha da Grã-Bretanha.[5]

Mortes em massa

Numa caverna em Aveston, Inglaterra, no ano 2000, foram encontrados cerca de 150 esqueletos de pessoas e que remotam ao tempo da conquista romana. As vítimas apresentam indícios de golpes na divisão dos crânios em um único evento. Segundo alguns pesquisadores, a invasão romana intensificou o abate ritual pelos druidas.[5]

Funções dos druidas

Existiam seis classes diferentes de druidas, cada um com sua função e especialização, mas na prática todos cumpriam todas as funções, sendo os únicos detentores do entendimento da divindade:

Druida-Brithem

Estes druidas eram considerados os juízes. Os celtas não tinham suas leis escritas, e somente os druidas brithem as conheciam teoricamente; assim, essa classe de druidas tem por função percorrer as casas e as aldeias, a fim de resolver problemas e impasses que surgissem entre a população.[7][8]

Druidas-Filid

Alguns destes, diziam ser descendentes diretos do cosmos. Era a mais alta classe dos druidas, a sua função era o contato direto com o cosmos. O lendário mago Merlin era um druida filid.[7][8] Aos Druidas Filid eram concedidos os poderes e status de sacerdote, juiz, curandeiro, conselheiro e Poeta/cantor. Não acreditavam em adivinhações do futuro, mas sabiam o que resultaria como colheita de um plantio ruim. Sua evolução permeando os estágios iniciáticos de um Druida para que chegasse à 1ª classe como um mago branco, consistia em duras provas de vida e morte onde, acreditava-se, o Sacerdote morria e renascia várias vezes ao longo dos anos e provas por quais passava. Não se acreditava que morressem, pois tinham uma consciência de morte como passagem para o estágio seguinte da evolução. No entanto, o Druida Filid era aquele que não mais voltaria a encarnar, já que se tornaria um ancestral divinizado que intercederia pelos "vivos" ativando a energia Cósmica.

Druida-fer faith

Estes eram os curandeiros ou médicos. Normalmente passavam mais de 20 anos em seus estudos antes de praticarem tal ofício, possuíam especializações entre si, usavam ervas em geral e praticavam cirurgias.[7][8] Profundos conhecedores de ervas e outras plantas, credita-se a eles os ensinamentos adquiridos pelos romanos sobre os valores nutricionais de muitos produtos indus e orientais com os quais eles estavam bem familiarizados. Conheciam e utilizavam os azeites naturais como o de oliva, para beberem como licores depurativos, e para tratamentos contra o envelhecimento. Fator que deu origem à lenda de que os druidas viviam séculos sem perder a vitalidade. Pessoas rústicas que eram, sua alimentação e vida ativa não as deixava envelhecer.

Druida-bardo

Tinham como função apenas repetir a história dos celtas que lhe haviam sido contada por outros Scelaige. (A escrita era proibida a não ser para rituais). Memorizavam e repetiam tudo para que a história não fosse esquecida. Às histórias trazidas pelos druidas senchas também se juntavam as suas histórias.[7][8] Eram como professores que repassam conhecimentos aprendidos. Tinham por obrigação decorar todas as histórias e canções sob pena de perder seu prestígio de Druida.

Ao contrário dos outros druidas, estes deveriam percorrer as terras celtas e compor outras novas histórias sobre o que estava ocorrendo, e estas seriam repassadas aos Scelaige que as decorariam.[7][8] Estes recebiam o prestigio de historiadores, pesquisadores, guardiões dos segredos herméticos e difusores da sabedoria oral.

Druidas-Poetas

Estes decoravam a história contada pelos druidas Scelaige, pois era preciso que druidas poetas as aprendessem e contassem ao povo. A principal função desta classe era manter viva a tradição celta.[7][8]

Fontes clássicas

Ver artigo principal: Conquista romana de Anglesey

A principal fonte clássica sobre os druidas é Júlio César, em sua obra De Bello Gallico (A Guerra da Gália). Todavia, os comentários de César sobre os druidas mal enchem uma página e dão margem a inúmeras dúvidas, infelizmente não sanadas por outros autores clássicos (que escreveram ainda menos sobre o tema). César fala sobre a organização e as funções da classe dos druidas (presidência dos ritos, pedagogos e juízes), a eleição do druida-mor, a reunião anual (conclave) na floresta de Carnutos, a isenção do serviço militar e a aprendizagem de longos poemas. Afirma também que os druidas se interessavam em aprender astronomia e assuntos da natureza, e se recusavam terminantemente em colocar seus ensinamentos por escrito.

Outros autores clássicos, como Plínio e Cícero, também se referem ao interesse dos druidas pelo estudo sério dos astros e pela prática da adivinhação. Tácito e Suetônio confirmam o interesse, mas nos apresentam os druidas como bárbaros cruéis e supersticiosos. Analisando o contexto histórico, T.D. Kendrick em sua obra The Druids, afirma que até a época do início do Império Romano, os druidas gozavam de ótima reputação, mas a partir da formação da Igreja Católica, começaram a ser atacados e desprestigiados. Peter Berresford Ellis, em El Espíritu del mundo celta, afirma que tal desprestígio se deveu muito mais à necessidade de justificativas para a conquista e dominação dos celtas do que por demérito dos druidas.

Certo mesmo é que a influência dos druidas deve ter sido considerável, pois três imperadores romanos tentaram extingui-los por decreto como classe sacerdotal num prazo de 50 anos - sem sucesso. O primeiro foi Augusto, que impediu os druidas de obter a cidadania romana. Em seguida, Tibério baixou um decreto proibindo os druidas de exercerem suas atividades e, finalmente, Cláudio, em 54 d.C., extinguiu a classe sacerdotal. Certo mesmo é que, 300 anos mais tarde, os druidas ainda continuavam a ser citados por autores como Ausonio, Amiano Marcelino e Cirilo de Alexandria, como uma classe social de extrema importância e respeitabilidade.

Embora muitos autores clássicos como Hipólito de Roma apresentem os druidas como "filósofos", colocando-os no mesmo nível dos pitagóricos (teriam sido ensinados por um servo de Pitágoras, Zaniolxis) e com elevados conhecimentos de astronomia, não existem provas concretas (ou mesmo vestigiais) de tal saber. Até onde se sabe, o conhecimento que os druidas tinham dos astros e seus ciclos não ultrapassava o de povos similares em seu estágio de desenvolvimento. Podendo os Druidas serem herdeiros diretos da cultura megalítica que construiu Stonehenge, isso poderia significar um conhecimento tão elaborado dos ciclos lunares e solares como a sofisticação da astronomia praticada pelos babilônios e egípcios. A comparação com os pitagóricos não implica necessariamente qualquer interesse concreto pela matemática, mas apenas pelo estudo das "ciências ocultas" (que era como os contemporâneos e posteriores aos pitagóricos encaravam suas atividades).

Ver também

Referências

Bibliografia

  • CARR-GOMM, Philip. Os Mistérios dos Druidas. Zéfiro.
  • CARR-GOMM, Philip. Elementos da Tradição Druida. Ediouro, sd.
  • DENIS, Léon. O Gênio Céltico e o Mundo Invisível. União Espiritualista Francesa e Francófona, 1927.
  • JUBAINVILLE, Henri d'Arbois de. Os Druidas e os Deuses Celtas sob Forma de Animais. Zéfiro.
  • ELLIS, Peter Berresford. Druidas. El Espíritu del mundo celta. Trad. Javier Alonso López. Madrid, Oberon, 2001.
  • HIPÓLITO DE ROMA. Refutação de todas as heresias, Livro I, Cap. 22.
  • JÚLIO CÉSAR. Comentários sobre a Guerra Gálica (De Bello Gallico). Trad. Francisco Sotero dos Reis. Estudo de Otto Maria Carpeaux. Rio de Janeiro, Tecnoprint, sd.
  • LUPI, João. Os Druidas-Brathair 4(1), 2004:70-79, ISSN 1519-9053.
  • KENDRICK, T. D. The Druids. Londres, Random House, 1996.
  • MIRANDA JANE ALDHOUSE-GREEN. Dying for the Gods: Human Sacrifice in Iron Age & Roman Europe.‎ - 2001 - 208 páginas Edition: illustrated, Publicado por Tempus, 2001, ISBN 0-7524-1940-4, 9780752419404.
  • Vários Autores. Mandrágora - O Almanaque Pagão 2011: No Bosque Sagrado dos Druidas. Zéfiro.