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Teste de Rorschach

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O primeiro dos dez cartões no teste de Rorschach.[1][2]

O teste de Rorschach (popularmente conhecido como "teste do borrão de tinta") é uma técnica de avaliação psicológica pictórica, comumente denominada de teste projetivo, ou mais recentemente de método de autoexpressão. Foi desenvolvido pelo psiquiatra e Psicanalista suíço Hermann Rorschach. O teste consiste em dar respostas sobre com o que se parecem as dez pranchas com manchas de tinta simétricas. A partir das respostas, procura-se obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indivíduo. O teste de Rorschach é amplamente utilizado em vários países.[3]

As pranchas do teste, desenvolvidas por Rorschach, são sempre as mesmas. No entanto, para a codificação e a interpretação das informações, diferentes sistemas são utilizados.

Paralelamente ao "Teste de Rorschach" propriamente dito, Rorschach desenvolveu em 1921 juntamente com Hans Behn-Eschenburg uma segunda série de pranchas que ficou conhecida como Behn-Rorschach ou simplesmente Be-Ro-Teste. Hans Zulliger publicou em 1948 um teste semelhante, mas em forma de slides a serem projetados na parede, chamado Teste Z. Esse teste, originalmente pensado como um teste para grupos, foi posteriormente editado em pranchas e utilizado como uma forma breve do teste de Rorschach, com apenas três pranchas.[4]

Introdução histórica

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Hermann Rorschach em 1910

O uso de manchas de tinta como uma forma de teste não foi uma ideia de Rorschach. Antes dele muitos autores, como Binet, Henri, Dearborn, Kirkpatrik entre outros, fizeram uso dessa técnica, sobretudo no estudo da imaginação e da criatividade. No entanto esses trabalhos não parecem ser a origem do interesse de Rorschach pelas manchas de tinta. Durante sua infância fora Rorschach um entusiasmado jogador de um jogo muito difundido no século XIX chamado Klecksographie (Klecks significa mancha de tinta) em que os jogadores criavam pequenos poemas a partir de manchas abstratas de tinta - cujo princípio básico é o mesmo de formar figuras com as nuvens dispostas no céu. Apesar de ter feito alguns experimentos anteriores menos sistemáticos foi nos anos 1917-1918 que Rorschach começou um estudo mais sistemático do uso do método de manchas de tinta no diagnóstico psiquiátrico, sobretudo no diagnóstico da esquizofrenia. Na época ele trabalhava como diretor do hospital Krombach em Herisau, na Suíça, e pôde colher dados tanto de pacientes como de funcionários e estudantes, coletando assim respostas tanto de pacientes como de pessoas saudáveis. Essa foi a base da tese Psychodiagnostik publicada em junho de 1921, primeira apresentação oficial do teste.[5]

Originalmente Rorschach usava um total de 40 pranchas diferentes, que logo se reduziram a 15. Mesmo esse número bem diminuído de pranchas, representou uma grande dificuldade para a publicação da obra devido ao alto custo de impressão. A maioria dos editores consultados se mostravam dispostos a publicar apenas 6 pranchas, com o que o autor não concordava. Assim, durante todo o ano de 1920 a obra, já pronta, não pode ser publicada - e foi mesmo reescrita, uma vez que Rorschach continuava colhendo dados. Apenas em 1921 Rorschach conseguiu, com o auxílio de Walter Morgenthaler, negociar um compromisso com o editor Bircher de Berna: ele editaria 10 das pranchas. Importante para o desenvolvimento posterior do teste foi o fato de o editor ter tido problemas na reprodução das manchas, de forma que as pranchas editadas eram menores que as originais e possuíam um sombreado inexistente anteriormente. Essa é a forma atual do teste. Essas mudanças, antes de serem um problema representaram novas possibilidades para o teste, possibilidades que não faziam parte da obra original de Rorschach. Assim este começou a colher novos dados com as pranchas publicadas. Infelizmente o psiquiatra morreu precocemente em Abril de 1922 e deixou apenas um artigo inacabado a respeito dos sombreados. A obra de Rorschach foi um fracasso editorial. A comunidade científica não se mostrou interessada e a maior parte dos 1200 livros publicados ainda estavam no depósito quando o autor faleceu. Somente quando mais tarde os direitos da obra foram comprados pelo editor Huber e os primeiros artigos começaram a ser publicados é que o teste passou a ganhar em respeitabilidade. No entanto seu autor estava morto e as pranchas publicadas não correspondiam àquelas que ele utilizara na coleta original de dados. Essa situação levou ao aparecimento de diversos novos sistemas de codificação e interpretação do teste.[5]

O primeiro autor a se dedicar à interpretação dos sombreados foi Hans Binder.[6] Outros importantes representantes do teste na Europa foram Walter Morgenthaler, Emil Oberholzer, Georgi Roemer, Hans Behn-Eschenburg e Hans Zulliger. Eles foram os primeiros treinadores de especialistas na execução do teste. Entre estes estava o americano David Levy, que levou o teste para os Estados Unidos. Em torno de Levy reuniu-se um grupo de pesquisadores que se dedicaram ao desenvolvimento do método diagnóstico com as pranchas de Rorschach. Entre eles destacam-se Samuel J. Beck e Marguerite Herz. A expansão do nacional-socialismo nos países germanófonos levou a uma onda de imigração e muitos pesquisadores europeus se estabeleceram nos Estados Unidos. Entre eles o alemão Bruno Klopfer, o polonês Zygmunt Piotrowski e o húngaro David Rapaport. Cada uma dessas cinco personalidades gerou um próprio sistema de codificação e interpretação do teste de Rorschach.[5]

A necessidade de unificar os diferentes sistemas em um todo coerente não ficou desapercebida. Na Europa, o principal movimento nessa direção, foi a obra do psiquiatra dinamarquês-suiço Ewald Bohm. Seu Lehrbuch der Rorschach-Psychodiagnostik, publicado pela primeira vez em 1958, continua sendo a base do trabalho com o teste, principalmente no mundo germanófono. Nos Estados Unidos, foram os esforços de John E. Exner Jr. que, com seu Sistema Abrangente (Comprehensive System) procurou unificar os sistemas das cinco maiores escolas do teste de Rorschach nos Estados Unidos. Seu sistema tornou-se muito influente também em outros países e é hoje o sistema mais difundido. Infelizmente somente a primeira edição da obra de Bohm havia sido traduzida para o inglês, de tal forma que o autor americano não a levou em consideração no seu sistema. Na atualidade, há um esforço de unificação das escolas europeia e americana.[7][8]

No Brasil o teste de Rorschach foi inicialmente utilizado sob a influência de estudos europeus e norte americanos. Os primeiros estudos oficialmente datam de 1927 com trabalhos do médico Ulisses Pernambuco; em 1929 com a contribuição da psicóloga russa Helena Antipoff; e em 1932 com a colaboração oficial do psiquiatra José Leme Lopes sobre os benefícios do instrumento para a saúde mental. Entretanto, muitos outros colaboradores auxiliaram no processo de investigação normativa do instrumento para seu uso com a população brasileira, possibilitando parceria e contribuição de estudos brasileiros nacionais com outros estudos internacionais. Os primeiros trabalhos normativos desde 1930 focaram em estudos infantis, adolescentes e adultos. Entre os diversos sistemas utilizados no Brasil, tem-se maior notícia dos sistemas de Silveira, Klopfer, Exner, Francês e do R-PAS. Esses sistemas possuem uso no Brasil até os tempos atuais e podem ser aplicados em diferentes campos da psicologia: jurídica, educacional, clínica e organizacional, entre outros. No passado (e em outros países) o instrumento foi utilizado por médicos e outros profissionais. Entretanto, segundo a atual legislação brasileira de uso desse instrumento, somente um psicólogo poderá aplicar o teste seguindo normas éticas e o guia de aplicação e interpretação do método, que esteja adequado com os critérios do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI).[9]

A lógica do teste

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O teste de Rorschach, como todos os testes projetivos, baseia-se na chamada hipótese projetiva. De acordo com essa hipótese, a pessoa a ser testada, ao procurar organizar uma informação ambígua (ou seja, sem um significado claro, como as pranchas do teste de Rorschach), projeta aspectos de sua própria personalidade. O intérprete (ou seja, o psicólogo que aplica o teste) teria assim a possibilidade de, trabalhando por assim dizer "de trás para frente", reconstruir os aspectos da personalidade que levaram às respostas dadas.[10]

A hipótese projetiva baseia-se no conceito freudiano de projeção: um mecanismo de defesa, através do qual o indivíduo atribui de maneira inconsciente características negativas da própria personalidade a outras pessoas (projeção clássica). Apesar de a projeção clássica carecer de confirmação empírica e ser assim alvo de controvérsias, há ainda um outro caso de projeção que conta com uma relativa unanimidade entre os estudiosos: a projeção generalizada ou assimilativa. Esta é a tendência de determinadas características da personalidade, necessidades e experiências de vida de influenciar o indivíduo na interpretação de estímulos ambíguos. De acordo com os defensores do uso de testes projetivos, tais testes possuem duas grandes vantagens em comparação aos testes estruturados: (a) eles "enganam" os mecanismos de defesa do indivíduo e (b) permitem ao intérprete do teste ter acesso a conteúdos não acessíveis à consciência do indivíduo testado.[10] Corre-se o risco da análise ser monitorada pelo sistema de autodefesa inconsciente do avaliado, mas o diagnóstico possui robustez para enquadrar o individuo quando ele se camufla nas estratégias esguias, desde que não tenha acesso a outros testes e avaliações para usá-lo como parâmetro e se posicionar escamoteando suas características e personalidade.

A realização do teste

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O Teste de Rorschach consiste em 10 pranchas diferentes, algumas com manchas coloridas, outras em preto e branco. O examinador apresenta as pranchas sempre na mesma ordem à pessoa testada, solicitando que ela descreva o que vê em cada uma delas. A pessoa pode virar as pranchas e fornecer quantas respostas desejar. O trabalho principal do examinador é codificar as respostas, utilizando um sistema complexo de códigos para categorizá-las em aspectos como modo de percepção, determinante, conteúdo e originalidade.

Cada sistema de codificação, como o de Bohm e o de Exner, classifica as respostas de acordo com esses pontos de vista, utilizando uma série de letras para indicar as diferentes possibilidades. Os sistemas de codificação diferem na escolha das letras e em detalhes de execução e codificação das respostas. Por exemplo, Bohm usa abreviaturas em alemão, enquanto Exner utiliza inglês. A precisão na codificação das respostas requer habilidade por parte do examinador, que deve ser bem treinado para essa tarefa.

A técnica de interpretação

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O Teste de Rorschach é uma ferramenta psicológica complexa utilizada na avaliação da personalidade. Existem várias abordagens e sistemas de interpretação, cada um fundamentado em diferentes teorias psicológicas e métodos específicos de análise do teste. As técnicas de interpretação devem ser compreendidas por profissionais qualificados e não devem ser divulgadas a pessoas que serão avaliadas, pois isso pode comprometer a validade dos resultados.[11]

Entre as abordagens de interpretação propostas, destacam-se aquelas delineadas pelos psicólogos John E. Exner e Ewald Bohm.[12] Bohm sugere uma análise quantitativa e qualitativa da inteligência, avaliação da afetividade, identificação de atitudes gerais, análise do humor, identificação de traços neuróticos e possíveis indicações de diagnóstico psiquiátrico, além de considerar outros testes complementares. Por sua vez, Exner propõe uma interpretação baseada em grupos de índices-chave, que incluem variáveis relacionadas à esquizofrenia, depressão, déficit de coping, controle do comportamento e estilos de personalidade. Estes índices são utilizados para calcular agrupamentos que descrevem o funcionamento mental do indivíduo em termos de processamento de informações, afetividade, autopercepção, percepção interpessoal, capacidade de controle e tolerância ao estresse.

O Teste de Rorschach não se baseia na existência de respostas corretas e sua interpretação depende da análise conjunta de todas as respostas fornecidas. Além disso, a interpretação das respostas é influenciada pela cultura e contexto do indivíduo testado.[13] Autores como Marvin Goldfried[14] utilizaram o Teste de Rorschach para outros propósitos, como diagnósticos de desenvolvimento pessoal, escalas de hostilidade, ansiedade, entre outros, porém, a confiabilidade desses usos varia consideravelmente.

Quantidade de respostas

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É esperado que pessoas saudáveis consigam dar pelo menos 14 respostas entre as 10 manchas. Para que a pessoa não pense que deve dar apenas uma por mancha, na primeira mancha ela é instruída a dar mais de uma resposta. Pessoas que apesar de serem estimuladas não conseguem dar muitas respostas podem ser interpretadas com tendo menor capacidade cognitiva, como tendo tendência a depressão ou como indicativo de problemas mentais sérios.

O número normal de respostas é de cerca de 23 no total, por volta de 2-3 por mancha. Quem consegue dar mais de 30 respostas pode ser visto como mais criativo, com mais recursos e com maior capacidade intelectual.

Em entrevistas de emprego, o Rorschach é visto como uma tarefa diferente e interativa, mas ainda assim uma tarefa semelhante a outras que o novo profissional deve receber, para testar como a pessoa lida com tarefas novas. Ser capaz de dar respostas rápidas, bem elaboradas, bem explicadas, com tranquilidade, usando os diversos recursos da mancha (cor, sombreado, textura, complementando com a área em branco...) indica que o profissional é capaz de executar tarefas com competência e possui capacidade cognitiva para tal.[15]

Qualidade formal da resposta

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No Teste de Rorschach, as respostas são avaliadas com base na frequência com que são vistas por diferentes grupos de pessoas, como não-pacientes, esquizofrênicos, depressivos internados e menores de 15 anos. No modelo de Exner, que utilizou uma amostra base de cerca de 1200 pessoas, as respostas podem ser classificadas como comuns, comuns integradas, incomuns ou únicas,[16] dependendo do número de pessoas que deram uma resposta semelhante. Respostas comuns indicam processamento cognitivo normal, enquanto as incomuns e únicas refletem peculiaridades individuais. O excesso de respostas populares sugere obsessividade e compulsividade, mostrando um esforço excessivo para não perder detalhes e preocupação com a opinião dos outros, o que pode dificultar a expressão de respostas criativas.[15]

Respostas de movimento

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As respostas de movimento são classificadas como ativas ou passivas com base na ação representada por pessoas ou animais nas manchas. Indivíduos mais ativos tendem a oferecer respostas de movimento ativo, enquanto os mais tímidos apresentam respostas passivas. Um grande número de respostas de movimento indica motivação e pró-atividade, enquanto respostas únicas sugerem habilidade para resolver problemas de forma criativa.[15] Respostas de luta indicam capacidade de enfrentar desafios, enquanto a ausência delas em indivíduos introvertidos pode sugerir uma dificuldade em defender seus próprios direitos, podendo ser indicativo de vítimas de crimes.[15]

Abaixo, são apresentados os dez borrões impressos em pranchas, respeitantes ao teste de Rorschach,[17] juntamente com as respostas mais frequentes (quer para a imagem inteira, quer para outros detalhes importantes) de acordo com vários autores.
Note que as imagens são de domínio público na Suíça, terra nativa de Hermann Rorschach's (desde 1992 - 70 anos após a morte do autor, ou 50 anos após a data-limite de 1942), de acordo com a lei suiça de direitos autorais.[18][19] É importante ressaltar que a busca de informações sobre como responder ao teste prejudica sua autenticidade, já que a ferramenta tem como requisito que os avaliados ajam naturalmente, sem estudar sobre o teste, para garantir resultados precisos. Qualquer tentativa de orientação sobre como responder ao teste é considerada antiética e prejudicial. É essencial que os indivíduos confiem em seus próprios julgamentos durante o teste.[11][9]

Críticas e controvérsias

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Até o desenvolvimento do sistema de Exner, a falta de padronização do teste de Rorschach foi o principal alvo de críticas ao teste. Exner, com seu sistema abrangente, ofereceu ao mundo científico um sistema que, ao menos em teoria, correspondia aos padrões psicométricos: validade (ou seja, o teste mede o que deve medir), confiabilidade ou fiabilidade (ou seja, o teste é exato na medição) e objetividade (ou seja, diferentes pessoas chegam ao mesmo resultado). O sistema de Exner foi validado e normatizado em populações de diferentes países, inclusive Portugal e Brasil.[25][26] Segundo Pasian (2002), o Rorschach já foi testado em diversos estudos normativos e está validado pelo Conselho Federal de Psicologia, no Brasil, como eficaz.

Apesar do grande desenvolvimento que o sistema de Exner representou para o Rorschach, o seu uso ainda está longe de ser aceite por todos os pesquisadores. Scott O. Lilienfeld, James M. Wood, Howard N. Garb e seus colaboradores apontam uma série de problemas ligados tanto ao teste quanto à sua utilização. Em um artigo na revista Scientific American os autores apontam que a aplicação do teste não permite identificar a maior parte dos transtornos mentais tais como definidos nos sistemas atuais de classificação (CID-10 e DSM-IV).[3] Em outro artigo[27] os autores contra-indicam expressamente o uso do teste como método de diagnóstico psiquiátrico e em contexto forense, além de fazerem recomendações para a melhoria da qualidade dos estudos científicos sobre o teste. Apesar da forte crítica quanto a seu uso em diagnóstico clínico, os autores não desvalorizam o teste totalmente. Eles reconhecem o valor do teste em diversas áreas de pesquisa bem como sugerem seu uso como complementação no diagnóstico da esquizofrenia e de desordens no pensamento. Um outro uso legítimo do teste seria como método exploratório e heurístico em certos tipos de psicoterapia.[28]

Uma outra controvérsia ligada ao teste diz respeito à divulgação principalmente das imagens das pranchas, mas também de toda e qualquer informação ligada à forma de realização e interpretação do teste. Para muitos psicólogos, o conhecimento dessas informações por parte da pessoa testada fere a confiabilidade do teste. Apesar de problemas ligados aos direitos autorais já existirem há alguns anos, uma vez que os direitos autorais venceram na maior parte dos países 70 anos após a morte do autor, a controvérsia tomou uma nova dimensão em 2009, quando as pranchas e dados ligados às respostas mais correntes em diferentes países foram publicadas no artigo em inglês da Wikipédia.[29] As discussões ligadas a esse caso levaram à publicação das pranchas em outros meios de comunicação, como os jornais The Guardian e The Globe and Mail[30].

O filósofo Carl Hempel, ao tratar das definições operacionais, afirma: "Em Psicologia tais critérios são comumente formulados em termos de testes (de inteligência, estabilidade emocional, habilidade matemática etc). Em linhas gerais, o procedimento operacional consiste em administrar o teste de acordo com especificações; o resultado são as respostas das pessoas submetidas ao teste, ou, em regra, uma avaliação qualitativa dessas respostas, obtida de modo mais ou menos objetivo e mais ou menos preciso. No teste de Rorschach, por exemplo, essa avaliação se apóia mais na competência para julgar, gradualmente adquirida pelo intérprete, e menos em critérios explícitos e precisos que a avaliação do teste de Stanford-Binet para a inteligência; o de Rorschach é, por isso, menos satisfatório que o de Stanford-Binet do ponto de vista operacionista. Algumas das principais objeções que foram levantadas contra a especulação psicanalítica são concernentes à falta de adequados critérios de aplicação para os termos psicanalíticos e às concomitantes dificuldades para tirar das hipóteses, em que figuram, alguma implicação verificável e inequívoca".[31]

Na arte e mídia

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O artista australiano Ben Quilty usou a técnica de Rorschach em suas pinturas, aplicando tinta a óleo em textura sobre uma tela e pressionando uma segunda tela, não pintada, sobre a primeira, criando obras a partir das formas resultantes desse método.

A máscara do personagem fictício Rorschach, da série de quadrinhos Watchmen e sua adaptação para o cinema em 2009, exibe uma mancha de tinta em constante transformação, baseada nos desenhos utilizados nos testes. No filme de Sofia Coppola de 1999, As Virgens Suicidas, a personagem Cecilia é submetida ao teste; em Spider (2002), de David Cronenberg, as manchas de tinta de Rorschach são utilizadas na abertura do filme. Em 2022, foi anunciado um filme em língua malaiala intitulado Rorschach, estrelado pelo ator Mammootty, gerando discussões nas redes sociais sobre o teste.

No jogo eletrônico Fallout: New Vegas, o personagem Doc Mitchell utiliza três cartas do teste para fazer um julgamento sobre o protagonista, que está se recuperando de um tiro na cabeça. As cartas VII, VI e II são usadas nessa ordem, e as respostas do jogador a uma lista predefinida de perguntas determinam os bônus de habilidade do jogador.

Referências

  1. Di Nuovo, Santo; Cuffaro, Maurizio (2004). Il Rorschach in pratica: strumenti per la psicologia clinica e l'ambito giuridico. Milão: F. Angeli. p. 147. ISBN 9788846454751 
  2. Sangro, Fátima Miralles (1996). Rorschach: tablas de localización y calidad formal en una muestra española de 470 sujetos. 1. Madri: Universidad Pontifícia Comillas. p. 71. ISBN 9788487840920 
  3. a b Lilienfeld, Scott O.; Wood, James M. & Garb, Howard N. (2001). What's wrong with this picture?. Scientific American. In: http://www.psychologicalscience.org/newsresearch/publications/journals/sa1_2.pdf
  4. Universidade de Gotteborg. «Classical Rorschach». Consultado em 31 de janeiro de 2010 
  5. a b c Exner, John E. Jr. (1993). The Rorschach - a comprehensive system. Volume 1: Basic foundations, 3rd. ed. New York: Wiley.
  6. Binder, Hans (1932). Die helldunkeldeutungen in psicodiagnostischen experiment von Rorschach. Schweiz Archives Neurologie und Psychiatrie, 30, 1-67.
  7. Österreichische Rorschach Gesellschaft. «Weiterentwicklung des Rorschach Verfahrens in Europa und den USA». Consultado em 31 de outubro de 2010. Arquivado do original em 6 de julho de 2011 
  8. Universidade de Goteborg. «Classical Rorschach: Rorschach Traditions». Consultado em 31 de outubro de 2010 
  9. a b Amaro, Terezinha A. de C.; Hisatugo, Carla Luciano Codani. (2019)."Rorschach o Método: passado, presente e futuro". 1 ed. São Paulo: Hogrefe.
  10. a b Lilienfeld et al (2000). The scientific status of projective techniques. Psychological Science in the Public Interest, 01, 2.
  11. a b Hisatugo, C.L.C. (31 de dezembro de 2013). «O Início do Processo de Avaliação Psicológica». Psicólogo inFormação. 17 (17): 193–199. ISSN 2176-0969. doi:10.15603/2176-0969/pi.v17n17p193-199 
  12. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome Bohm
  13. Dana, Richard H. (2000). Handbook of cross-cultural and multicultural personality assessment. Lawrence Erlbaum. ISBN 9780805827897.
  14. Goldfried, Marvin R.; Stricker, George & Weiner, Irving (1971). Rorschach: Handbook of clinical and research applications. Englewood Cliffs-NJ: Prentice-Hall.
  15. a b c d J. E. Exner. Jr. Manual de interpretação do Rorschach para o sistema compreensivo
  16. J. E. Exner. Jr. Manual de classificação do Rorschach para o sistema compreensivo
  17. Rorschach, Hermann (1927). Rorschach Test – Psychodiagnostic Plates. Hogrefe. ISBN 3-456-82605-2.
  18. «Copyright Durations Wordwide - EU Copyright». Swiss Federal Institute of Intellectual Property. Consultado em 26 de agosto de 2009 [ligação inativa] 
  19. «Copyrights – Terms of Protection». Swiss Federal Institute of Intellectual Property. Consultado em 26 de agosto de 2009 
  20. Alvin G. Burstein, Sandra Loucks (1989). Rorschach's test: scoring and interpretation. New York: Hemisphere Pub. Corp.. p. 72. ISBN 9780891167808.
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  22. Dana 2000, p. 338
  23. Weiner & Greene 2007, pp. 390-395
  24. Weiner & Manual de Interpretação do Rorschach 2003, pp. 102-109
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  26. Abel Pires, António (2007). Rorschach Comprehensive System data for a sample of 309 adult nonpatients from Portugal. Journal of Personality Assessment, 89(Suppl1). Special issue: International reference samples for the Rorschach Comprehensive System. pp. S124-S130.
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  28. Wood, James M.; Nezworski, M. Teresa; Garb, Howard N. (2003). What's Right with the Rorschach? The Scientific Review of Mental Health Practice, 2(2), pp. 142-146.
  29. A Rorschach Cheat Sheet on Wikipedia?, The New York Times, July 28, 2009
  30. Ian Simple (29 de julho de 2009). «Testing times for Wikipedia after doctor posts secrets of the Rorschach inkblots». The Guardian 
    Patrick White (31 de julho de 2009). «Rorschach and Wikipedia: The battle of the inkblots». The Globe And Mail 
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  • Bohm, Ewald (1972). Lehrbuch der Rorschach-Psychodiagnostik, 4. Aufl. Bern: Huber. ISBN 3-456-30041-7
  • Bohm, Ewald (1975). Psychodiagnostisches Vademecum, 3. Aufl. Bern: Huber. ISBN 3-456-80251-X
  • Exner, John E. Jr. (1993). The Rorschach - a comprehensive system. Volume 1: Basic foundations, 3rd. ed. New York: Wiley. ISBN 0-471-55902-4
  • Goldfried, Marvin R.; Stricker, George & Weiner, Irving (1971). Rorschach: Handbook of clinical and research applications. Englewood Cliffs-NJ: Prentice-Hall. ISBN 0-13-783225-7
  • Klopfer, B. & Davidson, H. H. (1971). Das Rorschach-Verfahren: Eine Einführung, 2. Aufl. Bern: Huber. (Original em inglês: The Rorschach technique: an introductory manual. New York: Harcourt, Brace, Jovanowich)
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Ligações externas

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