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Tazerualte

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Tazerualte
Tazerualte

1613 – 1886
 

Continente África
Região Noroeste de África
País Marrocos
Capital Illigh
29° 30' N 9° 30' O
Religião Islão
Governo Monarquia, principado
rei ou emir
 • 1613 Ali Abu Damia Haçane (Alboácem)
 • fin. séc. XVIII — 1825 Sidi Hachim ben Ali al-Ilighi
 • 1825 — 1886 Hussein ibn Hashim
 • 1912 — 1919 Ahmed al-Hiba
Período histórico Idade Moderna, Idade Contemporânea
 • 1613 Fundação
 • 1625 Fortificação da capital
 • 1670 Conquista pelo sultão alauita Mulei Arraxide
 • final do século XVIII Fundação do principado de Sidi Hachim
 • 1886 Dissolução
 • 1912 Revolta de Ahmed al-Hiba
População
 • 1936 est. 2 106 
A população em 1936 refere-se à antiga capital
Illigh (Tazerualte) está localizado em: Marrocos
Illigh (Tazerualte)
Localização em Marrocos de Illigh, a capital histórica de Tazerualte

Tazerualte[1] (em francês: Tazeroualt; Tazerwalt ou Tazarwalt) é uma região histórica do sul de Marrocos, situada nas montanhas do Anti-Atlas, cuja capital histórica é o que é hoje a aldeia de Illigh (Illirh), 4 km a oeste da vila de Sidi Ahmed ou Moussa e 32 km em linha reta (55 km por estrada) a sudeste de Teznite. Tem cerca de 400 km² e é atravessada pelo uádi (rio) homónimo, afluente do Massa. Atualmente faz parte da região administrativa de Souss-Massa-Drâa.

Tendo chegado a ser um reino independente que controlava o comércio do sudoestes marroquino com o Saara, entre os séculos XVII e XIX, pouco ou nada resta da sua antiga glória, à parte do mausoléu do marabuto (santo muçulmano) do qual descendeu a dinastia que reinou no local ainda ser um local de peregrinação, sendo palco de um moussem anual muito concorrido, que se realiza na segunda ou terceira semana de agosto.

A região era ocupada pela tribo berbere Masmuda, mas não é mencionada em registos históricos até ao tempo de Sidi Ahmed Ou Moussa (Sayyid Ahmad al-Musa), um xarife idríssida místico que fundou em Illigh uma confraria e ali construiu uma zauia no século XV ou XVI. Sidi Ahmed Ou Moussa viveu cerca de 1463-1563 e está sepultado, juntamente com alguns dos seus descendentes num mausoléu construído em 1884 para substituir o que ele mandou construir no século XVI. Sidi Ahmed Ou Moussa é o santo padroeiro dos acrobatas de Marrocos. A acrobacia tem uma longa tradição em Marrocos e muitos dos acrobatas marroquinos são originários de Tazerualte.

No século XVII, o marabuto Ali Abu Damia Haçane (Alboácem), descendente de Sidi Amade Ou Moussa, toma o poder na região e assume liderança da confraria da Zauia de Tazerualte em 1613, aproveitando-se do enfraquecimento da dinastia saadiana depois da morte de Amade Almançor Saadi em 1603. Após a ascensão ao trono saadiano de Mulei Zidane, em 1613, o makhzen saadita debilitado exercia um poder muito limitado. Surgiram então várias forças, entre elas a de Tazerualte e a dos alauitas, a futura dinastia reinante:

  • O centro do país estava sob o controlo da confraria da zauia de Dila.
  • As planícies do noroeste eram controladas pelo marabuto El-Ayachi e os seus aliados.
  • Tetuão era uma cidade-estado governada pela família Naqsis.
  • O Tafilalet estava sob o controlo dos alauitas.
  • O sudoeste de Marrocos era controlado pela confraria de Iligh.

Alboácem forma um reino independente, com capital em Iligh, que é fortificada em 1625. O reino é estendido para além do Tazerualte, ocupando a região do Suz e a região pré-saariana compreendida entre os uádis Suz e Drá. Além disso, consegue obter alguns enclaves marítimos em Agadir e em Massa, o que lhe assegurou o êxito comercial do seu estado depois da derrota de Abu Maali. Para a prosperidade comercial de Tazerualte contribuiu também a política de baixas taxas aduaneiras cobradas ao mercadores franceses e ingleses. O reino de Tazerualte tornou-se um corredor de passagem obrigatória do tráfico transaariano de ouro no eixo Gao-Tombuctu-Tarudante. Com a ajuda dos judeus locais, em meados do século XVII, o reino controlava o comércio do Saara Ocidental e domina vastos territórios no Atlas.

O impulso económico fulgurante é acompanhado da manutenção de um equilíbrio com os Dilaítas, que com Tazerualte mantinham influência na foz do Bu Regreg. Sidi Ali de Tazeroualt assediou o Tafilalt com o seu exército durante dez anos, chegando a aprisionar Mulei Maomé durante um ano.

Na segunda metade do século XVII a confraria perdeu terreno frente aos alauitas. O reino foi destruído em 1670 ou 1671 pelo sultão Mulei Arraxide da ascendente dinastia alauita, que acabará por estender o seu domínio sobre todo o Marrocos. A Zauia de Illigh é também destruída pelos alauitas e os descendentes de Abu Damia Haçane são forçados a fugir para o Saara. Apesar disso, a zauia foi reconstruída 30 anos depois.

Iligh volta à ribalta da política marroquina no fim do século XVIII, com Sidi Haxime ibne Ali al-Ilighi, um descendente de Abu Damia Haçane, que forma um principado autónomo de nome Sidi Hachim, o qual teve um papel preponderante no comércio transaariano. Sidi Hachim foi morto em 1825, mas o seu filho Huceine ibne Haxim (1842-1886) sucedeu-lhe e continuou o seu trabalho. Em grande parte devido à atividade dos judeus e das duas feiras que se realizavam em Iligh, a cidade tornou-se o principal centro de comércio do sudoeste de Marrocos, dominando o comércio saariano e mantendo relações comerciais com a Europa através do porto de Essaouira (Mogador). Hussein reconheceu a soberania e a autoridade espiritual dos sultões alauitas, mas na prática era independente.

Em 1882 e 1886 o sultão Haçane I empreende duas expedições militares para dominar o Suz e durante a segunda aproveita a oportunidade para restabelecer ou solidificar a sua soberania sobre Tazerualte. Entretanto Hussein morre. Iligh passou então a ser a capital administrativa do sudoeste do sultanato, que incluía também o Suz al-Aksa, correspondente aproximadamente às atuais províncias de Agadir, Tarudante e Teznite. Em 1884 foi construído um novo mausoléu dedicado a Sidi Amade Ou Moussa, que substituiu a que existia.

Em 1912, o líder rebelde Ahmed al-Hiba (o "sultão azul") resistiu aos franceses usando o Suz e Tazerualte como as suas bases de operações. O conflito interrompeu o comércio com os portos atlânticos, controlados pelos franceses e apesar de al-Hiba ter morrido em 1919, os franceses só conseguiram dominar completamente todo o Suz al-Aksa e Tazerualte em 1934.

Segundo o censo de 1936, Illigh tinha 1906 habitantes muçulmanos e 220 judeus. Depois da independência, a localidade surgida em volta do mausoléu de Sidi Ahmed ou Moussa tornou-se o centro administrativo. A vila tem o nome do santo e em 2004 tinha 4 256 habitantes.[2]

O mausoléu ainda hoje é um local de peregrinação (67 000 peregrinos registados em 1981). Iligh perdeu toda a sua importância administrativa e comercial devido ao fim do soco (mercado) semanal e à emigração dos seus judeus para Israel entre 1956 e 1960.

Notas e fontes

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  • Castries, Henry de La Croix (1880). «Notice sur la région de l'oued Draa». C. Delagrave. Bulletin de la société de géographie (em francês). XX. 500 páginas. Consultado em 23 de janeiro de 2012 
  1. Godinho 1955, p. 311.
  2. «Recensement général de la population et de l'habitat 2004» (PDF). La Vie éco. www.lavieeco.com (em francês). Royaume du Maroc - Haut-Comissariat au Plan. Consultado em 28 de dezembro de 2011 [ligação inativa] 

Ligações externas e bibliografia adicional

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  • Godinho, Vitorino Magalhães (1955). «O "Mediterrâneo" Saariano e as Caravanas do Ouro (II)». São Paulo: Universidade de São Paulo. Revista de História 
  • «Tazeroualt». tiwanaman.maktoobblog.com (em inglês). Association Tiwanaman. 2009. Consultado em 23 de janeiro de 2012