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Por Filipe Ferreira — Uberlândia, MG

Filipe Ferreira

"A voz de um anjo sussurrou no meu ouvido". O trecho da música Anunciação, de Alceu Valença, descreve bem a história do representante comercial José Elias, avô do atacante Kauã Elias. Jogador da base do Fluminense, o garoto será o camisa 9 da seleção brasileira no Sul-Americano sub-17, que começa nesta quinta-feira no Equador.

O avô Elias ajudou a criar Kauã em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Ao ter inspirações divinas sobre o que deveria fazer, Elias estimulou o neto a dar os primeiros chutes e o levou ao Rio de Janeiro para ser avaliado pelo Fluminense após o convite de um olheiro.

O torcedor do Flu, certamente, vai perceber que a história do atacante promissor coincide com a de outro atleta formado em Xerém: o lateral-esquerdo Marcelo, que ganhou o mundo e voltou recentemente para vestir a camisa tricolor. O astro também teve o apoio decisivo do avô Pedro Vieira para seguir a carreira no futebol.

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Agora, José Elias viverá a emoção de ver o neto Kauã com a camisa 9 da seleção brasileira em uma competição oficial, o Sul-Americano sub-17. O Brasil estreia nesta quinta às 21h contra o anfitrião Equador, no estádio Christian Benítez, em Guayaquil, com transmissão do sportv.

José Elias deixa recado para Kauã

José Elias deixa recado para Kauã

Ligação umbilical

Como os pais de Kauã tinham a rotina corrida em Uberlândia, José Elias ajudou na criação do garoto e estabeleceu laços fortes com o neto.

"O umbigo dele caiu na minha mão. Eu que acordava de madrugada para dar medicação, trocar fralda. Ajudei criar ele até os seis anos".

A história de Elias com Kauê é de amizade e admiração — Foto: Arquivo Pessoal

– Quem não conhecia a família Elias, achava que ele era meu filho. Todo mundo via o Kauã como meu filho. Mas aí ele falava: 'ele não é meu papai, ele é meu vovô.' Aí eu dava risada – relembra.

José Elias faz questão de estar sempre em contato com o neto para dar um suporte mesmo à distância.

– Eu e o Kauã conversamos todos os dias. Converso com ele 365 dias por ano. Todo dia eu mando uma mensagem de bom dia, para que Deus esteja com ele – disse.

Em entrevista ao canal oficial do Fluminense no YouTube em fevereiro, Kauã recordou da importância do avô em sua trajetória.

– Agradeço a ele por tudo, porque ele que sempre me ajudou e fez tudo para eu chegar onde cheguei. É um cara essencial na minha carreira. Sem ele, eu não teria chegado onde estou – afirmou.

Elias acompanha os passos do neto desde as escolinhas em Uberlândia — Foto: Arquivo Pessoal

A "voz divina"

José Elias já foi goleiro em times amadores de Uberlândia e desde pequeno Kauã sempre acompanhou o avô nos campos da cidade.

A formação de Kauã, em Uberlândia, foi feita em duas escolinhas. José Elias e a esposa Lucilene levavam e buscavam o neto nos treinos. No segundo semestre de 2016, um olheiro do Fluminense estava no Triângulo Mineiro para acompanhar jogos e viu Kauã em ação.

O olheiro pegou contato do avô e alinhou a ida do garoto para um teste em Xerém. Porém, o avô estava na dúvida se levaria o menino para a avaliação, pois o custo da viagem seria alto e ele tinha testes em outros dois clubes já programados. Foi quando numa tarde de sábado, Elias ouviu uma voz ao dar um cochilo.

"Em um sábado, eu cheguei do trabalho, fui na geladeira, tomei duas latinhas de cerveja, almocei e deitei no sofá na sala para dar uma descansada. Hora que eu comecei a cochilar, o Espírito Santo de Deus veio e falou assim no meu ouvido três vezes: 'Leva o Kauã no Fluminense" . Aí liguei para o olheiro e falei que iria levar o Kauã na segunda-feira".

A ida ao Rio de Janeiro foi proveitosa. Como o olheiro tinha gostado do futebol do garoto, ele foi aprovado logo de cara. O avô alinhou como seria a mudança do menino para Xerém no início de 2017, quando chegou oficialmente ao Fluminense.

Kauã Elias com os troféus de campeão, artilheiro e melhor jogador da Geneva Cup no ano passado — Foto: Divulgação

Elias conta que quando Kauã era pequeno, ele também ouviu a mesma voz. Uma vez quando levou o menino ao escritório onde trabalhava, o avô disse ter escutado a voz pedindo o seguinte: 'Vai lá, pega o Kauã, joga a bola, que ele vai jogar bola.'

– Quando o Espírito Santo falou comigo, ele tinha um aninho. Ele acertou três chutes consecutivos [brincando de bola no escritório], ali já vi que ele tinha algo diferente. E dez anos depois, na minha casa, o Espírito Santo falou para eu levar ele para o Fluminense. Isso é coisa de Deus – afirmou.

Incentivo para fazer gols

Elias conta que, no início, quando Kauã chegou ao Fluminense, o neto dava mais assistências do que fazia gols. Foi quando em 2019 o avô teve uma ideia para incentivar o neto, ao estabelecer um bicho a cada gol marcado.

– Falei assim para ele: o vovô estava pensando aqui e decidiu o seguinte: a cada gol que você fizer, você tem R$ 25. Aí ele foi fazendo mais gols e ganhando meu dinheiro – falou.

O atacante Kauã Elias confirmou a história do avô e justificou o motivo do combinado ter acabado rápido.

– Ele chegou e me falou, a cada gol que você fizer vai ser 25 reais. Comecei a fazer muitos gols, aí ele teve que parar com o bicho porque senão eu ia falir ele – brincou.

Elias agora está na torcida para que o neto Kauã Elias seja peça importante da seleção brasileira sub-17 no Sul-Americano, que dará aos quatro primeiros colocados à classificação ao Mundial da categoria, que será disputado em novembro no Peru.

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