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Rito romano

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O Rito Romano é um dos ritos litúrgicos latinos, ou seja, um dos ritos litúrgicos ocidentais da Igreja Católica, que se desenvolveram numa zona da Europa Ocidental e do norte da África, onde o latim era a língua da educação e da cultura, e que são distintos dos outros utilizados pelas Igrejas de rito oriental que se desenvolveram na Europa Oriental e no Médio Oriente. Tornou-se o rito padrão do Ocidente desde a emissão da Bula Quo Primum Tempore por São Pio V aos 14 de julho de 1570 em conformidade com o espírito do Concílio de Trento.

O Rito Romano é a maneira como se celebra a Santa Missa (Missal Romano[1]), os demais Sacramentos (Ritual Romano[2]), a Liturgia das Horas (Breviário[3]) e demais celebrações litúrgicas e para-litúrgicas (Cerimonial dos Bispos) pela Igreja de Roma e pelas Igrejas Particulares ou Congregações que o adotaram, por escolha ou tradição, a maior parte da Igreja Católica Latina

Instituição

Representação da Primeira Celebração da Missa

Cristo, pelos atos de sua vida terrena, morte e ressurreição, é a origem da liturgia, pois é a fonte da salvação: toda celebração da Missa é atualização, representação (no sentido de tornar presente) do Sacrifício de Cristo na Cruz, é o mesmo e único sacrifício, mas não da mesma maneira; na missa é incruento e na Cruz não foi. A Última Ceia, como instituição da Eucaristia e Primeira Missa, é antecipação da oferta de Jesus no Calvário.

Nenhum Rito Litúrgico, nenhuma reforma, poderá jamais exprimir em sua totalidade a infinita riqueza da Eucaristia, na qual o Senhor oferece a todos os membros da Igreja a plenitude da Salvação por Sua morte e ressurreição.

Evolução do Rito

Acerca da Evolução do Rito Litúrgico, especificamente o Romano, foram escritas a encíclica Mediator Dei pelo Venerável Pio XII e a Constituição Conciliar do Vaticano II Sacrosanctum Concilium ratificada pelo Santo Padre Paulo VI.

Somente a Igreja, por autoridade de seus legítimos pastores, pode definir as formas litúrgicas e rituais mais oportunas. Por serem expressão e exposição do depositum fidei confiado à Igreja pelo próprio Deus e assistida pelo Espírito Santo, as reformas litúrgicas decididas pelo Papa ou pelo Colégio Apostólico em comunhão com aquele não podem ser postas em causa pelos fiéis, inclusive por bispos: tal é válido tanto com relação às inovações—como é o caso do Novus Ordo Missæ de Paulo VI --, como à reafirmação da legitimidade e possibilidade de uso de rito antigo—como é o caso do Motu Proprio Summorum Pontificum de Bento XVI.

Ainda que os Padres Conciliares decidam restaurar a liturgia, como no último Concílio, eles o fazem de forma adaptada ao tempo da Igreja em sua peregrinação terrestre e com fidelidade à fé das gerações precedentes, que é a Única e Mesma Fé professada pelo Corpo Místico de Cristo através dos tempos. É, todavia, utópico pretender restaurar perfeitamente a liturgia das origens, o Sacrifício de Cristo como o fora na Última Ceia, porque a história, ciência humana, é incapaz de conhecê-la pela falta de registros e documentos suficientes, podendo fazê-lo, somente, de maneira aproximada.

Um retorno perfeito às origens, em conteúdo de fé, não é essencial: as formas rituais dos sacramentos e da adoração pertencem à pedagogia eclesial e não são, por si, depósito de fé, mas o apoiam e expressam.

A Igreja do Ocidente já conheceu situações de pluralidade ritual, antes e imediatamente depois do Concílio Tridentino. A unidade ritual não é de maneira alguma uma necessidade e nunca foi tida como tal pela Tradição. Os ritos só são legítimos quando conduzem, conforme os desígnios da Igreja, à penetração no Mistério do Verbo Encarnado. As formas rituais mudaram ao longo do tempo—sucessivas reformas—e no espaço—liturgias próprias a determinadas Igrejas Particulares (e.g. Rito Bracarense), Sui Iuris (e.g. Igreja Maronita) ou Comunidades Eclesiais não-territoriais (e.g. Uso Cartuxo).

Na Igreja Primitiva

Representação Páleo-Cristã da Missa, Catacumba de São Calisto

São Justino Mártir, em sua primeira Apologia,[4] descreve a Eucaristia como celebrada em Roma por volta do ano 150 d.C..

Mesmo com a liberdade litúrgica que o bispo tinha nos primeiros tempos, já aparecem, então, duas partes fixas: Pregação (Liturgia da Palavra) e Adoração (Liturgia Eucarística).

A estrutura da Missa em Roma, segundo a descrição dada por São Justino é:

  • Pregação
    • Leituras—alternam-se, a partir do século IV, com a hinodia: Gradual, Aleluia etc. (na Missa Tridentina, as leituras foram reduzidas a uma epístola e o Evangelho, exceto para determinadas missas, especialmente em tempos de penitência como a quarta-feira de Cinzas).
    • Homilia—seguindo as leituras, o celebrante faz um sermão.
    • Preces—segue-se com a oração para toda a Igreja, também chamado de "oração dos fiéis". É por isso que um grande número de sermões de Santo Agostinho termina com a frase: "Agora, voltando-se para o Senhor, rezemos…"
  • Adoração
    • Ofertório—oferecem-se os dons que serão consagrados, pão e vinho.
    • Consagração
    • Comunhão

Esta organização extremamente simples foi-nos conservada na celebração litúrgica da Sexta-feira Santa.

Reformas pré-Tridentinas

Primeira Missa celebrada no Brasil, pré-Tridentina.

Entre os tempos de São Gregório Magno e a promulgação da Bula Quo Primum Tempore em 1570, sob diversas influências, especialmente galicanas, várias cerimônias espetaculares e simbólicas são introduzidas, e.g. a bênção das velas na Festa da Purificação da Virgem (1º de janeiro), a imposição das cinzas na Quarta-feira de Cinzas, a Procissão com Palmas no Domingo de Ramos e muitos rituais da Semana Santa.

A Missa Romana ganha, por vezes, depois do Evangelho, uma leitura veterotestamentária (tanto profética quanto histórica) e uma neotestamentária (Epístolas dos Apóstolos ou Atos dos Apóstolos). Um Gradual é inserido entre elas.

É atribuída à influência do Sacro Imperador Romano Henrique II (1002-1024) a recitação do Credo, após a Proclamação do Evangelho. O Rito da Elevação do Corpo e Sangue foi introduzido para combater a heresia de Berengário de Tours (998-1088) contra a presença real de Cristo na Comunhão. Até o século XI ou XII, incensava-se, somente, durante a Procissão de Entrada e a Proclamação do Evangelho; começou-se, então, a incensar o Celebrante e a Assembléia. As Orações Próprias do sacerdote antes da Comunhão são outra inovação do período. Rumo ao século XIII, foi adicionado ao ofertório, onde previamente a única oração que o padre dizia era a Secreta, um ritual elaborado e orações públicas adicionais.[5][6]

Entre os séculos IX e XIII, um papel de crescente importância dada ao sacerdote na liturgia, junto à necessidade prática de unir integralmente os textos da missa, levou à formação plena de um Missal.[7] Até o Concílio de Trento, "a variedade de costumes e rituais diocesanos era sem limites".[8] Mas o surgimento das ordens mendicantes (franciscanos e dominicanos) irá ampliar a tendência à uniformidade litúrgica já iniciado pelas ordens monásticas centralizadas do século XII (especialmente cistercienses e cartuxos). Essas ordens ou adotavam e adaptavam os ritos locais por onde passavam ou transmitiam nestes locais os seus ritos de origem. O enorme sucesso dos franciscanos, que adotaram o rito da Cúria Papal, em meados do século XIII, levou à divulgação deste por toda a cristandade. No entanto, o Missal da Cúria, decretado para a Diocese de Roma, pelo Papa Nicolau III em 1277, não será obrigatório para as demais localidades.

Em 1474, a primeira edição impressa[9] do Missal Romano é publicada sob a autoridade de Sixto IV, franciscano. A partir de então, o Ordinário da Missa é o mesmo em suas partes essenciais, serão poucas as posteriores mudanças.

Missa Tridentina

Missa tridentina conforme o Missal de 1962.
Ver artigo principal: Missa tridentina

Quando o Concílio de Trento se reune (1542-1563), uma grande diversidade de rituais existem na Igreja Latina, a maneira de se celebrar a Missa difere de acordo com o lugar e a autoridade eclesiástica competente. O Conselho solicitou ao papa a revisão extensão do Missal Romano a toda a Igreja Ocidental. Iste é o trabalho de São Pio V, dominicano, em 1570 com a promulgação da primeira edição típica do Missal Romano.

A Imprensa torna-se um poderoso instrumento ao serviço da sem precedentes padronização da liturgia no Ocidente: Ortodoxia, ortopráxis. São Pio V poda os excessos litúrgicos e define as grandes linhas do Ordo Missæ. Mas o ordo tridentina é também o resultado de uma época e difere, em muitos aspectos, dos usos medievais primitivos.

Pela Bula Quo Primum Tempore, o Santo Padre torna obrigatória a utilização deste texto em toda a Igreja, excetuando, apenas, os ritos com duzentos anos mínimos de prática ininterrupta. Assim, entre outros, o rito bracarense, o rito ambrosiano, e rito moçárabe e o ritual de muitas instituições religiosas, legalmente continuam a existir.

Entre 1570 (promulgação da Bula) e 1962 (última edição da Missa de São Pio V), o missal e a liturgia evoluem, mas, geralmente, de maneira mínima: ajustes e supressões de festas litúrgicas, precisamento de rubricas. A revisão mais substancial é a do Venerável Pio XII em 1955.

Espírito do Movimento Litúrgico

O movimento litúrgico, a partir do século XIX, irá mudar completamente as atitudes, levando a uma desvalorização das particularidades litúrgicas que atentariam contra a unidade romana. Uma reflexão fundamental sobre a liturgia começa com o trabalho de Dom Prosper Guéranger (1806-1875). O Abade, que reabriu a Abadia beneditina de Solesmes, promove a unificação da liturgia na França. Ele é o autor de L'Année Liturgique (O Ano Litúrgico), que será o livro de referência de Santa Teresa de Lisieux e suas irmãs. Desde o início do século XX, um amplo movimento de reforma emerge na Igreja Romana para uma melhor compreensão da liturgia, na tradição do Dom Guéranger, o chamado movimento litúrgico.

Em 1911, São Pio X empreende a primeira tentativa de retorno às fontes que se concentra em uma revisão profunda do Ofício Divino. Pio X, em sua carta Tra le sollecitudini e Pio XII, na encíclica Mediator Dei recorda o que deveria ser o verdadeiro espírito da reflexão litúrgica: "participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja".

No início de 1962, quando da edição do Missal Romano, o Beato João XXIII indicou que "os grandes princípios comantandes da reforma geral da liturgia deve[riam] ser propostos aos Padres Conciliares no subsequente Concílio Ecumênico."

Novus Ordo Missæ

Missa Pontifícia de Bento XVI no Brasil segundo o Novus Ordo, missal de Paulo VI.

A Constituição Sacrosanctum Concilium do Concílio Vaticano II, clama por uma nova revisão do Missal Romano. O Ordo Missæ é, então, retocado por uma edição de 1965[10] e definitivamente reformado aos 3 de abril de 1969 com apromulgação do Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Œcumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli pp. VI promulgatum.

Controvérsias

Exemplo de Abuso Litúrgico.

Todavia, há críticos, de entre os quais se destacam os católicos tradicionalistas, que não concordam com a natureza da missa pós-Vaticano II. Em 2003 foi revelado que a Missa Tridentina estava de novo a ser celebrada na Basílica de S. Pedro (embora não no altar principal) e que o Papa João Paulo II começou a celebrar Missas Tridentinas na sua capela privada no Palácio Apostólico, no Vaticano. A partir 7 de Julho de 2007, pelo Motu proprio Summorum Pontificum, o Papa Bento XVI reafirmou a validade da Missa Tridentina e a liberação de celebrá-la a pedido dos fiéis sem prévia autorização episcopal.

Assim sendo, existem duas formas de celebração do rito romano: a forma ordinária ( o Novus Ordo) e a forma extraordinária (a Missa Tridentina).

Expansão Territorial

Missa Campal em Ação de Graças pela Lei Áurea, 4 dias após sua assinatura.

É o rito de toda a Europa Ocidental e, portanto, de todas as suas ex-colônias devido à Expansão Marítima e ao Imperialismo. É, portanto, utilizada na América Espanhola (América Latina exceto Brasil) e nas América, Ásia e África Portuguesas (CPLP): Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste; além, dos demais países de colonização ocidental.

Referências

Ver também