Mecanismo de pederneira
O mecanismo de pederneira, é um mecanismo de ignição que tem a aparência de cadeado e foi usado em mosquetes, rifles e pistolas do início do século XVII até meados do século XIX. É geralmente chamado simplesmente de "pederneira" (sem a palavra mecanismo), embora esse termo também seja comumente usado para as próprias armas como um todo, e não apenas para o mecanismo de ignição.
Visão geral
[editar | editar código-fonte]O mecanismo de pederneira, consiste basicamente de um cão em forma de “S” com uma pinça na extremidade superior, onde ficava presa uma pequena pedra de sílex. À frente do cão existe uma chapa de ferro na qual a pedra é friccionada gerando faíscas, e a caçoleta para a pólvora de ignição e algum tipo de tampa da caçoleta.[1]
Funcionamento
[editar | editar código-fonte]O princípio de funcionamento era o mesmo nos vários sistemas: o cão é armado e fica tensionado por uma mola interna, a chapa de fricção com a tampa integrada é posicionada sobre a caçoleta; quando o gatilho é acionado, o cão é liberado e a pedra de sílex raspando na chapa de fricção, produz faíscas e inflama a pólvora fina contida na caçoleta, que através de furo conectado ao cano incendeia a carga de pólvora principal efetuando o disparo.[1]
Histórico
[editar | editar código-fonte]Nos mecanismos de pederneira mais rudimentares, a tampa da caçoleta era separada da chapa de fricção e precisava ser aberta manualmente, era o sistema snaplock (que perdurou entre 1540 e 1640 aproximadamente).[1]
Em seguida veio o sistema snaphance (que vinha sendo desenvolvido desde 1550), começou a tomar força, ele possuía um mecanismo de abertura automática da tampa da caçoleta quando o gatilho era acionado.[1]
Logo depois, a partir de 1630, um sistema aperfeiçoado ganhou popularidade, era o doglock, com dois aperfeiçoamentos primordiais: a tampa da caçoleta era integrada na chapa de fricção, e o cão possuía um mecanismo de trava em dois estágios: no primeiro ele ficava travado e a arma não disparava; no segundo, quando puxado até o fim, ele travava novamente e a arma ficava pronta para disparar.[1]
Esse sistema ficou em voga até 1750, quando foi suplantado pelo que se convencionou chamar de "pederneira verdadeira",[1] que foi desenvolvido na França a partir do início do século XVII,[2] substituindo rapidamente os mecanismos de pederneira anteriores.
O mecanismo de pederneira continuou sendo usado por mais de dois séculos, até que finalmente foi substituído pela espoleta de percussão.[3]
Outros usos
[editar | editar código-fonte]Algumas das primeiras minas terrestres, ou "fougasses", eram detonadas por mecanismos de pederneira, que também foram usados para lançar foguetes Congreve.[4]
Um isqueiro de pederneira, era um dispositivo usado em famílias ricas desde o século XVIII até a invenção de fósforos confiáveis. Assemelhava-se um pouco a uma pequena pistola de pederneira, mas sem cano e com castiçal e pernas para que pudesse ficar de pé. Quando o gatilho era acionado, as faíscas geradas acendiam uma carga seca na caçoleta, a partir da qual a vela seria acesa rapidamente. O dispositivo fornecia uma fonte rápida e confiável de luz e chama para acender fogueiras.[5]
Existiam despertadores que, além de soarem uma campainha, usavam um mecanismo de pederneira' para acender uma vela. Exemplares deles fabricados na Alemanha e na Áustria, datando do século XVIII, estão preservados nas coleções do Museu Britânico[6] e do Museu Hermitage na Rússia.[7] Um exemplar que data de 1550 está no Germanisches Nationalmuseum (Museu Nacional da Cultura Germânica) em Nuremberg.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Espoleta de percussão
- Arma de fogo
- Chave de cão
- Canhão de mão
- Fecho de mecha
- Chave de Miguelete
- Chave de roda
Referências
- ↑ a b c d e f Ricardo M. Andrade (15 de outubro de 2016). «História das armas de fogo e seus sistemas de operação: Armas de Pederneira». Firearms Brasil. Consultado em 18 de janeiro de 2021
- ↑ Lenk, Torsten; Translated by G.A. Urquhart (1965). The Flintlock: its origin and development; MCMLXV. London: Bramhall House
- ↑ Flatnes, Oyvind (2013). From Musket to Metallic Cartridge: A Practical History of Black Powder Firearms (em inglês). [S.l.]: Crowood. p. 31–36. 240 páginas. ISBN 978-1-84797-594-2. Consultado em 18 de janeiro de 2021
- ↑ «British Rockets». National Park Service. 13 de janeiro de 2012. Consultado em 18 de janeiro de 2021
- ↑ «Flintlock tinder pistol. English, 1780–1830.». www.ingenious.org.uk. Consultado em 16 de janeiro de 2012
- ↑ «spring-driven clock / clock-case / alarm clock». Collection Online. British Museum. Consultado em 18 de janeiro de 2021
- ↑ «Alarm-clock». Hermitage Projects - Resotoration Programme. The State Hermitage Museum. Consultado em 18 de janeiro de 2021. Cópia arquivada em 14 de março de 2014
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- The Flintlock: its origin and development by Torsten Lenk, translated by G.A. Urquhart, edited by J.F. Hayward, 1965, published by Bramhall House, New York.
- Guns by Dudley Pope, 1969, Hamlyn Publishing Group, Ltd. This is an inexpensive large format book with excellent drawings of various firearm mechanisms.
- Oyvind Flatnes (2013). From Musket to Metallic Cartridge: A Practical History of Black Powder Firearms. [S.l.]: Crowood. pp. 134–138. ISBN 978-1-84797-594-2
- Jones, Kevin P. (2019). An examination of Flintlock Components at Fort St. Joseph (20BE23), Niles, Michigan (Tese) (em inglês). Western Michigan University (publicado em Abril de 2019). 89 páginas. Consultado em 20 de janeiro de 2021