Pedro Teotónio Pereira
Pedro Teotónio Pereira | |
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Pedro Teotónio Pereira | |
Nascimento | 7 de novembro de 1902 Lisboa |
Morte | 14 de fevereiro de 1972 |
Cidadania | Portugal |
Irmão(ã)(s) | Luís Teotónio Pereira |
Alma mater | |
Ocupação | político, diplomata, escritor |
Distinções |
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Pedro Teotónio Pereira GCIH, GCC (Lisboa, 7 de novembro de 1902 – Lisboa, 14 de novembro de 1972) foi um político e diplomata português.
Vida
[editar | editar código-fonte]Licencia-se em Matemáticas Superiores pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde começou a ser notado pelas suas capacidades oratórias e por representar o sector estudantil, na qualidade de vice-presidente e depois presidente da Junta Escolar de Lisboa. Nos seus tempos de estudante, foi sempre muito próximo de António Sardinha, por quem tinha uma grande consideração.
A família Teotónio Pereira tinha uma longa tradição no mundo financeiro segurador. Já o seu bisavô, em 1865, tinha sido um dos doze directores da Associação Comercial de Lisboa sendo também acionista. O seu pai alcançou a posição acionista maioritária da Companhia de Seguros Fidelidade. Com o intuito de seguir a tradição familiar, em 1926, Pedro Teotónio Pereira desloca-se para a Suíça para se especializar em cálculo actuarial e, no regresso, nesse mesmo ano de 1926, funda o ramo vida da Companhia de Seguros Fidelidade.
Quando se desencadeia o 28 de Maio de 1926, Pedro Teotónio Pereira colaborava no jornal monárquico "A Época", integrando o grupo de jovens sardinhistas. Encontra-se colaboração da sua autoria na revista "Ordem Nova" [1] (1926-1927) e na revista Nação Portuguesa.[2]
No início da década de 1930, Salazar, reconhecendo a sua competência no ramo dos seguros de vida, chama-o para solucionar o fracasso do sistema de seguros sociais obrigatórios que tinha sido instituído em 1919 pela Primeira República Portuguesa. Salazar aprecia tanto a sua colaboração que, em 1933, nomeia-o Subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social, cargo que ocupa até 1936 e onde, na dependência directa do chefe de Governo, prepara o grosso da estrutura institucional e jurídica do corporativismo português, bem como do sistema de previdência social.
Em 1936 é nomeado Ministro do Comércio e Indústria, cargo que ocupa até 1937, quando Salazar, que com o estalar da Guerra Civil de Espanha havia assumido a pasta dos Negócios Estrangeiros, decide nomear Teotónio Pereira para a delicada função de “Agente Especial” do Governo Português junto do Governo de Franco.[3] A 28 de maio de 1937, foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.[4] Teotónio Pereira chega a Salamanca a 19 de Janeiro de 1938 encontrando uma atmosfera de grande simpatia para com os diplomatas alemães e italianos e uma atmosfera de grande hostilidade para com os diplomatas dos restantes países. Teotónio Pereira cedo começou a contrariar este ambiente e irá ter um papel fundamental na dissuasão do alinhamento da Espanha com as Potencias do Eixo, na criação do um bloco Ibérico neutro e na aproximação da Espanha aos Aliados. Este papel importantíssimo é reconhecido e objecto de copiosos elogios por parte de Carlton Hayes, o embaixador Americano em Madrid durante a guerra no seu livro Wartime mission in Spain,1942-1945.[5] A sua designação como embaixador era transitória e inscrevia-se numa política de reconhecimento do Governo de Franco. Em 20 de maio de 1938 Teotónio Pereira é formalmente nomeado embaixador em Madrid e entrega credenciais a Franco em 20 de junho do mesmo ano.
Carlton Hayes também enaltece o papel de Teotónio Pereira, em 1943, no salvamento de cerca de 16 mil refugiados, a maioria militares ou em idade militar, que atravessaram os Pirenéus a pé, com o intuito de se juntarem às forças aliadas no Norte de África.[6]
Igualmente elogioso é o testemunho do Embaixador Britânico em Madrid de 1940-1944, Lord Templewood, que diz que encontrou em Teotónio Pereira em Madrid um aliado e amigo desde a primeira hora e um homem excecional com capacidades notáveis.[7]
Em 1945 ao terminar o seu mandato em Madrid, reconhecendo o papel fundamental de Teotónio Pereira na criação de um bloco ibérico neutro, o Governo de Espanha concede-lhe a Gran Cruz da Ordem de Carlos III, a mais alta condecoração civil que pode ser outorgada naquele país.[8]
Mais tarde foi embaixador no Rio de Janeiro (1945-47), em Washington (1947-1950), em Londres (1953-1958) e novamente em Washington (1961-63).
A 3 de janeiro de 1961, foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.[4]
Pedro Teotónio Pereira adoeceu relativamente cedo e isso impediu-o de ter um papel ativo na fase final do Estado Novo. No Verão de 1963, quando estava colocado como Embaixador em Washington, foi-lhe diagnosticada a Doença de Parkinson, o que o obrigou a pedir a demissão. Regressou a Lisboa e recuperou o seu lugar na administração da Fundação Calouste Gulbenkian.[9]
Quando Salazar ficou incapacitado para governar, o presidente da República, Américo Thomaz, que tinha a competência constitucional para escolher um substituto para a chefia do Governo, pensou que Teotónio Pereira era “a personalidade mais indicada para suceder ao doutor Salazar, se a sua saúde o tivesse permifido", como deixou testemunhado nas suas memórias.[9]
Dados genealógicos
[editar | editar código-fonte]Filho de João Teotónio Pereira, Jr. (Lisboa, 1869 - Lisboa, São Domingos de Benfica, 1948), Administrador da Companhia de Seguros Fidelidade, e esposa Virgínia Hermann von Boetischer (Lisboa, Santa Engrácia, 1871 - Lisboa, 1969) neto paterno de João Teotónio Pereira (1832 - 1916) e sua esposa Clara Sobral (1840 - Freixo de Espada à Cinta, Fornos, 1910) e neto materno de Maximiliano August Hermann von Boetischer, um engenheiro, ligado à instalação do telefones em Portugal, e esposa, Maria José da Silva. Seu irmão mais velho Luís Teotónio Pereira foi também um político.
Casou com Isabel Maria van Zeller Pereira Palha (Lisboa, Santa Engrácia, 26 de outubro de 1903 -), e teve 3 filhos:
- Pedro van Zeller Palha Teotónio Pereira (Cascais, Estoril, 26 de novembro, 1927 —)
- Maria Madalena van Zeller Palha Teotónio Pereira (Cascais, Estoril, 26 de março, 1929 —)
- Clara van Zeller Palha Teotónio Pereira (Lisboa, Santa Engrácia, 5 de agosto, 1934 —)
Amante do Mar
[editar | editar código-fonte]Foi a convite de Teotónio Pereira, na época embaixador em Washington, que na Primavera de 1950 o Capitão Australiano Alan Villiers embarcou com os pescadores portugueses, vindo a escrever o livro “A Campanha do Argus”,[10] um clássico da literatura marítima mundial, que teve tradução em mais de uma dezena de línguas, e que relata a pesca do bacalhau por "homens de ferro em navios de madeira", a mítica "frota branca", a última grande actividade económica que fazia uso da navegação à vela para viagens transoceânicas.
Em 1953, com o receio do desaparecimento, num futuro próximo, dos últimos grandes veleiros, animado pelo propósito de educar as novas gerações de todo o mundo num melhor e mais pacífico entendimento, Pedro Teotónio Pereira, na época Embaixador de Portugal em Londres, juntamente com o solicitador londrino, Bernard Morgan, idealizou e fundou a Tall Ships’ Races, promovendo a primeira Regata dos Grandes Veleiros, realizada em 1956 entre Torbay, no sul de Inglaterra, e Lisboa. A esta iniciativa Teotónio Pereira conseguiu juntar personalidades como Lord Mountbatten e o Duque de Edimburgo.[11]
Também o êxito da compra do navio-escola NRP Sagres pela Marinha Portuguesa à Marinha do Brasil, em 1961, muito se ficou a dever à ação empenhada de Teotónio Pereira, na altura Ministro da Presidência.[12]
Obras Publicadas
[editar | editar código-fonte]- Antonio de Oliveira Salazar e Pedro Teotónio Pereira, "As Ideias do Estado-Novo. Corporações e Previdência Social". Edições do Sub-secretariado de Estado das Corporações e Previdência Social, Lisboa. 1933.
- Pereira, Pedro Teotónio, "A Batalha do Futuro. Organização Corporativa". Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1937.
- Pereira, Pedro Teotónio, "Memórias : postos em que servi e algumas recordações pessoais", Verbo, 1973
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Almeida, Joao Miguel, "Correspondência política entre Oliveira Salazar e Pedro Teotónio Pereira (1945-1968)"- Círculo de Leitores : Temas e Debates : Instituto de História Contemporânea, 2008, ISBN 9789896440299
- Cruz, Manuel Braga da (2004), Pedro Teotónio Pereira, Embaixador Português em Espanha durante as Guerras (PDF), Porto: Estudos de Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos, p. 429-440, consultado em 18 de março de 2014
- Hayes, Carlton J.H. (1945). Wartime mission in Spain, 1942-1945 (em inglês). [S.l.]: Macmillan Company 1st Edition. 313 páginas. ISBN 9781121497245
- Hoare, Samuel (1946). Ambassador on Special Mission (em inglês). UK: Collins; First Edition edition. 320 páginas
- Lochery, Neill (2011). Lisbon: War in the Shadows of the City of Light, 1939-1945 (em inglês). United States: PublicAffairs; 1 edition. 345 páginas
- Lucena, Manuel de (2015). Os Lugar-Tenentes de Salazar. Lisboa: Alêtheia Editores. 374 páginas. ISBN 9789896226435
- Martins, Fernando (2020). Pedro Theotónio Pereira : o outro delfim de Salazar. Alfragide: Dom Quixote. ISBN 9789722070294
- Meneses, Filipe (2009). Salazar: A Political Biography (em inglês). [S.l.]: Enigma Books; 1 edition. 544 páginas. ISBN 978-1929631902
- Pereira, Pedro Teotónio (1987). "Correspondência de Pedro Teotónio Pereira Oliveira Salazar". [S.l.]: Presidência do Conselho de Ministros. Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista
- Pereira, Pedro Teotónio (1973). "Memórias". [S.l.]: Verbo - 2 Volumes
- Rezola, Maria Inácia (2008). «The Franco–Salazar Meetings:Foreign policy and Iberian relations during the Dictatorships (1942-1963)» (PDF). e-journal of Portuguese History (em inglês). 6 (2). Consultado em 24 de janeiro de 2015
- Tusell, Javier (1995). Franco, España y la II Guerra Mundial: Entre el Eje y la Neutralidad (em espanhol). [S.l.]: Ediciones Temas de Hoy. ISBN 9788478805013
Referências
- ↑ Rita Correia (16 de Novembro de 2011). «Ficha histórica: Ordem Nova (1926-1927)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 6 de Janeiro de 2015
- ↑ Nação Portuguesa, Coimbra (1914 – 1938), por Nuno Simão Ferreira, Dicionário de Historiadores Portugueses da Academia Real de Ciências ao Final do Estado Novo (consulta em 5.5.2022)
- ↑ [1] Manuel Braga da Cruz(2004). «Pedro Teotónio Pereira, Embaixador Português em Espanha durante as Guerras» in Estudos de Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos. Porto: Faculdade de Letras, p. 429-440.
- ↑ a b «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Pedro Teotónio Pereira". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 30 de agosto de 2020
- ↑ Hayes, pp. 36, 119 e 169
- ↑ Hayes, p. 119
- ↑ Hoare, p.45
- ↑ «El Embajador de Portugal» [The Portuguese Ambassador] (em espanhol). ABC (jornal). 20 de Julho de 1945. Consultado em 8 de Janeiro de 2015
- ↑ a b Martins 2020.
- ↑ Villiers, Alan - The Quest of the Schooner "Argus" - Published by Hodder & Stoughton Ltd (1951)
- ↑ «The First Tall Ships Race». Sail Training International. Consultado em 30 de novembro de 2014. Arquivado do original em 4 de dezembro de 2014
- ↑ «Navio Escola Sagres > PT > O navio > História». Marinha Portuguesa. Consultado em 1 de dezembro de 2014. Arquivado do original em 30 de agosto de 2012
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Nascidos em 1902
- Mortos em 1972
- Homens
- Diplomatas de Portugal
- Escritores de Portugal do século XX
- Escritores monárquicos de Portugal
- Embaixadores de Portugal na Espanha
- Embaixadores de Portugal no Reino Unido
- Embaixadores de Portugal no Brasil
- Embaixadores de Portugal nos Estados Unidos
- Ministros de Portugal
- Integralistas lusitanos
- Naturais de Lisboa
- Grã-Cruzes da Ordem Militar de Cristo
- Grã-Cruzes da Ordem do Infante D. Henrique
- Grã-Cruzes da Real Ordem de Carlos III