Primeira Guerra do Congo
Primeira Guerra do Congo | |||
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Campo de refugiados no Zaire em 1994. | |||
Data | 24 de outubro de 1996 - 16 de maio de 1997 | ||
Local | República Democrática do Congo | ||
Desfecho | Vitória do AFDLC
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Beligerantes | |||
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A Primeira Guerra do Congo (1996-1997) foi uma guerra travada no então Zaire (atual Congo), que tinha o objetivo de derrubar o ditador nacionalista Mobutu Sese Seko. As forças de oposição a Mobutu eram lideradas pelo líder guerrilheiro Laurent-Désiré Kabila, com o apoio dos países vizinhos (especialmente Ruanda e Uganda). Tomando Quinxassa, Kabila declarou-se presidente e alterou o nome do país para República Democrática do Congo.
Após anos de conflitos internos, ditadura e declínio econômico, o Zaire era um Estado moribundo em 1996. As partes orientais do país foram desestabilizadas devido ao genocídio em Ruanda que atravessou suas fronteiras, bem como conflitos regionais duradouros e ressentimentos deixados sem solução desde a Crise do Congo. Em muitas áreas, a autoridade do Estado havia entrado em colapso, com milícias, senhores da guerra e grupos rebeldes travando uma luta interna (alguns simpatizantes do governo, outros abertamente hostis) exercendo poder efetivo.[10][11] A população do Zaire tornou-se inquieta e ressentida com o regime inepto e corrupto, enquanto as Forças Armadas Zairenses estavam em uma condição catastrófica.[12][13] Mobutu, que estava com uma doença terminal, não conseguia mais manter as diferentes facções do governo sob controle, tornando sua lealdade questionável. Além disso, o fim da Guerra Fria fez com que a forte postura anticomunista de Mobutu não fosse mais suficiente para justificar o apoio político e financeiro que recebera de potências estrangeiras - seu regime, portanto, estava essencialmente falido, política e financeiramente.[14][15]
A situação finalmente piorou quando Ruanda invadiu o Zaire em 1996 para derrotar vários grupos rebeldes que haviam encontrado refúgio no país. O governo ruandês decidiu lançar essa ofensiva no leste do Zaire após Mobutu abertamente dar abrigo a vários hútus que haviam perpetrado o genocídio em Ruanda.[16] Essa invasão aumentou rapidamente de intensidade à medida que mais países (incluindo Uganda, Burundi, Angola e Eritreia) se juntaram à invasão, enquanto uma aliança congolesa de rebeldes anti-Mobutu foi montada.[10] Embora o governo zairense tenha tentado oferecer uma resistência efetiva e tenha sido apoiado por milícias aliadas, bem como pelo Sudão, o regime de Mobutu entrou em colapso em questão de meses.[17] Apesar da curta duração da guerra, ela foi marcada por destruição generalizada e extensa violência étnica, com centenas de milhares de mortos nos combates e pogroms que os acompanharam.[18]
Um novo governo foi instalado e o Zaire foi renomeado República Democrática do Congo, mas o fim do regime de Mobutu trouxe poucas mudanças políticas, e Kabila se sentiu desconfortável na posição de procurador de seus antigos benfeitores. Para evitar um golpe, Kabila expulsou todas as unidades militares ruandesas, ugandenses e burundesas do Congo, e moveu-se para construir uma coalizão incluindo forças da Namíbia, Angola, Zimbábue e Zâmbia, logo abrangendo uma série de nações africanas como Líbia e África do Sul, embora seu apoio variasse.[19] A coalizão tripartite respondeu com uma segunda invasão do leste, em grande parte por meio de grupos de procuração. Essas ações constituíram o catalisador da Segunda Guerra do Congo no ano seguinte, embora alguns especialistas prefiram ver os dois conflitos como uma guerra contínua cujos efeitos posteriores continuam até a atualidade.[20][21]
Referências
- ↑ a b "Passive Protest Stops Zaire's Capital Cold" by Lynne Duke, Washington Post Foreign Service, Tuesday, April 15, 1997; Page A14 ("Kabila's forces -- which are indeed backed by Rwanda, Angola, Uganda and Burundi, diplomats say -- are slowly advancing toward the capital from the eastern half of the country, where they have captured all the regions that produce Zaire's diamonds, gold, copper and cobalt.")
- ↑ "Congo Begins Process of Rebuilding Nation" by Lynne Duke, Washington Post Foreign Service, Tuesday, May 20, 1997; Page A10 ("Guerrillas of Angola's former rebel movement UNITA, long supported by Mobutu in an unsuccessful war against Angola's government, also fought for Mobutu against Kabila's forces.")
- ↑ Guia Del Mundo 2008/ Guide to the World 2008, por el Instituto Del Tercer Mundo (COR), pp. 189, IEPALA Editorial, 2008.
- ↑ Guia del Mundo 2009, editado por Instituto del Tercer Mundo, pág. 189, IEPALA Editorial, 2008.
- ↑ a b c d Uppsala conflict data expansion. Non-state actor information. Codebook Arquivado em 21 de janeiro de 2012, no Wayback Machine. pp. 132-133.
- ↑ The Use of Children as Soldiers in Africa report
- ↑ a b c William G. Thom: 1996-97 Civil War in the Context of Evolving Patterns of Military Conflict in Africa in the Era of Independence, Journal of Conflict Studies, Vol. XIX Nr. 2, Fall 1999
- ↑ a b c d e Country report and updates: Congo, Democratic Republic of | War Resisters' International. 8 de julho de 1998.
- ↑ De re Militari: muertos en Guerras, Dictaduras y Genocidios
- ↑ a b Abbott (2014), pp. 33–35.
- ↑ Prunier (2009), pp. 77, 83.
- ↑ Abbott (2014), pp. 23–24, 33.
- ↑ Prunier (2009), p. 128.
- ↑ Abbott (2014), pp. 23–24, 33–35.
- ↑ Prunier (2009), pp. 118, 126–127.
- ↑ Imma Vitelli (16 de maio de 2010). «YO, CANÍBAL 'Nos ordenaron comernos a nuestros enemigos y lo hice'» (em espanhol). xlsemanal. Consultado em 25 de maio de 2010
- ↑ Abbott (2014), pp. 34–35.
- ↑ Prunier (2009), pp. 143–148.
- ↑ Abbott (2014), pp. 36–39.
- ↑ Reyntjens, Filip. The Great African War: Congo and Regional Geopolitics, 1996–2006. Cambridge: Cambridge UP, 2009. p. 194
- ↑ «DISARMAMENT: SADC Moves into Unknown Territory». 19 de agosto de 1998
Bibliografia
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