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Ele já brilhou contra o Real Madrid e viu Cristiano Ronaldo sair irritado; hoje, está há seis meses sem poder jogar por situação bizarra

Guilherme Marques foi muito bem em empate do Legia Varsóvia contra o Real Madrid, pela Champions 2016/17


Um dos maiores feitos da história do Legia Varsóvia, da Polônia, é o empate por 3 a 3 com o "invencível" Real Madrid de Cristiano Ronaldo, Benzema e Bale, pela fase de grupos da Champions League 2016/17. Naquele 2 de novembro de 2016, um meio-campista só não fez chover em campo, sendo decisivo no grande resultado conquistado pelos poloneses.

Trata-se de Guilherme Marques, que defendeu o Legia por cinco anos e é ídolo da torcida, principalmente por sua atuação histórica contra os merengues.

Naquele dia, os blancos abriram 2 a 0, com gols de Bale e Benzema, e deram a impressão que a partida estava liquidada. No entanto, Guilherme deu grande assistência para Odjidja-Ofoe diminuir.

O tento catapultou uma incrível reação, e, com o brasileiro dando as cartas, o clube da Polônia buscou uma incrível virada por 3 a 2. Nos minutos finais, Kroos fez o gol do empate por 3 a 3, que foi o resultado final. Todavia, acabou sendo um resultado com sabor de vitória para Guiherme e seus companheiros.

"Esse jogo foi muito importante e tem uma dimensão muito grande na história do clube. O Legia não disputava a Champions havia 21 anos, e classificamos para ela em um ano histórico, com títulos do Campeonato Polonês e da Copa da Polônia. Caímos num grupo muito difícil, com Real Madrid, Borussia Dortmund e Sporting, mas isso nos deixou muito felizes", recordou o meio-campista, em entrevista ao ESPN.com.br.

"O Real era o 'bicho-papão' da Champions nessa época. Perdemos para eles no Bernabéu, mas mesmo assim foi uma experiência surreal e muito gratificante, nunca vou esquecer. No retorno, em Varsóvia, a história foi diferente", exaltou.

"Infelizmente, não tivemos torcida nesse dia [o Legia havia sido punido pela Uefa]. Mesmo assim, a gente tinha virado de 2 a 0 para 3 a 2 e estávamos segurando até os minutos finais, só levamos o empate quando não deu mais. Sempre que falo com o pessoal de lá lembram desse jogo, porque a repercussão foi gigantesca", salientou.

Nessa época, o Real Madrid estava acostumado a enfileirar goleada atrás de goleada. Por isso, Guilherme lembra que os jogadores merengues ficaram muito irritados com a dificuldade imposta pelo Legia naquela partida.

"Na ida, na Espanha, eu troquei camisa com o Marcelo. Na volta, tinha acertado de trocar com o Cristiano Ronaldo, mas eles ficaram nervosos com o empate, saíram bravos de campo. Aí não quis chatear ninguém (risos)", brincou.

Segundo o meia, que não atuou profissionalmente por nenhum clube brasileiro e fez a carreira toda na Europa, esses foram os melhores dias de sua carreira.

"Esses jogos foram dos melhores que fiz na minha vida. Na ida, o jornal Marca me deu a maior nota do Legia, apesar da derrota. Já em Varsóvia, eu ajudei com a assistência do nosso 1º gol e fui muito bem. Infelizmente, a gente havia sido punido pela Uefa e jogamos com portões fechados. Todos esperavam que a gente fosse sentir a ausência da torcida, mas fizemos uma grande partida e por pouco não vencemos", observou.

"Foi muito marcante, porque foi um resultado que ninguém esperava. O Real naquele ano foi campeão europeu, tinha Cristiano, Benzema, Bale, Kroos, Modric, Casemiro... Uma seleção! Perto do nosso time, com orçamento tão baixo, não tinha nem comparação. Por isso que foi tão legal fazer a partida que fizemos", celebrou.

'É fogo, pá... Muito frio aqui!'

Guilherme jogou os 90 minutos daquele empate e lembra até hoje de todos os detalhes. Antes da bola rolar, inclusive, ele teve uma divertida conversa com ninguém menos que Cristiano Ronaldo, que não estava gostando nada das condições climáticas no dia da partida.

"Em Varsóvia, devia estar uns -10ºC naquele jogo. Pouco antes da bola rolar, o Ronaldo encostou em mim e disse: 'Como vocês conseguem jogar aqui?'. Eu disse: 'Não tem jeito, cara... A gente tem que se adaptar'. Ele estava batendo os dentes e brincou: 'É fogo, pá... É muito frio aqui, não consigo!'", revelou.

Já depois do jogo, o resultado e o frio deixaram os atletas merengues bastante irritados.

"No fim da partida, eles saíram rápido do campo, porque ficaram frustrados com o placar. Eles devem ter achado que iam enfiar cinco na gente, mas futebol é jogo jogado. A gente comemorou bastante, mas com um misto de frustração, porque estávamos vencendo até o final", relembrou.

Guilherme recebe até hoje mensagens de agradecimento por aqueles dias de glória em Varsóvia.

"Com esse empate com o Real, a gente ficou vivo no grupo. Depois, vencemos o Sporting com um gol meu e terminamos em 3º lugar na chave, classificamos para a Europa League. Isso foi muito marcante para mim", comentou, saudoso.

"Até hoje os torcedores nos agradecem e pelo que fizemos naquela Champions, pois honramos muito a camisa do Legia na competição", exaltou.

Situação bizarra na China

Depois de praticamente cinco anos no Legia Varsóvia, Guilherme sentiu que era hora de respirar novos ares. Com isso, acertou sua ida em 2018 para o Benevento, da Itália, e teve a chance de jogar a tradicional Serie A.

"Em janeiro de 2018, fui para o Benevento. Na época, recebi ofertas da MLS, mas preferi jogar a Serie A na Itália e gostei demais. Trabalhei com o Roberto De Zerbi, que hoje é treinador do Shakhtar Donetsk. Foi o melhor treinador que já tive até hoje", apontou.

"Eu fui para lá mesmo sabendo que o time estava mal e com chances de cair, mas achei que era uma boa vitrine. Queria trabalhar com um treinador que me ligou e convidou para o projeto e disputar uma liga forte. A gente melhorou bastante no 2º turno e somou 20 pontos, mas não teve como escapar", lamentou.

Com a queda, o Benevento passou por reestruturação, e o brasileiro foi jogar no futebol da Turquia.

"Fui para a Turquia e fiquei lá por três temporadas maravilhosas. Ganhei o título da Copa da Turquia pelo Trabzonspor e acabamos com um jejum de 10 anos no clube. Antes, ajudei a levar o Yeni Malatyaspor à Europa League. Foi uma passagem bem marcante por lá", afirmou.

Foi aí que veio a famosa chance de fazer a "independência financeira".

"Recebi uma proposta de surpresa do Guangzhou City, da China. Aceitei e fui para lá sozinho, fiquei oito meses sem ver a família. Apesar de tudo, foi uma experiência legal. Fizemos a melhor campanha do clube nos últimos cinco anos. Ainda tenho mais dois anos de contrato com eles e espero que as coisas melhorem na fronteira lá par eu poder voltar", relatou.

Por causa das regras rígidas de isolamento na China desde o início da pandemia de COVID-19, em 2020, Guilherme vive situação bizarra no momento. Sem conseguir retornar ao país asiático, e com salários atrasados, ele não consegue acertar com outra equipe e está há seis meses sem jogar, só treinando por conta própria no Brasil.

O atleta revela até que foi sondado por equipes brasileiras, mas não pode nem abrir conversas.

"Eu fiquei sozinho lá e o campeonato chegou ao fim, aí voltei ao Brasil. Fiquei esperando que eles providenciassem a documentação para eu voltar junto com a minha família. Só que a China fechou as fronteiras por causa da pandemia para novas pessoas. Estou aguardando isso se resolver", disse.

"Eu tenho mais dois anos de contrato e alguns salários em atraso. Espero qeu agora possam se reorganizar, porque teve uma mudança de empresa no clube. O campeonato de lá foi adiado pela COVID, nem sabemos quando vai voltar. Estou no Brasil esperando, mas não posso jogar em outro clube. Estou treinando por conta e mantendo a forma, esperando a chance de retornar pro campo. São mais de seis meses sem poder jogar", lamentou.

"No começo do ano, surgiram algumas situações interessantes de times do Brasil, mas não pudemos fazer nada por conta dessa situação na China. Os chineses aceitam me emprestar por no máximo seis meses, e os times brasileiros querem por pelo menos um ano. Tenho que respeitar a decisão do Guangzhou, porque tenho contrato com eles. Mas espero um dia voltar ao Brasil e mostrar meu talento em uma grande equipe", encerrou.