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Plínio Kenzo (2º da direita para a esquerda) entre amigos: “Meus pais sempre acharam importante fazer uma faculdade boa. Nunca cobraram diretamente, mas sempre ficou implícito” | Agência Estado
Plínio Kenzo (2º da direita para a esquerda) entre amigos: “Meus pais sempre acharam importante fazer uma faculdade boa. Nunca cobraram diretamente, mas sempre ficou implícito”| Foto: Agência Estado

Crença na permanência da instrução

Enquanto a realidade exterior é frágil e vulnerável, capaz de ruir a qualquer momento por furacões, maremotos, terremotos e mudanças de temperatura, o conhecimento e a instrução são perenes e permanecem com a pessoa, aonde quer que ela vá. Esse pensamento foi responsável pela valorização e universalização do ensino no Japão. Consequentemente, esse entendimento veio ao Brasil com os imigrantes, segundo a pesquisadora Luiza Mitiko Camacho, da Universidade Federal do Espírito Santo, autora de uma tese sobre a cultura dos nipo-brasileiros.

Para se ter uma ideia, no primeiro grupo de imigrantes japoneses que chegou ao país, a taxa de pessoas analfabetas era de 2,1%; no segundo, de 0,3%. Muitos vieram na expectativa de continuar os estudos aqui e, na chegada ao universo rural, começaram a construir as primeiras escolas japonesas – mecanismo por meio do qual acreditavam que a criança aprendia as regras de convívio social. "Meu pai se formou em universidade pública e sempre dizia que o sonho do meu avô era o neto estudar na USP", conta Fábio Nukui, de 19 anos, aluno do 2.º ano de Mecatrônica da Poli. "Você cresce com isso, é como se ir mal na escola fosse uma vergonha e deixaria eles muito desapontados", diz. Ele conta que, das duas irmãs mais novas, uma também já passou na mesma universidade e a outra está terminando o ensino médio, e deve seguir o caminho dos irmãos.

São Paulo - Pelo senso comum, descendentes de japoneses são estudiosos, disciplinados, vão bem na escola, passam no vestibular com mais facilidade e, em boa parte dos casos, têm grandes afinidades com as carreiras de exatas. De acordo com uma pesquisa feita com dados da USP e Unesp, esse imaginário popular não está distante da realidade: de 1,2% da população da cidade de São Paulo, os descendentes de japoneses são menos de 4% nos inscritos no vestibular e cerca de 15% nos aprovados.

Nas carreiras mais concorridas, como Medicina e Engenharia, eles chegam a representar, em média, 15% e 20% dos estudantes matriculados, respectivamente. A explicação para esse rendimento, ainda segundo a pesquisa, está relacionada com fatores culturais e motivacionais, como a alta valorização do conhecimento e do ensino formal entre essas famílias.

"O levantamento nos dados dos vestibulares confirma a sensação que todo mundo tem, mas nunca comprova, que é a de que esses estudantes têm um desempenho diferenciado", explica a autora da pesquisa feita na Faculdade de Educação da USP, Cristina Canto. "E nosso trabalho relaciona esse desempenho com a valorização do ensino, característica dos imigrantes japoneses, e com a busca de ascensão social e econômica por meio da educação", diz.

Desse modo, ao ainda carregarem alguns valores transmitidos pela primeira geração de imigrantes japoneses, como a disciplina, o respeito à hierarquia, o esforço e a dedicação, as famílias atuais também mantêm o sentimento de que a melhor maneira de ascender economicamente é por meio da educação. "Isso faz com que esses alunos atuem com bastante empenho em prol desse projeto de vida", analisa a pesquisadora.

A grande contribuição de uma avaliação como essa, para ela, é mostrar que o mais importante para um bom desempenho escolar é a vivência em um ambiente que valoriza essa atividade. "É a importância que se dá ao ensino e o esforço desprendido para isso que gera os bons resultados. É isso que precisa ser transmitido para toda a população para que os níveis educacionais do país avancem", conclui.

Herança

Mauro Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais da cidade de São Paulo e um dos preferidos das famílias japonesas, afirma que as famílias nipo-brasileiras sentem que o melhor que podem deixar para seus filhos é a educação. "Muitas famílias fazem grandes esforços para pagar a mensalidade. Cortam outros gastos, reduzem o lazer, tudo para poderem dar uma educação boa para os filhos", afirma. Ele diz que o colégio, por colocar a meritocracia em primeiro lugar, costuma ser escolhido por essas famílias. "Não é exclusivo das famílias com ascendência oriental, mas é característico delas."

Como resultado, segundo dados do IBGE, 28% dos nipo-brasileiros completaram o curso superior, enquanto a média nacional está em aproximadamente 8%. A média de escolaridade da população brasileira total é de 4,7 anos; a das pessoas brancas é de 5,6; e a dos descendentes de orientais, de 8,1 anos.

Entre os estudantes, o que mais aparece são os sentimentos de obrigação e gratidão, que geram a necessidade de retribuir o investimento das famílias. "Meus pais se formaram na USP, sempre acharam importante fazer uma faculdade boa, estudar para isso. Eles nunca cobraram diretamente, mas sempre ficou implícito", conta Plínio Kenzo, de 18 anos, do 2.º ano de Mecatrônica da Escola Politécnica da USP (Poli). Ele estuda hoje com pelo menos outros seis alunos nipo-brasileiros que cursaram a mesma escola no ensino médio e passaram no vestibular na primeira tentativa.

William Konishi, de 20 anos, aluno do 3.º ano de En­­genharia Civil da Poli, conta que a mãe trabalhou como enfermeira em um bom colégio para que os três filhos pudessem estudar lá. "Sempre estudei sozinho e me sinto retribuindo o esforço dela."

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