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Arquitetura barroca: diferenças entre revisões

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{{História da Arquitetura sidebar|imagem=Noto San Carlo Borromeo.jpg|left|200px|legenda=Fachada da [[Igreja de San Borromeo (Noto)|Igreja de San Borromeo]], em [[Noto (Itália)|Noto]], [[Sicilia]].}}
{{História da Arquitetura sidebar|imagem=Noto San Carlo Borromeo.jpg|left|200px|legenda=Fachada da {{ilc|nl=s|Igreja de São Carlos|Igreja de São Carlos (Noto)|Igreja de São Carlos}}, em [[Noto (Itália)|Noto]], [[Sicília]]}}
A {{PU-AO45|arquitetura barroca|arquitectura barroca}} é o [[estilo arquitectónico]] praticado durante o período [[barroco]], que, precedido pelo [[Renascimento]] e [[maneirismo]], inicia-se a partir do {{séc|XVII|x}}, durante o período do [[Monarquia absoluta|absolutismo]],<ref name="Dizionario voce Barocco">N. Pevsner, J. Fleming, H. Honour, ''Dizionario di architettura'', Turim 1981, ''Barocco''.</ref> e decorre até a primeira metade do {{séc|XVIII|x}}.<ref name="InfoEscola"/> A palavra [[Língua portuguesa|portuguesa]] “barroco” define uma [[pérola]] de formato irregular (pérola imperfeita).<ref name="Dizionario voce Barocco"/>
A {{PU-AO45|arquitetura barroca|arquitectura barroca}} é o [[estilo arquitectónico]] praticado durante o período [[barroco]] que, precedido pelo [[Renascimento]] e [[maneirismo]], inicia-se a partir do {{séc|XVII}}, durante o período do [[Monarquia absoluta|absolutismo]],<ref name=dicBaroc/> e decorre até à primeira metade do {{séc|XVIII}}. A palavra [[Língua portuguesa|portuguesa]] “barroco” define uma [[pérola]] de forma irregular (pérola imperfeita).{{ref infopedia dic|barroco}}


De facto, as características fundamentais da arquitectura barroca são as formas plásticas, com predilecção pelas linhas curvas, com movimentos sinuosos, como elipses, espirais ou curvas de construção policêntrica, por vezes com motivos que se entrelaçam, tanto que a sua geometria pode ser quase indecifrável. Tudo devia suscitar admiração e o forte sentido de [[teatralidade]] levou o arquitecto a procurar uma obra de arte unificada, fundindo [[pintura]], [[escultura]] e estuque na [[espaço|composição espacial]], e sublinhando tudo através de sugestivos jogos de [[luz]] e [[sombra]].<ref name="Dizionario voce Barocco"/>
De facto, as características fundamentais da arquitectura barroca são as formas plásticas, com predilecção pelas linhas curvas, com movimentos sinuosos, como elipses, espirais ou curvas de construção policêntrica, por vezes com motivos que se entrelaçam, tanto que a sua geometria pode ser quase indecifrável. Tudo devia suscitar admiração e o forte sentido de [[teatralidade]] levou o arquitecto a procurar uma obra de arte unificada, fundindo [[pintura]], [[escultura]] e estuque na composição espacial, e sublinhando tudo através de sugestivos jogos de luz e sombra. Contudo, esta definição não é aplicável a todos os países europeus; na [[França]], na [[Inglaterra]], em diversas regiões do norte da [[Europa]] e, posteriormente, até na [[Península Itálica|Itália]], o barroco foi revivido através de formas derivadas do [[Renascimento]] e da [[arquitetura antiga]], no que se define como ''classicismo barroco''.<ref name=dicBaroc/>


Muitos são os pontos que se relacionam como os princípios do desenho espacial das composições arquitectónicas: esta é uma arquitetura de “espaços abertos e vistas amplas”,{{sfn|Vlasov|2012|pp=210-214}} que dá a ilusão de espaço infinito, perspectivas infinitas. Se a arquitetura do classicismo é caracterizada pelo equilíbrio, proporcionalidade harmoniosa, composição fechada, tectónica: clareza das divisões e simetria das fachadas, então a arquitetura do estilo barroco, pelo contrário, é caracterizada pela abertura e dinamismo, interação ativa de volumes com o espaço envolvente ("introdução" do volume no espaço), a interação dinâmica do interior com o exterior da composição arquitetónica, o domínio da verticalidade em vez da horizontalidade clássica. No barroco, o ponto focal transforma-se numa força de desenho que traz ordem ao caos. O contraventamento do entablamento, o [[frontão]] quebrado, a disposição irregular das [[pilastra]]s e colunas criam relevo das [[fachada]]s com efeitos de [[claro-escuro]], especialmente em “perspectivas angulares", que servem os mesmos propósitos - teoria da perspectiva. Tudo isto confere à arquitectura um carácter [[pitoresco]].{{sfn|Vlasov|2004|pp=56-65}}
Contudo, esta definição não é aplicável a todos os países europeus; na [[França]] , na [[Inglaterra]] , em diversas regiões do norte da [[Europa]] e, posteriormente, até na [[Itália]] , o Barroco foi revivido através de formas derivadas do [[Renascimento]] e da [[arquitetura antiga]], no que se define como [[classicismo barroco]].<ref name="Dizionario voce Barocco"/>


Considerando que o Renascimento contou com a riqueza e o poder dos tribunais italianos e era uma mistura de forças seculares e religiosas, o estímulo mais importante para o surgimento e desenvolvimento do estilo barroco são as grandes descobertas geográficas e científicas dos séculos XVI e XVII, que ampliaram significativamente a compreensão das pessoas sobre o tempo e o espaço.
Na arquitetura barroca, a expressão típica são as igrejas, construídas em grande quantidade durante o movimento de [[Contrarreforma]]. Rejeitando a simetria do renascimento, destacam o dinamismo e a imponência, reforçados pela emotividade conseguida através de meandros, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos visuais, tanto nas fachadas quanto no desenho dos interiores.&nbsp;


O vocabulário formal da arquitetura antiga, redescoberto e reinterpretado pelo [[Renascimento]], é utilizado de uma nova maneira, mais retórica, mais teatral, mais ostensiva, para servir o projeto absolutista e triunfal da Igreja Católica e dos estados. Visando a piedade popular, o barroco nasce num ambiente em que a ideologia e a estética do [[catolicismo]], o movimento ideológico da [[Contrarreforma]] e as decisões do [[Concílio de Trento]] da [[Igreja Católica]]{{
Quanto à arquitetura sacra, compõe-se de variados elementos que pretendem dar o efeito de intensa emoção e grandeza. O teto elevado e elaborado com elementos de escultura dá uma dimensão do infinito; as janelas permitem a penetração da luz de modo a destacar as principais esculturas; as colunas transmitem uma impressão de poder e de movimento.
nre|O [[Concílio de Trento]] {{nwrap||1545|1563}} é geralmente considerado como o início da Contrarreforma.

}} — em particular, no contexto das novas ordens religiosas, como os [[teatinos]] e os [[Companhia de Jesus|jesuítas]] — a pessoa que entra e permanece numa igreja ou palácio deve ficar impressionada com a beleza e o esplendor que simbolizam a [[Cristo em majestade|glória de Deus]] ou do [[Absolutismo|poder absoluto]].{{sfn|Hubala|1990|pp=207-211}}
Considerando que o Renascimento contou com a riqueza e o poder dos tribunais italianos e era uma mistura de forças seculares e religiosas, o Barroco foi, pelo menos inicialmente, diretamente ligada à Contrarreforma, um movimento dentro da Igreja Católica a reformar-se, em resposta à [[Reforma Protestante]].<ref>O [[Concílio de Trento]] (1545–1563) é geralmente considerado como o início da Contra-Reforma.</ref> A arquitetura barroca e seus enfeites eram por outro lado mais acessíveis para as emoções e, por outro lado, uma declaração visível da riqueza e do poder da Igreja. O novo estilo manifestou-se, em particular, no contexto das novas ordens religiosas, como os [[Teatinos]] e os [[Companhia de Jesus|jesuítas]] que visam melhorar a piedade popular.


==Contexto histórico==
==Contexto histórico==
O século XVII foi um período caracterizado por uma variedade de tendências nunca antes experimentadas. A concepção do [[cosmo]]s tinha sido completamente revolucionada no século anterior, enquanto que as divisões desenvolvidas no interior da [[Igreja Católica|Igreja]] haviam-se tornado símbolo de uma desintegração de um mundo unificado e absoluto. No campo da arte, o sentimento de dúvida e a consequente alienação do indivíduo haviam encontrado expressão no [[maneirismo]].
O século XVII foi um período caracterizado por uma variedade de tendências nunca antes experimentadas. A concepção do [[cosmo]]s tinha sido completamente revolucionada no século anterior, enquanto que as divisões desenvolvidas no interior da [[Igreja Católica|Igreja]] haviam-se tornado símbolo de uma desintegração de um mundo unificado e absoluto. No campo da arte, o sentimento de dúvida e a consequente alienação do indivíduo haviam encontrado expressão no [[maneirismo]].


Entre finais do século XVI e princípios do século XVII poder-se-ia observar alterações na atitude humana. [[René Descartes|Descartes]], tendo aprendido que de tudo se podia duvidar, chegara à conclusão de que a dúvida era a única certeza; separando o ato de duvidar de qualquer elemento desconhecido, ele acabou por escrutinar os fundamentos do [[Ceticismo filosófico|cepticismo]]. O homem voltaria então a perseguir a certeza, escolhendo entre as alternativas que lhe eram oferecidas na época; o novo mundo tornou-se "pluralístico", oferecendo ao homem uma variedade de escolhas e alternativas, tanto de carácter religioso como filosófico, económico e político.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', Martellago (Veneza) 1998, p. 5.</ref>
Entre finais do {{séc|XVI}} e princípios do {{séc|XVII}} poder-se-ia observar alterações na atitude humana. [[René Descartes|Descartes]], tendo aprendido que de tudo se podia duvidar, chegara à conclusão de que a dúvida era a única certeza; separando o ato de duvidar de qualquer elemento desconhecido, ele acabou por escrutinar os fundamentos do [[Ceticismo filosófico|cepticismo]]. O homem voltaria então a perseguir a certeza, escolhendo entre as alternativas que lhe eram oferecidas na época; o novo mundo tornou-se "pluralístico", oferecendo ao homem uma variedade de escolhas e alternativas, tanto de carácter religioso como filosófico, económico e político.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=5}}


Enquanto que o universo [[Renascimento|renascentista]] era reservado e estático, a atitude fundamental da época barroca tornou-se, por conseguinte, o de pertencer a um sistema absoluto e integrado, mas ao mesmo tempo abeto e dinâmico. Tal postura foi favorecida pelas grandes viagens de exploração, pela descoberta de um mundo mais amplo, pela [[Colónia|colonização]] e desenvolvimento da pesquisa científica. Isto determinou um aumento da especialização da atividade humana, com a consequente rotura do binómio arte e ciência, combinação esta que havia criado as bases do homem universal do Renascimento.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 6.</ref>
Enquanto que o universo [[Renascimento|renascentista]] era reservado e estático, a atitude fundamental da época barroca tornou-se, por conseguinte, o de pertencer a um sistema absoluto e integrado, mas ao mesmo tempo abeto e dinâmico. Tal postura foi favorecida pelas grandes viagens de exploração, pela descoberta de um mundo mais amplo, pela [[Colónia|colonização]] e desenvolvimento da pesquisa científica. Isto determinou um aumento da especialização da atividade humana, com a consequente rotura do binómio arte e ciência, combinação esta que havia criado as bases do homem universal do Renascimento.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=6}}


A destruição do velho mundo culminou com a [[Guerra dos Trinta Anos]], que no início do século XVII paralisou parte da [[Europa Central]]. Neste período, a [[reforma protestante]] difunde-se por várias partes da [[Europa]], dando início ao desenvolvimento de diversas igrejas reformadas. A consequente [[Contrarreforma|Contra-reforma]], iniciada pela igreja católica com o [[Concílio de Trento]], teve repercussões significativas nas artes: fomentou importância didáctica das imagens e foram definidas uma série de normas no campo das artes, acentuando a distinção entre o clero e os fiéis.<ref name="Fusco, p. 339">R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', Bari 1999, p. 339.</ref> Esta postura estendeu-se a todas as religiões do mundo católico, graças ao trabalho dos [[Companhia de Jesus|jesuítas]] e, apesar do seu carácter rígido e defensivo, favoreceu o desenvolvimento da arte barroca. De facto, no século XVII, a Igreja Católica procurava um compromisso com o poder político, parando de lutar contra as intromissões da realidade histórica<ref>A. Hauser, ''Storia sociale dell'arte'', Torino 1956, volume II, p. 283.</ref> e tentando conciliar as questões da fé com as inerentes à vida mundana; por esta razão o barroco tornou-se num estilo capaz de expressar tanto os dogmas da fé como as frivolidades da mundanidade.<ref name="Fusco, p. 339"/>
A destruição do velho mundo culminou com a [[Guerra dos Trinta Anos]], que no início do {{séc|XVII}} paralisou parte da [[Europa Central]]. Neste período, a [[reforma protestante]] difunde-se por várias partes da [[Europa]], dando início ao desenvolvimento de diversas igrejas reformadas. A consequente [[Contrarreforma]], iniciada pela igreja católica com o [[Concílio de Trento]], teve repercussões significativas nas artes: fomentou importância didáctica das imagens e foram definidas uma série de normas no campo das artes, acentuando a distinção entre o clero e os fiéis.<ref name=fu339/> Esta postura estendeu-se a todas as religiões do mundo católico, graças ao trabalho dos [[Companhia de Jesus|jesuítas]] e, apesar do seu carácter rígido e defensivo, favoreceu o desenvolvimento da arte barroca. De facto, no {{séc|XVII}}, a Igreja Católica procurava um compromisso com o poder político, parando de lutar contra as intromissões da realidade histórica<ref>A. Hauser, ''Storia sociale dell'arte'', Torino 1956, volume II, p. 283.</ref> e tentando conciliar as questões da fé com as inerentes à vida mundana; por esta razão o barroco tornou-se num estilo capaz de expressar tanto os dogmas da fé como as frivolidades da mundanidade.<ref name=fu339/>


Esta dupla expressão da arte barroca pode ser encontrada no ordenamento urbano idealizado por [[Domenico Fontana]] em [[Roma]], durante o pontificado de [[Sisto V]]: a melhoria das coligações entre as igrejas mais importantes da cidade conduziu à formação d amplas praças ornamentadas com obeliscos e fontes, tornando-se portanto, símbolo de uma vitalidade e de um dinamismo não apenas religioso.<ref name="Fusco, p. 340">R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 340.</ref>
Esta dupla expressão da arte barroca pode ser encontrada no ordenamento urbano idealizado por [[Domenico Fontana]] em [[Roma]], durante o pontificado de {{lknb|Sisto|V}}: a melhoria das coligações entre as igrejas mais importantes da cidade conduziu à formação d amplas praças ornamentadas com obeliscos e fontes, tornando-se portanto, símbolo de uma vitalidade e de um dinamismo não apenas religioso.<ref name=fu340/>


==Periodização==
==Periodização==
A arquitetura barroca, que se prenuncia já em meados do [[século XVI]] nalgumas obras de [[Miguel Ângelo]], desenvolveu-se em [[Roma]] e atingiu maior expressão entre [[1630]] e [[1670]]; difundiu-se na restante [[península itálica|península]] e no mundo ocidental, afirmando-se no século XVII e decorrendo até à primeira metade do [[século XVIII]]; quando Roma voltar-se-ia, de novo, para o classicismo, a exemplo de [[Paris]].<ref name="Pevsner p. 154"/>
A arquitetura barroca, que se prenuncia já em meados do {{séc|XVI}} nalgumas obras de [[Miguel Ângelo]], desenvolveu-se em Roma e atingiu maior expressão entre 1630 e 1670; difundiu-se na restante [[península itálica|península]] e no mundo ocidental, afirmando-se no {{séc|XVII}} e decorrendo até à primeira metade do {{séc|XVIII}}; quando Roma voltar-se-ia, de novo, para o classicismo, a exemplo de [[Paris]].<ref name=pev154/>


Em [[Itália]], o primeiro período barroco corresponde à atividade de artista e arquitetos como [[Carlo Maderno]], [[Annibale Carracci]], [[Caravaggio]], [[Peter Paul Rubens]]. Um segundo período surge a partir da terceira década do século XVII, com as obras de [[Gian Lorenzo Bernini]], [[Pietro de Cortona]] e [[Francesco Borromini]], que fizeram de Roma o maior centro de atrações artísticas de toda a Europa. Mais precisamente nos pontificados de [[Urbano VIII]] [[Família Barberini|Barberini]], de [[Inocêncio X]] [[Pamphili]] e [[Alexandre VII]] [[Família Chigi|Chigi]], o barroco torna-se num estilo internacional que da capital dos [[Estados Pontifícios]] e sede do [[papado católico]], se difunde por todo o mundo ocidental.<ref name="Fusco, p. 340"/> O termo está relacionado com a decadência da [[Santa Sé]], principalmente após a morte do [[Papa Alexandre VII]], em [[1667]];<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., pp. 337-338.</ref> a destituição de Gian Lorenzo Bernini do projeto de ampliação do [[Louvre]] coincide com o início do declínio de Roma como principal centro irradiador de influência artística, e a afirmação de Paris neste contexto.<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 341.</ref>
Em [[Península Itálica|Itália]], o primeiro período barroco corresponde à atividade de artista e arquitetos como [[Carlo Maderno]], [[Annibale Carracci]], [[Caravaggio]], [[Peter Paul Rubens]]. Um segundo período surge a partir da terceira década do {{séc|XVII}}, com as obras de [[Gian Lorenzo Bernini]], [[Pietro de Cortona]] e [[Francesco Borromini]], que fizeram de Roma o maior centro de atrações artísticas de toda a Europa. Mais precisamente nos pontificados de {{lknb|Urbano|VIII}} [[Família Barberini|Barberini]], de {{lknb|Inocêncio|X}} [[Pamphili]] e {{lknb|Alexandre|VII}} [[Família Chigi|Chigi]], o barroco torna-se num estilo internacional que da capital dos [[Estados Pontifícios]] e sede do [[papado católico]], se difunde por todo o mundo ocidental.<ref name=fu340/> O termo está relacionado com a decadência da [[Santa Sé]], principalmente após a morte do papa Alexandre&nbsp;VII, em 1667;{{harvy|f99a|Fusco|1999a|pp=337-338}} a destituição de Gian Lorenzo Bernini do projeto de ampliação do [[Museu do Louvre|Louvre]] coincide com o início do declínio de Roma como principal centro irradiador de influência artística, e a afirmação de Paris neste contexto.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=341}}


Em [[França]], a periodização do Barroco não está relacionada à obra individual de artistas, mas deve-se sobretudo à política cultural de [[Luís XIV]] que tratou de identificar este estilo com o nome do próprio soberano.<ref name="De Fusco, 338">R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 338.</ref> Recorde-se, aliás, que em finais do século XVII, a revogação do [[Édito de Nantes]] provocou a migração de numerosos [[huguenote]]s franceses nos [[Países Baixos]] e na [[Inglaterra]]: o primeiro caso, representaria o fim da autonomia da comunidade local, desenvolvida há algumas décadas com a ascensão política e cultural de [[Amesterdão]]; no segundo caso, a migração francesa coincide com o ponto de viragem da arquitetura barroca na Inglaterra.<ref name="De Fusco, 338"/>
Em [[França]], a periodização do barroco não está relacionada à obra individual de artistas, mas deve-se sobretudo à política cultural de {{lknb|Luís|XIV|de França}} que tratou de identificar este estilo com o nome do próprio soberano. Recorde-se, aliás, que em finais do {{séc|XVII}}, a revogação do [[Edito de Nantes]] provocou a migração de numerosos [[huguenote]]s franceses nos [[Países Baixos]] e na [[Inglaterra]]: o primeiro caso, representaria o fim da autonomia da comunidade local, desenvolvida há algumas décadas com a ascensão política e cultural de [[Amesterdão]]; no segundo caso, a migração francesa coincide com o ponto de viragem da arquitetura barroca na Inglaterra.<ref name=fu338/>


A influência do barroco não se restringiu apenas ao século XVII; em bem verdade, no início do século XVIII, a afirmação do [[Rococó]], que embora não seja uma simples continuação do primeiro,<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 409.</ref> pôde ser entendido como uma última fase do Barroco.<ref name="Dizionario voce Rococò">N. Pevsner, J. Fleming, H. Honour, ''Dizionario di architettura'', cit., capítulo ''Rococò''.</ref>
A influência do barroco não se restringiu apenas ao {{séc|XVII}}; em bem verdade, no início do {{séc|XVIII}}, a afirmação do [[Arquitetura rococó|rococó]], que embora não seja uma simples continuação do primeiro,{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=409}} pode ser entendido como uma última fase do barroco.<ref name=dicRoc/>


==Características da arquitetura barroca==
==Características da arquitetura barroca==
Contrariamente à tese de que o barroco teve origem no [[maneirismo]],{{
Contrariamente à tese de que o barroco teve origem no [[maneirismo]],<ref>Esta tese, que afirma, em rigor, uma continuidade entre o Classicismo (o Renascimento), Maneirismo e Barroco, serve apenas como terminações convencionais e sintéticas (e, portanto, imprecisas) voltadas para a realidade e complexidade dos vários projetos arquitectónicos, que foi suportada por ilustres estudiosos. Veja-se por exemplo: Arnaldo Bruschi, ''Borromini, manierismo spaziale oltre il barocco'', 1978; Manfredo Tafuri, ''L'architettura del manierismo nel cinquecento europeo'', 1966.</ref> diversos estudos sustentam que foi o classicismo tardio que deu início ao novo estilo.<ref name="De Fusco p. 305">R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 305.</ref> De facto, a arquitetura maneirista não foi suficientemente revolucionária ao ponto de alterar radicalmente, no sentido espacial e não apenas a nível ornamental, o estilo da antiguidade para fins populares e retóricos num ambiente [[Contrarreforma|contra-reformístico]];<ref name="De Fusco p. 305"/> por outras palavras, o maneirismo não correspondia às exigências artísticas da Contrarreforma, por carecer de características relativas à clareza, realismo e intensidade emotiva requeridas pela Igreja do final do século XVI.<ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia, 1600-1750'', Torino 2012, p. 7.</ref>
nre|Esta tese, que afirma, em rigor, uma continuidade entre o classicismo (renascimento), maneirismo e barroco servem apenas como classificações convencionais e sintéticas (e, portanto, imprecisas) voltadas para a realidade e complexidade dos vários projetos arquitectónicos, que foi suportada por ilustres estudiosos. Veja-se, por exemplo, {{harvnb|Bruschi|1978}} e {{harvnb|Tafuri|1966}}.
}} diversos estudos sustentam que foi o classicismo tardio que deu início ao novo estilo. De facto, a arquitetura maneirista não foi suficientemente revolucionária ao ponto de alterar radicalmente, no sentido espacial e não apenas a nível ornamental, o estilo da antiguidade para fins populares e retóricos num ambiente [[Contrarreforma|contrarreformista]];{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=305}} por outras palavras, o maneirismo não correspondia às exigências artísticas da [[contrarreforma]], por carecer de características relativas à clareza, realismo e intensidade emotiva requeridas pela Igreja do final do {{séc|XVI}}.{{sfn|Wittkower|2012|p=7}}


Já no século XVI, [[Miguel Ângelo]] havia prenunciado o barroco nas formas colossais e maciças da [[cúpula]] da [[Basílica de São Pedro]], em [[Roma]];<ref name="Pevsner p. 154">N. Pevsner, ''Storia dell'architettura europea'', Bari 1998, p. 154.</ref> as alternâncias de proporções e forças expressadas pelo mesmo arquiteto no [[vestíbulo]] da [[Biblioteca Medicea Laurenziana]] adicionadas à enorme [[cornija]] do [[Palácio Farnésio (Roma)|Palácio Farnésio]] tinham despertado, à época, reações, justamente pela veemente alteração das proporções clássicas. Não obstante, noutras obras, Miguel Ângelo tinha cedido à influência da corrente maneirista. Entretanto, apenas quando o maneirismo chegava ao fim é que se redescobriria Miguel Ângelo como o pai do barroco.<ref name="Pevsner p. 154"/>
Já no século XVI, [[Miguel Ângelo]] havia prenunciado o barroco nas formas colossais e maciças da [[cúpula]] da [[Basílica de São Pedro]], em Roma; as alternâncias de proporções e forças expressadas pelo mesmo arquiteto no [[vestíbulo]] da [[Biblioteca Medicea Laurenziana]] adicionadas à enorme [[cornija]] do [[Palácio Farnésio (Roma)|Palácio Farnésio]] tinham despertado, à época, reações, justamente pela veemente alteração das proporções clássicas. Não obstante, noutras obras, Miguel Ângelo tinha cedido à influência da corrente maneirista. Entretanto, apenas quando o maneirismo chegava ao fim é que se redescobriria Miguel Ângelo como o pai do barroco.<ref name=pev154/>


As principais características do barroco definem-se como uma reação à simetria e às formas rígidas do Renascimento: utilizam o dinamismo plástico, a suntuosidade e a imponência, reforçados por intensa emotividade conseguida através de sinuosidades, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos perspéticos e ilusórios, tanto nas fachadas quanto no desenho das plantas e dos interiores das edificações. A intenção da criação de ilusão do movimento; combinação e abundância de linhas opostas que reforçam o efeito cénico;<ref name="Dizionario voce Barocco"/> o uso de jogos de [[claro-escuro]] pela construção de massas salientes e reentrantes (sinuosas ou lisas). Os elementos construtivos usados como elementos puramente decorativos: uso de colunas [[Coluna torsa|torsa]]s, helicoidais, duplas ou triplas e escalonadas; os frontões são compostos ou interrompidos, que reforçam o movimento ascensional das fachadas; o uso de decorações naturalistas convertem-se em elementos característicos do estilo.<ref name="Dizionario voce Barocco"/>
As principais características do barroco definem-se como uma reação à simetria e às formas rígidas do Renascimento: utilizam o dinamismo plástico, a suntuosidade e a imponência, reforçados por intensa emotividade conseguida através de sinuosidades, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos perspéticos e ilusórios, tanto nas fachadas quanto no desenho das plantas e dos interiores das edificações. A intenção da criação de ilusão do movimento; combinação e abundância de linhas opostas que reforçam o efeito cénico; o uso de jogos de [[claro-escuro]] pela construção de massas salientes e reentrantes (sinuosas ou lisas). Os elementos construtivos usados como elementos puramente decorativos: uso de [[Coluna torsa|colunas torsa]], helicoidais, duplas ou triplas e escalonadas; os frontões são compostos ou interrompidos, que reforçam o movimento ascensional das fachadas; o uso de decorações naturalistas convertem-se em elementos característicos do estilo.<ref name=dicBaroc/>


O Barroco, no entanto, não se limitou a reavaliar novas tendências dos antigos padrões, mas criou uma nova concepção espacial, com a interpenetração das partes resultantes de uma visão espacial unitária, da qual são exemplo as igrejas ''[[San Carlo alle Quattro Fontane]]'' e ''Sant'Ivo alla Sapienza'' de Borromini, ou ainda, a [[Basílica de Vierzehnheiligen]] de [[Johann Balthasar Neumann]].<ref>B. Zevi, ''Saper vedere l'architettura'', Turim, 2012, pp. 88-89.</ref> Neste contexto, o historiador [[Bruno Zevi]] definiu o barroco como a ''libertação espacial, libertação mental das regras dos tratadistas, das convenções, da geometria elementar e da estática. É a libertação da simetria e da antitese entre o espaço e interior e o espaço exterior''.<ref>B. Zevi, ''Saper vedere l'architettura'', cit., p. 86.</ref>
O barroco, no entanto, não se limitou a reavaliar novas tendências dos antigos padrões, mas criou uma nova concepção espacial, com a interpenetração das partes resultantes de uma visão espacial unitária, da qual são exemplo as igrejas [[Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes|de São Carlos nas Quatro Fontes]] e [[Igreja de Santo Ivo em La Sapienza|de Santo Ivo em La Sapienza]] de Borromini, ambas em Roma, ou a [[Basílica de Vierzehnheiligen]] de [[Johann Balthasar Neumann]], em [[Bad Staffelstein]], [[Baviera]].<ref>B. Zevi, ''Saper vedere l'architettura'', Turim, 2012, pp. 88-89.</ref> Neste contexto, o historiador [[Bruno Zevi]] definiu o barroco como a ''libertação espacial, libertação mental das regras dos tratadistas, das convenções, da geometria elementar e da estática. É a libertação da simetria e da antitese entre o espaço e interior e o espaço exterior''.<ref>B. Zevi, ''Saper vedere l'architettura'', cit., p. 86.</ref>


O século XVII propusera, contudo, uma multiplicidade de sistemas religiosos, filosóficos e políticos; não é possível, portanto, determinar um conceito unitário da arquitetura barroca. Porém, todos os sistemas barrocos tinham em comum o facto de operarem através da "persuasão", da "participação", do "transporte", que se traduziram em termos de centralização, integração e extensão espacial.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 204.</ref>
O século XVII propusera, contudo, uma multiplicidade de sistemas religiosos, filosóficos e políticos; não é possível, portanto, determinar um conceito unitário da arquitetura barroca. Porém, todos os sistemas barrocos tinham em comum o facto de operarem através da "persuasão", da "participação", do "transporte", que se traduziram em termos de centralização, integração e extensão espacial.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=204}}


==Temas da arquitectura barroca==
==Temas da arquitectura barroca==
===Urbanismo===
===Urbanismo===
Em [[1585]], o [[papa Sisto V]] deu início aos trabalhos de transformação urbanística de [[Roma]], contratando [[Domenico Fontana]] para vincular os principais edifícios religiosos da cidade por meio de grandes eixos estradais rectilíneos. O projecto, que tinha como propósito enfatizar o papel de Roma como "cidade santa", lançou premissas para uma série de transformações semelhantes em vários centros por toda a Europa.<ref>W. Muller, G. Vogel, ''Atlante d'architettura. Storia dell'architettura dalle origini all'età contemporanea. Tavole e testi'', Rozzano (Milano) 1997, p. 403.</ref>
Em 1585, o [[papa Sisto V]] deu início aos trabalhos de transformação urbanística de [[Roma]], contratando [[Domenico Fontana]] para vincular os principais edifícios religiosos da cidade por meio de grandes eixos estradais rectilíneos. O projecto, que tinha como propósito enfatizar o papel de Roma como "cidade santa", lançou premissas para uma série de transformações semelhantes em vários centros por toda a Europa.{{sfn|Müller|Vogel|1997|p=403}}


Assim, à planimetria centralizada e fechada das [[Cidade ideal|cidades ideais]] [[Renascimento|renascentistas]],<ref>W. Muller, G. Vogel, ''Atlante d'architettura'', cit., p. 399.</ref> contrapôs-se a concepção barroca da "cidade capital", mais dinâmica e aberta face os seus próprios confins, mas ao mesmo tempo um ponto de referência para todo o território. Em Roma, os pontos focais do panorama urbano foram demarcados com a utilização dos antigos [[obelisco]]s [[Antigo Egito|egípcios]] e altas [[cúpula]]s; por outro lado, em [[Paris]], os nós do sistema rodoviário foram definidos por praças simétricas, centradas em torno da estátua do soberano.
Assim, à [[planimetria]] centralizada e fechada das [[Cidade ideal|cidades ideais]] [[Renascimento|renascentistas]],{{sfn|Müller|Vogel|1997|p=399}} contrapôs-se a concepção barroca da "cidade capital", mais dinâmica e aberta face os seus próprios confins, mas ao mesmo tempo um ponto de referência para todo o território. Em Roma, os pontos focais do panorama urbano foram demarcados com a utilização dos antigos [[obelisco]]s [[Antigo Egito|egípcios]] e altas [[cúpula]]s; por outro lado, em [[Paris]], os nós do sistema rodoviário foram definidos por praças simétricas, centradas em torno da estátua do soberano.


Do ponto de vista geral, a praça barroca abandonou a sua tradicional função cívica e pública, para se tornar um meio de exaltação da ideologia política ou religiosa, como no caso do chamado "palace-royale" francês (como por exemplo, a ''[[Place Dauphine]]'' e a ''[[Place des Vosges]]'') e da [[Praça de São Pedro]] em Roma.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 12.</ref>
Do ponto de vista geral, a praça barroca abandonou a sua tradicional função cívica e pública, para se tornar um meio de exaltação da ideologia política ou religiosa, como no caso do chamado "palace-royale" francês (como por exemplo, a ''[[Place Dauphine]]'' e a ''[[Place des Vosges]]'') e da [[Praça de São Pedro]] em Roma.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=12}}


===Igreja===
===Igreja===
[[Ficheiro:Santa Susanna (Rome) - Front.jpg|thumb|[[Santa Susanna alle Terme di Diocleziano|Santa Susanna]], Roma]]
[[Imagem:Santa Susanna (Rome) - Front.jpg|thumb|upright|[[Igreja de Santa Susana nas Termas de Diocleciano|Igreja de Santa Susana]], Roma]]
Como ponto de partida da arquitectura barroca pode considerar-se a [[Igreja de Jesus]] de [[Roma]], construída a partir de [[1568]] sob o projecto de [[Jacopo Vignola]].<ref name="Schulz, p. 13">C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 13.</ref> O edifício, que representa uma síntese entre a [[arquitectura renascentista]], [[maneirismo|maneirista]] e barroca, satisfazia plenamente as novas exigências [[Contrarreforma|contra-reformistas]]: a disposição longitudinal da planta permitia acolher o maior número de fiéis, enquanto a planta em [[cruz latina]] com numerosos [[absidíolo]]s representava um retorno à tradição do [[Concílio de Trento]].


Como ponto de partida da arquitectura barroca pode considerar-se a [[Igreja de Jesus]] de Roma, construída a partir de 1568 sob o projecto de [[Jacopo Vignola]].<ref name=norb13/> O edifício, que representa uma síntese entre a [[arquitectura renascentista]], [[maneirismo|maneirista]] e barroca, satisfazia plenamente as novas exigências [[Contrarreforma|contrareformistas]]: a disposição longitudinal da planta permitia acolher o maior número de fiéis, enquanto a planta em [[cruz latina]] com numerosos [[absidíolo]]s representava um retorno à tradição do [[Concílio de Trento]].
Por outro lado, a presença de uma [[cúpula]] sublinhava a centralidade do espaço face o fundo da [[Nave (arquitetura)|nave]], e presagiava a busca por uma integração entre o planta longitudinal e o centralizado.<ref>D. Gioseffi, ''La cupola vaticana'', Trieste 1960, pp. 95-96.</ref> Além disso, a [[fachada]], construída de acordo com o projeto de [[Giacomo della Porta]], antecipava os elementos mais marcadamente barrocos, comparáveis com os alçados de ''[[Santa Susanna alle Terme di Diocleziano|Santa Susanna]]'' e ''[[Sant'Andrea della Valle]]''.<ref name="Fusco, p. 351">R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 351.</ref>


Por outro lado, a presença de uma cúpula sublinhava a centralidade do espaço face o fundo da [[Nave (arquitetura)|nave]], e presagiava a busca por uma integração entre o planta longitudinal e o centralizado.<ref>D. Gioseffi, ''La cupola vaticana'', Trieste 1960, pp. 95-96.</ref> Além disso, a [[fachada]], construída de acordo com o projeto de [[Giacomo della Porta]], antecipava os elementos mais marcadamente barrocos, comparáveis com os alçados das igrejas [[Igreja de Santa Susana nas Termas de Diocleciano|de Santa Susana]] e [[Basílica de Santo André do Vale|de Santo André do Vale]].<ref name=fu351/>
O desenvolvimento da arquitetura da igreja barroca assenta nos mesmos princípios de integração entre plantas longitudinais e centralizados, bem como na vontade de integrar a igreja no espaço urbano envolvente. Se os arquitectos maneiristas alteram o traçado rigoroso das fachadas renascentistas acrescentando temas e decorações caracterizadas por um [[intelectualismo]] requintado e sombrio , sem modificar a lógica [[planimetria|planimétrica]] e estrutural das fachadas dos edifícios, os arquitectos barrocos modificam essa arquitectura tanto nas plantas como nas partituras. fachadas, segundo um novo conceito espacial. As fachadas das igrejas não constituem mais a terminação lógica do corte interno, mas tornam-se um organismo plástico que marca a transição do espaço interno para a cena urbana. Assim, o espaço interno, muitas vezes definido por [[elipse]]s, é modelado continuamente através do movimento dos elementos espaciais, diferenciando-se totalmente do conceito renascentista, que previa uma sucessão uniforme de elementos dispostos em simetria entre si.<ref name="Schulz, p. 13"/>


O desenvolvimento da arquitetura da igreja barroca assenta nos mesmos princípios de integração entre plantas longitudinais e centralizados, bem como na vontade de integrar a igreja no espaço urbano envolvente. Se os arquitectos maneiristas alteram o traçado rigoroso das fachadas renascentistas acrescentando temas e decorações caracterizadas por um [[intelectualismo]] requintado e sombrio, sem modificar a lógica [[planimetria|planimétrica]] e estrutural das fachadas dos edifícios, os arquitectos barrocos modificam essa arquitectura tanto nas plantas como nas partituras. fachadas, segundo um novo conceito espacial. As fachadas das igrejas não constituem mais a terminação lógica do corte interno, mas tornam-se um organismo plástico que marca a transição do espaço interno para a cena urbana. Assim, o espaço interno, muitas vezes definido por [[elipse]]s, é modelado continuamente através do movimento dos elementos espaciais, diferenciando-se totalmente do conceito renascentista, que previa uma sucessão uniforme de elementos dispostos em simetria entre si.<ref name=norb13/>
No que diz respeito aos desenhos planimétricos, além dos sistemas derivados da planta da basílica tradicional, a época barroca prevê dois tipos fundamentais de plantas centralizadas: as igrejas longitudinais centralizadas e as igrejas de planta central alongada.<ref name="Schulz, p. 13"/>

No que diz respeito aos desenhos planimétricos, além dos sistemas derivados da planta da basílica tradicional, a época barroca prevê dois tipos fundamentais de plantas centralizadas: as igrejas longitudinais centralizadas e as igrejas de planta central alongada.<ref name=norb13/>


===Palácio===
===Palácio===
[[File:Palazzocarignano.JPG|thumb|left|[[Palácio Carignano]], em [[Torino]]]]
[[Imagem:Palazzocarignano.JPG|thumb|left|[[Palácio Carignano]], em [[Turim]]]]
Na [[arquitetura civil]] é necessário distinguir dois tipos de residência nobre: ​​o palácio da cidade e a ''villa de campo''.<ref name="Schulz, p. 13"/>
Na [[arquitetura civil]] é necessário distinguir dois tipos de residência nobre: o palácio da cidade e a ''villa de campo''.<ref name=norb13/>


O palácio italiano, embora com algumas variações regionais, manteve-se fiel à tipologia residencial do [[Renascimento]], com um edifício fechado em torno de um pátio interno. Geralmente as fachadas principais eram dotadas de corpos vanguardistas e decoradas com a utilização de [[coluna]]s gigantes.<ref name="Atlante p. 423">W. Muller, G. Vogel, ''Atlante d'architettura'', cit., p. 423.</ref> Notamos também o prolongamento do eixo de simetria no interior do edifício, onde se abrem o [[vestíbulo]] e o [[pátio]] central; por exemplo, o eixo longitudinal introduzido no [[Palazzo Barberini]], em [[Roma]], contribui para a definição do plano e sublinha a sua relação com o ambiente externo. Além disso, este edifício constitui um ponto de viragem na tipologia das residências de estilo italiano: a planta é em forma de H, com um átrio profundo que diminui constantemente de largura até conduzir a uma sala elíptica, centro nodal de todo o edifício.<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 380.</ref>
O palácio italiano, embora com algumas variações regionais, manteve-se fiel à tipologia residencial do [[Renascimento]], com um edifício fechado em torno de um pátio interno. Geralmente as fachadas principais eram dotadas de corpos vanguardistas e decoradas com a utilização de [[coluna]]s gigantes.<ref name=at423>W. Muller, G. Vogel, ''Atlante d'architettura'', cit., p. 423.</ref> Notamos também o prolongamento do eixo de simetria no interior do edifício, onde se abrem o [[vestíbulo]] e o [[pátio]] central; por exemplo, o eixo longitudinal introduzido no [[Palácio Barberini]], em Roma, contribui para a definição do plano e sublinha a sua relação com o ambiente externo. Além disso, este edifício constitui um ponto de viragem na tipologia das residências de estilo italiano: a planta é em forma de H, com um átrio profundo que diminui constantemente de largura até conduzir a uma sala elíptica, centro nodal de todo o edifício.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=380}}


[[File:Luxembourg Palace.JPG|thumb|[[Palácio de Luxemburgo]], em [[París]]]]
[[Imagem:Luxembourg Palace.JPG|thumb|[[Palácio do Luxemburgo]], em [[Paris]]]]


Por outro lado, a residência urbana da nobreza francesa, chamada [[hôtel]], lembrava a planta das [[corte]]s medievais;<ref name="Atlante p. 423"/> de facto, o [[clima severo]] exigiu uma maior exposição solar das divisões e impôs a adopção de planos mais complexos, definidos pela construção de alas laterais pronunciadas.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 144.</ref> O corpo principal está afastado da estrada e é precedido pelo ''[[cour d'honneur]]'', espaço aberto ao exterior, mas que ao mesmo tempo separa a residência da cidade. Adequado a este esquema está o [[Palácio de Luxemburgo]], construído por [[Salomon de Brosse]] a partir de 1617; aqui, ao contrário de outros edifícios, os pavilhões de esquina não se destinavam a abrigar salas de serviço, mas continham apartamentos reais em cada andar.<ref name="Schulz, p. 164">C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 164.</ref>
Por outro lado, a residência urbana da nobreza francesa, chamada [[hôtel]], lembrava a planta das [[Corte (realeza)|cortes]] medievais;<ref name=at423/> de facto, o clima severo exigiu uma maior exposição solar das divisões e impôs a adopção de planos mais complexos, definidos pela construção de alas laterais pronunciadas.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=144}} O corpo principal está afastado da estrada e é precedido pelo ''[[cour d'honneur]]'', espaço aberto ao exterior, mas que ao mesmo tempo separa a residência da cidade. Adequado a este esquema está o [[Palácio do Luxemburgo]], construído por [[Salomon de Brosse]] a partir de 1617; aqui, ao contrário de outros edifícios, os pavilhões de esquina não se destinavam a abrigar salas de serviço, mas continham apartamentos reais em cada andar.<ref name=norb164/>


Em França, foi também notável o desenvolvimento das casas de campo ([[palácio]]s), o que levou à criação de complexos muito grandes, para os quais convergiam as principais vias rodoviárias.<ref>W. Muller, G. Vogel, ''Atlante d'architettura'', cit., p. 431.</ref> Entre estes recordamos o [[Castelo de Maisons-Laffitte]] ( 1642 - 1646 ), desenhado por [[François Mansart]] , o de [[Vaux-le-Vicomte]] ( 1656 - 1661 ), desenhado por [[Louis Le Vau]] e, claro, o [[Palácio de Versalhes]] , símbolo do [[absolutismo francês]] , cujo trabalho de reconstrução foi iniciado pelo próprio Le Vau a mando de [[Luís XIV]].<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., pp. 165-174.</ref>
Em França, foi também notável o desenvolvimento das casas de campo ([[palácio]]s), o que levou à criação de complexos muito grandes, para os quais convergiam as principais vias rodoviárias.<ref>W. Muller, G. Vogel, ''Atlante d'architettura'', cit., p. 431.</ref> Entre estes recordamos o [[Castelo de Maisons-Laffitte]] {{nwrap||1642|1646}}, desenhado por [[François Mansart]], o de [[Vaux-le-Vicomte]] {{nwrap||1656|1661}}, desenhado por [[Louis Le Vau]] e, claro, o [[Palácio de Versalhes]], símbolo do [[absolutismo francês]], cujo trabalho de reconstrução foi iniciado pelo próprio Le Vau a mando de {{lknb|Luís|XIV|de França}}.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|pp=165-174}}


==Nascimento e difusão do Barroco no século XVII==
==Nascimento e difusão do barroco no século XVII==
{{quote1|«É em Roma que aparece principalmente o barroco.(...) Não se trata aqui do estilo dos imitadores ineptos, que aparece onde falta o génio; pelo contrário, é preciso afirmar que foram precisamente os grandes mestres do Renascimento que deram origem ao Barroco. Surgiu do máximo esplendor do Renascimento. E Roma permaneceu à frente da evolução da arte. Finalmente, o Barroco Romano é a transformação mais completa e radical do Renascimento. Enquanto em outros lugares o estilo anterior ainda brilha aqui e ali e o novo muitas vezes consiste apenas em expressões pomposas para significar o que até então era dito de forma simples, em Roma todos os vestígios do sentimento anterior desaparecem.|autor= [[Heinrich Wölfflin]], ''Renascença e Barroco'' , [[Milão]]<ref>[[Heinrich Wölfflin]], Renaissance und Barock: eine Untersuchung über Wesen und Entstehung des Barockstils in Italien, 1888 ora in it. ''Rinascimento e barocco'', Aesthetica Edizioni, Milano, p.14</ref>}}
{{Cquote|«É em Roma que aparece principalmente o barroco. […] Não se trata aqui do estilo dos imitadores ineptos, que aparece onde falta o génio; pelo contrário, é preciso afirmar que foram precisamente os grandes mestres do Renascimento que deram origem ao barroco. Surgiu do máximo esplendor do Renascimento. E Roma permaneceu à frente da evolução da arte. Finalmente, o barroco romano é a transformação mais completa e radical do Renascimento. Enquanto em outros lugares o estilo anterior ainda brilha aqui e ali e o novo muitas vezes consiste apenas em expressões pomposas para significar o que até então era dito de forma simples, em Roma todos os vestígios do sentimento anterior desaparecem. —&nbsp;[[Heinrich Wölfflin]] {{nwrap||1864|1945}}{{harvy|wolf|Wölfflin|2010–2017|p=14}}}}


===Igreja===
===Igreja===
No final do século XVI, Roma tornou-se o centro de desenvolvimento da arquitetura ligada à [[Contra-Reforma]] e exerceu a sua influência em todo o mundo católico. As premissas para a afirmação do estilo barroco podem já ser encontradas nas obras de [[Giacomo Della Porta]] ( 1533 - 1602 ), que construiu a fachada da [[igreja de Gesù]] nas últimas décadas do século XVI.<ref name="Fusco, p. 351"/>
No final do século XVI, Roma tornou-se o centro de desenvolvimento da arquitetura ligada à [[Contrarreforma]] e exerceu a sua influência em todo o mundo católico. As premissas para a afirmação do estilo barroco podem já ser encontradas nas obras de [[Giacomo Della Porta]] ( 1533 - 1602 ), que construiu a fachada da [[igreja de Gesù]] nas últimas décadas do {{séc|XVI}}.<ref name=fu351/>


Poucos anos depois, em 1603, foi concluída a fachada da [[igreja de Santa Susana]] , desenhada por [[Carlo Maderno]] ( 1556-1629 ) e habitualmente considerada o "primeiro exemplar plenamente concretizado da arquitectura barroca";<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 175.</ref> embora a disposição espacial ainda seja maneirista,<ref>C. Brandi, ''Disegno dell'architettura italiana'', Roma 2013, p. 284.</ref> Maderno reforçou o eixo central através da utilização gradual de pilares, semicolunas e colunas em direção à parte central do edifício, acentuando assim a plasticidade que já havia surgido na obra de Da porta. Em comparação com Della Porta e a fachada da igreja de Gesù, a inovação substancial reside em ter alargado a utilização de colunas à primeira ordem de toda a zona central e tê-la substituído, no nível superior, por uma série de pilastras.<ref>P. Portoghesi, ''Roma barocca'', Roma 2011, p. 155.</ref> No geral, foi um salto notável em comparação com a frieza acadêmica em voga até então e evidente, por exemplo, na fachada de [[San Girolamo dei Croati]], obra criada por [[Martino Longhi, o velho]], por volta de 1588-89 .<ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., p. 11.</ref>
Poucos anos depois, em 1603, foi concluída a fachada da [[igreja de Santa Susana]], desenhada por [[Carlo Maderno]] ( 1556-1629 ) e habitualmente considerada o "primeiro exemplar plenamente concretizado da arquitectura barroca";{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=175}} embora a disposição espacial ainda seja maneirista,{{sfn|Brandi|2013|p=284}} Maderno reforçou o eixo central através da utilização gradual de pilares, semicolunas e colunas em direção à parte central do edifício, acentuando assim a plasticidade que já havia surgido na obra Della Da porta. Em comparação com Della Porta e a fachada da igreja de Gesù, a inovação substancial reside em ter alargado a utilização de colunas à primeira ordem de toda a zona central e tê-la substituído, no nível superior, por uma série de pilastras.{{sfn|Portoghesi|2011|p=155}} No geral, foi um salto notável em comparação com a frieza académica em voga até então e evidente, por exemplo, na fachada da [[Igreja de São Jerônimo dos Croatas]], obra criada por [[Martino Longhi, o Velho]], por volta de 1588-1589.{{sfn|Wittkower|2012|p=11}}


Neste contexto, foram erguidas numerosas fachadas com o mesmo propósito propagandístico,<ref name="Schulz p. 177">C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 177.</ref> algumas com resultados muito particulares, como é o caso da igreja de [[Santi Vincenzo e Anastasio]] , de [[Martino Longhi, o jovem]] (1602-1660 ) , onde numerosas colunas estão concentradas na parte central do prospecto. O próprio Maderno foi encarregado de ampliar um braço da [[Basílica de São Pedro]] , a fim de tornar a igreja adequada para acomodar um maior número de fiéis; também neste caso, a fachada ( 1608 - 1612 ), uma das obras mais comentadas da história da arquitectura,<ref>Le Corbusier, ''Vers une Architecture'', Parigi 1934, p. 137.</ref> apresenta uma maior intensidade plástica em direcção ao centro.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 66.</ref>
Neste contexto, foram erguidas numerosas fachadas com o mesmo propósito propagandístico,<ref name=norb177/> algumas com resultados muito particulares, como é o caso da [[Igreja dos Santos Vicente e Anastácio em Trevi]], de [[Martino Longhi, o Jovem]] {{nwrap||1602|1660}}, onde numerosas colunas estão concentradas na parte central do prospecto. O próprio Maderno foi encarregado de ampliar um braço da [[Basílica de São Pedro]], a fim de tornar a igreja adequada para acomodar um maior número de fiéis; também neste caso, a fachada ( 1608 - 1612 ), uma das obras mais comentadas da história da arquitectura,<ref>Le Corbusier, ''Vers une Architecture'', Parigi 1934, p. 137.</ref> apresenta uma maior intensidade plástica em direcção ao centro.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=66}}


Uma nova abordagem, baseada na transformação das formas e não na aplicação de elementos decorativos, ocorreu com o sucesso de [[Gian Lorenzo Bernini]] (1598-1680 ) , [[Francesco Borromini]] ( 1599-1667 ) e [[Pietro da Cortona]] ( 1596-1669 ).<ref name="Schulz p. 177"/>
Uma nova abordagem, baseada na transformação das formas e não na aplicação de elementos decorativos, ocorreu com o sucesso de [[Gian Lorenzo Bernini]] {{nwrap||1598|1680}}, [[Francesco Borromini]] {{nwrap||1599|1667}} e [[Pietro da Cortona]] {{nwrap||1596|1669}}.<ref name=norb177/>


[[File:Floor Map Sant'Andrea al Quirinale, Rome.svg|thumb|Planta da [[Igreja de Sant'Andrea al Quirinale|Sant'Andrea al Quirinale]]]]
[[Imagem:Floor Map Sant'Andrea al Quirinale, Rome.svg|thumb|Planta da [[igreja de Santo André no Quirinal]]]]


Bernini foi o dominador da cultura artística romana durante meio século.<ref>P. Portoghesi, ''Roma Barocca'', cit., p. 193.</ref> O [[Baldacchino]] de [[San Pietro]] ( 1624 - 1633 ), depois das limitações e incertezas que surgiram na restauração da [[igreja de Santa Bibiana]] , constitui o verdadeiro início da sua carreira. No entanto, não representa um ponto de viragem repentino, mas sim um caminho gradual de autocrítica que se estende por quase uma década de trabalho. Bernini definiu os suportes do Baldaquino com quatro [[coluna torsa|colunas torsas]] que, embora não sendo uma novidade absoluta no panorama arquitetónico romano, diferiam claramente do desenho dos pilares da basílica vaticana, fazendo do [[cibório]] o ponto focal de toda a construção. A principal novidade, porém, está no coroamento, para cuja definição também está documentada a contribuição de Borromini, com aquele leve emaranhado de [[voluta]]s que, com razão, pode ser considerado o manifesto da arquitetura barroca.<ref>P. Portoghesi, ''Roma Barocca'', cit., p. 197.</ref> Algumas décadas depois, a partir de 1658 , o mesmo arquitecto construiu a pequena [[igreja de Sant'Andrea al Quirinale]] , de planta oval fortemente dilatada e caracterizada pela presença de numerosas [[capela]]s criadas na parede perimetral; uma cúpula , pouco visível do exterior, assenta no [[entablamento]] que serpenteia acima das aberturas laterais.<ref name="Fusco, p. 353">R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 353.</ref>
Bernini foi o dominador da cultura artística romana durante meio século.{{sfn|Portoghesi|2011|p=193}} O [[baldaquino]] de [[Basílica de São Pedro|São Pedro]] {{nwrap||1624|1633}}, depois das limitações e incertezas que surgiram na restauração da [[Igreja de Santa Bibiana]], constitui o verdadeiro início da sua carreira. No entanto, não representa um ponto de viragem repentino, mas sim um caminho gradual de autocrítica que se estende por quase uma década de trabalho. Bernini definiu os suportes do Baldaquino com quatro [[coluna torsa|colunas torsas]] que, embora não sendo uma novidade absoluta no panorama arquitetónico romano, diferiam claramente do desenho dos pilares da basílica vaticana, fazendo do [[Cibório (arquitetura)|cibório]] o ponto focal de toda a construção. A principal novidade, porém, está no coroamento, para cuja definição também está documentada a contribuição de Borromini, com aquele leve emaranhado de [[voluta]]s que, com razão, pode ser considerado o manifesto da arquitetura barroca.{{sfn|Portoghesi|2011|p=197}} Algumas décadas depois, a partir de 1658, o mesmo arquitecto construiu a pequena [[igreja de Santo André no Quirinal]], de planta oval fortemente dilatada e caracterizada pela presença de numerosas [[capela]]s criadas na parede perimetral; uma cúpula, pouco visível do exterior, assenta no [[entablamento]] que serpenteia acima das aberturas laterais.<ref name=fu353/>


O tema oval, adotado por Bernini também na desaparecida [[capela dos Três Reis]] ( 1634 ) e na [[Praça de São Pedro]] (concluída em 1667 ), também deveria ter sido retomado por [[Carlo Rainaldi]] ( 1611-1691 ) na [[igreja de Santa Maria in Portico in Campitelli]] , mas, na altura da construção, a nave elíptica foi transformada num espaço biaxial, livre de curvas, com uma série de capelas que se estreitam até à zona da [[abside]]. Em particular, um santuário coberto por uma cúpula circular foi unido ao corpo frontal da igreja, segundo um esquema utilizado no norte da Itália que, no entanto, não foi seguido em Roma.<ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., pp. 235-236.</ref> A forma recortada da nave, realçada pela presença de colunas e pilares sobre os quais se assenta o entablamento, repete-se também na fachada principal, onde ainda emergem colunas apoiadas em pilares numa sucessão de [[edícula]]s.<ref name="Fusco, p. 358">R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 358.</ref>
O tema oval, adotado por Bernini também na desaparecida [[capela dos Três Reis]] (1634) e na [[Praça de São Pedro]] (concluída em 1667), também deveria ter sido retomado por [[Carlo Rainaldi]] {{nwrap||1611|1691}}na [[Igreja de Santa Maria em Campitelli]], mas, na altura da construção, a nave elíptica foi transformada num espaço biaxial, livre de curvas, com uma série de capelas que se estreitam até à zona da [[abside]]. Em particular, um santuário coberto por uma cúpula circular foi unido ao corpo frontal da igreja, segundo um esquema utilizado no norte da Itália que, no entanto, não foi seguido em Roma.{{sfn|Wittkower|2012|pp=235-236}} A forma recortada da nave, realçada pela presença de colunas e pilares sobre os quais se assenta o entablamento, repete-se também na fachada principal, onde ainda emergem colunas apoiadas em pilares numa sucessão de [[edícula]]s.<ref name=fu358/>


A procura de espaços criados dentro do muro perimetral é evidente na [[igreja da Assunta]] , em [[Ariccia]] , localidade situada perto de Roma .<ref name="Fusco, p. 358"/> O projeto, também de Bernini, foi implementado no início dos anos sessenta do século; em comparação com Sant'Andrea al Quirinale, a planta aqui é circular e é ladeada externamente por dois [[propileu]]s localizados no final de um corredor que circunda a parte posterior do edifício. Se a figura da planta apresenta uma tablatura clássica, referente aos modelos de [[Bramante]] ou ao [[Panteão de Roma]], no exterior a invenção barroca manifesta-se no traçado urbano do conjunto, com o corredor circular representando um exterior e um interior no ao mesmo tempo, e com o volume da igreja que “gera visivelmente a sua faixa espacial, que não é de contenção, como em Borromini, mas de expansão medida e controlada”.<ref>C. Brandi, ''La prima architettura barocca'', Bari, Laterza, 1970, p. 155.</ref>
A procura de espaços criados dentro do muro perimetral é evidente na igreja da {{ilc|nl=s|Colegiada de Nossa Senhora da Assunção|Colegiada de Nossa Senhora da Assunção (Arícia)|Colegiada de Santa Maria da Assunção (Arícia)|Colegiada de Nossa Senhora da Assunção|Colegiada de Santa Maria da Assunção}}, em [[Arícia]], localidade situada perto de Roma.<ref name=fu358/> O projeto, também de Bernini, foi implementado no início da década de 1660; em comparação com Santo André no Quirinal, a planta aqui é circular e é ladeada externamente por dois [[propileu]]s localizados no final de um corredor que circunda a parte posterior do edifício. Se a figura da planta apresenta uma tablatura clássica, referente aos modelos de [[Bramante]] ou ao [[Panteão de Roma]], no exterior a invenção barroca manifesta-se no traçado urbano do conjunto, com o corredor circular representando um exterior e um interior no ao mesmo tempo, e com o volume da igreja que “gera visivelmente a sua faixa espacial, que não é de contenção, como em Borromini, mas de expansão medida e controlada”.{{sfn|Brandi|1970|p=155}}
[[File:Borromini Drawing 03.jpg|thumb|left|Planimetria da [[igreja de San Carlo alle Quattro Fontane]] com o convento e o claustro.]]


[[Imagem:Borromini Drawing 03.jpg|thumb|left|[[Planimetria]] da [[Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes]] com o convento e o claustro]]
Todavia, é na [[igreja de San Carlo alle Quattro Fontane de Borromini]] que a temática dos espaços criados no perímetro do edifício atinge o seu apogeu.<ref name="Fusco, p. 358"/> Esta igreja, tão pequena que caberia dentro de um pilar da basílica do Vaticano, <ref>N. Pevsner, ''Storia dell'architettura europea'', cit., p. 157.</ref> foi iniciada em 1638 num pequeno terreno onde, além do próprio local de culto, existia também o [[claustro]] e o adjacente [[convento]]. A planta de [[San Carlino]] remonta ao oval, com paredes côncavas e convexas que se alternam para formar capelas laterais. A cúpula tem base oval e está gravada com uma profunda estrutura em [[caixotão|caixotões]] onde se alternam em diferentes formas; a ligação entre a cúpula e o corpo do edifício é feita por meio de quatro [[tímpano (arquitetura)|tímpano]]s que assentam no entablamento. O movimento ondulante das paredes e a alternância rítmica de formas salientes e recuadas dão origem a um organismo plástico pulsante, cuja forma é sublinhada pela ausência de decorações suntuosas. Na fachada, iniciada apenas nos últimos anos de vida de Borromini, ainda é evidente a procura de um intenso dinamismo, com superfícies sinuosas dispostas em duas ordens: a parte inferior é caracterizada por uma sucessão de superfícies côncavas - convexas - côncavas; a superior é dividida em três partes côncavas, das quais a central abriga uma edícula convexa.<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 362.</ref>
[[File:Lazio Roma SGiovanni1 tango7174.jpg|thumb|Interior da [[Basílica de San Giovanni in Laterano|San Giovanni in Laterano]]]]
[[File:Parione - s Agnese in Agone 1020587.JPG|thumb|[[Igreja de Sant'Agnese in Agone]]]]


Todavia, é na [[Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes]] (conhecida como San Carlino) de Borromini que a temática dos espaços criados no perímetro do edifício atinge o seu apogeu.<ref name=fu358/> Esta igreja, tão pequena que caberia dentro de um pilar da [[Basílica de São Pedro|basílica do Vaticano]],{{sfn|Pevsner|1998|p=157}} foi iniciada em 1638 num pequeno terreno onde, além do próprio local de culto, existia também o [[claustro]] e o adjacente [[convento]]. A planta de San Carlino remonta ao oval, com paredes côncavas e convexas que se alternam para formar capelas laterais. A cúpula tem base oval e está gravada com uma profunda estrutura em [[caixotão|caixotões]] onde se alternam em diferentes formas; a ligação entre a cúpula e o corpo do edifício é feita por meio de quatro [[tímpano (arquitetura)|tímpano]]s que assentam no entablamento. O movimento ondulante das paredes e a alternância rítmica de formas salientes e recuadas dão origem a um organismo plástico pulsante, cuja forma é sublinhada pela ausência de decorações suntuosas. Na fachada, iniciada apenas nos últimos anos de vida de Borromini, ainda é evidente a procura de um intenso dinamismo, com superfícies sinuosas dispostas em duas ordens: a parte inferior é caracterizada por uma sucessão de superfícies côncavas - convexas - côncavas; a superior é dividida em três partes côncavas, das quais a central abriga uma edícula convexa.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=362}}
Borromini esteve envolvido em vários canteiros de obras em Roma: criou o [[Oratorio dei Filippini]] (cuja fachada, rica em concavidades e convexidades, é uma feliz fusão entre um palácio e uma igreja<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 386.</ref> ), a[[ igreja de Santa Maria dei Sette Dolori]] ( incompleta) e, a partir de 1642 , iniciou o que pode ser considerado sua obra-prima,<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., pp. 122</ref> a [[igreja de Sant'Ivo alla Sapienza]] . Diretamente ligada a [[San Carlo alle Quattro Fontane]], a [[igreja de Sapienza]] foi colocada para fechar um pátio pré-existente projetado por Della Porta. A planta, gerada essencialmente pela intersecção de dois triângulos equiláteros opostos, é coroada em elevação por uma cúpula com lanterna terminando em espiral; o traçado de Sant'Ivo, mais uma vez moldado através da utilização de concavidades e convexidades, é um dos mais unitários da história da arquitectura, ainda que, precisamente pela sua audácia, não tenha encontrado aplicações semelhantes nas obras dos seus contemporâneos .<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., pp. 122-125.</ref>


[[Imagem:Lazio Roma SGiovanni1 tango7174.jpg|thumb|Interior da [[Arquibasílica de São João de Latrão]]]]
O mesmo arquitecto, contratado pelo [[Papa Inocêncio X]] , também interveio na restauração da grande [[Basílica de San Giovanni in Laterano]] ; Borromini manteve a estrutura original, incorporando as colunas das naves no interior de grandes pilares, enquanto a planeada cobertura [[abóbada|abobada]]da não foi construída. Segundo os críticos, embora o projeto não tenha sido executado na íntegra, “San Giovanni in Laterano tem uma das mais belas [[nave (arquitetura)|nave]]s que existem”:<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 125.</ref> a integração dos espaços é acentuada pelas grandes aberturas que percorrem a nave, enquanto as naves laterais são constituídas por pequenas unidades centralizadas, com cantos côncavos que também continuam nas abóbadas.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 126.</ref>


[[Imagem:Parione - s Agnese in Agone 1020587.JPG|thumb|[[Igreja de Santa Inês em Agonia]]]]
Alguns anos depois trabalhou na igreja de [[Sant'Agnese in Agone]], iniciada por [[Girolamo Rainaldi]] ( 1570-1655 ) e pelo seu filho Carlo em 1652 , criando uma das visões mais classicizantes da sua produção artística ; o edifício, cuja construção foi novamente assumida por Carlo Rainaldi, é uma das obras mais significativas da época, pois teve uma influência notável a nível internacional.<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 367.</ref> A planta é uma [[cruz grega]] que se funde com o espaço circular encimado por uma grande cúpula; é uma revisão barroca da planta central de São Pedro.<ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., p. 182.</ref> A invenção de Borromini reside na fachada, onde deslocou a frente principal para trás para obter uma forma côncava firmemente ligada ao [[tambor (arquitetura)|tambor]] convexo da cúpula; estendeu então a fachada aos edifícios laterais, de modo a construir duas [[torre sineira|torres sineiras]] caracterizadas por uma progressão recortada gradativa em direção ao topo. Invenções semelhantes também podem ser encontradas na torre sineira de Sant'Andrea delle Fratte (obra inacabada também de Borromini), que termina com uma espécie de [[lanterna (arquitetura)|lanterna]] circular.
[[File:Ss Luca e Martina - interno 1250591.JPG|thumb|left|[[Igreja de Santa Martina e São Lucas]]]]


Borromini esteve envolvido em vários canteiros de obras em Roma: criou o [[Oratorio dei Filippini]] (cuja fachada, rica em concavidades e convexidades, é uma feliz fusão entre um palácio e uma igreja),{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=386}} a [[igreja de Nossa Senhora das Sete Dores]] (incompleta) e, a partir de 1642, iniciou o que pode ser considerado a sua obra-prima,{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=122}} a [[igreja de Santo Ivo em La Sapienza]]. Diretamente ligada à [[igreja de São Carlos nas Quatro Fontes]], a igreja de La Sapienza foi colocada para fechar um pátio preexistente projetado por Della Porta. A planta, gerada essencialmente pela intersecção de dois triângulos equiláteros opostos, é coroada em elevação por uma cúpula com lanterna terminando em espiral; o traçado de Sant'Ivo, mais uma vez moldado através da utilização de concavidades e convexidades, é um dos mais unitários da história da arquitectura, ainda que, precisamente pela sua audácia, não tenha encontrado aplicações semelhantes nas obras dos seus contemporâneos.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|pp=122-125}}
Carlo Rainaldi também se dedicou às duas igrejas gêmeas da [[Piazza del Popolo]] . A primeira, consagrada a [[Santa Maria in Montesanto]] , foi iniciada em 1662 e depois concluída por Carlo Fontana (1638-1714 ) com base em projetos de Bernini; a segunda, dedicada a [[Santa Maria dei Miracoli]] , foi realizada a partir de 1675 , sempre com a colaboração de Fontana. As duas igrejas, colocadas simetricamente em torno do tridente formado pela via del Corso , [[via di Ripetta]] e [[via del Babuino]] , parecem iguais, mas na realidade, para melhor se adaptarem à configuração do lote, foram diferenciadas em plantas: para Santa Maria dei Miracoli adotou-se uma planta circular, enquanto para a adjacente Santa Maria in Montesanto, situada num lote maior, optou-se por uma forma elíptica, com dimensões transversais semelhantes à anterior, de modo a manter a aparente simetria da frente.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., pp. 19-20.</ref> Outra obra notável de Rainaldi é o exterior da abside de Santa Maria Maggiore , colocado no eixo visual vindo de [[Trinità dei Monti]] ; o arquitecto cobriu a abside com uma superfície plástica, integrando-a perfeitamente com os ombros laterais e criando uma das jóias espaciais mais felizes de todo o Barroco.<ref>C. Brandi, ''Disegno dell'architettura italiana'', cit., p. 359.</ref>


O mesmo arquitecto, contratado pelo {{lknb|papa Inocêncio|X}}, também interveio na restauração da grande [[Arquibasílica de São João de Latrão]] (''San Giovanni in Laterano''); Borromini manteve a estrutura original, incorporando as colunas das naves no interior de grandes pilares, enquanto a planeada cobertura [[abóbada|abobada]]da não foi construída. Segundo os críticos, embora o projeto não tenha sido executado na íntegra, “San Giovanni in Laterano tem uma das mais belas [[nave (arquitetura)|nave]]s que existem”:{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=125}} a integração dos espaços é acentuada pelas grandes aberturas que percorrem a nave, enquanto as naves laterais são constituídas por pequenas unidades centralizadas, com cantos côncavos que também continuam nas abóbadas.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=126}}
Se as obras de Carlo Rainaldi, embora apresentem soluções originais, remetem para os temas do início do Barroco, sente-se em Pietro da Cortona uma maior integração plástica entre espaços, massas e superfícies.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 180.</ref> A sua igreja de Santi Luca e Martina ( 1635 ), estruturada em planta em cruz grega , lembra os desenhos renascentistas da [[igreja de Santa Maria della Consolazione]] em Todi , embora com diferenças significativas: de facto, um braço da nave é alongado , retomando a igreja à tipologia de plantas longitudinais, enquanto a fachada, embora convexa, não reflecte a curvatura das absides internas . Depois, há a recusa do uso da cor: o interior da igreja é totalmente branco, enquanto as abóbadas das absides são ricamente decoradas. Além disso, as colunas isoladas inseridas nas paredes constituem um tema tipicamente florentino (do [[Batistério de São João]] na [[Biblioteca Laurentiana]] ) que reaparece noutras obras de Cortona, como o tambor da cúpula de [[Santi Ambrogio e Carlo al Corso|San Carlo al Corso]].<ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., pp. 197-199.</ref>


Alguns anos depois trabalhou na [[igreja de Santa Inês em Agonia]], iniciada por [[Girolamo Rainaldi]] {{nwrap||1570|1655}} e pelo seu filho Carlo em 1652, criando uma das visões mais classicizantes da sua produção artística ; o edifício, cuja construção foi novamente assumida por Carlo Rainaldi, é uma das obras mais significativas da época, pois teve uma influência notável a nível internacional.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=367}} A planta é uma [[cruz grega]] que se funde com o espaço circular encimado por uma grande cúpula; é uma revisão barroca da planta central de São Pedro.{{sfn|Wittkower|2012|p=182}} A invenção de Borromini reside na fachada, onde recuou a frente principal para obter uma forma côncava firmemente ligada ao [[tambor (arquitetura)|tambor]] convexo da cúpula; estendeu então a fachada aos edifícios laterais, de modo a construir duas [[torre sineira|torres sineiras]] caracterizadas por uma orientação tendencialmente irregular em direcção ao topo. Invenções semelhantes também podem ser encontradas na torre sineira de [[Sant'Andrea delle Fratte]] (obra inacabada também de Borromini), que termina com uma espécie de [[lanterna (arquitetura)|lanterna]] circular.<ref>{{citar web|url=https://www.google.pt/books/edition/Curiosit%C3%A0_e_segreti_di_Roma/ZhCR_Xjp11YC?hl=pt-PT&gbpv=1&dq=Sant%27Andrea+delle+Fratte+circolare&pg=PA15&printsec=frontcover|título=Curiosità e segreti di Roma|autor=Gabriella Serio|p=364|isbn=8854147052|data=2012|editora=Newton Compton Editori}}</ref>
O estilo de Pietro da Cortona surge com maior vigor na disposição da [[igreja de Santa Maria della Pace]], onde, entre 1656 e 1657 , esteve envolvido na construção de uma nova fachada. A intervenção não se limitou apenas à fachada do edifício religioso, mas estendeu-se também aos edifícios laterais, com a criação de uma pracinha cénica dominada ao centro pela colunata semicircular da igreja; além disso, a solução da exedra na fachada influenciou profundamente Bernini na concepção do referido Sant'Andrea al Quirinale<ref name="Fusco, p. 353"/> e, na escolha da ordem [[ordem dórica|dórica]] com entablamento [[ordem jónica|jônico]] , antecipou a solução adotada pelo próprio Bernini para as colunatas da Praça São Pedro.<ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., p. 202.</ref>
[[Imagem:Ss Luca e Martina - interno 1250591.JPG|thumb|left|upright||[[Igreja de Santa Martina e São Lucas]]]]


Carlo Rainaldi também se dedicou às duas igrejas gêmeas da [[Praça do Povo]]. A primeira, consagrada a [[Igreja de Nossa Senhora do Monte Santo]], foi iniciada em 1662 e depois concluída por Carlo Fontana (1638-1714 ) com base em projetos de Bernini; a segunda, dedicada a [[Santa Maria dei Miracoli|Nossa Senhora dos Milagres]], foi realizada a partir de 1675, sempre com a colaboração de Fontana. As duas igrejas, colocadas simetricamente em torno do tridente formado pela via del Corso, [[via di Ripetta]] e [[via del Babuino]], parecem iguais, mas na realidade, para melhor se adaptarem à configuração do lote, foram diferenciadas em plantas: para Santa Maria dos Milagres adotou-se uma planta circular, enquanto para a adjacente Santa Maria em Montesanto, situada num lote maior, optou-se por uma forma elíptica, com dimensões transversais semelhantes à anterior, de modo a manter a aparente simetria da frente.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=19-20}} Outra obra notável de Rainaldi é o exterior da abside de Santa Maria Maior, colocado no eixo visual vindo da [[Trindade dos Montes]] ; o arquitecto cobriu a abside com uma superfície plástica, integrando-a perfeitamente com as partes laterais e criando uma das obra mais bem sucedidas de todo o barroco em termos espaciais.{{sfn|Brandi|2013|p=359}}
Entre as igrejas de planta longitudinal derivadas da planta de [[Il Gesù]] , devemos antes de mais recordar a de [[Santa Maria ai Monti]] ( 1580 ), de [[Giacomo della Porta]]; a igreja tem dimensões modestas e [[transepto]] pouco desenvolvido , com cúpula no cruzamento com a nave principal.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 60.</ref>Muito mais impressionante é a [[basílica de Sant'Andrea della Valle]] , também iniciada por Della Porta em 1591 e concluída por Carlo Maderno; a fachada, a mais barroca das fachadas romanas,<ref>C. Brandi, ''Disegno dell'architettura italiana'', cit., p. 356.</ref> foi acrescentada por Carlo Rainaldi após meados do século XVII. A planta, embora baseada no modelo da igreja de Gesù, apresenta capelas laterais mais rasas e significativamente mais altas; a nave é articulada por pilares laterais que, juntamente com a cúpula, marcam o forte ritmo vertical do edifício.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 62.</ref>

Se as obras de Carlo Rainaldi, embora apresentem soluções originais, remetem para os temas do início do barroco, sente-se em Pietro da Cortona uma maior integração plástica entre espaços, massas e superfícies.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=180}} A sua [[igreja de Santa Martina e São Lucas]] (1635), estruturada em planta em cruz grega, lembra os desenhos renascentistas da {{ilc|nl=s|igreja de Nossa Senhora da Consolação|Igreja de Nossa Senhora da Consolação (Todi)|Templo de Nossa Senhora da Consolação|Templo de Santa Maria della Consolazione|Templo de Nossa Senhora da Consolação|Igreja de Santa Maria da Consolação (Todi)}} em [[Todi]], embora com diferenças significativas: de facto, um braço da nave é alongado, retomando a igreja à tipologia de plantas longitudinais, enquanto a fachada, embora convexa, não reflecte a curvatura das absides internas. Depois, há a recusa do uso da cor: o interior da igreja é totalmente branco, enquanto as abóbadas das absides são ricamente decoradas. Além disso, as colunas isoladas inseridas nas paredes constituem um tema tipicamente florentino (do [[Batistério de São João]] na [[Biblioteca Laurenziana]]) que reaparece noutras obras de Cortona, como o tambor da cúpula da [[basílica dos Santos Ambrósio e Carlos]].{{sfn|Wittkower|2012|pp=197-199}}

O estilo de Pietro da Cortona surge com maior vigor na disposição da [[igreja de Santa Maria da Paz]], onde, entre 1656 e 1657, esteve envolvido na construção de uma nova fachada. A intervenção não se limitou apenas à fachada do edifício religioso, mas estendeu-se também aos edifícios laterais, com a criação de uma pracinha cénica dominada ao centro pela colunata semicircular da igreja; além disso, a solução da [[êxedra]] na fachada influenciou profundamente Bernini na concepção do referido Santo André do Quirinal<ref name=fu353/> e, na escolha da ordem [[ordem dórica|dórica]] com entablamento [[ordem jónica|jónico]], antecipou a solução adotada pelo próprio Bernini para as colunatas da Praça São Pedro.{{sfn|Wittkower|2012|p=202}}

Entre as igrejas de planta longitudinal derivadas da planta da [[Igreja de Jesus]], devemos antes de mais recordar a de [[Igreja de Santa Maria em Monti|Santa Maria em Monti]] (1580), de [[Giacomo della Porta]]; a igreja tem dimensões modestas e [[transepto]] pouco desenvolvido, com cúpula no cruzamento com a nave principal.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=60}} Muito mais impressionante é a [[basílica de Santo André do Vale]], também iniciada por Della Porta em 1591 e concluída por Carlo Maderno; a fachada, a mais barroca das fachadas romanas,{{sfn|Brandi|2013|p=356}} foi acrescentada por Carlo Rainaldi após meados do {{séc|XVII}}. A planta, embora baseada no modelo da igreja de Gesù, apresenta capelas laterais mais rasas e significativamente mais altas; a nave é articulada por pilares laterais que, juntamente com a cúpula, marcam o forte ritmo vertical do edifício.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=62}}

===Praça===
Quanto à abordagem do [[barroco romano]] é necessário recordar as principais transformações urbanas da cidade, atribuíveis à referida planta pretendida pelo [[Papa Sisto V]], que reuniu também algumas intervenções já implementadas pelos seus antecessores. Em particular, o tridente da [[Praça do Povo]] (mesmo antes das transformações posteriormente levadas a cabo por [[Giuseppe Valadier]]) representa um dos elementos mais importantes e foi protótipo de um dos motivos básicos da cidade barroca;<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 19.</ref> a própria porta de entrada da cidade, tornou-se ponto nodal do sistema viário a partir de 1589 , com a construção de um [[obelisco]], e a construção no século XVII das citadas igrejas gêmeas de Rainaldi.

Outro espaço importante é a Praça Navona, construída sobre as ruínas do antigo estádio erigido pelo imperador Domiciano e que, no século XVII, assumiu características de uma praça tipicamente barroca, tanto que pôde ser identificada com o verdadeiro centro de Roma do século XVII. Aqui foram lançadas as fundações da igreja de Sant'Agnese em Agone, elemento proeminente de uma parede cortina quase unitária, cuja cúpula é realçada pela forma ligeiramente côncava da fachada; o centro da praça é sublinhado pela [[Fonte dos Rios]] (o Nilo , o Ganges , o Danúbio e o Rio da Prata), na qual é possível perceber uma alusão ao poder da Igreja no mundo então conhecido.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., pp. 24-25.</ref>

O auge desta série de praças barrocas encontra-se na famosa [[Praça de São Pedro]], concluída por [[Bernini]] sob [[Alexandre VII]] entre 1657 e 1667. A solução final levou em conta problemas litúrgicos e simbólicos e emergências arquitetónicas pré-existentes: o espaço foi articulado por um quadrado oval ligado à fachada da basílica do Vaticano com dois braços oblíquos, colocados no limite de uma área trapezoidal . A ligação entre a oval e o trapézio, mais estreita que a largura da fachada de Maderno, modificou a perspectiva para a basílica, fazendo com que a grande massa da fachada parecesse menor. O quadrado oval, delimitado por imponentes colunas dispostas em várias filas, deveria ter sido fechado com um terceiro braço, o que no entanto nunca foi realizado; Apesar disso, Bernini criou um espaço bem definido, mas ao mesmo tempo aberto ao exterior e integrado com o resto da cidade graças à permeabilidade oferecida pelas grandes colunatas.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 29.</ref> Além disso, Bernini colocou a porta de bronze que conduzia à [[Scala Regia]], dentro da cidadela do [[Vaticano]], alinhada com a [[Via de Borgo Nuovo]] (que desapareceu com a construção da [[Via da Conciliação]]); criou assim um caminho surpreendente que acompanhava o espectador desde as ruas estreitas e articuladas da "Spina di Borgo" até à grandiosa [[Praça de São Pedro]], mas cortando-a assimetricamente no lado norte, de modo a oferecer vistas sugestivas e sempre novas em direção à fachada da basílica e à cúpula de [[Miguel Ângelo]].<ref>L. Benevolo, ''San Pietro e la città di Roma'', Bari, 2004, pp. 54-60.</ref>


===Palácio===
===Palácio===
[[File:Forced perspective gallery by Francesco Borromini.jpg|thumb|left|Galeria em perspectiva do [[Palácio Spada]]]]
[[Imagem:Forced perspective gallery by Francesco Borromini.jpg|thumb|left|Galeria em perspectiva do [[Palácio Spada]]]]
Os principais arquitectos do Barroco Romano também deixaram vestígios importantes na arquitectura civil. Em [[1625]], Carlo Maderno iniciou as obras do referido [[Palácio Barberini]] com a colaboração de Borromini, a quem é atribuída a escada helicoidal; após a morte de Maderno, quatro anos depois, o trabalho foi continuado por Bernini. É certo, porém, que o plano foi decidido antes de janeiro de 1629. Anteriormente foi destacado como a disposição do edifício, sem o clássico pátio interno, difere da tradição do palácio italiano; estando nos arredores da cidade propriamente dita, Maderno mudou o conceito original do palácio da cidade para uma espécie de villa suburbana. Até a fachada, parte mais clássica da obra, apresenta elementos inovadores nos arcos abertos de última ordem.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., pp. 147-148.</ref>


Os principais arquitectos do barroco Romano também deixaram vestígios importantes na arquitectura civil. Em 1625, Carlo Maderno iniciou as obras do referido [[Palácio Barberini]] com a colaboração de Borromini, a quem é atribuída a escada helicoidal; após a morte de Maderno, quatro anos depois, o trabalho foi continuado por Bernini. É certo, porém, que o plano foi decidido antes de janeiro de 1629. Anteriormente foi destacado como a disposição do edifício, sem o clássico pátio interno, difere da tradição do palácio italiano; estando nos arredores da cidade propriamente dita, Maderno mudou o conceito original do palácio da cidade para uma espécie de ''villa'' suburbana. Até a fachada, parte mais clássica da obra, apresenta elementos inovadores nos arcos abertos de última ordem.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|pp=147-148}}
A partir de 1650 Bernini também projetou o [[Palácio Montecitório]] , posteriormente finalizado por Carlo Fontana. A fachada, em que foi substancialmente mantida a marca do projecto inicial, apresenta uma forma convexa e apresenta, nas laterais do rés-do-chão, alguns penedos rústicos de pedra. Também de Bernini está o [[palácio Chigi-Odescalchi]] ( 1665-1667 ), construído em torno de um pátio projetado por Maderno. Apesar das alterações sofridas durante o século XVIII , a fachada acrescentada por Bernini pode ser considerada um verdadeiro modelo para as fachadas dos palácios barrocos: apresentava um destaque na parte central (que desapareceu durante as expansões do século XVIII), definida por pilastras gigantes e coroado pela [[balaustrada]] no topo.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 150.</ref>


A partir de 1650 Bernini também projetou o [[Palácio Montecitório]], posteriormente finalizado por Carlo Fontana. A fachada, em que foi substancialmente mantida a marca do projecto inicial, apresenta uma forma convexa e apresenta, nas laterais do rés-do-chão, alguns penedos rústicos de pedra. Também de Bernini está o [[palácio Chigi-Odescalchi]] {{nwrap||1665|1667}}, construído em torno de um pátio projetado por Maderno. Apesar das alterações sofridas durante o {{séc|XVIII}}, a fachada acrescentada por Bernini pode ser considerada um verdadeiro modelo para as fachadas dos palácios barrocos: apresentava um destaque na parte central (que desapareceu durante as expansões do {{séc|XVIII}}), definida por pilastras gigantes e coroado pela [[balaustrada]] no topo.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=150}}
Outra importante obra seguida por Bernini foi a da construção da [[Scala Regia]] no Vaticano . Construída a partir de 1660, a escadaria, que deveria servir de ligação entre os Palácios do Vaticano e a fachada de São Pedro, foi construída num lote muito estreito e de formato irregular, situado entre a basílica e a residência papal. Bernini explorou essas características a seu favor. Numa espécie de pista de obstáculos, desenhou uma escada de largura decrescente, coberta por uma [[abóbada de berço]]. No entanto, as paredes convergentes entre as quais se inseria a escada teriam dado a impressão de maior profundidade; no entanto, neste sentido, a escala não tem nada de ilusionista. A correção da perspectiva foi obtida através da disposição adequada de uma série de [[colunata]]s nas laterais do corredor; as colunas parecem avançar nos degraus, sugerindo um sentido de movimento contrário ao vertical da escada.<ref>C. Brandi, ''Disegno dell'architettura italiana'', cit., p. 327.</ref>


Outra importante obra seguida por Bernini foi a da construção da {{ilc|Scala Regia|Scala Regia (Vaticano)|Scala Regia}} no [[Vaticano]] . Construída a partir de 1660, a escadaria, que deveria servir de ligação entre os Palácios do Vaticano e a fachada de São Pedro, foi construída num lote muito estreito e de formato irregular, situado entre a basílica e a residência papal. Bernini explorou essas características a seu favor. Numa espécie de pista de obstáculos, desenhou uma escada de largura decrescente, coberta por uma [[abóbada de berço]]. No entanto, as paredes convergentes entre as quais se inseria a escada teriam dado a impressão de maior profundidade; no entanto, neste sentido, a escala não tem nada de ilusionista. A correção da perspectiva foi obtida através da disposição adequada de uma série de [[colunata]]s nas laterais do corredor; as colunas parecem avançar nos degraus, sugerindo um sentido de movimento contrário ao vertical da escada.{{sfn|Brandi|2013|p=327}}
Borromini também deixou algumas contribuições significativas nesta área. Seu é o efeito do Trompe-l'oeil na galeria em perspectiva do Palazzo Spada (1652-1653 ) , que sugere uma profundidade diferente da real. Além disso, por volta de meados do século XVII preparou os estudos para o [[palácio Pamphilj]] na [[Praça Navona]], construído por [[Girolamo Rainaldi]], mas as suas criações mais interessantes encontram-se nos palácios eclesiásticos, como o [[colégio de Propaganda Fide]] (dentro do qual está a [[capela dos Reis Magos]] ), onde ergueu uma fachada moldada por compressões e dilatações, com grande efeito dramático.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 156.</ref>

[[File:Piranesi-16025.jpg|thumb|[[Piazza del Popolo|Praça do povo]] em gravura de [[Piranesi]] antes das transformações de [[Giuseppe Valadier]]]]
Borromini também deixou algumas contribuições significativas nesta área. É dele o efeito do ''Trompe-l'oeil'' na galeria em perspectiva do Palácio Spada (1652-1653 ), que sugere uma profundidade diferente da real. Além disso, por volta de meados do {{séc|XVII}} preparou os estudos para o [[palácio Pamphilj]] na [[Praça Navona]], construído por [[Girolamo Rainaldi]], mas as suas criações mais interessantes encontram-se nos palácios eclesiásticos, como o [[Paláco de Propaganda Fide|colégio de Propaganda Fide]] (dentro do qual está a [[capela dos Reis Magos]] ), onde ergueu uma fachada moldada por compressões e dilatações, com grande efeito dramático.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=156}}
[[File:Progetto Piazza S.Pietro (Bernini).jpg|thumb|[[Praça de São Pedro]] com o ''terzo braccio'']]

[[Imagem:Piranesi-16025.jpg|thumb|[[Piazza del Popolo|Praça do povo]] em gravura de [[Piranesi]] antes das transformações de [[Giuseppe Valadier]]]]
[[Imagem:Progetto Piazza S.Pietro (Bernini).jpg|thumb|[[Praça de São Pedro]] com o ''terzo braccio'']]


===Turim===
===Turim===
No final do século XVI , Turim ainda estava presa na antiga estrutura romana do ''castrum'' ; alguns anos depois, durante o reinado de [[Carlos Emmanuel I]] , a cidade tornou-se um importante centro barroco, ponto de encontro das tendências romanas e francesas ,<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 405.</ref> numa síntese singular entre aspectos contra-reformistas e seculares.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 46.</ref>
No final do século XVI, [[Turim]] ainda estava presa na antiga estrutura romana do ''castrum''; alguns anos depois, durante o reinado de [[Carlos Emanuel I, Duque de Saboia|Carlos Emanuel&nbsp;I]], a cidade tornou-se um importante centro barroco, ponto de encontro das tendências romanas e francesas,{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=405}} numa síntese singular entre aspectos contrarreformistas e seculares.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=46}}

[[Ascanio Vitozzi]]{{nwrap||1539|1615}} foi o responsável pela disposição da {{ilc|Piazza Castello|Piazza Castello (Turim)|Piazza Castello|Praça Castello}}, em torno da qual se desenvolveram os novos bairros da cidade; as obras foram executadas por {{ilc|nl=s|Carlo di Castellamonte}} {{nwrap||1560|1641}}, que a partir de 1621 deu continuidade ao desenvolvimento da cidade para o sul segundo um sistema de eixos ortogonais . O mesmo arquiteto foi o responsável pela formação da vasta {{ilc|Praça de São Carlos|Praça de São Carlos (Turim)|Praça São Carlos (Turim)|Piazza San Carlo|Piazza San Carlo|Praça de São Carlos}} (na época Praça Real), espaço derivado da [[Place des Vosges|Place Royale]] francesa e centrado em torno de uma [[estátua equestre]]; no entanto, duas igrejas gémeas foram colocadas nas laterais da estrada principal, numa solução semelhante à implementada na [[Piazza del Popolo]], em Roma. Este duplo valor, fruto da união entre elementos sagrados e seculares, encontra-se também no [[Palácio Real de Turim|Palácio Ducal]] (depois Real), que estava posicionado em comunicação direta com a catedral.<ref name=norb48/>

O plano de expansão de Turim foi continuado por [[Amedeo di Castellamonte]] {{nwrap||1610|1683}}, filho de Carlo, que planeou o desenvolvimento da cidade em direção ao leste. Em 1673, de acordo com o projeto do arquiteto, iniciou-se a construção de uma estrada que ligava a Piazza Castello à {{ilc|nl=s|via Po}}, ao longo da qual foram erguidos edifícios com pórticos de desenho uniforme, enquanto em direcção ao rio a rua era concluída com uma [[êxedra]] (pórtico em local aberto, muitas vezes com lugares para sentar e conversar), uma referência simbólica à abertura da cidade para o território circundante.<ref name=norb48/>

O próprio Amedeo di Castellamonte trabalhou em várias residências da [[Saboia]]; trabalhou no Palácio Ducal e por volta da década de 1660 foi contratado por [[Carlos Emanuel II, Duque de Saboia|Carlos Emanuel&nbsp;II de Saboia]] para projetar o palácio e a vila de [[Palácio de Venaria|Venaria Real]], perto de Turim.{{sfn|Pevsner|Fleming|Honour|1981|loc=cap.&nbsp;«Castellamonte, Amedeo»}}

No mesmo período, [[Guarino Guarini]] {{nwrap||1624|1683}} concluiu a {{ilc|capela do Santo Sudário|nex=capela do [[Sudário de Turim|Santo Sudário]]}}, iniciada perto de Castellamonte, nas traseiras da [[catedral de Turim]]. A capela devia ter três entradas (duas da catedral e uma do adjacente Palazzo Ducale) e isso influenciou a planta do edifício. A base, de planta circular, está dividida em nove partes e três arcos abertos nas entradas, sobre os quais está colocado o [[tambor (arquitetura)|tambor]] da [[cúpula]]; a própria cúpula é definida por um extraordinário jogo de nervuras, realçado pela luz difundida através de numerosas janelas que curiosamente emergem do exterior da estrutura.{{sfn|Wittkower|2012|pp=357-358}}

Novamente Guarini, entre 1668 e 1680, construiu a {{ilc|igreja de São Lourenço|Igreja de São Lourenço (Turim)|Igreja de San Lorenzo (Turim)}}. A planta remonta ao octógono, com lados convexos, mas um [[presbitério]] elíptico colocado transversalmente introduz um eixo principal na composição; o espaço, no nível inferior, é definido pela presença de grandes serlianas que delimitam as capelas laterais, enquanto, no topo, uma série de nervuras se entrelaçam formando o octógono sobre o qual assenta a [[lanterna (arquitetura)|lanterna]].{{sfn|Wittkower|2012|p=359}}

As extraordinárias invenções de Guarini também encontraram aplicação nos temas da arquitetura civil: o seu [[Palácio Carignano]], baseado em planta em U, apresenta uma fachada convexa monumental que se projeta em ambos os lados do edifício. Esta configuração, embora de alguma forma atribuível aos projetos de [[Gian Lorenzo Bernini]] para o [[Palácio do Louvre]] e o [[Castelo de Vaux-le-Vicomte]], faz do Palácio Carignano uma das residências mais interessantes do {{séc|XVII}}.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=390}}
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====Milão====
[[Imagem:San_Giuseppe,_Milano_2367.jpg|thumb|upright|[[Igreja de San Giuseppe (Milão)|Igreja de San Giuseppe]], Milão]]
No início do século XVII, se persistiu durante muitos anos uma produção arquitectónica “de transição” onde os elementos maneiristas tardios foram timidamente afectados, como no caso da [[biblioteca Ambrosiana]] e do pátio [[palladianismo|palladiano]] do [[Palácio do Senado (Milão)|colégio Helvético]] de [[Fábio Mangone]], o projeto que introduziu o barroco em Milão foi a [[igreja de Sant'Alessandro]] na Zebedia, do arquiteto barnabita [[Lorenzo Binago]]. A planta consiste na combinação entre uma planta central inspirada no projecto da Basílica de São Pedro de [[Bramante]] no Vaticano e uma longitudinal, com os [[arco de cruzaria|arcos de cruzaria]] apoiados em pares de colunas gigantes isoladas das paredes perimetrais, solução que seria retomada em muitos projetos subsequentes, como a [[Catedral de Santa Maria Assunta (Brescia)|nova catedral de Brescia]].<ref>Giovanni Denti, ''Architettura a Milano tra controriforma e barocco'', Firenze, 1988, p. 128.</ref>{{sfn|Wittkower|2012|p=98}}

Sant'Alessandro del Binago foi, portanto, a base para a construção da [[igreja de São José (Milão)|igreja de São José]] por [[Francesco Maria Richini]]{{nwrap||1584|1658}}, considerado o maior arquiteto do barroco milanês: a igreja marcou a superação da arquitetura maneirista na zona de Milão.<ref name=dizRic/> Richini introduziu uma planta combinada, composta por dois espaços com planta central para formar uma planta longitudinal: o primeiro espaço tem uma estrutura octogonal, inspirada na cruz de Sant'Alessandro, onde se obtém o octógono com o corte dos cantos da planta quadrada graças às colunas perimetrais isoladas. No que diz respeito à fachada, Richini procurou dar unidade através da fachada, até então considerada um ornamento independente da estrutura posterior e do corpo da igreja, projectando uma fachada com altura igual à da cúpula octogonal posterior e tendo o andar inferior altura igual ao corpo posterior da igreja: a decoração foi elaborada "com edículas sobrepostas", consagrando uma tipologia na fachada muito utilizada nos anos seguintes.{{sfn|Wittkower|2012|p=101}}

Entre as obras civis mais famosas de Richini está o [[Colégio Elvético]], onde procurou uma integração entre interior e exterior através de uma fachada côncava, talvez a primeira fachada curva de um palácio da época barroca;<ref name=wit102/> a interessante solução, precursora de certos temas expressos por Borromini, confirma Richini como um dos principais arquitetos do início do barroco.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=147}} São dele também o pátio de honra do [[Palácio de Brera]], organizado numa dupla ordem de colunas emparelhadas que sustentam arcos redondos que se tornaram o modelo do pátio barroco na região lombarda, e os elegantes portais do [[Palácio Durini]] e do seminário do arcebispo de Milão.<ref name=dizRic/>{{sfn|Mezzanotte|Bascapè|1968|p=423}}

Quando ele morreu, não houve mais ninguém do seu calibre em Milão: o principal [[canteiro de obras|canteiro]] do {{séc|XVII}} na cidade foi a construção da [[igreja de Santa Maria à Porta]] realizada pelo seu aluno [[Francesco Castelli]]:<ref name=wit102/> a fachada, projectada a partir do desenho anterior do mestre, propõe de forma não original a fachada "com edículas sobrepostas" com decorações mais abundantes e complexas. Outra importante obra contemporânea foi a da fachada de [[Santa Maria da Paixão]], criada por [[Giuseppe Rusnati]], de formação romana.{{sfn|Bianchi|Buganza|1999|p=30}}

==== Veneza ====
[[Imagem:Venice city scenes - on the Grand Canal - Polizia! (11002248065).jpg|thumb|left|[[Basílica de Santa Maria della Salute]], Veneza]]

O barroco [[república de veneza|veneziano]] obedeceu aos costumes locais<ref name=norb183/> e teve o seu expoente máximo em [[Baldassare Longhena]].<ref name=dicLo/> Após a [[praga de 1630]], iniciou-se a construção da [[Basílica de Santa Maria della Salute|igreja de Santa Maria della Salute]], utilizando uma [[planta centralizada]], com [[deambulatório]], derivado de modelos antigos tardios ([[Mausoléu de Santa Costanza]] em Roma, [[Basílica de São Vital (Ravena)|São Vital]] em [[Ravena]]). Ao corpo octogonal da basílica, Longhena acrescentou um santuário delimitado nas laterais por duas [[abside]]s; esta solução, semelhante à adotada por [[Andrea Palladio]] na [[basilica do Redentor|igreja do Redentor]], fortaleceu o eixo longitudinal do templo e transformou efetivamente o corpo central numa verdadeira [[Nave (arquitetura)|nave]]. O tratamento da cor também deriva de [[Palladio]], mas olhando mais de perto também de [[Filippo Brunelleschi|Brunelleschi]], com pedra cinza para as partes estruturais e gesso para as paredes.{{sfn|Wittkower|2012|p=246}} O carácter barroco do templo é evidente na conformação da massa externa, cenicamente colocada ao longo do [[Grande Canal]]: o corpo octogonal, coberto por uma grande [[cúpula]] (com dupla volta, a externa em chumbo sobre madeira segundo o uso veneziano), ladeado pela [[calota]] do santuário e duas torres sineiras. Além disso, o imponente arco da [[fachada]], que corresponde à conformação dos espaços internos, reitera a presença do eixo longitudinal.<ref name=fu376/>

As outras obras de Longhena não podem competir com a igreja Salute. Isto aplica-se à [[Catedral de Chioggia]] e à [[Igreja de Santa Maria di Nazareth (Veneza)|Igreja de Scalzi]].{{sfn|Wittkower|2012|p=249}} Pode surgir uma dúvida quanto à fachada da [[igreja do Ospedaletto]], concluída nos [[década de 1670|anos setenta]] do {{séc|XVII}} e adornada com um design imaginativo e muito rico, composto por [[Télamo (arquitetura)|télamo]], cabeças gigantes e máscaras de leão.{{sfn|Brandi|2013|p=372}}

Longhena também se aventurou na arquitetura civil: o seu [[Ca' Pesaro]] (1667) apresenta uma planta aparentemente convencional, mas o jogo de luz e sombra que se estabelece no rico aparato ornamental da fachada determina uma [[Plasticidade (arte)|plasticidade]] tipicamente barroca.<ref name=norb183/>

[[Imagem:Palazzo Doria-Tursi - Musei di Strada Nuova Notturno.JPG|thumb|[[Palazzo Doria-Tursi]], Génova]]

==== Génova ====
Em [[Génova]], a arquitectura barroca traduziu-se, desde finais do {{séc|XVI}}, numa série de grandes palácios que os críticos consideram entre os mais importantes da cena italiana.<ref name=dicIt/> Entre estes lembramos o [[Palazzo Doria-Tursi]], que pode ser considerado uma interessante combinação de palácio e ''villa''; a frente na via pública, de fato, oferece a imagem dum edifício típico da cidade, enquanto o jardim interno, elevado e opticamente separado da viabilidade externa, cria uma proporção mais íntima. A configuração planimétrica do vestíbulo, unido ao jardim interno mais alto por meio de uma vasta escadaria, revela também a presença de um movimento em profundidade.<ref name=norb146/>

Esta solução foi assumida por [[Bartolomeo Bianco]] {{nwrap||1590–1657}}, o maior arquitecto do barroco genovês,{{sfn|Wittkower|2012|p=104}} no que pode ser considerado sua obra-prima: o [[Palácio da Universidade de Génova|colégio jesuíta]], que mais tarde se tornou a sede da [[Universidade de Génova]] {{circa|1634}}. O edifício tem planta em U, mas, comparativamente ao anterior, apresenta maior permeabilidade entre o interior e o pátio; de facto, aproveitando a conformação muito íngreme do terreno, Bianco criou uma cenografia urbana extraordinária, com um vestíbulo tão largo como o pátio elevado e uma série de galerias e escadas sobrepostas. A continuidade espacial é infinitamente mais forte do que nos edifícios romanos da época.<ref name=norb146/>

==== Nápoles ====
[[Imagem:Egiziaca interno.jpg|thumb|Interior da [[igreja de Santa Maria Egiziaca em Pizzofalcone]], Nápoles]]

A arquitetura barroca no sul da Itália produziu os seus resultados mais significativos apenas no {{séc|XVIII}}.<ref name=norb183/>
No entanto, a partir de 1610 e nas décadas seguintes, numerosas igrejas barrocas foram construídas em [[Nápoles]], muitas vezes adornadas com ricas decorações em mármore ou estuque (comparáveis aos interiores de Bernini), mas sem essas invenções espaciais e fusão entre a típica arquitetura barroca romana.<ref>A. Blunt, C. de Seta, ''Architettura e città barocca'', Nápoles, 1978.</ref>

As premissas devem ser buscadas na atividade de arquitetos como [[Francesco Grimaldi]] {{nwrap||1543|1613}}, autor de alguns importantes edifícios sagrados (como a [[basílica de Santa Maria degli Angeli em Pizzofalcone]] e a [[capela real do Tesouro de San Gennaro|capela de San Gennaro]]) na qual a decoração barroca foi aplicada em estruturas ainda clássicas.{{sfn|Pevsner|Fleming|Honour|1981|loc=cap.&nbsp;«Grimaldi, Francesco»}}

A figura mais importante da cidade napolitana foi Cosimo Fanzago {{nwrap||1591|1678}},{{sfn|Wittkower|2012|p=251}} que trabalhou na {{ilc|Cartuxa de São Martinho|Certosa di San Martino}}, construiu a [[igreja de Santa Maria Egiziaca em Pizzofalcone]], o [[Palácio Dona Anna]] e o [[Obelisco de São Januário]]. A planta de Santa Maria Egiziaca, a igreja mais bonita de Fanzago, refere-se a [[Igreja de Santa Inês em Agonia|Santa Inês em Agonia]], enquanto o desenho da cúpula deriva da [[Igreja de Sant'Andrea al Quirinale |Sant'Andrea al Quirinale]] por [[Gian Lorenzo Bernini|Bernini]]; ao contrário dos modelos romanos, porém, há uma extrema economia na definição dos detalhes e a ênfase colocada nas partes estruturais, pintadas de branco, que produzem um efeito de imponente simplicidade. O palácio Donn'Anna (nunca concluído) e o Pináculo de San Gennaro representam duas estranhas criações compostas, que testemunham a versatilidade de Fanzago em dominar o amplo leque de possibilidades oferecidas pela arquitetura do {{séc|XVII}}: desde a reinterpretação de motivos tradicionais, até a mistura de [[arquitetura maneirista]] e elementos barrocos.{{sfn|Wittkower|2012|p=253}}

Somente no início do {{séc|XVIII}}, com [[Ferdinando Sanfelice]] {{nwrap||1675|1748}}, é que a arquitetura napolitana avançou para uma verdadeira sensibilidade barroca para formas espaciais complexas.<ref>A. Blunt, C. de Seta, ''Architettura e città barocca'', cit.</ref> Sanfelice foi sobretudo o criador de uma arquitectura civil de elegância ímpar, baseada na interpenetração de espaços internos e externos, que atingiu níveis máximos nas grandiosas escadarias de abóbada dupla, como as do [[Palazzo dello Spagnolo]] e do [[Palácio Sanfelice]], edifício que o arquiteto construiu para si próprio e para a sua família no [[Rione Sanità]].<ref> C. Brandi, ''Design de arquitetura italiana'', cit., p. 430.</ref>


==== Sicília ====
[[Ascanio Vitozzi]] ( 1539-1615 ) foi o responsável pela disposição da [[Piazza Castello]] , em torno da qual se desenvolveram os novos bairros da cidade; as obras foram executadas por Carlo di Castellamonte ( 1560-1641 ), que a partir de 1621 deu continuidade ao desenvolvimento da cidade para o sul segundo um sistema de eixos ortogonais . O mesmo arquiteto foi o responsável pela formação da vasta [[Praça São Carlos]] (na época [[Praça Real]] ), espaço derivado da [[Place Royale]] francesa e centrado em torno de uma [[estátua equestre]]; no entanto, duas igrejas gémeas foram colocadas nas laterais da estrada principal, numa solução semelhante à implementada na [[Praça de Popolo]], em Roma. Este duplo valor, fruto da união entre elementos sagrados e seculares, encontra-se também no [[Palácio Ducal]] (depois Real), que estava posicionado em comunicação direta com a catedral .<ref name="Schulz, p. 48">C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 48.</ref>
{{VT|Barroco siciliano}}
[[Imagem:Francesco Sicuro The church of S.Annunziata dei teatini built by Guarino Guarini.jpg|thumb|Francesco Sicuro, {{ilc|Igreja da Santíssima Anunciada dos Catalães||Igreaj da Santissima Annunziata dei Catalani}} em [[Messina]], em '' Vistas e elevações da cidade de Messina'', 1768]]


Na [[Sicília]] as intervenções mais interessantes foram implementadas após o {{ilc|nl=s|sismo que atingiu|Sismo de Val di Noto de 1693|Sismo de Val di Noto (1693)|Sismo de Val di Noto}} a parte oriental da ilha em 1693, que atingiu garvemente várias cidades e vilas do [[Val di Noto]] (ver o parágrafo sobre [[#Arquitetura barroca tardia e rococó|arquitetura barroca tardia]]).<ref name=norb183/>
O plano de expansão de Turim foi continuado por [[Amedeo di Castellamonte]] ( 1610-1683 ), filho de Carlo, que planeou o desenvolvimento da cidade em direção ao leste. Em 1673 , de acordo com projeto do arquiteto, iniciou-se a construção de uma estrada que ligava a [[Piazza Castello]] à [[via Po]] ; Ao longo da rua foram erguidos edifícios com pórticos de desenho uniforme, enquanto em direcção ao rio a rua era concluída com uma exedra (pórtico em local aberto, muitas vezes com lugares para sentar e conversar), uma referência simbólica à abertura da cidade para o território circundante.<ref name="Schulz, p. 48"/>


Porém, entre 1660 e 1662, atuou em [[Messina]] [[Guarino Guarini]], que construiu a {{ilc|Igreja da Santíssima Anunciada dos Catalães||Igreaj da Santissima Annunziata dei Catalani}}, introduzindo efetivamente o barroco na Sicília, entre as muitas perplexidades dos contemporâneos.<ref>F. Abbate, ''História da arte no sul da Itália: o século de ouro'', 2002, p. 273.</ref> A fachada de formato piramidal e superfície ondulada serviria de modelo para muitas igrejas sicilianas do {{séc|XVIII}}. O interior totalmente branco com estuques contrastava com o gosto local, prevalecendo o mármore e foi outro exemplo muito seguido no barroco tardio da Sicília. O edifício, assim como a sede do Teatini, foram destruídos durante o [[Sismo de Messina de 1908|sismo de 1908]].<ref>F. Abbate, ''Storia dell'arte nell'Italia meridionale: il secolo d'oro'', cit., p. 215.</ref>
O próprio Amedeo di Castellamonte trabalhou em várias residências da [[Sabóia]]; trabalhou no Palácio Ducal e por volta da década de 1660 foi contratado por [[Carlo Emanuele II de Sabóia]] para projetar o Palácio e a vila de [[Venaria Real]] , perto de Turim.<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honour, ''Dizionario di architettura'', cit., voce ''Castellamonte, Amedeo''.</ref>


Dado que as cidades orientais foram devastadas pelo sismo de 1693, só em [[Palermo]] é possível acompanhar uma evolução contínua ao longo do {{séc|XVII}}. Prova disso são, por exemplo, o {{ilc|Quattro Canti|Quattro Canti (Palermo)|Quattro Canti}} e o {{ilc|Arsenal|Arsenal de Palermo|Museu do Mar (Palermo)}} (atualmente o Museu do Mar). As primeiras, construídas a partir de 1609, são edifícios monumentais de três andares, que, em analogia com as [[Quatro Fontes]] de Roma, definem a intersecção entre as duas principais artérias da cidade. O arsenal, construído segundo um projeto do homem de Palermo [[Mariano Smiriglio]] por volta de 1630, é bastante severo.<ref name=wit343/>
No período, [[Guarino Guarini]] ( 1624-1683 ) concluiu a [[capela do Santo Sudário]] , iniciada perto de Castellamonte, nas traseiras da catedral de Turim. A capela devia ter três entradas (duas da catedral e uma do adjacente Palazzo Ducale) e isso influenciou a planta do edifício. A bacia, de planta circular, está dividida em nove partes e três arcos abertos nas entradas, sobre os quais está colocado o [[tambor (arquitetura)|tambor da [[cúpula]]; a própria cúpula é definida por um extraordinário jogo de nervuras, realçado pela luz difundida através de numerosas janelas que curiosamente emergem do exterior da estrutura.<ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., pp. 357-358.</ref>


Na segunda metade do {{séc|XVII}}, atuou o frade jesuíta [[Angelo Italia]], influenciado por Guarini, que introduziu elementos plenamente barrocos tanto nas plantas quanto na concepção espacial ({{ilc|Igreja de São Francisco Xavier|Igreja de São Francisco Xavier (Palermo)|Igreja de San Francesco Saverio (Palermo)}}), tanto nas fachadas como nos aparatos decorativos ({{ilc|Igreja matriz de Palma de Montechiaro||Igreja de Maria Santíssima do Rosário|Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Palma de Montechiaro)|Igreja Matriz de Palma de Montechiaro|nex=Igreja matriz de [[Palma de Montechiaro]]}}.<ref>AA.VV., ' 'Sicília Barroca: arquitetura e cidades, 1610-1760'', 1997.</ref>
Novamente Guarini, entre 1668 e 1680 , construiu a [[igreja de San Lorenzo]] . A planta remonta ao octógono, com lados convexos, mas um [[presbitério]] elíptico colocado transversalmente introduz um eixo principal na composição; o espaço, no nível inferior, é definido pela presença de grandes serlianas que delimitam as capelas laterais, enquanto, no topo, uma série de nervuras se entrelaçam formando o octógono sobre o qual assenta a [[lanterna (arquitetura)|lanterna]].<ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., p. 359.</ref>


No final do {{séc|XVII}} encontramos composições derivadas do barroco romano, também nas fachadas de igrejas desenhadas por [[Giacomo Amato]].<ref name=dicAmat/> A sua obra-prima é a fachada da [[Igreja de Santa Maria della Pietà (Palermo )|igreja de Santa Maria de Pietà (Palermo)|igreja de Santa Maria della Pietà]], em Palermo.{{sfn|Wittkower|2012|p=344}}
As extraordinárias invenções de Guarini também encontraram aplicação nos temas da arquitetura civil: o seu [[Palazzo Carignano]] , baseado em planta em U, apresenta uma fachada convexa monumental que se projeta em ambos os lados do edifício. Esta configuração, embora de alguma forma atribuível aos projetos de [[Gian Lorenzo Bernini]] para o [[Palácio do Louvre]] e o [[Castelo de Vaux-le-Vicomte]] , faz do Palácio Carignano uma das residências mais interessantes do século XVII.<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 390.</ref>


===Milão===
==== Apúlia ====
[[File:San_Giuseppe,_Milano_2367.jpg|thumb|[[Igreja de San Giuseppe (Milão)|Igreja de San Giuseppe]], Milão]]
[[Imagem:Puglia Lecce3 tango7174.jpg|thumb|[[Basílica de Santa Croce (Lecce)|Basílica de Santa Croce]], Lecce]]
Nos primeiros anos do século XVII, se por muitos anos persistiu uma produção arquitetónica "de transição" onde os elementos maneiristas tardios foram timidamente contaminados, como no caso da [[biblioteca Ambrosiana]] e do pátio [[palladianismo|palladiano]] do [[colégio Elvético de Fabio Mangone]], o projeto que introduziu o barroco em Milão foi a [[igreja de Sant'Alessandro]] na Zebedia, do arquiteto barnabita [[Lorenzo Binago]] . A planta consiste na combinação entre uma planta central inspirada no projecto da Basílica de São Pedro de [[Bramante]] no Vaticano e uma longitudinal, com os [[arco de cruzaria|arcos de cruzaria]] apoiados em pares de colunas gigantes isoladas das paredes perimetrais, solução que seria retomado em muitos projetos subsequentes, como a [[nova catedral de Brescia]] .<ref>Giovanni Denti, ''Architettura a Milano tra controriforma e barocco'', Firenze, 1988, p. 128.</ref><ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., p. 98.</ref>


Em [[Lecce]], em meados do {{séc|XVII}}, houve intensa atividade, num estilo muito distante do barroco romano, que se espalhou em [[Salento]] graças ao trabalho de arquitetos como [[Giuseppe Zimbalo]] {{nwrap||1617|1710}} e [[Giuseppe Cino]] {{nwrap||1644|1722}}.<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dizionario diaarchitettura'', cit., entradas ''Zimbalo, Giuseppe'' e ''Cino, Giuseppe''.</ref>
Sant'Alessandro del Binago foi, portanto, a base para a construção da [[igreja de San Giuseppe]] por [[Francesco Maria Richini]] ( 1584 - 1658 ), considerado o maior arquiteto do barroco milanês:<ref name="Dizionario voce Richini">N. Pevsner, J. Fleming, H. Honour, ''Dizionario di architettura'', cit., voce ''Richini, Francesco Maria''</ref> a igreja marcou a superação da arquitetura maneirista na zona de Milão.<ref name="Dizionario voce Richini"/> Richini introduziu uma planta combinada, composta por dois espaços com planta central para dar uma planta longitudinal: o primeiro espaço tem uma estrutura octogonal, inspirada na cruz de Sant'Alessandro, onde o octógono é obtido cortando os cantos de a planta quadrada graças às colunas perimetrais isoladas. No que diz respeito à fachada, Richini procurou dar unidade entre a fachada, até então considerada um embelezamento independente da estrutura posterior, e o corpo da igreja, desenhando uma fachada com altura igual à da cúpula octogonal posterior e tendo a ordem inferior altura igual ao corpo posterior da igreja: a decoração foi montada "com edículas sobrepostas", inaugurando uma tipologia de fachada muito utilizada nos anos seguintes.<ref>R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., p. 101.</ref>


O {{ilc|nl=s|barroco de Lecce}}, em estreita relação com o [[barroco espanhol]] [[plateresco]] e [[churrigueresco]], caracteriza-se por uma decoração exuberante, repleta de elementos florais e por vezes figurativo-escultóricos, aplicada a edifícios baseados em modelos bastante convencionais do {{séc|XVI}}.{{sfn|Wittkower|2012|pp=342-343}} Estas decorações estão possíveis graças ao uso de uma pedra amarela local chamada [[Pietra Leccese]]: este material recém-extraído é muito fácil de esculpir e depois endurece ao ar após a instalação.
Entre as obras civis mais famosas de Richini está o [[Collegio Elvetico]], onde buscou uma integração entre interior e exterior através de uma fachada côncava, talvez a primeira fachada curva de um palácio da época barroca;<ref name="Wittkower, 102">R. Wittkower, ''Arte e architettura in Italia'', cit., p. 102.</ref> a interessante solução, precursora de certos temas expressos por Borromini , confirma Richini como um dos principais arquitetos do início do Barroco.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 147.</ref> São dele também o pátio de honra do [[palácio de Brera]] , organizado numa dupla ordem de colunas emparelhadas que sustentam arcos redondos que se tornaram o modelo do pátio barroco na região lombarda, e os elegantes portais do [[Palácio Durini]] e do seminário do arcebispo de Milão.<ref name="Dizionario voce Richini"/><ref>P. Mezzanotte, G. Bascapè, ''Milano nell'arte e nella storia'', Milano, 1968, p. 423.</ref>


Este estilo atingiu o seu apogeu na [[Basílica de Santa Croce (Lecce)|igreja de Santa Croce]], com a sua fachada ricamente decorada, iniciada no final do {{séc|XVI}} e concluída, na ordem superior, uns bons sessenta anos mais tarde por [[Cesare Penna]].<ref name=wit343/>
Quando ele morreu, não houve mais ninguém do seu calibre em Milão:<ref name="Wittkower, 102"/> o principal canteiro de obras do segundo século XVII na cidade foi a construção da [[igreja de Santa Maria alla Porta]] realizada pelo seu aluno [[Francesco Castelli]] :<ref name="Wittkower, 102"/> a fachada, modelada a partir de desenho anterior do mestre, propõe de forma não original a fachada "com edículas sobrepostas" com decorações mais abundantes e complexas. Outra importante obra contemporânea foi a da fachada de [[Santa Maria della Passione]], criada por [[Giuseppe Rusnati]], de formação romana.<ref>E. Bianchi, S. Buganza, ''Il Seicento e il Settecento - Itinerari di Milano e provincia'', Milano 1999, p. 30.</ref>


===França===
===França===
Ao contrário de [[Roma]] , o desenvolvimento urbano de Paris não partiu da necessidade de unir pontos focais já existentes, mas surgiu da formação de uma série de praças centradas na figura do soberano.<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 397.</ref> O primeiro exemplo de place royale remonta à [[Place Dauphine]] ( 1599 - 1606 ), construída por [[Henrique IV]] entre a [[Pont Neuf]] e a [[Île de la Cité]] , no coração de [[Paris]]. De formato triangular e originalmente caracterizada por pórticos inspirados em modelos italianos, a Place Dauphine foi aberta à beira da antiga ponte, enquanto a estátua do soberano foi colocada no cruzamento da praça com a Pont Neuf, perto do [[Sena]] , quase a sublinhar o eixo do rio.<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 399.</ref>
Ao contrário de [[Roma]], o desenvolvimento urbano de Paris não partiu da necessidade de unir pontos focais já existentes, mas surgiu da formação de uma série de praças centradas na figura do soberano.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=397}} O primeiro exemplo de place royale remonta à [[Place Dauphine]] {{nwrap||1599|1606}}, construída por {{lknb|Henrique|IV|de França}} entre a [[Pont Neuf]] e a [[Île de la Cité]], no coração de [[Paris]]. De formato triangular e originalmente caracterizada por pórticos inspirados em modelos italianos, a Place Dauphine foi aberta à beira da antiga ponte, enquanto a estátua do soberano foi colocada no cruzamento da praça com a Pont Neuf, perto do [[rio Sena]], quase a sublinhar o eixo do rio.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=399}}


[[File:P1040003 Paris II place des Victoires rwk.JPG|thumb|left|[[Praça das Vitórias]] , [[Paris]]]][[File:3851ParigiPlaceVendome.JPG|thumb|left|Palácios da [[Place Vendôme]]]]
[[Imagem:P1040003 Paris II place des Victoires rwk.JPG|thumb|left|[[Praça das Vitórias]], [[Paris]]]][[Imagem:3851ParigiPlaceVendome.JPG|thumb|left|Palácios da [[Place Vendôme]]]]


No início do século XVII, iniciou-se a construção da [[Place des Vosges]] (anteriormente conhecida como Place Royale), uma praça fechada em três lados e cercada por edifícios destinados a abrigar residências da classe burguesa; embora apresentem pórticos derivados da Piazza Grande de Livorno ,<ref>{{en}} D. Watkin, ''A History of Western Architecture'', 2005, p. 282.</ref> os edifícios, de desenho unitário, ainda apresentam um acentuado verticalismo gótico .<ref name="Schulz, p. 38">C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 38.</ref>
No início do século XVII, iniciou-se a construção da [[Place des Vosges]] (anteriormente conhecida como Place Royale), uma praça fechada em três lados e cercada por edifícios destinados a abrigar residências da classe burguesa; embora apresentem pórticos derivados da Piazza Grande de Livorno,<ref>{{en}} D. Watkin, ''A History of Western Architecture'', 2005, p. 282.</ref> os edifícios, de desenho unitário, ainda apresentam um acentuado verticalismo gótico .<ref name=norb38/>


Também a mando de Henrique IV, foi projetada mais uma praça, que no entanto não foi concluída devido à morte do rei; deveria ter tido um plano radial, o primeiro do género no planeamento urbano barroco, cujo modelo teve, no entanto, considerável sucesso nas transformações subsequentes da cidade.<ref name="Schulz, p. 38"/>
Também a mando de Henrique IV, foi projetada mais uma praça, que no entanto não foi concluída devido à morte do rei; deveria ter tido um plano radial, o primeiro do género no planeamento urbano barroco, cujo modelo teve, no entanto, considerável sucesso nas transformações subsequentes da cidade.<ref name=norb38/>


Durante o reinado de [[Luís XIII]] as obras envolveram alguns bairros da cidade e em particular a [[Île St-Louis]] e o [[bairro Richelieu]]; Na definição de novos gostos arquitectónicos, foi notável o contributo de [[Salomon de Brosse]] ( [[1571]] - [[1626]] ) e [[François Mansart]] ( [[1598]] - [[1666]] ), criadores de uma linguagem clássica inovadora destinada a ter intenso sucesso também nos anos seguintes.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., pp. 183-184.</ref>
Durante o reinado de {{lknb|Luís|XIII|de França}} as obras envolveram alguns bairros da cidade e em particular a [[Île St-Louis]] e o [[bairro Richelieu]]; Na definição de novos gostos arquitectónicos, foi notável o contributo de [[Salomon de Brosse]] {{nwrap||1571|1626}} e [[François Mansart]] {{nwrap||1598|1666}}, criadores de uma linguagem clássica inovadora destinada a ter intenso sucesso também nos anos seguintes.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|pp=183-184}}


Na verdade , estas tendências encontraram a sua consagração definitiva sob Luís XIV , quando [[Jules Hardouin Mansart]] ( 1646-1708 ) criou a [[Place des Victoires ]], já não como um espaço fechado, mas como um centro dentro do sistema urbano .<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 44.</ref> Os edifícios ao longo da praça perderam o caráter ainda vagamente gótico das primeiras criações de Henrique IV; no perímetro da Place des Victoires surgiram edifícios de aspecto uniforme, com silhares no piso térreo e uma ordem gigante no piso superior.<ref name="De Fusco, p. 402">R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 402.</ref>
Na verdade, estas tendências encontraram a sua consagração definitiva sob Luís&nbsp;XIV, quando [[Jules Hardouin Mansart]] {{nwrap||1646|1708}} criou a [[Place des Victoires ]], já não como um espaço fechado, mas como um centro dentro do sistema urbano.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=44}} Os edifícios ao longo da praça perderam o caráter ainda vagamente gótico das primeiras criações de Henrique&nbsp;IV; no perímetro da Place des Victoires surgiram edifícios de aspecto uniforme, com silhares no piso térreo e uma ordem gigante no piso superior.<ref name=fu402/>


Este traçado também pode ser encontrado na segunda praça construída durante o reinado de Luís XIV, novamente desenhada por Hardouin Mansart: a [[Place Vendôme]] . O primeiro projecto, datado de [[1685]] , previa a formação de um espaço delimitado por importantes edifícios representativos, mas o plano foi posteriormente desconsiderado. Curiosamente, por volta de [[1696]] o perímetro da praça era traçado utilizando apenas as fachadas dos edifícios: os próprios edifícios foram erguidos posteriormente, com a venda de lotes individuais. A praça assumiu formato retangular, com cantos arredondados para aumentar a superfície do edifício; Nas esquinas e no centro das laterais compridas dos edifícios foram criadas saliências , cuja presença foi sublinhada por meio de frontões clássicos .<ref name="De Fusco, p. 402"/>
Este traçado também pode ser encontrado na segunda praça construída durante o reinado de Luís&nbsp;XIV, novamente desenhada por Hardouin Mansart: a [[Place Vendôme]]. O primeiro projecto, datado de 1685, previa a formação de um espaço delimitado por importantes edifícios representativos, mas o plano foi posteriormente desconsiderado. Curiosamente, por volta de 1696 o perímetro da praça era traçado utilizando apenas as fachadas dos edifícios: os próprios edifícios foram erguidos posteriormente, com a venda de lotes individuais. A praça assumiu formato retangular, com cantos arredondados para aumentar a superfície do edifício; Nas esquinas e no centro das laterais compridas dos edifícios foram criadas saliências, cuja presença foi sublinhada por meio de frontões clássicos.<ref name=fu402/>


O Barroco das transformações parisienses reside, portanto, numa ''forte aspiração à integração, à continuidade e à abertura. Enquanto Roma é a típica cidade santa do Barroco, Paris é a sua contraparte secular'' .<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 45.</ref> Não é por acaso que a arquitetura francesa do século XVII encontrou seus maiores resultados em residências urbanas e evocativos castelos rurais.<ref>R. De Fusco, ''Mille anni d'architettura in Europa'', cit., p. 393.</ref>
O barroco das transformações parisienses reside, portanto, numa ''forte aspiração à integração, à continuidade e à abertura. Enquanto Roma é a típica cidade santa do barroco, Paris é a sua contraparte secular''.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=45}} Não é por acaso que a arquitetura francesa do {{séc|XVII}} encontrou seus maiores resultados em residências urbanas e evocativos castelos rurais.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=393}}


[[File:Église du Val-de-Grâce - Paris - View from Rue Saint-Jacques.jpg|thumb|[[Igreja de Val-de-Grâce]]]]
[[Imagem:Église du Val-de-Grâce - Paris - View from Rue Saint-Jacques.jpg|thumb|[[Igreja de Val-de-Grâce]]]]


De qualquer forma, foram produzidas obras de indubitável originalidade mesmo na arquitetura sacra. Em 1616 Salomon De Brosse ergueu a fachada altiva da [[igreja de Saint-Gervais-Saint-Protais]] de Paris , recorrendo ainda à tradicional sobreposição das ordens clássicas. De Brosse baseou-se no [[Arquitetura gótica|verticalismo gótico]], mas com a profundidade que deriva do barroco, lançando as bases da arquitetura francesa do século XVII.<ref name="C. Norberg - Schulz, Architettura Barocca, p. 183"/>
De qualquer forma, foram produzidas obras de indubitável originalidade mesmo na arquitetura sacra. Em 1616 Salomon De Brosse ergueu a fachada altiva da [[igreja de Saint-Gervais-Saint-Protais]] de Paris, recorrendo ainda à tradicional sobreposição das ordens clássicas. De Brosse baseou-se no [[Arquitetura gótica|verticalismo gótico]], mas com a profundidade que deriva do barroco, lançando as bases da arquitetura francesa do {{séc|XVII}}.<ref name=norb183/>


Mais tarde, na década de 1730 , François Mansart construiu a [[igreja da Visitação]] de planta central e capelas elípticas colocadas próximas do espaço circular principal de modo a com ele se interpenetrar.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', p. 66.</ref>
Mais tarde, na década de 1730, François Mansart construiu a [[igreja da Visitação]] de planta central e capelas elípticas colocadas próximas do espaço circular principal de modo a com ele se interpenetrar.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=66}}


No mesmo período, Jacques Lemercier ( 1585-1654 ) construiu a igreja da Sorbonne , baseada no modelo de San Carlo ai Catinari em Roma. O traçado remonta a uma [[cruz grega]] alongada , com capelas laterais voltadas para a nave através de duas aberturas cada, conferindo ao edifício as características de uma igreja basílica .<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 86.</ref>
No mesmo período, [[Jacques Lemercier]] {{nwrap||1585|1654}} construiu a {{ilc|nl=s|capela da Sorbonne}}, baseada no modelo da [[igreja de São Carlos em Catinari]] em Roma. O traçado remonta a uma [[cruz grega]] alongada, com capelas laterais voltadas para a nave através de duas aberturas cada, conferindo ao edifício as características de uma igreja [[basílica]].{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=86}}
[[File:Cathédrale Saint-Louis-des-Invalides, 140309 2.jpg|thumb|left|[[Hotel dos Inválidos]]]]


[[Imagem:Cathédrale Saint-Louis-des-Invalides, 140309 2.jpg|thumb|uprightleft|[[Hôtel des Invalides|Palácio dos Inválidos]]]]
Entre as igrejas de planta longitudinal é importante recordar a de [[Val-de-Grâce]] , obra de François Mansart ( 1645 ). Tal como nas igrejas romanas, a planta está dividida em três tramos que terminam na [[cúpula]] ; nos pilares que sustentam a cúpula existem quatro capelas que, no entanto, não se abrem ao longo da nave, mas diretamente para a cúpula, reforçando a sua centralidade.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit. p. 74.</ref>


Entre as igrejas de planta longitudinal é importante recordar a de [[Val-de-Grâce]], obra de François Mansart ( 1645 ). Tal como nas igrejas romanas, a planta está dividida em três tramos que terminam na [[cúpula]] ; nos pilares que sustentam a cúpula existem quatro capelas que, no entanto, não se abrem ao longo da nave, mas diretamente para a cúpula, reforçando a sua centralidade.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=}}
Posteriormente, nas últimas décadas do século XVII, Jules Hardouin Mansart projetou a [[Dôme des Invalides]] , a mais importante igreja francesa de planta centralizada do período.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 78.</ref> O edifício apresenta várias analogias com a [[igreja Salute]] em Veneza : ambas, apesar das diferenças formais na planta (um quadrado no caso da [[igreja Invalidi]] e um octógono em [[Santa Maria della Salute]]), mostram a adição de uma traseira corpo equipado com uma segunda cúpula. Mansart inspirou-se no projeto de São Pedro de Miguel Ângelo , mas, além de estender o braço em direção ao [[presbitério]] , criou passagens diagonais entre o [[deambulatório]] e o centro da igreja. No exterior, tudo estava escondido com superfícies muito simples e a fachada era adornada com duas ordens de colunas clássicas livremente espaçadas. A cúpula, caracterizada por robustos contrafortes ao longo do tambor , termina numa torre alta com verticalismo gótico. No interior, a estrutura da mesma cúpula é composta por três tampas sobrepostas: uma externa revestida de chumbo, uma intermediária com [[afresco]]s e uma terceira equipada com um grande óculo para permitir a visualização das pinturas acima. <ref name="Fusco, p. 376"/>


Posteriormente, nas últimas décadas do {{séc|XVII}}, Jules Hardouin Mansart projetou a [[Dôme des Invalides]], a mais importante igreja francesa de planta centralizada do período.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=78}} O edifício apresenta várias analogias com a [[igreja Salute]] em Veneza : ambas, apesar das diferenças formais na planta (um quadrado no caso da [[igreja Invalidi]] e um octógono em [[Santa Maria della Salute]]), mostram a adição de uma traseira corpo equipado com uma segunda cúpula. Mansart inspirou-se no projeto de São Pedro de Miguel Ângelo, mas, além de estender o braço em direção ao [[presbitério]], criou passagens diagonais entre o [[deambulatório]] e o centro da igreja. No exterior, tudo estava escondido com superfícies muito simples e a fachada era adornada com duas ordens de colunas clássicas livremente espaçadas. A cúpula, caracterizada por robustos contrafortes ao longo do tambor, termina numa torre alta com verticalismo gótico. No interior, a estrutura da mesma cúpula é composta por três tampas sobrepostas: uma externa revestida de chumbo, uma intermediária com [[afresco|frescos]] e uma terceira equipada com um grande óculo para permitir a visualização das pinturas acima.<ref name=fu376/>
[[File:Rennes - Parlement de Bretagne - 20080706.jpg|thumb|[[Palácio do Parlamento da Bretanha]] em [[Rennes]]]]
[[File:Château de Maisons-Laffitte 001.jpg|thumb|[[Castelo Maisons-Laffitte]]]]


[[Imagem:Rennes - Parlement de Bretagne - 20080706.jpg|thumb|[[Palácio do Parlamento da Bretanha]] em [[Rennes]]]]
Na tipologia dos castelos e palácios, o ponto de partida da arquitetura barroca está nas obras do já citado [[Salomon de Brosse]], que nas primeiras décadas do século XVII construiu algumas residências importantes, entre as quais o [[Palácio de Luxemburgo]] em Paris ( 1617 ). O edifício foi construído por ordem de [[Maria de' Medici]] e na sua planta não difere da tipologia do hotel francês , mas a disposição dos apartamentos completos nas alas laterais determinou uma melhoria no conceito de conforto face aos modelos do passado.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., pp. 161-164.</ref>
[[Imagem:Château de Maisons-Laffitte 001.jpg|thumb|[[Castelo Maisons-Laffitte]]]]


Na tipologia dos castelos e palácios, o ponto de partida da arquitetura barroca está nas obras do já citado [[Salomon de Brosse]], que nas primeiras décadas do {{séc|XVII}} construiu algumas residências importantes, entre as quais o [[Palácio do Luxemburgo]] em Paris ( 1617 ). O edifício foi construído por ordem de [[Maria de' Medici]] e na sua planta não difere da tipologia do hotel francês, mas a disposição dos apartamentos completos nas alas laterais determinou uma melhoria no conceito de conforto face aos modelos do passado.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|pp=161-164}}
No entanto, a primeira verdadeira obra do classicismo francês encontra-se na fachada do [[Palácio da Justiça de Rennes]] (conhecido como Palácio do Parlamento da Bretanha ), também construído por [[Salomon de Brosse]] em 1618 . Aqui as alas laterais assumem menor importância, enquanto o centro da fachada é sublinhado por dois pares de colunas emparelhadas sobre as quais assenta um frontão redondo.<ref name="Schulz, p. 164"/>


No entanto, a primeira verdadeira obra do classicismo francês encontra-se na fachada do [[Palácio da Justiça de Rennes]] (conhecido como Palácio do Parlamento da Bretanha), também construído por [[Salomon de Brosse]] em 1618. Aqui as alas laterais assumem menor importância, enquanto o centro da fachada é sublinhado por dois pares de colunas emparelhadas sobre as quais assenta um frontão redondo.<ref name=norb164/>
A arquitetura de De Brosse influenciou o trabalho de François Mansart; em sua ala de [[Orléans do Château de Blois]] ( 1635-1638 ) ele projetou um pátio de honra de profundidade limitada, conectando as alas ao edifício principal por meio de elementos curvos.<ref name="Dizionario voce Mansart François">N. Pevsner, J. Fleming, H. Honour, ''Dizionario di architettura'', cit., voce ''Mansart, François''.</ref> A principal obra de Mansart continua sendo a casa de campo de [[Castelo de Maisons-Laffitte|Maisons-Laffitte]] .<ref name="Dizionario voce Mansart François"/> Em planta tem forma rectangular, fechada nas laterais por duas alas pouco pronunciadas que na parte posterior do edifício se reduzem a simples saliências; em elevação, a parte central é sublinhada por um frontispício em três pisos, que retoma o tema das ordens sobrepostas (já presente em algumas criações de de Brosse) e confere ao complexo um dinamismo vertical ainda atribuível ao estilo gótico, mas equilibrado por a presença de elementos clássicos.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 165.</ref>
[[File:Le chateau de Vaux le Vicomte.jpg|thumb|left|[[Castelo de Vaux-le-Vicomte|Vaux-le-Vicomte]]]]


A arquitetura de De Brosse influenciou o trabalho de François Mansart; na sua ala de Gastão de Orleães do [[Castelo de Blois]] {{nwrap||1635|1638}} ele projetou um pátio de honra de profundidade limitada, conectando as alas ao edifício principal por meio de elementos curvos. A principal obra de Mansart continua sendo o [[Castelo de Maisons-Laffitte]].<ref name=dizMans/> Em planta tem forma rectangular, fechada nas laterais por duas alas pouco pronunciadas que na parte posterior do edifício se reduzem a simples saliências; em elevação, a parte central é sublinhada por um frontispício em três pisos, que retoma o tema das ordens sobrepostas (já presente em algumas criações de de Brosse) e confere ao complexo um dinamismo vertical ainda atribuível ao estilo gótico, mas equilibrado por a presença de elementos clássicos.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=165}}
O outro grande protagonista da época barroca na França foi Louis Le Vau ( 1612-1670 ), autor do Castelo de Vaux-le-Vicomte , o edifício francês mais importante de meados do século XVII.<ref>N. Pevsner, ''Storia dell'architettura europea'', cit., p. 203.</ref> O castelo, construído entre 1657 e 1661 , está imerso num grandioso parque desenhado por [[André Le Nôtre]] ( 1613 - 1700 ) e ergue-se no centro de um sugestivo fosso. No exterior emergem claramente as conformações dos ambientes internos e em particular é evidente o volume do grande salão elíptico coberto por uma cúpula; além disso, as alas laterais perdem a autonomia e passam a fazer parte integrante do corpo principal do palácio. A importância de [[Vaux-le-Vicomte]] reside não só na composição espacial, mas também na organização dos espaços interiores em apartamentos independentes ( apartamento duplo ). De facto, até então, as divisões dos prestigiados complexos residenciais estavam ligadas entre si directamente ou através de um corredor lateral com função de corredor; em [[Vaux-le-Vicomte]] os apartamentos foram dispostos de forma mais funcional em torno do corpo central do edifício.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 169.</ref>
[[File:Plan de Versailles - Gesamtplan von Delagrife 1746.jpg|thumb|[[Reggia de Versalhes|Reggia]] e jardins de [[Versalhes]]]]


[[Imagem:Le chateau de Vaux le Vicomte.jpg|thumb|left|[[Castelo de Vaux-le-Vicomte|Vaux-le-Vicomte]]]]
Diretamente ligado a Vaux-Le-Vicomte está o [[Palácio de Versalhes]] , encomendado por Luís XIV a Le Vau, Le Nôtre e [[Charles Le Brun]] ( 1619-1690 ). As obras começaram em 1664 com a renovação e ampliação de um pavilhão de caça pré-existente encomendado por Luís XIII; o Palácio assumiu a forma de U e em 1668 foi ainda ampliado com a adição de duas alas que acentuaram a profundidade do cour d'honneur . Dez anos depois, Hardouin Mansart construiu dois blocos colocados transversalmente às alas e fechou o terraço do corpo central do palácio com a [[Galerie des Glaces]] (Galeria dos Espelhos); O próprio Mansart também foi o responsável pelo projeto da capela, iniciada em 1689 e concluída apenas em 1710 , na qual se misturam elementos barrocos, clássicos e góticos. A monumentalidade do complexo é sublinhada por uma praça voltada para a cidade de [[Versalhes]] , na qual converge um tridente de ruas voltadas para Paris; na frente oposta existe um vasto parque que, com as suas avenidas ortogonais e radiais, as suas fontes e as suas bacias cruciformes, faz do Palácio o ponto focal simbólico de toda a nação.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., pp. 172-173.</ref>


O outro grande protagonista da época barroca na França foi Louis Le Vau ( 1612-1670 ), autor do Castelo de Vaux-le-Vicomte, o edifício francês mais importante de meados do {{séc|XVII}}.{{sfn|Pevsner|1998|p=203}} O castelo, construído entre 1657 e 1661, está imerso num grandioso parque desenhado por [[André Le Nôtre]] {{nwrap||1613|1700}} e ergue-se no centro de um sugestivo fosso. No exterior emergem claramente as conformações dos ambientes internos e em particular é evidente o volume do grande salão elíptico coberto por uma cúpula; além disso, as alas laterais perdem a autonomia e passam a fazer parte integrante do corpo principal do palácio. A importância de [[Vaux-le-Vicomte]] reside não só na composição espacial, mas também na organização dos espaços interiores em apartamentos independentes (apartamento duplo). De facto, até então, as divisões dos prestigiados complexos residenciais estavam ligadas entre si directamente ou através de um corredor lateral com função de corredor; em [[Vaux-le-Vicomte]] os apartamentos foram dispostos de forma mais funcional em torno do corpo central do edifício.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=169}}
O classicismo francês atingiu o seu apogeu na fachada do Louvre de [[Claude Perrault]] (1613-1688 ) , construída após a rejeição de um projecto proposto por [[Gian Lorenzo Bernini]]. O projeto de Perrault fechou a fachada leste do Louvre com uma longa galeria de colunas emparelhadas sustentadas por uma base maciça e delimitada no topo por um [[entablamento]] com [[balaustrada]] .<ref name="Schulz, p. 186">C. Norberg - Schulz, ''Architettura Barocca'', cit., p. 186.</ref>

[[Imagem:Plan de Versailles - Gesamtplan von Delagrife 1746.jpg|thumb|[[Reggia de Versalhes|Reggia]] e jardins de [[Versalhes]]]]

Diretamente ligado a Vaux-Le-Vicomte está o [[Palácio de Versalhes]], encomendado por Luís XIV a Le Vau, Le Nôtre e [[Charles Le Brun]] {{nwrap||1619|1690}}. As obras começaram em 1664 com a renovação e ampliação de um pavilhão de caça preexistente encomendado por {{lknb|Luís|XIII|de França}}; o palácio assumiu a forma de U e em 1668 foi ainda ampliado com a adição de duas alas que acentuaram a profundidade do ''cour d'honneur''. Dez anos depois, Hardouin Mansart construiu dois blocos colocados transversalmente às alas e fechou o terraço do corpo central do palácio com a [[Galerie des Glaces]] (Galeria dos Espelhos); O próprio Mansart também foi o responsável pelo projeto da capela, iniciada em 1689 e concluída apenas em 1710, na qual se misturam elementos barrocos, clássicos e góticos. A monumentalidade do complexo é sublinhada por uma praça voltada para a cidade de [[Versalhes]], na qual converge um tridente de ruas voltadas para Paris; na frente oposta existe um vasto parque que, com as suas avenidas ortogonais e radiais, as suas fontes e as suas bacias cruciformes, faz do Palácio o ponto focal simbólico de toda a nação.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|pp=172-173}}

O classicismo francês atingiu o seu apogeu na fachada do [[Louvre]] de [[Claude Perrault]] {{nwrap||1613|1688}}, construída após a rejeição de um projecto proposto por [[Gian Lorenzo Bernini]]. O projeto de Perrault fechou a fachada leste do Louvre com uma longa galeria de colunas emparelhadas sustentadas por uma base maciça e delimitada no topo por um [[entablamento]] com [[balaustrada]].<ref name=norb186/>


===Inglaterra===
===Inglaterra===
[[Imagem:St_Pauls_Cathedral_from_West_-_Feb_2007.jpg|thumb|left|[[Catedral de São Paulo (Londres)|Catedral de São Paulo]], Londres]]
{{VT|Barroco Inglês}}
[[Arquivo:St_Pauls_Cathedral_from_West_-_Feb_2007.jpg|thumb|left|[[Catedral de São Paulo (Londres)|Catedral de São Paulo]], Londres]]


Até ao início do [[século XVII]], a arquitectura inglesa esteve longe das tendências desenvolvidas no resto da Europa.<ref name="Schulz, p. 187">C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 187.</ref>
Até ao início do {{séc|XVII}}, a arquitectura inglesa esteve longe das tendências desenvolvidas no resto da Europa.<ref name=norb187/> Por volta de 1616, [[Inigo Jones]] {{nwrap||1573|1652}} introduziu o [[palladianismo|estilo palladiano]] na [[Inglaterra]], que viria a ter enorme sucesso no [[canal da Mancha]] e nas [[história dos Estados Unidos da América (período colonial)|colónias americanas]]: entre as suas primeiras obras lembramos a [[Queen's House]] em [[Greenwich]], um edifício com uma aparência italiana, mas equipada com inúmeras aberturas ao estilo nórdico.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=190}}
Por volta de [[1616]], [[Inigo Jones]] ([[1573]]-[[1652]]) introduziu o estilo [[palladianismo|palladiano]] na [[Inglaterra]], que viria a ter enorme sucesso no [[Canal da Mancha]] e nas [[história dos Estados Unidos da América (período colonial)|colónias americanas]]: entre as suas primeiras obras lembramos a [[Queen's House]] em [[Greenwich]], um edifício com uma aparência italiana, mas equipada com inúmeras aberturas ao estilo nórdico.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 190.</ref>


Na segunda metade do século, graças a uma forte imigração de [[Protestantismo|Protestantes]] [[França|Franceses]], a arquitetura inglesa voltou-se para o gosto barroco.<ref name="De Fusco, 338"/>
Na segunda metade do século, graças a uma forte imigração de [[Protestantismo|protestantes]] [[franceses]], a arquitetura inglesa voltou-se para o gosto barroco.<ref name=fu338/>


A figura mais importante da última fase do século XVII foi [[Christopher Wren]] ([[1632]]-[[1723]]),<ref>C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 191.</ref> protagonista da reconstrução de [[Londres]] após o incêndio de [[1666]].
A figura mais importante da última fase do {{séc|XVII}} foi [[Christopher Wren]] {{nwrap||1632|1723}},<ref name=norb191/> protagonista da reconstrução de [[Londres]] após o [[Grande incêndio de Londres|incêndio de 1666]]. Em particular, em 1673 apresentou um primeiro projecto de reconstrução da [[Catedral de São Paulo (Londres)|Catedral de São Paulo]], baseado numa planta de [[cruz grega]] evidentemente influenciado pelos desenhos de [[Miguel Ângelo Buonarroti]] para a [[Basílica de São Pedro no Vaticano]], mas que tinha capelas laterais abertas nas diagonais diretamente em direção à [[cúpula]].
O clero da [[Igreja Anglicana]] rejeitou a proposta e Wren foi forçado a fazer mudanças significativas no projeto, fazendo com que o complexo assumisse forma [[basílica|basilical]].<ref name=norb192x/> O elemento mais barroco da catedral passou a ser a fachada principal, revestida por duas ordens de colunas de origem francesa e ladeada por duas torres sineiras inspiradas no estilo de [[Francesco Borromini|Borromini]]. No cruzamento da [[nave]] com o [[transepto]] ergue-se uma grande [[Cúpula da Catedral de São Paulo|cúpula]], definida como "uma expressão bastante banal dos ideais da arquitetura inglesa";<ref name=norb194/> visto do exterior parece decididamente clássico, enquanto no interior é estruturado com uma série artificial de [[calota]]s sobrepostas típicas da arquitetura barroca.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=378}}
Em particular, em [[1673]] apresentou um primeiro projecto de reconstrução da [[Catedral de São Paulo (Londres)|Catedral de São Paulo]], baseado numa planta de [[cruz grega]] evidentemente influenciado pelos desenhos de [[Miguel Ângelo Buonarroti]] para a [[Basílica de São Pedro no Vaticano]], mas que tinha capelas laterais abertas nas diagonais diretamente em direção à [[cúpula]].
O clero da [[Igreja Anglicana]] rejeitou a proposta e Wren foi forçado a fazer mudanças significativas no projeto, fazendo com que o complexo assumisse uma forma de [[basílica (arquitetura cristã)|basílica]].<ref>C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., pp. 192-194.</ref>
O elemento mais barroco da catedral passou a ser a fachada principal, revestida por duas ordens de colunas de origem francesa e ladeada por duas torres sineiras inspiradas no estilo de [[Francesco Borromini|Borromini]]. No cruzamento da [[nave]] com o [[transepto]] ergue-se uma grande [[Cúpula da Catedral de São Paulo|cúpula]], definida como "uma expressão bastante banal dos ideais da arquitetura inglesa";<ref name="Schulz, p. 194">C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 194.</ref> visto do exterior parece decididamente clássico, enquanto no interior é estruturado com uma série artificial de [[calota]]s sobrepostas típicas da arquitetura barroca.<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., p. 378.</ref>


[[Arquivo:Greenwich Hospital from Thames.jpg|thumb|[[Royal Naval College|Greenwich Hospital]]]]
[[Imagem:Greenwich Hospital from Thames.jpg|thumb|[[Royal Naval College|Greenwich Hospital]]]]


Entre outras obras de Christopher Wren lembramos o [[Royal Naval College|Greenwich Hospital]], construído no final do século XVII perto da Queen's House de Inigo Jones. A própria Casa da Rainha tornou-se o ponto conclusivo de um eixo definido por longas colunatas encimadas por duas cúpulas espelhadas. O tema das colunas gêmeas, que na época tinha grande destaque na fachada do [[Museu do Louvre]] de [[Claude Perrault|Perrault]], foi proposto em todas as partes do edifício e até nas cúpulas, apesar de vagamente inspirada na da [[Hôtel des Invalides|igreja dos Inválidos]], de [[Jules Hardouin Mansart]].<ref name="Schulz, p. 194"/>
Entre outras obras de Christopher Wren lembramos o [[Royal Naval College|Greenwich Hospital]], construído no final do {{séc|XVII}} perto da Queen's House de Inigo Jones. A própria Casa da Rainha tornou-se o ponto conclusivo de um eixo definido por longas colunatas encimadas por duas cúpulas espelhadas. O tema das colunas gêmeas, que na época tinha grande destaque na fachada do [[Museu do Louvre]] de [[Claude Perrault|Perrault]], foi proposto em todas as partes do edifício e até nas cúpulas, apesar de vagamente inspirada na da [[Hôtel des Invalides|igreja dos Inválidos]], de [[Jules Hardouin Mansart]].<ref name=norb194/>


Por sua vez, a arquitetura civil foi condicionada por [[Roger Pratt (arquiteto)|Roger Pratt]] ([[1620]]-[[1684]]), que importou o {{'}}''appartement double' da França ' e o ''cour d'honneur'',<ref>C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., pp. 194-195.</ref> não se distanciando contudo da arquitetura de Inigo Jones. Outra figura notável foi [[Hugh May]] (1621-1684), que introduziu os temas do classicismo holandês e trabalhou no [[Castelo de Windsor]], criando algumas das mais interessantes decorações barrocas do Norte da Europa (hoje perdidas).<ref> N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitetura'', cit., entrada ''May, Hugh''.</ref>
Por sua vez, a arquitetura civil foi condicionada por [[Roger Pratt (arquiteto)|Roger Pratt]] {{nwrap||1620|1684}}, que importou o ''appartement double'' da França e o ''cour d'honneur'',<ref name=norb194x/> não se distanciando contudo da arquitetura de Inigo Jones. Outra figura notável foi [[Hugh May]] (1621-1684), que introduziu os temas do classicismo holandês e trabalhou no [[Castelo de Windsor]], criando algumas das mais interessantes decorações barrocas do Norte da Europa (hoje perdidas).{{sfn|Pevsner|Fleming|Honour|1981|loc=cap.&nbsp;«May, Hugh»}}


===Flandres===
===Flandres===
O Barroco no condado de Flandres foi introduzido pelos [[Jesuíta]]s, visando contrariar a [[Reforma Protestante]] que já havia conquistado as [[Dezessete Províncias]] . Os primeiros jesuítas chegaram diretamente de Paris a [[Lovaina]] em [[1542]] , apenas dois anos após a fundação da ordem, e construíram uma residência para estudantes da universidade católica da cidade. Mais tarde espalharam-se pela região e em 1562 chegaram a [[Antuérpia]] , onde em 1574 fundaram um pequeno colégio. Logo ganharam importância, tanto que, a partir de um projeto dos jesuítas [[Pieter Huyssens]] e [[François d'Aguilon]] , entre 1615 e 1621, construíram a [[igreja de San Carlo Borromeo]] , uma das primeiras igrejas da Flandres onde a influência barroca pode ser encontrada,<ref name="treccani.it">{{citar web|autor=www.treccani.it|url=http://www.treccani.it/enciclopedia/arte-barocca_(Enciclopedia-Italiana)|título=Arte barocca|acessodata=2 de novembro de 2012}}</ref> embora com referências claras ao [[Maneirismo]].<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honour, ''Dizionario di architettura'', cit., voce ''Belgio''.</ref>
O barroco no [[Condado da Flandres]] foi introduzido pelos [[jesuítas]], visando contrariar a [[Reforma Protestante]] que já havia conquistado as [[Dezessete Províncias]] . Os primeiros jesuítas chegaram diretamente de Paris a [[Lovaina]] em 1542, apenas dois anos após a fundação da ordem, e construíram uma residência para estudantes da universidade católica da cidade. Mais tarde espalharam-se pela região e em 1562 chegaram a [[Antuérpia]], onde em 1574 fundaram um pequeno colégio. Logo ganharam importância, tanto que, a partir de um projeto dos jesuítas [[Pieter Huyssens]] e [[François d'Aguilon]], entre 1615 e 1621, construíram a [[igreja de San Carlo Borromeo]], uma das primeiras igrejas da Flandres onde a influência barroca pode ser encontrada,<ref name=trec>{{citar web|obra=www.treccani.it|url=http://www.treccani.it/enciclopedia/arte-barocca_(Enciclopedia-Italiana)|título=Arte barocca|acessodata=2 de novembro de 2012}}</ref> embora com referências claras ao [[Maneirismo]].{{sfn|Pevsner|Fleming|Honour|1981|loc=cap.&nbsp;«Belgio»}}


[[File:Bruxelles, Église Saint-Jean-Baptiste au Béguinage.jpg|thumb|[[Igreja de San Giovanni Battista al Beghinaggio]] , [[Bruxelas]]]]
[[Imagem:Bruxelles, Église Saint-Jean-Baptiste au Béguinage.jpg|upright|thumb|{{ilc|nl=s|Igreja de São João Batista no Béguinage||Igreja de São João Batista (Bruxelas)}}, [[Bruxelas]]]]


Deste trabalho, outros logo se seguiram; em [[Gante]] a ordem reconstruiu a antiga [[Abadia de São Pedro]] a partir de 1629, enquanto em [[Louvain]] decidiram em 1650 construir uma igreja para o novo colégio, a [[igreja paroquial de São Miguel]] , na qual o estilo barroco se manifestou ainda mais explicitamente.<ref name="treccani.it"/>
Deste trabalho, outros logo se seguiram; em [[Gante]] a ordem reconstruiu a antiga [[Abadia de São Pedro]] a partir de 1629, enquanto em [[Lovaina]] decidiram em 1650 construir uma igreja para o novo colégio, a [[igreja paroquial de São Miguel]], na qual o estilo barroco se manifestou ainda mais explicitamente.<ref name=trec/>


O barroco começou a espandir-se por todas as outras cidades, misturando-se à forte vocação [[arquitetura gótica|gótica]] da região voltada para o verticalismo. De facto, os edifícios, embora apresentem características provenientes da [[igreja de Gesù]] de Roma, adoptaram formas alongadas e mantiveram uma certa bicolor dada pelos materiais de construção, como [[arenito]] e tijolos. Ao mesmo tempo, [[Lucas Faydherbe]] , discípulo de [[Pieter Paul Rubens]] , cuja obra foi de grande inspiração para a arquitetura barroca da região, estabeleceu-se em [[Malines]] ; foi o autor da [[igreja de Nossa Senhora de Hanswijk]] , bem como das igrejas de [[igreja da Nossa Senhora da Clarisse|Clarisse]] e de [[igreja de San Giovanni Battista al Beghinaggio|San Giovanni al Beguinaggio]] em Bruxelas .<ref>''Topocronologia dell'architettura europea: luoghi, autori, opere dal XV al XX secolo'', 1999, p. 344.</ref>
O barroco começou a difundir-se por todas as outras cidades, combinando a forte tendência [[arquitetura gótica|gótica]] da região voltada para o [[verticalismo]]. De facto, os edifícios, embora apresentem características provenientes da [[igreja de Gesù]] de Roma, adotaram formas alongadas e receberam uma certa bicromia a partir dos materiais de construção, como o [[arenito]] e os tijolos. Ao mesmo tempo, [[Lucas Faydherbe]], discípulo de [[Pieter Paul Rubens]], cuja obra foi de grande inspiração para a arquitetura barroca da região, estabeleceu-se em [[Mechelen|Malinas]]; foi o autor da [[igreja de Nossa Senhora de Hanswijk]], bem como das igrejas de {{ilc|nl=s|Nossa Senhora das Clarissas|Igreja de Nossa Senhora das Ricas-Clarissas|Igreja de Nossa Senhora das Clarissas}} e de {{ilc|nl=s|São João Batista no Béguinage|Igreja de São João Batista no Béguinage|Igreja de São João Batista (Bruxelas)}} em Bruxelas.{{harvy|f99b|Fusco|1999b|p=344}}


===Países baixos===
===Países Baixos===
[[Arquivo:Koninklijk Paleis Amsterdam.jpg|thumb|left|[[Palácio Real (Amsterdã)|Câmara Municipal]], Amsterdã]]
[[Imagem:Koninklijk Paleis Amsterdam.jpg|thumb|left|[[Palácio Real de Amesterdão]]]]


O barroco holandês foi influenciado pela sobriedade [[Calvinismo|Calvinista]] e desenvolveu-se sobretudo entre [[1648]], com a [[Paz de Vestfália]], e em [[1685]], ano em que numerosos [[huguenotes]] se refugiram na Holanda, importando gostos e tendências francesas que efetivamente puseram fim à expressão autónoma do barroco local.<ref name="De Fusco, 338"/>
O barroco holandês foi influenciado pela sobriedade [[Calvinismo|calvinista]] e desenvolveu-se sobretudo entre 1648, com a [[Paz de Vestfália]], e em 1685, ano em que numerosos [[huguenotes]] se refugiram na Holanda, importando gostos e tendências francesas que efetivamente puseram fim à expressão autónoma do barroco local.<ref name=fu338/>


Precisamente em 1648, com a independência da [[República das Sete Províncias Unidas]], a [[Palácio Real (Amesterdão)|Câmara Municipal]] de [[Amesterdão]], um vasto edifício com carácter severo, com [[Fachada|fachadas]] caracterizadas por janelas enquadradas por uma série de pilares que unificam toda a fachada.<ref name="C. Norberg - Schulz Baroque Architecture p. 195">C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 195.</ref>
Precisamente em 1648, com a independência da [[República das Sete Províncias Unidas]], foi iniciada a construção da [[Palácio Real de Amesterdão|Câmara Municipal]] de [[Amesterdão]], um vasto edifício com carácter severo, com [[fachada]]s caracterizadas por janelas enquadradas por uma série de pilares que unificam toda a fachada.<ref name=norb195/>


A arquitetura civil também foi influenciada por um classicismo derivado do estilo de [[Andrea Palladio]], encontrado por exemplo no [[Mauritshuis]] de [[Jacob van Campen]] ([[1596]]-[[1657]] ).<ref>Não. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitetura'', cit., capítulo ''Campen, Jacob van''.</ref> Na esteira de Van Campen, o trabalho de [[Pieter Post] ] ([[1608]]-[[1669]]), cuja construção principal é a [[Câmara Municipal de Maastricht]] ([[1659]]-[[1664]]).<ref name="C . Norberg - Arquitetura Barroca Schulz p. 195"/>
A arquitetura civil também foi influenciada por um classicismo derivado do estilo de [[Andrea Palladio]], encontrado por exemplo na ''[[Mauritshuis|Casa de Maurício]]'' de [[Jacob van Campen]] {{nwrap||1596|1657}}.<ref name=dicCamp/> Na esteira de Van Campen, o trabalho de [[Pieter Post]] {{nwrap||1608|1669}}, cuja construção principal é a [[Câmara Municipal de Maastricht]] {{nwrap||1659|1664}}.<ref name=norb195/>


O desenvolvimento da arquitetura sagrada foi de grande importância. As primeiras igrejas, ligadas ao culto [[protestantista]], tinham uma planta da basílica bastante tradicional; algumas inovações ocorreram no [[Noorderkerk]] ​​​​([[1620]]-[[1623]]), um edifício em [[cruz grega]] com cantos arredondados, onde elementos da [[arquitetura gótica|arquitetura gótica]] também convergem.<ref name="C. Norberg - Schulz Baroque Architecture p. 195"/>
O desenvolvimento da arquitetura sagrada foi de grande importância. As primeiras igrejas, ligadas ao culto [[protestantista]], tinham uma planta da basílica bastante tradicional; algumas inovações ocorreram no [[Noorderkerk]] {{nwrap||1620|1623}}, um edifício em [[cruz grega]] com cantos arredondados, onde elementos da [[arquitetura gótica]] também convergem.<ref name=norb195/>


As plantas centralizadas são a base de muitas igrejas holandesas; entre as soluções mais interessantes e originais vale lembrar o [[Marekerk]] ​​​​de [[Leiden]], de formato octogonal, o [[Nieuwe Kerk (Haia)|Nieuwe Kerk]] ​​​​de [[O Haia]] ([[1649]]), formada por duas praças com [[Abside|absides]] e encimadas por uma torre sineira central, e finalmente a [[Ronde Lutherse Kerk]] ​​​​de Amsterdão ([[1668]]), de planta circular com um [[Ambulatório|ambulatório]] que se estende apenas por metade do perímetro.<ref name="C. Norberg - Schulz Baroque Architecture p. 196">C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 196.</ref>
As plantas centralizadas são a base de muitas igrejas holandesas; entre as soluções mais interessantes e originais vale lembrar o [[Marekerk]] de [[Leiden]], de formato octogonal, o [[Nieuwe Kerk (Haia)|Nieuwe Kerk]] de [[Haia]] (1649), formada por duas praças com [[abside]]s e encimadas por uma torre sineira central, e finalmente a [[Ronde Lutherse Kerk]] de Amsterdão (1668), de planta circular com um [[ambulatório]] que se estende apenas por metade do perímetro.<ref name=norb196/>


[[File:Kalmar cathedral Kalmar Sweden 001.JPG|thumb|[[Catedral de Kalmar]]]]
[[Imagem:Kalmar cathedral Kalmar Sweden 001.JPG|thumb|[[Catedral de Kalmar]]]]
[[File:Västra fasaden.JPG|thumb|[[Palácio Real em Estocolmo|Palácio Real]], Estocolmo]]
[[Imagem:Västra fasaden.JPG|thumb|[[Palácio Real em Estocolmo|Palácio Real]], Estocolmo]]


=== Norte da Europa ===
=== Norte da Europa ===
A arquitetura do [[Norte da Europa]] foi influenciada por uma combinação de tendências francesas, holandesas e italianas.<ref name="C. Norberg - Schulz Baroque Architecture p. 196"/>
A arquitetura do [[Norte da Europa]] foi influenciada por uma combinação de tendências francesas, holandesas e italianas.<ref name=norb196/>


Na [[Dinamarca]], algumas atividades de construção foram desenvolvidas sob o rei [[Christian IV da Dinamarca|Christian IV]], que estava ansioso para transformar [[Copenhaga]] numa verdadeira capital. A cidade foi significativamente ampliada com a construção de vários edifícios de estilo [[maneirista], como o [[Børsen|Edifício da Bolsa]]. Para a nova cidade o próprio soberano desenhou uma praça octogonal, que no entanto não foi construída. O seu sucessor não criou obras significativas no campo arquitetónico e somente em [[1672]] foi construído o [[Palácio de Charlottenborg]], o primeiro edifício de estilo barroco em [[Copenhaga]].<ref name="Schulz, 198 ">C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 198.</ref>
Na [[Dinamarca]], algumas atividades de construção foram desenvolvidas sob o rei {{lknb|Christian|IV|da Dinamarca}}, que estava ansioso para transformar [[Copenhaga]] numa verdadeira capital. A cidade foi significativamente ampliada com a construção de vários edifícios de estilo [[maneirista]], como o [[Børsen|Edifício da Bolsa]]. Para a nova cidade o próprio soberano desenhou uma praça octogonal, que no entanto não foi construída. O seu sucessor não criou obras significativas no campo arquitetónico e somente em 1672 foi construído o [[Palácio de Charlottenborg]], o primeiro edifício de estilo barroco em [[Copenhaga]].<ref name=norb198/>


==== Suécia ====
==== Suécia ====
A arquitetura dinamarquesa do início do século XVII também influenciou a produção do [[Império Sueco]], mas a nomeação do francês [[Jean de la Vallée]] ([[1620]]-[[1696]]) como arquiteto real favoreceu a afirmação do gosto barroco;<ref name="Schulz, 198"/> seguindo o modelo do palácio italiano, construiu o [[Palácio Axel Oxenstiernas]] em [[Estocolmo]] (após 1650) e em [[1656]] construiu a [[Igreja de Catarina]] e o [[Palácio Bonde]], este último caracterizado por um ''[[cour d'honneur]]'' e por uma articulação das superfícies derivada do estilo de [[Salomon de Brosse]].<ref name="Schulz, 198"/>
A arquitetura dinamarquesa do início do {{séc|XVII}} também influenciou a construção do [[Império Sueco]], mas a nomeação do francês [[Jean de la Vallée]] {{nwrap||1620|1696}} como arquiteto real favoreceu a afirmação do gosto barroco; seguindo o modelo do palácio italiano, construiu o [[Palácio Axel Oxenstiernas]] em [[Estocolmo]] (após 1650) e em 1656 construiu a [[Igreja de Catarina]] e o [[Palácio Bonde]], este último caracterizado por um ''[[cour d'honneur]]'' e por uma articulação das superfícies derivada do estilo de [[Salomon de Brosse]].<ref name=norb198/>


A partir de [[1649]], o cargo de arquiteto real foi ocupado por [[Nicodemus Tessin, o Velho]] (1615-[[1681]]), a quem devemos, por exemplo, a [[Catedral de Kalmar]] ([[1660]]), o Mausoléu Caroliniano na [[Igreja de Riddarholmen|Riddarholmskyrkan]] em Estocolmo (onde cantos convexos) e o [[Castelo de Drottningholm]].<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitetura'', cit., entrada ''Tessin the Elder, Nicodemus''.</ref>
A partir de 1649, o cargo de arquiteto real foi ocupado por [[Nicodemus Tessin, o Velho]] {{nwrap||1615|1681}}, a quem devemos, por exemplo, a [[Catedral de Kalmar]] (1660), o Mausoléu Caroliniano na [[Igreja de Riddarholmen|igreja de Riddarholmskyrkan]] em Estocolmo (onde existem cantos convexos) e o [[Castelo de Drottningholm]].{{sfn|Pevsner|Fleming|Honour|1981|loc=cap.&nbsp;«Tessin the Elder, Nicodemus»}}


O papel principal foi desempenhado pelo seu filho [[Nicodemos Tessin, o Jovem]], arquiteto formado em [[Roma]] e que visitou a [[França]] diversas vezes.<ref name="Schulz, 198"/> Essas experiências, inspiraram-no na criação do projeto do [[Palácio Real de Estocolmo]], reconstruído após [[1697]] após um incêndio. Tessin, atento aos desenhos de [[Gian Lorenzo Bernini]] para a ampliação do [[Museu do Louvre|Louvre]], construiu um bloco de aparência unitária; a poente foram colocados dois corpos curvilíneos para delimitar um pátio, enquanto a nascente foram inseridos dois blocos fortemente salientes.
O papel principal foi desempenhado pelo seu filho [[Nicodemus Tessin|Nicodemos Tessin, o Jovem]], arquiteto formado em [[Roma]] e que visitou a [[França]] diversas vezes.<ref name=norb198/> Essas experiências, inspiraram-no na criação do projeto do [[Palácio Real de Estocolmo]], reconstruído após 1697 após um incêndio. Tessin, atento aos desenhos de [[Gian Lorenzo Bernini]] para a ampliação do [[Museu do Louvre|Louvre]], construiu um bloco de aparência unitária; a poente foram colocados dois corpos curvilíneos para delimitar um pátio, enquanto a nascente foram inseridos dois blocos fortemente salientes. As relações com a arquitetura francesa podem ser encontradas no pátio, que foi pensado como um ''place royale'' parisiense, tanto que o arquiteto propôs ali erguer uma estátua do soberano; em vez disso, a influência do [[barroco romano]] é evidente na [[fachada]] do ''cour d'honneur'', onde os temas do [[Palácio Barberini]] são retomados.<ref name=norb198/>
As relações com a arquitetura francesa podem ser encontradas no pátio, que foi pensado como um “place royale” parisiense, tanto que o arquiteto propôs ali erguer uma estátua do soberano; em vez disso, a influência do [[Barroco Romano]] é evidente na [[fachada]] do ''cour d'honneur'', onde os temas do [[palazzo Barberini]] são retomados.<ref name=" Schulz, 198"/>


Tessin, o Jovem, foi o autor de vários outros edifícios em Estocolmo e da sua residência na cidade, o [[Palácio Tessin]]; nas traseiras do edifício existe um jardim onde o espaço se estreita e se expande, acentuando aquela ilusão de profundidade tipicamente barroca.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 199.</ref>
Tessin, o Jovem, foi o autor de vários outros edifícios em [[Estocolmo]] e da sua residência na cidade, o [[Palácio Tessin]]; nas traseiras do edifício existe um jardim onde o espaço se estreita e se expande, acentuando a ilusão de profundidade tipicamente barroca.{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=199}}


=== Europa Central ===
=== Europa Central ===
[[File:Passauer Dom.jpg|thumb|left|[[Catedral de Passauer|Catedral de Passauer]]]]
[[Imagem:Passauer Dom.jpg|thumb|left|[[Catedral de Passauer]]]]
Na [[Alemanha]], uma das primeiras arquiteturas ligadas à [[Contra-Reforma]] foi a [[Igreja de São Miguel (Munique)|Igreja de São Miguel]] em [[Munique]], construída para o Jesuítas a partir de [[1585]] no modelo da [[igreja de Gesù]] de [[Roma]] como era habitual na maioria das criações da ordem. Na verdade, apresenta uma única nave grande coberta por uma [[abóbada]] apoiada diretamente nos grandes pilares perimetrais entre os quais existem capelas laterais, conseguindo uma maior integração dos espaços do que a da basílica romana.<ref>C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., pp. 199-200.</ref>
Na [[Alemanha]], uma das primeiras arquiteturas ligadas à [[contrarreforma]] foi a [[Igreja de São Miguel (Munique)|Igreja de São Miguel]] em [[Munique]], construída para o Jesuítas a partir de 1585 no modelo da [[igreja de Gesù]] de Roma como era habitual na maioria das criações da ordem. Na verdade, apresenta uma única grande nave [[abóbada|abobadada]] apoiada diretamente nos grandes pilares perimetrais entre os quais existem capelas laterais, conseguindo uma maior integração dos espaços do que a da basílica romana.<ref name=norb199x/> Esta solução foi retomada por [[Hans Alberthal]] {{nwrap||1575|1657}} noutras igrejas construídas em diferentes áreas do país.<ref name=norb200/>
Esta solução foi retomada por [[Hans Alberthal]] ([[1575]]-[[1657]]) noutras igrejas construídas em diferentes áreas do país.<ref name="C. Norberg - Schulz Baroque Architecture p. 200" >C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 200.</ref>


Este processo de penetração da linguagem classicista e do início do barroco foi interrompido com a [[Guerra dos Trinta Anos]]. Depois da guerra, que empobreceu enormemente as regiões do [[Sacro Império Romano]], numerosos arquitetos italianos e suíços atuaram em boa parte da [[Europa Central]] e lançaram as bases para a afirmação da arquitetura barroca tardia (especialmente nas regiões católicas: Áustria e Baviera) entre finais do século XVII e o [[século XVIII|Século XVIII]]; entre estes lembramos [[Carlo Lurago]] ([[1615]]-[[1684]]), [[Francesco Caratti]], [[Carlo Antonio Carlone]], [[Domenico Martinelli]] ([[1650]]-[[1718]]), [[Agostino Barelli]] ([[1627]]-[[1679]]) e [[Enrico Zuccalli]] ([[1642]]-[[1724]]).<ref name="C. Norberg - Schulz Baroque Architecture p. 200"/> Houve também um afluxo notável de trabalhadores do Ticino e do norte da Itália.
Este processo de penetração da linguagem classicista e do início do barroco foi interrompido com a [[Guerra dos Trinta Anos]]. Depois da guerra, que empobreceu enormemente as regiões do [[Sacro Império Romano]], numerosos arquitetos italianos e suíços atuaram em boa parte na [[Europa Central]] e lançaram as bases para a afirmação da arquitetura barroca tardia (especialmente nas regiões católicas: [[Áustria]] e [[Baviera]]) entre finais do {{séc|XVII}} e o {{séc|XVIII}}; entre estes recorde-se [[Carlo Lurago]] {{nwrap||1615|1684}}, [[Francesco Caratti]], [[Carlo Antonio Carlone]], [[Domenico Martinelli]] {{nwrap||1650|1718}}, [[Agostino Barelli]] {{nwrap||1627|1679}} e [[Enrico Zuccalli]] {{nwrap||1642|1724}}.<ref name=norb200/> Houve também um afluxo notável de trabalhadores do [[Ticino]] e do norte da Itália.
[[File:Kirche am Hof Wien2.jpg|thumb|[[Church am Hof]], [[Viena]]]]
[[File:Wilan1 DSC0894.JPG|thumb|[[Palácio de Wilanów]], perto de [[Varsóvia]]]]


[[Imagem:Kirche am Hof Wien2.jpg|thumb|[[Church am Hof]], [[Viena]]]]
Lurago trabalhou principalmente na [[Boêmia]], inicialmente criando obras na molde [[maneirista]]; mais tarde construiu a [[Catedral de Passávia|Catedral de Passávia]], com uma [[nave (arquitetura)|nave]] primorosamente barroca, definida por uma sucessão de abóbadas elípticas.<ref name="C. Norberg - Schulz Baroque Architecture p. 200" />
[[Imagem:Wilan1 DSC0894.JPG|thumb|[[Palácio de Wilanów]], perto de [[Varsóvia]]]]


Lurago trabalhou principalmente na [[Boêmia]], inicialmente criando obras no estilo [[maneirista]]; mais tarde construiu a [[Catedral de Passávia]], com uma [[nave (arquitetura)|nave]] primorosamente barroca, definida por uma sucessão de abóbadas elípticas.<ref name=norb200/>
Francesco Caratti, falecido em [[1679]], foi o responsável por alguns dos edifícios mais imponentes de [[Praga]], mas a chegada do francês [[Jean Baptiste Mathey]] ([[1630]]-[[1695]]) introduziu um estilo mais requintado, encontrado por exemplo no [[Castelo de Troja]].<ref name="C. Norberg - Schulz Baroque Architecture p. 200"/>


Francesco Caratti, falecido em 1679, foi o responsável por alguns dos edifícios mais imponentes de [[Praga]], mas a chegada do francês [[Jean Baptiste Mathey]] {{nwrap||1630|1695}} introduziu um estilo mais requintado, encontrado por exemplo no [[Castelo de Troja]].<ref name=norb200/>
O Barroco chegou a [[Viena]] na segunda metade do [[século XVII|século XVII]] e a primeira obra notável foi a [[fachada]] da [[Igreja am Hof]],<ref name="C. Norberg - Schulz Arquitetura Barroca p. 202">C. Norberg - Schulz, ''Arquitetura Barroca'', cit., p. 202.</ref> de Carlo Antonio Carlone, construída em [[1662]] e caracterizada por alas laterais que a ligam aos edifícios adjacentes.
A arquitetura vienense só atingiu a sua plenitude com a chegada, em [[1690]], de [[Luca|lucano]] Domenico Martinelli, que construiu o [[Palácio de Liechtenstein]] inspirado no [[Palácio Chigi-Odescalchi]] de [[Gian Lorenzo Bernini|Bernini]].<ref name="C. Norberg - Schulz Arquitetura Barroca p. 202"/>


O barroco chegou a [[Viena]] na segunda metade do {{séc|XVII}} e a primeira obra notável foi a [[fachada]] da [[Igreja am Hof]], de Carlo Antonio Carlone, construída em 1662 e caracterizada por alas laterais que a ligam aos edifícios adjacentes.
O [[Bolonha|Bolonês]] Agostino Barelli introduziu o barroco italiano na [[Baviera]].
A arquitetura vienense só atingiu a sua plenitude com a chegada, em 1690, do [[luca]]no Domenico Martinelli, que construiu o [[Palácio de Liechtenstein]] inspirado no [[Palácio Chigi-Odescalchi]] de [[Gian Lorenzo Bernini|Bernini]].{{sfn|Norberg-Schulz|1998|p=202}}
Em Munique projetou a [[Igreja de San Cajetano (Munique)|Theatinerkirche]], iniciada em [[1663]] inspirada na [[Basílica de Sant'Andrea della Valle|igreja de Sant'Andrea della Valle]]; na mesma cidade iniciou a construção do [[Castelo de Nymphenburg|Palácio de Nymphenburg]], depois continuado por Enrico Zuccalli.<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dizionario diaarchitettura'', cit., entrada ''Barelli, Agostino''.</ref>


O [[Bolonha|bolonhês]] Agostino Barelli introduziu o barroco italiano na [[Baviera]]. Em Munique projetou a ''[[Theatinerkirche]]'', iniciada em 1663 inspirada na [[Basílica de Santo André do Vale]]; na mesma cidade iniciou a construção do [[Palácio Nymphenburg]], depois continuado por Enrico Zuccalli.<ref name=dicBar/>
Mesmo na [[Polónia]] a arquitetura sagrada foi influenciada por Roma. Em [[Cracóvia]] os [[Sociedade de Jesus|Jesuítas]] construiram a sua igreja baseada na de Gesù.<ref name="Dicionário da Polônia">N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dictionary of Architecture'', cit., entrada ''Polônia''.</ref> Plantas centralizadas subsequentemente apareceram em [[Klimontów]], [[Gostyń]] e em [[Varsóvia]], onde [[Tielman van Gameren]] ([[1632]]-[[1706]]) construiu a [[igreja de São Casimiro]] ([[1688]]-[[1689]] ). Outra obra de van Gameren é a mais animada [[Igreja de Santa Ana (Cracóvia)|igreja de Santa Ana]] em [[Cracóvia]] (1689-[[1705]]), com planta longitudinal.

Os castelos, no entanto, foram influenciados pelos franceses: por exemplo, o grande [[Palácio Wilanów]], iniciado em [[1681]], está estruturado em torno de um ''cour d'honneur'' em forma de ferradura.<ref name="Entrada do dicionário Polônia"/>
Mesmo na [[Polónia]], a arquitetura sagrada foi influenciada por Roma. Em [[Cracóvia]] os [[Companhia de Jesus|jesuítas]] construiram a sua igreja baseada na de Gesù. Posteriormente apareceram plantas centralizadas em [[Klimontów]], [[Gostyń]] e em [[Varsóvia]], onde [[Tielman van Gameren]] {{nwrap||1632|1706}} construiu a [[igreja de São Casimiro]] {{nwrap||1688|1689}}. Outra obra de van Gameren é a mais animada [[Igreja de Santa Ana (Cracóvia)|igreja de Santa Ana]] em [[Cracóvia]] {{nwrap||1689|1705}}, com planta longitudinal. Os castelos, no entanto, foram influenciados pelos franceses: por exemplo, o grande [[Palácio Wilanów]], iniciado em 1681, está estruturado em torno de um ''cour d'honneur'' em forma de ferradura.{{sfn|Pevsner|Fleming|Honour|1981|loc=cap.&nbsp;«Polonia»}}


=== Império Russo ===
=== Império Russo ===
[[Imagem:Знаменская церковь... (Дубровицы).jpg|left|thumb|{{ilc|nl=s|Igreja de Nossa Senhora do Sinal (Dubrovicy)||Igreja Znamenskaya|Igreja da Encarnação de Doubrovitsy|Igreja de Nossa Senhora do Sinal}}, Dubrovicy, Podolsk, Moscovo]]
{{VT|Barroco Russo}}
[[File:Ансамбль церкви Рождества Богородицы 2.jpg|right|thumb|Conjunto das Igrejas da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria e da Natividade de Cristo ao estilo ''baroque Stroganof'' em [[Nijni Novgorod]]]]
[[File:Знаменская церковь... (Дубровицы).jpg|left|thumb|[[Igreja de Nossa Senhora do Sinal (Dubrovicy)]] Podolsk, Moscovo]]

Ainda antes do reinado de [[Pedro I da Rússia|Pedro, o Grande]] a arquitetura russa aproximou-se das tendências europeias com a adoção de motivos renascentistas e barrocos, ainda que pontuais. Ao mesmo tempo, a reconquista das zonas ocidentais e em particular da [[Ucrânia]], levou ao desenvolvimento dum estilo com características próprias, mas sem uma relação autêntica com a arquitectura europeia contemporânea.
Somente durante o século XVIII a Rússia aceitou, com maior vigor, os canones estilísticos do mundo ocidental (ver o parágrafo sobre a arquitetura barroca tardia).<ref name="Dizionario voce Russia" /> Na verdade, uma transição mais decisiva para a arquitetura ocidental coincidiu com o [[Barroco de Moscovo|Barroco de Moscovo]], no início do século XVIII, o que já mostra um uso consciente das ordens arquitetónicas. Um exemplo notável desta corrente ocorre no [[mosteiro Novodevičij]] de Moscovo.<ref name="Dicionário de entrada da Rússia">N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitetura'', cit., entrada ''Rússia''.</ref>
Ainda antes do reinado de [[Pedro I da Rússia|Pedro, o Grande]], a arquitetura russa aproximou-se das tendências europeias com a adoção de motivos renascentistas e barrocos, ainda que pontuais. Ao mesmo tempo, a reconquista das zonas ocidentais e em particular da [[Ucrânia]], levou ao desenvolvimento dum estilo com características próprias, mas sem uma relação autêntica com a arquitectura europeia contemporânea. Somente durante o {{séc|XVIII}} a Rússia aceitou, com maior vigor, os [[cânone]]s estilísticos do mundo ocidental (ver o parágrafo sobre a arquitetura barroca tardia). Na verdade, uma transição mais decisiva para a arquitetura ocidental coincidiu com o {{ilc|nl=s|barroco de Moscovo||barroco de Moscou}}, no início do {{séc|XVIII}}, o que já mostra um uso consciente das ordens arquitetónicas. Um exemplo notável desta corrente ocorre no [[mosteiro Novodevičij]] de Moscovo.<ref name=dizRus/> Um papel decisivo no desenvolvimento deste barroco russo tardio foi desempenhado por arquitetos de origem italiana, nomeadamente [[Bartolomeo Rastrelli]].

Um papel decisivo no desenvolvimento deste barroco russo tardio foi desempenhado por designers de origem italiana, em primeiro lugar [[Bartolomeo Rastrelli]].
Com isto, o barroco russo passa a designar diferentes estilos barrocos que surgiram na arquitetura, no Império Russo, no final do século XVII e início do século XVIII. O [[Barroco Moscovita]] (das décadas de 1680 a 1700, anteriormente chamado de [[Barroco Naryshkin|Barroco de Naryshkin]]) é um estilo duma época de transição entre um estilo renascentista com decorações simples com desenhos de ramagem, com as suas elegantes decorações de pedra branca nas paredes de tijolo vermelho, e outros ornamentos,<ref>[[Louis Réau]], L'art russe des origines à Pierre le Grand, Paris, Henri Laurens, 1920, {{p.|313}}</ref> para um Barroco concebido de numerosos elementos da antiga arquitetura russa, retrabalhado sob a influência do [[barroco ucraniano]]. Este último também é chamado de "[[Ivan Mazeppa|Barroco Mazeppa]]"<ref>[[Louis Réau]], op. cit. {{p.|313}}</ref> em homenagem ao [[hetman]] dos [[cossacos]] que mandou restaurar muitas igrejas. O “Barroco Stroganov” é uma versão conservadora e provinciana do Barroco Moscovita, que se encontra principalmente em quatro edifícios religiosos em [[Nizhny Novgorod]] e no Norte da Rússia.

Em [[Doubrovitsy]], surge o [[barroco Golytsin]], que está ligado aos [[Família Galitzina|príncipes Golitzin]] que construíram entre 1690-1697 a igreja e a residência da propriedade da família, perto de Moscovo. A igreja da aldeia de Doubrovitsy é um edifício único. A igreja está coberta, por dentro e por fora, com esculturas decorativas de execução toscana. Esta torre com [[lanterna (arquitetura)|lanterna]] cinzelada não atende aos padrões do Barroco de Moscovo; foi em vez disso uma ''extravagância'' [[Boiardo|boiarda]], de um amante do ocidentalismo. Não há dúvida que o príncipe Vassili Golitsyn, que encomendou o edifício, recorreu a arquitectos estrangeiros.<ref>[[Louis Réau]], L'art russe des origines à Pierre le Grand, Henri Laurens éditeur à Paris, 1920. {{p.|316}} </ref> Para Louis Réau, que compara a obra a um gigantesco "chocalho de marfim", não há nada de russo nem na forma nem na decoração desta igreja.<ref>Louis Réau, op. cit. {{p.|317}} </ref> Segundo Véra Traimond,<ref>Véra Traimond n Architecture de la Russie ancienne XV-XVII s. Hermann, Paris 2003 , {{ISBN|2 7056 6434 3}} {{p.|268}}</ref> o seu autor não é russo, como supunha Igor Grabar, mas sim sueco. Seria o arquitecto Nicodemos Tessin, o Jovem (1654-1728), familiarizado com a Itália, arquitecto do palácio real de Estocolmo. É provável que as esculturas sejam obra de artistas suíços. O estilo barroco de Golitsyn é predominante aqui e é caracterizado por uma arquitetura específica, muito diferente do estilo Naryshkin mais impessoal.

Quanto ao barroco Petrino, ou de [[Pierre le Grand|Pedro I, o Grande]], trata-se do estilo de todos os arquitetos ocidentais convidados por Pedro I, o Grande, e abrange o reinado deste último entre os anos de 1680 a 1720 e para a construção da sua nova capital, [[São Petersburgo]]. O [[barroco elisabetano]] (das décadas de 1730 a 1760, também conhecido como Barroco Rastrelliano) é um estilo híbrido entre o barroco petrino e o barroco moscovita misturado com elementos trazidos por arquitetos italianos, em homenagem ao arquiteto das czarinas [[Isabel Petrovna]] e [[Catarina II]]. São as grandiosas obras de [[Bartolomeo Rastrelli]] os melhores exemplos disso. Já o [[Barroco Siberiano]] distingue-se pela junção dos desenhos do Barroco Moscovita e do Barroco Ucraniano com elementos decorativos do Oriente.<ref>{{ru}} W. Kraft Brumfield : les sujets orientaux des églises de Sibérie texte en russe et photos/[http://www.cultinfo.ru/brumfield/siberia/index.htm Уильям Крафт Брамфилд. «Восточные мотивы в церковной архитектуре Сибири»]</ref> O Barroco do norte e do leste da Rússia é caracterizado por uma simplificação de formas e uma tendência a conjugar volumes cada vez mais pequenos. O historiador de arte russo [[Anri Kaptikov]] considera que poderiamos falar de uma escola barroca tipicamente provincial em [[Totma]], [[Veliki Ustyug]], nos [[Urais]] e na [[Sibéria]].<ref name="kapt">{{ru}} différents aspects du baroque russe/ Каптиков, Анри Юрьевич|Каптиков А. Ю. «Региональное многообразие архитектуры русского барокко». МАРХИ, 1986.</ref>

A [[União Polónia-Lituânia]] presenciou, durante a era barroca, os seus últimos incêndios antes de ser desmembrada pelos seus poderosos vizinhos. É, um caso raro na história, um reino eletivo que reúne duas ([[Polónia]] e [[Lituânia]]) e depois três ([[Ucrânia Ocidental]]) nações. Na verdade, os magnatas da [[Szlachta]] são quase exclusivamente polacos e a [[Rzeczpospolita]] (República), uma oligarquia de grandes proprietários de terras que têm palácios e castelos construídos no estilo grandioso da época que se adequa às suas ambições. As ordens religiosas não ficam de fora nesta região fronteiriça entre os mundos ortodoxo (Ucrânia), católico (Polónia) e calvinista (Lituânia), onde também vive uma grande minoria judaica.<ref>{{ru}} [http://ais.by/story/1632 Сердце этнической Литвы — Архитектурно-строительный портал ais.by]</ref><ref>C'est dans ce collège de Pinsk que le poète historien polonais [[Adam Stanisław Naruszewicz]] étudia (1733-1796) </ref>

Tal como no [[Sacro Império Romano]], os arquitectos vêm principalmente da Itália e recordaremos os nomes dos Catenazzi: Andrea (1640 - 1701) autor de numerosas igrejas na Posnânia com o seu irmão Giorgio, e o seu filho Giovanni (1660 - 1724). Augustyn Wincenty Locci (ca. 1640 – 1737), também de origem italiana, foi o arquitecto do Palácio Wilanów . Devemos a Pompeo Ferrari (ca. 1660 - 1736), a colegiada de Notre-Dame-bu-Bon-Secours em Poznań .


=== Espanha ===
=== Espanha ===
[[File:Valladolid - Catedral.jpg|thumb|left|[[Catedral de Valladolid]]]]
[[Imagem:Valladolid - Catedral.jpg|thumb|left|[[Catedral de Valladolid]]]]
Em [[Espanha]], a afirmação do estilo barroco chocou-se com as dificuldades ligadas à decadência económica do reinado de [[Filipe III de Espanha|Filipe III]].<ref name="Schulz, p. 186"/>
Em [[Espanha]], a afirmação do estilo barroco chocou-se com as dificuldades ligadas à decadência económica do reinado de {{lknb|Filipe|III|de Espanha}} {{nwrap|r.|1598|1621}}.<ref name=norb186/> Até então, sob {{lknb|Filipe|II|de Espanha}}, surgiram importantes complexos fortemente influenciados pelo maneirismo italiano, como o [[Mosteiro do Escorial]] (segunda metade do {{séc|XVI}}), construído em grande parte por [[Juan de Herrera]] {{nwrap||1530|1597}}; O próprio Herrera foi o responsável pelo projeto da [[Catedral de Valladolid]], na qual há um fortalecimento do eixo central e que serviu de modelo para o [[Catedral Metropolitana da Cidade do México|da Cidade do México]].<ref name=norb187/>
Até então, sob [[Filipe II de Espanha|Filipe II]], surgiram importantes complexos fortemente influenciados pelo maneirismo italiano, como o [[Mosteiro do Escorial]] (segunda metade do [[século XVI]]), construído em grande parte por [[Juan de Herrera]] ([[1530]]-[[1597]]); O próprio Herrera foi o responsável pelo projeto da [[Catedral de Valladolid]], na qual há um fortalecimento do eixo central e que serviu de modelo para o da [[Catedral da Cidade do México|Cidade do México]].<ref name="Schulz, p. 187"/>


Posteriormente, a [[arquitetura espanhola]] do [[século XVII]] voltou-se para o Barroco, favorecendo o desenvolvimento do aparato decorativo, especialmente nas igrejas, em vez da complexidade composicional e espacial. Esta linguagem, imediatamente compreensível mesmo para a população menos escolarizada, foi logicamente exportada para as colónias da [[América Latina]].
Posteriormente, a [[arquitetura espanhola]] do {{séc|XVII}} voltou-se para o barroco, favorecendo o desenvolvimento do aparato decorativo, especialmente nas igrejas, em vez da complexidade composicional e espacial. Esta linguagem, imediatamente compreensível mesmo para a população menos escolarizada, foi logicamente exportada para as colónias da [[América Latina]].


No entanto, entre os edifícios sagrados mais interessantes da Espanha do século XVII, lembramos a [[Real Colegiata de San Isidro]] em [[Madrid]] (iniciada depois de 1629), a [[igreja de Santa Maria Magdalena]] em [[Granada]] (após [[1677]], com planta longitudinal derivada de construções [[arquitetura romana|romana]]s contemporâneas) e a [[Basílica de Nossa Senhora dos Desamparados]] em [[Valência]] ([[1652]] -[[1657]], com planta elíptica).<ref name="Schulz, p. 187"/>
No entanto, entre os edifícios sagrados mais interessantes da Espanha do {{séc|XVII}}, lembramos a [[Real Colegiada de Santo Isidro]] em [[Madrid]] (iniciada depois de 1629), a [[igreja de Santa Maria Magdalena]] em [[Granada (Espanha)|Granada]] (após 1677, com planta longitudinal derivada de construções romanas contemporâneas) e a [[Basílica de Nossa Senhora dos Desamparados]] em [[Valência]] {{nwrap||1652|1657}}, com planta elíptica).<ref name=norb187/>


===Portugal===
===Portugal===
{{AP|Arquitetura barroca em Portugal}}
[[File:Sta. Maria da Providência.jpg|thumb|Santa Maria da Providência desenhada por [[Guarino Guarini]] (1651), destruída no [[terremoto de Lisboa de 1755]]]]
[[Imagem:Sta. Maria da Providência.jpg|thumb|Santa Maria da Providência desenhada por [[Guarino Guarini]] (1651), destruída no [[sismo de Lisboa de 1755]]]]
Em [[Portugal]] o Barroco, que só chegou na última parte do século XVII com igrejas de planta octogonal ou circular, coexistiu com o [[estilo chão]] uma forma extremamente simplificada de arquitectura classicista, caracterizada por volumes claros e poucos elementos decorativos nos focos principais. Esse estilo, que prevaleceu em cidades menores, também influenciou significativamente o [[Brasil]]<ref>{{citar web|url=https://www.academia.edu/12054969/Barocco_brasiliano|título=Barocco brazilian|acessodata =10 de Fevereiro de 2020}}</ref> O Barroco foi inserido sobretudo como aparelho decorativo e só se consolidou plenamente no [[século XVIII|século XVIII]] durante o reinado de [[João V de Portugal|João V]] quando, especialmente nas áreas de [[Porto (Portugal)|Porto]] e [[Braga]],<ref>{{citar web|url=https://whc.unesco.org/en/list/1590 /| title=Santuário do Bom Jesus do Monte em Braga|acessodata=10 de fevereiro de 2020}}</ref> assistiu-se a uma renovação arquitetónica, também graças ao trabalho de [[Nicolau Nasoni]].<ref>{{citar web | url=https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=edif%C3%ADcio%20da%20reitoria%20-%20enquadramento%20-%20obras%20de%20referência%20-% 20nicolau %20nasoni|título=Niccolò Nasoni|acessodata=10 de fevereiro de 2020}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.jstor.org/stable/988958?seq=1|título= Resenha: Estudos Recentes em Arquitetura Pós-Medieval Portuguesa|acessodata=10 de fevereiro de 2020}}</ref>
Em [[Portugal]] o barroco, que só chegou na última parte do {{séc|XVII}} com igrejas de planta octogonal ou circular, coexistiu com o [[estilo chão]] uma forma extremamente simplificada de arquitectura classicista, caracterizada por volumes claros, superfícies lisas e planas, e volumes nítidos, depurados do excesso decorativo do Barroco Internacional. Esse estilo, que surge no período Filipino, prevaleceu em cidades menores, também influenciou significativamente o [[Brasil]].<ref>{{citar web|último=Junior|primeiro=Fernandes Elias|url=https://www.academia.edu/12054969/Barocco_brasiliano|título=Barocco Brasiliano — Un percorso nella storia dell´architettura coloniale brasiliana|língua=it|acessodata=10-02-2020}}</ref>

A arquitetura barroca em Portugal surge numa linha temporal diferente do resto da Europa e foi influenciada por vários fatores políticos, artísticos e económicos.<ref>{{citar web|url=https://www.nga.gov/research/publications/pdf-library/age-of-the-baroque-in-portugal.html|título=Age of the Baroque in Portugal|website=www.nga.gov|acessodata=8 de maio de 2023}}</ref> Começa num momento conturbado, com o esforço financeiro do reino canalizado para a [[Guerra da Restauração Portuguesa]] após 60 anos de [[União Ibérica]].

Após o fim da guerra da restauração da independência, e passada a crise de sucessão entre [[Afonso VI de Portugal|Afonso VI]] e [[Pedro II de Portugal|Pedro II]], Portugal estava pronto para o Barroco internacional. Começou gradualmente, mudando o modelo [[arquitetura maneirista|maneirista]], tentando animar e modernizar os novos edifícios, usando a planta centralizada e alguma decoração, como na [[Igreja de Santa Engrácia]] em [[Lisboa]], projetada por [[João Nunes Tinoco]] e [[João Antunes]].
O barroco é inserido sobretudo como aparelho decorativo e só se consolidou plenamente no {{séc|XVIII}} durante o reinado de {{lknb|d=d|João|V|de Portugal}} quando, especialmente nas áreas de [[Porto (Portugal)|Porto]] e [[Braga]],{{Citar whc.unesco list|ref=pm1590|1590|Santuário do Bom Jesus do Monte em Braga|10 de fevereiro de 2020}} assistiu-se a uma renovação arquitetónica, também graças ao trabalho de [[Nicolau Nasoni]].<ref>{{citar web|url=https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=edif%C3%ADcio%20da%20reitoria%20-%20enquadramento%20-%20obras%20de%20referência%20-%20nicolau%20nasoni|título=Niccolò Nasoni|acessodata=10-02-2020}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.jstor.org/stable/988958?seq=1|título=Enquadramento do Edifício da Reitoria da Universidade do Porto: Nicolau Nasoni|publicado=[[Universidade do Porto]]|acessodata=10-02-2020}}</ref>

Além disso, trabalhou em [[Lisboa]] o famoso [[Guarino Guarini]], que por volta de 1650 construiu a igreja de [[Santa Maria da Divina Misericordia]], hoje desaparecida,<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitectura'', cit., verbete ''Portugal''.</ref> ou talvez nunca construída, mas que teve grande influência na arquitectura barroca tardia também pela utilização da [[Coluna torsa|Ordem salomónica]] que tanto sucesso fez sobretudo na zona ibérica, principalmente no interior de edifícios religiosos.


As várias vertentes da produção artística ao longo do reinado de {{Dom|João V}} receberam a designação genérica de [[barroco joanino]]. No reinado de D. João V, o Barroco conheceu uma época de esplendor e riqueza completamente nova em Portugal. Apesar da destruição causada pelo [[terramoto de 1755]], vários edifícios sobreviveram. O [[Palácio da Ribeira]], a [[Capela Real]] (ambos destruídos no terramoto) e o [[Palácio Nacional de Mafra]], são as principais obras do Rei. Este foi marcado pela grandeza e ostentação das suas arquiteturas e pelo excesso dinâmico da turgidez decorativa, manifestou-se nos diversos empreendimentos arquitetónicos do ''Magnânimo'', destacando-se a [[Igreja do Menino Deus]] e a magnífica [[Igreja de São Roque (Lisboa)|Capela de S. João Batista de S. Roque]], ambas em Lisboa, os surpreendentes [[Torre dos Clérigos|Clérigos]] e a [[Santa Casa da Misericórdia do Porto|Misericórdia]] do Porto, a riqueza da [[Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra|Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra]] e a emblemática e monumental obra do Palácio-[[Convento de Mafra]].{{ref infopedia|$barroco-joanino|Barroco Joanino}}
Além disso, trabalhou em [[Lisboa]] o famoso [[Guarino Guarini]], que por volta de 1650 construiu a igreja de Santa Maria da Divina Misericordia, hoje desaparecida,<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitectura'', cit., verbete ''Portugal''.</ref> ou talvez nunca construída, mas que teve grande influência na arquitectura barroca tardia também pela utilização da [[Coluna torsa|Ordem salomónica]] que tanto sucesso fez sobretudo na zona ibérica, principalmente no interior de edifícios religiosos.


A [[talha dourada]]<ref>{{citar web|url=https://www.academia.edu/23974089|título=Altares de Talha Dourada|último1=Ferreira|primeiro1=Silvia}}</ref><ref>{{citar web|url=https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2007/3/ulsd058512_td_Tese_vol_1.pdf|título=A Talha Barroca de Lisboa ( 1670 - 1720)}}</ref> assumiu características nacionais devido à importância e riqueza das decorações. A pintura, a escultura, as artes decorativas e a azulejaria também conheceram grande desenvolvimento.<ref>{{citar livro|url=https://books.google.com/books?id=DxqEWRgLqQ4C&q=o+barroco+talha+dourada+portugal+academia&pg=PT47|título= The Baroque Organ of the Coimbra University Chapel|isbn = 9789898074089|último1= Canhão|primeiro1= Joel|último2= Duarte|primeiro2= Marco Daniel|data= dezembro 2007}}</ref> Um dos exemplos mais opulentos de [[talha dourada]] deste período é a [[Biblioteca Joanina]], nomeada em homenagem ao Rei D. João V e construída no antigo edifício principal da [[Universidade de Coimbra]] e na torre de desfile.<ref>{{citar web|url=https://ensina.rtp.pt/artigo/a-biblioteca-de-d-joao-v/|título=A Biblioteca de D. João V, obra-prima do Barroco|acessodata=8 de maio de 2023}}</ref> Numerosas obras menos conhecidas existem por todo o país, nomeadamente em [[Viseu]], [[Santarém]] e [[Faro]].<ref>{{citar web|autor1=Francisco Lameira |url=https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/7125/4/PROM03_pp287-316.pdf|título=O retábulo em Portugal: o Barroco Final (1713-1746)
As várias vertentes da produção artística ao longo do reinado de [[D. João V]] receberam a designação genérica de [[Barroco Joanino]]. Este Barroco Joanino, marcado pela grandeza e ostentação das suas arquiteturas e pelo excesso dinâmico da turgidez decorativa, manifestou-se nos diversos empreendimentos arquitetónicos do ''Magnânimo'', destacando-se a [[Igreja do Menino Deus]] e a magnífica [[Igreja de São Roque (Lisboa)|Capela de S. João Batista de S. Roque]], ambas em Lisboa, os surpreendentes [[Torre dos Clérigos|Clérigos]] e a [[Santa Casa da Misericórdia do Porto|Misericórdia]] do Porto, a riqueza da [[Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra|Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra]] e a emblemática e monumental obra do Palácio-[[Convento de Mafra]].<ref>{{citar web|url=https://www.infopedia.pt/artigos/$barroco-joanino|título=Barroco Joanino|editora=Infopédia|acessodata=15 de março de 2024}}</ref>
|autor2=Vítor Serrão|website=sapientia.ualg.pt|língua=pt|acessodata=8 de Maio de 2023}}</ref>


=== América Latina e Ásia ===
=== América Latina e Ásia ===
{{VT|Barroco no Brasil}}
{{VT|Barroco no Brasil}}
[[Arquivo:Catedral Metropolitana do México.jpg|thumb|[[Catedral da Cidade do México]]]]
[[Imagem:Mexico Metropolitan Cathedral.jpg|thumb|[[Catedral da Cidade do México]]]]


Influenciada pelas tendências espanholas, a arquitetura das colónias da América e em particular do México, aproximou-se do Barroco entre finais do [[século XVI]] e início do [[século XVII]], resultando no [[Churriguera|Churriguerismo]], estilo barroco tardio caracterizado pela decoração exuberante, concentrado nas fachadas, que se difundiu especialmente no [[século XVIII|século XVIII]] na [[Espanha]] e na [[América Latina|América Latina]], onde não faltou a influência de elementos simbólicos de origem indígena.
Influenciada pelas tendências espanholas, a arquitetura das colónias da América e em particular do México, aproximou-se do barroco entre finais do {{séc|XVI}} e início do {{séc|XVII}}, resultando no [[Churriguera|Churriguerismo]], estilo barroco tardio caracterizado pela decoração exuberante, concentrado nas fachadas, que se difundiu especialmente no {{séc|XVIII}} na [[Espanha]] e na [[América Latina]], onde não faltou a influência de elementos simbólicos de origem indígena.
Esta corrente pode ser encontrada nos campos e não nos grandes centros urbanos, entre as quais as grandes catedrais barrocas mais convencionalmente da [[Catedral da Cidade do México|Cidade do México]] ([[1573]]-1667) e [[Catedral de Puebla|Puebla]] ([[1551]]-[[1664]]),<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitetura'', cit., verbete ''México''.</ref> ou nos interiores com elementos secundários como a fachada da [[Cidade do México'' Catedral #Sagrario Metropolitano|Sagrario Metropolitano]], também na capital mexicana.
Esta corrente pode ser encontrada nos campos e não nos grandes centros urbanos, entre as quais as grandes catedrais mais convencionalmente barrocas da [[Catedral da Cidade do México|Cidade do México]] {{nwrap||1573|1667}} e de [[Catedral de Puebla|Puebla]] {{nwrap||1551|1664}},<ref name=dicMex/> ou nos interiores ou em elementos secundários como a fachada do [[Catedral Metropolitana da Cidade do México#Sacrário|Sacrário Metropolitano]], adjacente à catedral da capital mexicana.


No [[Brasil]], dependente da cultura portuguesa, os primeiros a introduzir a arquitetura europeia foram os jesuítas que construíram igrejas no Nordeste segundo os modelos contra-reformistas desenvolvidos em Roma e os franciscanos.
No [[Brasil]], dependente da cultura portuguesa, os primeiros a introduzir a arquitetura europeia foram os jesuítas que construíram igrejas no [[Região Nordeste do Brasil|Nordeste]] segundo os modelos [[Contrarreforma|contrarreformistas]] desenvolvidos em Roma e os [[franciscanos]]. Na segunda metade do {{séc|XVII}}, os modelos barrocos foram introduzidos no [[Rio de Janeiro]], em [[Salvador|São Salvador da Bahia]] e em [[Minas Gerais]].<ref name=dicBr/> Esta última cidade, recentemente povoada e próxima de jazidas de ouro, viu a construção de muitas novas igrejas também no início do {{séc|XVIII}}, agora num estilo [[Arquitetura rococó|rococó]] muito inovador.
Na segunda metade do século XVII, os modelos barrocos foram introduzidos no [[Rio de Janeiro]], em [[Salvador (Brasil)|São Salvador da Bahia]] e em [[Minas Gerais]].<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitetura'', cit., verbete ''Brasil''.</ref> Esta última cidade, recentemente povoada e próxima de jazidas de ouro, viu a construção de muitas novas igrejas também no início do século XVIII, agora num estilo [[rococó]] muito inovador.


Com o colonialismo, as formas da arquitectura europeia também foram introduzidas na [[Índia]], nas [[Filipinas]], [[Macau]].
Com o colonialismo, as formas da arquitectura europeia também foram introduzidas na [[Índia]], nas [[Filipinas]] e [[Macau]]. Em particular, com as [[Estado Português da Índia|conquistas portuguesas na Índia]], a arquitectura do estado de [[Goa]] foi influenciada pelo barroco português.{{sfn|Pevsner|Fleming|Honour|1981|loc=cap.&nbsp;«Índia»}}
Em particular, com a conquista da Índia pelos portugueses, a arquitectura do estado de [[Goa]] foi influenciada pelo barroco português.<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitetura'', cit., entrada ''Índia''.</ref>


Nas Filipinas, as principais [[igrejas barrocas das Filipinas|igrejas barrocas]] foram recentemente incluídas no património artístico protegido pela UNESCO pelo seu valor histórico e pelo seu carácter sincrético.
Nas Filipinas, as principais [[igrejas barrocas das Filipinas|igrejas barrocas]] foram recentemente incluídas no património artístico protegido pela UNESCO pelo seu valor histórico e pelo seu carácter sincrético.


== Arquitetura barroca tardia e rococó ==
== Arquitetura barroca tardia e rococó ==
Embora o barroco esteja essencialmente ligado ao {{séc|XVII}}, na primeira metade do {{séc|XVIII}} verificaram-se a construção de numerosos edifícios nos estilos barroco tardio e [[Arquitetura rococó|rococó]]. Esta última fase diferencia-se da fase anterior pela adoção de uma decoração mais rica, pela leveza das superfícies das paredes, pela acentuação da complexidade espacial (no modelo de [[Francesco Borromini|Borromini]] e [[Guarino Guarini|Guarini]]) e finalmente pelo brilho intenso em antítese aos contrastes de claro-escuro do barroco.<ref name=dicRoc/>
{{VT|Arquitetura do século XVIII}}
[[Imagem:Stift melk 001 2004.jpg|thumb|left|[[Abadia de Melk]], na Áustria]]
Embora o Barroco esteja essencialmente ligado ao [[século XVII]], na primeira metade do [[século XVIII|século XVIII]] verificaram-se a construção de numerosos edifícios nos estilos barroco tardio e [[rococó]].
Esta última fase diferencia-se da fase anterior pela adoção de uma decoração mais rica, pela leveza das superfícies das paredes, pela acentuação da complexidade espacial (no modelo de [[Francesco Borromini|Borromini]] e [[Guarino Guarini|Guarini]]) e finalmente pelo brilho intenso em antítese aos contrastes de claro-escuro do Barroco.<ref name="Rococò Dictionary"/>
[[File:Stift melk 001 2004.jpg|thumb|left|[[Abadia de Melk]], na Áustria]]


O contexto histórico muda: se o Barroco teve a função de exaltar o papel da monarquia e da [[Igreja Católica|Igreja]], o Rococó inaugurou um século em que ocorreram revoluções culturais que questionaram ideais e valores acumulados até então. então.<ref name="De Fusco, p. 411">R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., p. 411.</ref>
O contexto histórico muda: se o barroco teve a função de exaltar o papel da monarquia e da [[Igreja Católica|Igreja]], o rococó inaugurou um século em que ocorreram revoluções culturais que questionaram ideais e valores acumulados até então. então.<ref name=fu411/>
Na França, o [[Palácio de Versalhes|Versalhes]] deixou de ser o ponto fulcral da nação e a corte real voltou para [[Paris]], mesmo que apenas por alguns anos; No entanto, o encanto de Versalhes resistiu em grande parte da [[Europa]], onde surgiram inúmeras residências inspiradas no modelo francês.<ref name="De Fusco, p. 411"/>


Foi precisamente na [[França]] que o Rococó (chamado ''Rocaille'' em francês) se desenvolveu e se espalhou pelo resto do continente.
Na [[França]], o [[Palácio de Versalhes|Versalhes]] deixou de ser o ponto fulcral da nação e a corte real voltou para [[Paris]], mesmo que apenas por alguns anos; No entanto, o encanto de Versalhes resistiu em grande parte da [[Europa]], onde surgiram inúmeras residências inspiradas no modelo francês.<ref name=fu411/> Foi precisamente na França que o rococó (chamado ''Rocaille'' em francês) se desenvolveu e se espalhou pelo resto do continente.
O estilo afetou principalmente as artes decorativas e o mobiliário; na arquitetura acentuou-se a diferença entre ambientes internos e externos, com distinção entre os ambientes em função do seu uso, enquanto as estruturas portantes foram aligeiradas sem abrir mão da [[Plasticidade (arte)|plasticidade]] das superfícies que foi também confiado às formas curvas das paredes.<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., p. 418.</ref>
O estilo afetou principalmente as artes decorativas e o mobiliário; na arquitetura acentuou-se a diferença entre ambientes internos e externos, com distinção entre os ambientes em função do seu uso, enquanto as estruturas portantes foram aligeiradas sem abrir mão da [[Plasticidade (arte)|plasticidade]] das superfícies que foi também confiado às formas curvas das paredes.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=418}}


Na arquitetura, o maior sucesso barroco da época na França ocorreu na Lorena, um ducado semi-independente no leste do país onde, na capital [[Nancy]], o duque [[Stanislaus Leszczyński]], ex-rei da Polónia, queria criar uma grande praça real em homenagem ao seu genro Luís XV de França, no modelo das praças reais de Paris. A chamada [[Praça Estanislau]] foi construída entre [[1751]] e [[1755]] pelo arquiteto [[Emmanuel Héré de Corny|Emmanuel Héré]]. O classicismo é temperado por elegantes contribuições rococó: em três lados da praça, Héré desenha as fachadas em estilo clássico da ordem coríntia, mas com graciosas varandas e coroações como balaustradas com querubins e vasos com flores. No último lado, sumptuosos portões rococó em ferro forjado e dourado de Jean Lamour unem os edifícios inferiores entre si. Por fim, nos cantos norte estão instaladas as duas fontes de Neptuno e Anfitrite, também em estilo rococó, obras de [[Barthélemy Guibal]], criando um cenário teatral que rompe com o rigor das praças parisienses.<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., p. 474.</ref>
Na arquitetura, o maior sucesso barroco da época na França ocorreu na Lorena, um ducado semi-independente no leste do país onde, na capital [[Nancy]], o duque [[Stanislaus Leszczyński]], ex-rei da Polónia, queria criar uma grande praça real em homenagem ao seu genro Luís XV de França, no modelo das praças reais de Paris. A chamada [[Praça Estanislau]] foi construída entre 1751 e 1755 pelo arquiteto [[Emmanuel Héré de Corny|Emmanuel Héré]]. O classicismo é temperado por elegantes contribuições rococó: em três lados da praça, Héré desenha as fachadas em estilo clássico da ordem coríntia, mas com graciosas varandas e coroações como balaustradas com querubins e vasos com flores. No último lado, sumptuosos portões rococó em ferro forjado e dourado de Jean Lamour unem os edifícios inferiores entre si. Por fim, nos cantos norte estão instaladas as duas fontes de Neptuno e Anfitrite, também em estilo rococó, obras de [[Barthélemy Guibal]], criando um cenário teatral que rompe com o rigor das praças parisienses.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=474}}


[[Arquivo:Malostranské náměstí, kostel svatého Mikuláše od jihozápadu.jpg|thumb|[[Igreja de São Nicolau em Malá Strana]] em [[Praga]]]]
[[Imagem:Malostranské náměstí, kostel svatého Mikuláše od jihozápadu.jpg|thumb|[[Igreja de São Nicolau em Malá Strana]] em [[Praga]]]]


No entanto, a obra que pode ser considerada o ponto de viragem entre o Barroco e o Rococó é a [[Abadia de Melk]],<ref name="De Fusco p. 425">R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., p. 425.</ref> amplamente remodelado entre [[1702]] e [[1736]] por [[Jakob Prandtauer]] ([[1660]]-[[1726]]) que fez alterações nos edifícios ao longo dos pátios e construiu uma igreja com refinados detalhes rococó, mas ainda barroca devido à sua posição cénica. De facto, a abadia ergue-se imponente numa colina próxima do rio, com uma grande [[serliana]] que abre o [[adro]] para a zona envolvente.<ref name="De Fusco p. 425"/>
No entanto, a obra que pode ser considerada o ponto de viragem entre o barroco e o rococó é a [[Abadia de Melk]], amplamente remodelado entre 1702 e 1736 por [[Jakob Prandtauer]] {{nwrap||1660|1726}} que fez alterações nos edifícios ao longo dos pátios e construiu uma igreja com refinados detalhes rococó, mas ainda barroca devido à sua posição cénica. De facto, a abadia ergue-se imponente numa colina próxima do rio, com uma grande [[serliana]] que abre o [[adro]] para a zona envolvente.<ref name=fu425/>


Uma fusão entre temas do barroco italiano e do rococó pode ser encontrada na [[Kollegienkirche]] de [[Salzburg]], de [[Johann Bernhard Fischer von Erlach]] ([[1656]]-[[1723]]): o o interior é um espaço centralizado precedido por um átrio elíptico, enquanto a [[fachada]] é convexa com o destaque, típico de algumas igrejas italianas, de duas torres sineiras.<ref name="De Fusco p. 425"/>
Uma fusão entre temas do barroco italiano e do rococó pode ser encontrada na [[Kollegienkirche]] de [[Salzburg]], de [[Johann Bernhard Fischer von Erlach]] {{nwrap||1656|1723}}: o o interior é um espaço centralizado precedido por um átrio elíptico, enquanto a [[fachada]] é convexa com o destaque, típico de algumas igrejas italianas, de duas torres sineiras.<ref name=fu425/>


[[File:St. Johann Nepomuk - Inside (München).jpg|thumb|left|[[Asamkirche]], [[Munique]]]]
[[Imagem:St. Johann Nepomuk - Inside (München).jpg|thumb|left|[[Asamkirche]], [[Munique]]]]


Também significativa é a [[igreja de São Nicolau em Malá Strana]] em [[Praga]], construída por [[Kilian Ignaz Dientzenhofer]] ([[1689]]-[[1751]]) de [[1703]] .
Também significativa é a [[igreja de São Nicolau em Malá Strana]] em [[Praga]], construída por [[Kilian Ignaz Dientzenhofer]] {{nwrap||1689|1751}} de 1703 .
Externamente o edifício apresenta um volume compacto; o interior é de planta longitudinal, com capelas laterais separadas entre si por pilares girados 45 graus, dos quais partem arcos de dupla curvatura antes de serem cobertos por decoração pictórica.
Externamente o edifício apresenta um volume compacto; o interior é de planta longitudinal, com capelas laterais separadas entre si por pilares girados 45 graus, dos quais partem arcos de dupla curvatura antes de serem cobertos por decoração pictórica. As capelas de San Nicola são encimadas por uma espécie de [[matroneu]], típico da [[arquitetura românica|arquitetura medieval]], mas moldado por uma plasticidade inteiramente barroca.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=429}}
As capelas de San Nicola são encimadas por uma espécie de [[matroneu]], típico da [[arquitetura românica|arquitetura medieval]], mas moldado por uma plasticidade inteiramente barroca.<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., p. 429.</ref>


Assim, na esteira da afirmação de novos gostos, surgiram inúmeras outras igrejas rococós em grande parte da [[Europa Central|Europa Central]], entre as quais recordamos a [[igreja de San Carlo Borromeo (Viena)|igreja de St. Charles]] em [[Viena]] ([[1716]]-[[1740]]), a [[igreja de São João na Rocha]] em Praga ([[1727]]-[[1739]] ) , o [[Santuário dos Quatorze Santos|Basílica de Vierzehnheiligen]] ([[1743]]-[[1772]]) e a [[Asamkirche]] de [[Munique]] ([[1733]]-[[1746]]).<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., pp. 425-436.</ref>
Assim, na esteira da afirmação de novos gostos, surgiram inúmeras outras igrejas rococó em grande parte da [[Europa Central]], entre as quais recordamos a [[igreja de San Carlo Borromeo (Viena)|igreja de St. Charles]] em [[Viena]] {{nwrap||1716|1740}}, a [[igreja de São João na Rocha]] em Praga {{nwrap||1727|1739}}, o [[Santuário dos Quatorze Santos|Basílica de Vierzehnheiligen]] {{nwrap||1743|1772}} e a [[Asamkirche]] de [[Munique]] {{nwrap||1733-1746}}.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|pp=425-436}} Na região da [[Silésia]], parte do [[Sacro Império Romano]] e passando de 1741-42 para a [[Prússia]], a influência da [[Boémia|boémio]]-[[Alemanha|alemão]]; um exemplo notável da região é o complexo da [[Abadia de Krzeszów]], próximo do estilo de [[Kilian Ignaz Dientzenhofer|Dientzenhofer]] e onde trabalhou o escultor [[Ferdinand Maximilian Brokoff]].
Na região da [[Silésia]], já parte do [[Sacro Império Romano]] e passando de [[1741]]-[[1742|42]] para a [[Prússia]], a influência da [[ Boêmia| Boêmio]]-[[Alemanha|Alemão]]; um exemplo notável da região é o complexo da [[Abadia de Krzeszów]], próximo ao estilo de [[Kilian Ignaz Dientzenhofer|Dientzenhofer]] e onde trabalhou o escultor [[Ferdinand Maximilian Brokoff]].


[[File:Blenheim Palace - North (6911855954).jpg|thumb|[[Palácio de Blenheim]], [[Woodstock (Oxfordshire)|Woodstock]]]]
[[Imagem:Blenheim Palace - North (6911855954).jpg|thumb|[[Palácio de Blenheim]], [[Woodstock (Oxfordshire)|Woodstock]]]]


Nas mesmas regiões foram construídos palácios imponentes, o primeiro dos quais foi o [[Palácio de Schönbrunn]] em Viena, iniciado por Johann Bernhard Fischer von Erlach no final do século XVII.
Nas mesmas regiões foram construídos palácios imponentes, o primeiro dos quais foi o [[Palácio de Schönbrunn]] em Viena, iniciado por Johann Bernhard Fischer von Erlach no final do {{séc|XVII}}. Pouco depois, ainda na capital austríaca, foi construído o [[Castelo Belvedere]], de [[Johann Lucas von Hildebrandt]]; outros exemplos notáveis ocorreram em [[Dresden]] ([[Zwinger (Dresden)|Zwinger]], por [[Matthäus Daniel Pöppelmann]]), em [[Inglaterra]] ([[Blenheim Palace]], por [[ John Vanbrugh]], com a colaboração de [[Nicholas Hawksmoor]]) e em [[São Petersburgo]] ([[Winter Palace]], por [[Bartolomeo Rastrelli]]).{{harvy|f99a|Fusco|1999a|pp=439-448}}
Pouco depois, ainda na capital austríaca, foi construído o [[Castelo Belvedere]], de [[Johann Lucas von Hildebrandt]]; outros exemplos notáveis ​​ocorreram em [[Dresden]] ([[Zwinger (Dresden)|Zwinger]], por [[Matthäus Daniel Pöppelmann]]), em [[Inglaterra]] ([[Blenheim Palace]], por [[ John Vanbrugh]], com a colaboração de [[Nicholas Hawksmoor]]) e em [[São Petersburgo]] ([[Winter Palace]], por [[Bartolomeo Rastrelli]]).<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., pp. 439-448.</ref>


No [[Império Russo]] este estilo foi importado da Europa Central através do [[Barroco Ucraniano]] e deu origem, com a [[São Petersburgo#Fundação da cidade|fundação de São Petersburgo]], à sóbrio e equilibrado [[Barroco Petrino]], no qual os cânones estilísticos do mundo ocidental foram substancialmente incorporados ([[Mosteiro Aleksandr Nevskij]]). Uma fase mais exuberante ocorreu durante o reinado de [[Isabel da Rússia]], com o chamado [[Barroco Elizabetano]].
No [[Império Russo]] este estilo foi importado da Europa Central através do {{ilc|nl=s|barroco ucraniano}} e deu origem, com a [[São Petersburgo#Fundação da cidade|fundação de São Petersburgo]], à sóbrio e equilibrado [[barroco petrino]], no qual os cânones estilísticos do mundo ocidental foram substancialmente incorporados ([[Mosteiro Aleksandr Nevskij]]). Uma fase mais exuberante ocorreu durante o reinado de [[Isabel da Rússia]], com o chamado {{ilc||barroco isabelino|barroco elizabetano}}.


No entanto, a obra-prima do Rococó é a [[Residência de Würzburg]], de [[Johann Balthasar Neumann]]. O complexo abre-se em torno de um “cour d'honneur”, com duas alas cada uma com vista para dois pátios internos; as salas internas, entre as quais emergem a escadaria e o ''Kaisersall'', apresentam um rico aparato decorativo, com afrescos de [[Giambattista Tiepolo|Giovanni Battista Tiepolo]] e estuques da escola italiana.<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., p. 443.</ref>
No entanto, a obra-prima do rococó é a [[Residência de Würzburg]], de [[Johann Balthasar Neumann]]. O complexo abre-se em torno de um “cour d'honneur”, com duas alas cada uma com vista para dois pátios internos; as salas internas, entre as quais emergem a escadaria e o ''Kaisersall'', apresentam um rico aparato decorativo, com afrescos de [[Giambattista Tiepolo|Giovanni Battista Tiepolo]] e estuques da escola italiana.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=443}}


[[File:Exterior of the Palazzina di caccia of Stupinigi.jpg|thumb|[[Pavilhão de Caça Stupinigi]]]]
[[Imagem:Exterior of the Palazzina di caccia of Stupinigi.jpg|thumb|[[Pavilhão de Caça Stupinigi]]]]


No [[Norte da Itália]] a arquitetura barroca tardia encontrou seus maiores expoentes em [[Filippo Juvarra]] ([[1678]]-1736) e [[Bernardo Antonio Vittone]] ([[1704]]-[[1770 ]] ).<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., pp. 438-448.</ref>
No [[Norte da Itália]] a arquitetura barroca tardia encontrou seus maiores expoentes em [[Filippo Juvarra]] {{nwrap||1678|1736}} e [[Bernardo Antonio Vittone]] {{nwrap||1704|1770}}.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|pp=438-448}} As obras de Juvarra incluem a [[Basílica de Superga]] e a [[Casa de Caça de Stupinigi]], duas obras construídas na área de [[Turim]] na primeira metade do {{séc|XVIII}}. Em particular, a residência Stupinigi é considerada a obra mais original de toda a arquitetura barroca e rococó tardia.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=446}}{{sfn|Norberg-Schulz|1980|p=138}} O complexo é constituído por um conjunto de edifícios que se dilatam e comprimem plasticamente em direcção ao núcleo central, constituído por uma planta elíptica de onde partem duas alas em forma de [[cruz de Santo André]].
As obras de Juvarra incluem a [[Basílica de Superga]] e a [[Casa de Caça de Stupinigi]], duas obras construídas na área de [[Turim|Turim]] na primeira metade do século XVIII. Em particular, a residência Stupinigi é considerada a obra mais original de toda a arquitetura barroca e rococó tardia:<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., p. 446; ver também as opiniões de C. Norberg - Schulz, ''Architettura Tardobarocca'', Milão, 1980, p. 138.</ref> o complexo é constituído por um conjunto de edifícios que se dilatam e comprimem plasticamente em direcção ao núcleo central, constituído por uma planta elíptica de onde partem duas alas em forma de [[Decusse|Cruz de Santa André]].


[[File:Interno Reggia Caserta.jpg|thumb|left|Escadaria do [[Palácio de Caserta]]]]
[[Imagem:Interno Reggia Caserta.jpg|thumb|left|Escadaria do [[Palácio de Caserta]]]]
Em vez disso, entre a vasta produção de Bernardo Vittone lembramos a [[Santuario del Valinotto|capela da Visitação de Valinotto]], perto de [[Carignano]] e a [[igreja de Santa Maria Assunta ]] de [[Grignasco]], dois edifícios centralizados com conformações externas opostas: de fato, as superfícies convexas da capela são contrastadas pelas concavidades da igreja de Grignasco.<ref>R. De Fusco, ''Mil anos de arquitetura na Europa'', cit., p. 438.</ref>


Entre a vasta produção de Bernardo Vittone destaca-se a {{ilc|nl=s|Capela da Visitação do Valinotto||Santuário do Valinotto|Santuário de Valinotto|Santuario del Valinotto}}, perto de [[Carignano]] e a {{ilc|nl=s|Igreja de Nossa Senhora da Assunção|Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Grignasco)|Igreja de Santa Maria Assunta (Grignasco)}} de [[Grignasco]], dois edifícios centralizados com conformações externas opostas: de facto, as superfícies convexas da capela são contrastadas pelas concavidades da igreja de Grignasco.{{harvy|f99a|Fusco|1999a|p=438}}
Entre o final do século XVII e o início do século XVIII, antes da afirmação dos gostos [[Neoclassicismo|neoclássico]], o [[Grão-Ducado da Toscana]] rompeu com os modelos da [[arquitetura maneirista|tardia-arquitetura maneirista]], em voga até então (a única exceção plenamente barroca e notável foram algumas obras de [[Gherardo Silvani]]),<ref>C. Bertelli, G. Briganti, ''História da arte italiana'', Milão, 1991, p. 357.</ref> caminhando com maior vigor em direção a um estilo barroco comedido.<ref>{{citar web|autor=www.turismo.intoscana.it|url=http://www.turismo.intoscana.it/intoscana2/ export/TurismoRT/sito-TurismoRT/Contenuti/Itinerari/visualizza_asset.html_894823325.html|título=O Barroco na Toscana|acessodata=17 de setembro de 2009}}</ref>
Ao lado de expoentes da escola local, como [[Giovan Battista Foggini]] ([[1652]]-[[1737]]),<ref>R. Spinelli, ''Giovan Battista Foggini'', Pisa, 2003.</ref> [[Giovanni Baratta]] ([[1670]]-[[1747]]) e outros, o citado Filippo Juvarra também trabalhou no Grão-Ducado , com quem trabalhou na suntuosa [[Villa Garzoni (Collodi)|Villa Garzoni]] de [[Collodi (Pescia)|Collodi]].


Entre o final do {{séc|XVII}} e o início do {{séc|XVIII}}, antes da afirmação dos gostos [[Neoclassicismo|neoclássico]], o [[Grão-Ducado da Toscana]] rompeu com os modelos da [[arquitetura maneirista]] tardia, em voga até então (a única exceção plenamente barroca e notável foram algumas obras de [[Gherardo Silvani]]),<ref>C. Bertelli, G. Briganti, ''História da arte italiana'', Milão, 1991, p. 357.</ref> caminhando com maior vigor em direção a um estilo barroco comedido.<ref>{{citar web|website=www.turismo.intoscana.it|url=http://www.turismo.intoscana.it/intoscana2/export/TurismoRT/sito-TurismoRT/Contenuti/Itinerari/visualizza_asset.html_894823325.html|datali=2024|título=O Barroco na Toscana|acessodata=17-09-2009}}</ref>
No mesmo período, em [[Roma]] a cultura do século XVIII levou à continuidade com as experiências barrocas, ao invés de uma evolução das mesmas. A fase final do Barroco Romano encontra suas conquistas mais importantes em algumas intervenções urbanas, como a [[Piazza di Spagna]], a [[Piazza Sant'Ignazio|piazzetta di Sant'Ignazio]], a [[Fonte de Trevi]] e o [[porto de Ripetta]].<ref>{{citar web|autor=www.baroque.it|url=http://www.baroque.it/arte-barocca/arte-barocca-architettura.php| título=Arquitetura barroca|acessodata=17 de setembro de 2009}}</ref>
Ao lado de expoentes da escola local, como [[Giovan Battista Foggini]] {{nwrap||1652|1737}},<ref>R. Spinelli, ''Giovan Battista Foggini'', Pisa, 2003.</ref> [[Giovanni Baratta]] {{nwrap||1670|1747}} e outros, o citado Filippo Juvarra também trabalhou no Grão-Ducado, com quem trabalhou na suntuosa [[Villa Garzoni (Collodi)|Villa Garzoni]] de [[Collodi (Pescia)|Collodi]].
Após a construção da fachada da [[Basílica de San Giovanni in Laterano|San Giovanni in Laterano]], na qual [[Alessandro Galilei]] introduziu um modelo mais semelhante ao classicismo barroco de inspiração neo-quinhentista,<ref>P . Portoghesi, ''Roma Barroca'', cit., p. 474.</ref> o último capítulo da temporada barroca em Roma coincidiu com a construção da [[Sacristia de São Pedro no Vaticano|sacristia da basílica de São Pedro no Vaticano]], por [[Carlo Marchionni]], obra infeliz, monótona e confusa,<ref>P. Portoghesi, ''Roma Barroca'', cit., p. 480.</ref> em que vemos um retrocesso na linguagem acadêmica estéril.<ref>C. Bertelli, G. Briganti, ''História da arte italiana'', cit., p. 439.</ref>


No mesmo período, em Roma a cultura do {{séc|XVIII}} levou à continuidade com as experiências barrocas, ao invés de uma evolução das mesmas. A fase final do Barroco Romano encontra suas conquistas mais importantes em algumas intervenções urbanas, como a [[Piazza di Spagna]], a [[Piazza Sant'Ignazio|piazzetta di Sant'Ignazio]], a [[Fonte de Trevi]] e o [[porto de Ripetta]].<ref>{{citar web|publicado=www.baroque.it|url=http://www.baroque.it/arte-barocca/arte-barocca-architettura.php|título=Arquitetura barroca|acessodata=17-09-2009}}</ref> Após a construção da fachada da [[Arquibasílica de São João de Latrão]], na qual [[Alessandro Galilei]] introduziu um modelo mais semelhante ao classicismo barroco de inspiração neo-[[Século XVI|quinhentista]],<ref>P . Portoghesi, ''Roma Barroca'', cit., p. 474.</ref> o último capítulo da temporada barroca em Roma coincidiu com a construção da [[Sacristia de São Pedro no Vaticano|sacristia da basílica de São Pedro no Vaticano]], por [[Carlo Marchionni]], obra infeliz, monótona e confusa,<ref>P. Portoghesi, ''Roma Barroca'', cit., p. 480.</ref> em que vemos um retrocesso na linguagem académica estéril.<ref>C. Bertelli, G. Briganti, ''História da arte italiana'', cit., p. 439.</ref>
Em [[Nápoles]], a corte [[Bourbon das Duas Sicílias|borbonica]] implementou um ambicioso plano de intervenções na capital do reino; daí surgiu uma mudança progressiva nos gostos arquitetónicos sob o signo mais "classicista" dos dois grandes protagonistas: o toscano [[Ferdinando Fuga]]<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitetura'', cit., verbete ''Fuga, Ferdinando''.</ref> ([[1699]]-[[1782]]) e [[ Luigi Vanvitelli]]<ref name="Dicionário de voz Luigi Vanvitelli">N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dizionario diaarchitettura'', cit., entrada ''Vanvitelli, Luigi''.</ref> ([[1700]]-[[1773]]), chamado para Nápoles por volta de [[1750]].
Por exemplo, Ferdinando Fuga, aluno de Giovan Battista Foggini e autor da fachada da [[Basílica de Santa Maria Maggiore|Santa Maria Maggiore]] e do [[palácio da Consulta]] em Roma, ergueu a fachada da [[igreja do Girolamini]] e do [[Real Albergo dei Poveri]] em Nápoles.
A obra mais famosa de Vanvitelli é a [[Reggia di Caserta]], definida como a última grande conquista do barroco italiano;<ref name="Dizionario voci Vanvitelli Luigi"/> porém se dentro da busca pela suntuosa cenografia de estilo barroco o exterior parece mais comedido, antecipando assim os temas da [[arquitetura neoclássica]].<ref name="Dizionario entry Vanvitelli Luigi"/>


Em [[Nápoles]], a corte [[Casa de Bourbon-Duas Sicílias|borbonica]] implementou um ambicioso plano de intervenções na capital do reino; daí surgiu uma mudança progressiva nos gostos arquitetónicos sob o signo mais "classicista" dos dois grandes protagonistas: o toscano [[Ferdinando Fuga]]<ref name=dicFuga/> {{nwrap||1699|1782}} e [[Luigi Vanvitelli]] {{nwrap||1700|1773}}, chamado para Nápoles por volta de 1750. Por exemplo, Ferdinando Fuga, aluno de Giovan Battista Foggini e autor da fachada da [[Basílica de Santa Maria Maior]] e do [[Palácio da Consulta]] em Roma, ergueu a fachada da [[Igreja dos Girolamini]] e do ''[[Real Albergo dei Poveri]]'' em Nápoles. A obra mais famosa de Vanvitelli é a ''[[Reggia di Caserta]]'', definida como a última grande conquista do barroco italiano; porém se dentro da busca pela suntuosa cenografia de estilo barroco o exterior parece mais comedido, antecipando assim os temas da [[arquitetura neoclássica]].{{sfn|Pevsner|Fleming|Honour|1981|loc=cap.&nbsp;«Vanvitelli, Luigi»}}
A viagem pelas obras do barroco tardio da Itália do século XVIII termina na [[Sicília]], e em particular com as [[cidades do barroco tardio do Val di Noto | cidades do Val di Noto]].
Aqui, [[Giovanni Battista Vaccarini]], que se formou em Roma nas obras de Bernini e Borromini, contribuiu para a reconstrução de [[Catania]] após o [[terremoto de Val di Noto de 1693|terremoto de 1693]], restaurou a [[catedral de Sant'Agata]], construiu a [[igreja de Badia di Sant'Agata]] onde demonstrou seu estilo exuberante.<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de arquitetura'', cit., entrada ''Vaccarini, Giovanni Battista''.</ref>
O mesmo terremoto levou à reconstrução de [[Noto (Itália)|Noto]], onde trabalhou [[Rosario Gagliardi]] ([[1698]]-[[1762]]), também ativo em [[Modica]] e [[Ragusa]];<ref>N. Pevsner, J. Fleming, H. Honor, ''Dicionário de Arquitetura'', cit., verbete ''Gagliardi, Rosario''.</ref> na capital siciliana construiu a [[Catedral de San Giorgio (Ragusa)| igreja de San Giorgio]] (1739-[[1775]]), caracterizada por uma fachada elevada de notável efeito plástico, também realçada pela presença de uma escada que a liga à praça frontal.


A viagem pelas obras do barroco tardio da Itália do {{séc|XVIII}} termina na [[Sicília]], e em particular com as {{ilc|cidades do Val di Noto|cidades do barroco tardio de Val di Noto|cidades do Val di Noto|nex=cidades do [[Val di Noto]]}}. Ali, [[Giovanni Battista Vaccarini]], que se formou em Roma nas obras de Bernini e Borromini, contribuiu para a reconstrução de [[Catania]] após o {{ilc|nl=s|sismo de 1693|Sismo de Val di Noto de 1693|Sismo de Val di Noto (1693)|Sismo de Val di Noto}}, restaurou a [[catedral de Sant'Agata]], construiu a [[igreja de Badia di Sant'Agata]] onde demonstrou o seu estilo exuberante.<ref name=dicVac/> O mesmo sismo levou à reconstrução de [[Noto (Itália)|Noto]], onde trabalhou [[Rosario Gagliardi]] {{nwrap||1698|1762}}, também ativo em [[Modica]] e [[Ragusa (província)|Ragusa]];<ref name=dicGag/> na capital siciliana construiu a [[Catedral de San Giorgio (Ragusa)| igreja de San Giorgio]] {{nwrap||1739|1775}}, caracterizada por uma fachada elevada de notável efeito plástico, também realçada pela presença de uma escada que a liga à praça frontal.
==O barroco e a religião==
O [[Concílio de Trento]], o [[Concílios ecuménicos|19º concílio ecuménico]], convocado pelo [[Papa Paulo III]] para assegurar a unidade de fé e a disciplina eclesiástica, realizou-se de [[1545]] a [[1563]], no contexto da reação da [[Igreja Católica]] à cisão vivida na Europa do {{séc|XVI|x}}, diante da [[Reforma Protestante]]. É conhecido como o Concílio da [[Contrarreforma|Contra-Reforma]] e foi o mais longo da história da Igreja.<ref name="InfoEscola">{{citar web |url=http://www.infoescola.com/movimentos-artisticos/barroco/ |título=Barroco |acessodata=2 de junho de 2013 |autor=Ana Lucia Santana |data= |obra= |publicado=InfoEscola }}</ref>

O Concílio emitiu numerosos decretos disciplinares, em oposição aos protestantes e estandardizou a missa, abolindo largamente as variações locais. Regulou também as obrigações dos bispos e confirmou a presença de Cristo na [[eucaristia]].

Definiu, de forma explícita, que a arte deve estar a serviço dos ritos da Igreja, através de imagens, tidas como elementos mediadores entre a humanidade e Deus. Os protestantes [[iconoclasta]]s criticam precisamente esse amplo uso de imagens sagradas. Para os teóricos da Contra-Reforma, no entanto, tais imagens constituem um meio privilegiado de doutrina cristã e da história sagrada.

==O barroco e a forma==

Em termos artísticos, o barroco via utilizar a [[escala (medidas)|escala]] como valor plástico de primeira grandeza. Os efeitos [[volume|volumétricos]] são também elementos essenciais na arquitectura barroca.


===Principais artistas e obras da arquitetura barroca===
===Principais artistas e obras da arquitetura barroca===
Os últimos edifícios romanos de [[Michelangelo]], particularmente a [[Basílica de São Pedro]], podem ser considerados precursores da arquitetura barroca. Seu discípulo [[Giacomo della Porta]] continuou esse trabalho em Roma, especialmente na fachada da igreja jesuíta [[Igreja de Jesus (Roma)|Il Gesù]], o que leva diretamente para a mais importante fachada da igreja do início do barroco, Santa Susanna (1603), de [[Carlo Maderno]].<ref>Para a discussão da fachada de Maderno, veja Wittkower R., ''Art & Architecture in Italy 1600–1750'', 1985 edn, p. 111.</ref>
Os últimos edifícios romanos de [[Michelangelo]], particularmente a [[Basílica de São Pedro]], podem ser considerados precursores da arquitetura barroca. Seu discípulo [[Giacomo della Porta]] continuou esse trabalho em Roma, especialmente na fachada da igreja jesuíta ''[[Igreja de Jesus (Roma)|Il Gesù]]'', o que leva diretamente para a mais importante fachada da igreja do início do barroco, Santa Susanna (1603), de [[Carlo Maderno]].{{
nre|Para a discussão da fachada de Maderno, ver {{harvnb|Wittkower|1985|p=111}}.}}


[[Imagem:Sant'Agnese in Agone (Rome) esterno.jpg|thumb|left|[[Igreja de Santa Inês em Agonia]], em Roma]]
Características distintivas de artistas da arquitetura barroca podem incluir:
[[Ficheiro:Sant'Agnese in Agone (Rome) esterno.jpg|thumb|left|250px|Igreja de ''[[Sant'Agnese in Agone]]'']]


Características distintivas de artistas da arquitetura barroca podem incluir:
*[[Francesco Borromini]], que entre muitas obras construiu em [[Roma]] o ''[[San Carlo alle Quattro Fontane]]''. Surge aí a associação entre elementos retos e elementos curvos, utilizando formas ambivalentes. A fachada é visualmente [[dinâmica]], o que não deixa os espectadores parados. Exibe uma complexidade em termos de organização, [[côncava]], [[convexa]] e retas; é este dinamismo que o barroco impõe. Cria-se um portal monumental, que joga com várias formas, desloca-se o sino para a zona da fonte, em vez da zona central, destacando assim também a importância da fonte, como elemento criativo e funcional integrado na [[arquitectura]]. Borromini foi ainda o autor de ''[[igreja de Sant'Agnese in Agone]]'', na [[Piazza Navona]], e de ''[[igreja de Sant'Andrea delle Fratte|Sant'Andrea delle Fratte]]'', ambas em [[Roma]].
*[[Francesco Borromini]], que entre muitas obras construiu em [[Roma]] a [[igreja de São Carlos nas Quatro Fontes]]. Surge aí a associação entre elementos retos e elementos curvos, utilizando formas ambivalentes. A fachada é visualmente dinâmica, o que não deixa os espectadores parados. Exibe uma complexidade em termos de organização, [[côncava]], [[convexa]] e retas; é este dinamismo que o barroco impõe. Cria-se um portal monumental, que joga com várias formas, desloca-se o sino para a zona da fonte, em vez da zona central, destacando assim também a importância da fonte, como elemento criativo e funcional integrado na [[arquitectura]]. Borromini foi ainda o autor de [[igreja de Santa Inês em Agonia]], na [[Piazza Navona]], e de [[Igreja de Santo André do Horto|Santo André do Horto]], ambas em Roma.
* O [[França|francês]] [[François Mansart]] é um dos mais importantes arquitectos do [[barroco]], com obras tão importantes como ''Château de Masons'' (hoje [[Château de Masons-Laffitte]]), a ''[[igreja do Val-de-Grâce]]'''' e o ''[[Temple du Marais]]'' (estes dois últimos em Paris).
* O francês [[François Mansart]] é um dos mais importantes arquitectos do [[barroco]], com obras tão importantes como ''Château de Masons'' (hoje [[Château de Masons-Laffitte]]), a ''[[igreja do Val-de-Grâce]]'''' e o ''[[Temple du Marais]]'' (estes dois últimos em Paris).
*[[Louis Le Vau]] foi o autor do [[Château de Vaux-le-Vicomte]], considerada como uma das influentes obras da época. A relação pátio-jardim é verdadeiramente revolucionária. Os jardins, projectados por [[André Le Nôtre]], deixam de ser um mero complemento do edifício e ganham um prolongamento que vai para além da construção do ''château'' em si. Os jardins de Le Nôtre, sempre fortemente marcados pela axialidade, tocam, a partir do olhar do observador, no horizonte, realizando o que o autor C. Norberg Schulz chama de experiência de um espaço infinito.
*[[Louis Le Vau]] foi o autor do [[Château de Vaux-le-Vicomte]], considerada como uma das influentes obras da época. A relação pátio-jardim é verdadeiramente revolucionária. Os jardins, projectados por [[André Le Nôtre]], deixam de ser um mero complemento do edifício e ganham um prolongamento que vai para além da construção do ''château'' em si. Os jardins de Le Nôtre, sempre fortemente marcados pela axialidade, tocam, a partir do olhar do observador, no horizonte, realizando o que o autor C. Norberg Schulz chama de experiência de um espaço infinito.
*[[Jules Hardouin-Mansart]] é outro importante arquiteto do barroco, cujas obras mais importantes são o [[Palácio de Versailles]], em que a planta é [[elipse|elíptica]] e os jogos de [[luz]] criam contrastes visuais. A [[Hôtel des Invalides#A catedral de Saint-Louis-des-Invalides|Catedral de Saint-Louis-des-Invalides]] e o ''[[Grand Trianon]] ''também são de sua autoria.
*[[Jules Hardouin-Mansart]] é outro importante arquiteto do barroco, cujas obras mais importantes são o [[Palácio de Versailles]], em que a planta é [[elipse|elíptica]] e os jogos de luz criam contrastes visuais. A [[Hôtel des Invalides#A catedral de Saint-Louis-des-Invalides|Catedral de Saint-Louis-des-Invalides]] e o ''[[Grand Trianon]] ''também são de sua autoria.
*[[Claude Perrault]] é outro importante arquitecto francês, ainda que menos célebre. A fachada oriental que desenhou para o [[Palais du Louvre]] é um excelente exemplo da arquitectura barroca francesa. Em todo o espaço cria-se uma multiplicidade cenográfica. O muro não é entendido como um limite, mas como realidade espacial privilegiada para conter [[movimento]].
*[[Claude Perrault]] é outro importante arquitecto francês, ainda que menos célebre. A fachada oriental que desenhou para o [[Palais du Louvre]] é um excelente exemplo da arquitectura barroca francesa. Em todo o espaço cria-se uma multiplicidade cenográfica. O muro não é entendido como um limite, mas como realidade espacial privilegiada para conter movimento.


==Galeria==
==Galeria==
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File:Oratorio_dei_Filippini_01.jpg|''[[Oratorio dei Filippini]]'', Roma
Oratorio_dei_Filippini_01.jpg|''[[Oratorio dei Filippini]]'', Roma
File:San Carlo alle Quattro Fontane - Front.jpg|Igreja de ''[[San Carlo alle Quattro Fontane]]'', Roma
San Carlo alle Quattro Fontane - Front.jpg|[[Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes]], Roma
File:San Marcello al Corso - Facade.jpg|Igreja de [[San Marcello al Corso]], Roma
San Marcello al Corso - Facade.jpg|[[Igreja de São Marcelo no Corso]], Roma
File:Palazzo Montecitorio - esterno.jpg|''[[Palazzo Montecitorio]]'', Roma
Palazzo Montecitorio - esterno.jpg|[[Palácio Montecitório]], Roma
File:Roma436te.jpg|Escada elicoidal do ''[[Palazzo Barberini]]'', Roma
Roma436te.jpg|Escada elicoidal do [[Palácio Barberini]], Roma
File:Ariccia sta maria assunta.jpg|[[Colegiata de Santa Maria Assunta (Arícia)|Igreja de Assunta]], [[Arícia]]
Ariccia sta maria assunta.jpg|{{ilc|nl=s|Igreja da Assunção|Colegiada de Nossa Senhora da Assunção (Arícia)||Colegiada de Nossa Senhora da Assunção (Arícia)|Colegiada de Santa Maria da Assunção (Arícia)|Colegiada de Nossa Senhora da Assunção|Colegiada de Santa Maria da Assunção}}, [[Arícia]]
File:San Lorenzo (Turin) - Dome interior.jpg|Cúpula da [[Igreja de San Lorenzo (Turim)|San Lorenzo]], [[Turim]]
San Lorenzo (Turin) - Dome interior.jpg|Cúpula da [[Igreja de São Lourenço (Turim)|Igreja de São Lourenço]], [[Turim]]
File:Napoli s Martino chiesa 1040974.JPG|A igreja da [[Mosteiro de San Martino]], [[Nápoles]]
Napoli s Martino chiesa 1040974.JPG|Igreja da {{ilc|Cartuxa de São Martinho||Certosa di San Martino|Mosteiro de São Martinho (Nápoles)|Mosteiro de São Martinho de Nápoles}}, [[Nápoles]]
File:Cathedral Ragusa Ibla.JPG|[[Domo de San Giorgio]], [[Ragusa (Sicília)|Ragusa]]
Cathedral Ragusa Ibla.JPG|[[Catedral de São Jorge (Ragusa)|Catedral de São Jorge]], [[Ragusa (Sicília)|Ragusa]]
File:College des quatre nations cupola.jpg|A cúpula elíptica do ''[[Collège des Quatre-Nations]]'', [[Paris]]
College des quatre nations cupola.jpg|A cúpula elíptica do ''[[Collège des Quatre-Nations]]'', [[Paris]]
File:Parc chateau versailles.jpg|[[Palácio de Versalhes]]
Parc chateau versailles.jpg|[[Palácio de Versalhes]]
File:Nancy, Place Stanislas, E.Héré, 1752-60.jpg|[[Place Stanislas]], [[Nancy]]
Nancy, Place Stanislas, E.Héré, 1752-60.jpg|[[Place Stanislas]], [[Nancy]]
File:MünchenTheatinerkirche a.jpg|''[[Theatinerkirche]]'', [[Munique]]
Exterior of Theatinerkirche, Munich.jpg|''[[Theatinerkirche]]'', [[Munique]]
File:Vista de la basílica de Nuestra Señora del Pilar, en Zaragoza.jpg|[[Catedral-Basílica de Nossa Senhora do Pilar]], [[Saragoça]]
Vista de la basílica de Nuestra Señora del Pilar, en Zaragoza.jpg|[[Catedral-Basílica de Nossa Senhora do Pilar]], [[Saragoça]]
File:Santiago Cathedral 200408.jpg|[[Catedral de Santiago de Compostela]], [[Santiago de Compostela]]
Santiago Cathedral 200408.jpg|[[Fachada do Obradoiro]] da [[Catedral de Santiago de Compostela]]
File:Louvain, Eglise St Michel.jpg|[[Sint-Michielskerk]], [[Lovaina]]
Louvain, Eglise St Michel.jpg|[[Sint-Michielskerk]], [[Lovaina]]
File:Belvedere605010.JPG|Il [[Palácio Belvedere]], [[Viena]]
Belvedere605010.JPG|[[Palácio Belvedere]], [[Viena]]
File:Opactwo-krzeszow.jpg|[[Abadia de Krzeszów]], [[Polónia]]
Opactwo-krzeszow.jpg|[[Abadia de Krzeszów]], [[Polónia]]
File:Kateřinský palác (3).jpg|[[Palácio de Catarina]], [[Rússia]]
Kateřinský palác (3).jpg|[[Palácio de Catarina]], [[Rússia]]
File:Peterhof Fountains 01 - Big Cascade 02.jpg|[[Peterhof|Corte de Peterhof]]
Peterhof Fountains 01 - Big Cascade 02.jpg|[[Peterhof|Corte de Peterhof]]
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==Ver também==
==Ver também==
* [[Arquitetura Barroca em Portugal]]
* [[História da arquitetura]]
* [[História da Arquitetura]]


== Notas ==
{{referências|col=2}}
{{Reflist-nre|colwidth=36em}}


{{Referências|refs=
==Bibliografia==
* [[Giulio Carlo Argan]], ''L'architettura barocca in Italia'', Milão, 1957.
* [[Anthony Blunt]], ''Art and Architecture in France 1500-1700'', Harmondsworth, 1957.
* [[Cesare Brandi]], ''La prima architettura barocca'', Bari, Laterza, 1970.
* [[Renato De Fusco]], ''Mille anni d'architettura in Europa'', Bari, Laterza, 1999. ISBN 88-420-4295-1
* Kerry Downes, ''English Baroque Architecture'', Londres, 1966.
* [[Arnold Hauser]], ''Storia sociale dell'arte'', Torino, 1956.
* Werner Müller, Gunther Vogel, ''Atlante d'architettura. Storia dell'architettura dalle origini all'età contemporanea. Tavole e testi'', Rozzano (Milão), Hoepli, 1997. ISBN 88-203-1977-2
* Augusto Cavallari Murat, ''Forma urbana e architettura nella Torino barocca'', Torino, 1966.
* [[Christian Norberg-Schulz]], ''Architettura Barocca'', Milão, Electa, 1998. ISBN 88-435-2461-5
* Christian Norberg-Schulz, ''Architettura Tardobarocca'', Milão, 1980.
* [[Roberto Pane]], ''Architettura dell'età barocca in Napoli'', Napoles, 1939.
* Thomas Paulsson, ''Scandinavian Architecture'', Londra, 1958.
* [[Nikolaus Pevsner]], ''Storia dell'architettura europea'', Bari, Laterza, 1998. ISBN 88-420-3930-6
* Nikolaus Pevsner, John Fleming, [[Hugh Honour]], ''Dizionario di architettura'', Torino, Einaudi, 1981. ISBN 88-06-13069-2
* [[Paolo Portoghesi]], ''Roma barocca'', Roma 2011. ISBN 978-88-359-9084-0
* [[David Watkin (storico dell'architettura)|David Watkin]], ''A History of Western Architecture'', 2005.
* [[Rudolf Wittkower]], ''Arte e architettura in Italia, 1600-1750'', Torino, Einaudi, 2012. ISBN 978-88-06-17708-9
*[[Heinrich Wölfflin]], ''Renaissance und Barock: eine Untersuchung über Wesen und Entstehung des Barockstils in Italien'', 1888 ora in trad. it. ''Rinascimento e barocco'', [[Aesthetica Edizioni]], Milão 2010-2017 ISBN 978-88-8416-776-7


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==Bibliografia==
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*{{Citation|último=Blunt|ano=1957|primeiro=Anthony|autorlink=Anthony Blunt|título=Art and Architecture in France 1500-1700|publicado=Harmondsworth|língua=en}}
*{{Citation|último=Brandi|ano=1970|primeiro=Cesare|autorlink=Cesare Brandi|título=La prima architettura barocca|publicado=Laterza|língua=it|local=Bari}}
*{{Citation|último=Brandi|ano=2013|primeiro=Cesare|título=Disegno dell{{'}}architettura italiana|língua=it|local=Roma}}
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*{{Citation|último=Downes|ano=1966|primeiro=Kerry|título=English Baroque Architecture|língua=en|local=Londres}}
*{{Citation|último=Fusco|ano=1999|ref=f99a|primeiro=Renato De|título=Mille anni d{{'}}architettura in Europa|publicado=Laterza|língua=it|local=Bari|isbn=88-420-4295-1}}
*{{Citation|último=Fusco|ano=1999|ref=f99b|primeiro=Renato|título=Topocronologia dell{{'}}architettura europea: luoghi, autori, opere dal XV al XX secolo|língua=it|publicado=Zanichelli|url={{Googlebooks url|o1VIAQAAIAAJ}}|isbn=9788808088222}}
*{{Citation|último=Hauser|ano=1956|primeiro=Arnold|autorlink=Arnold Hauser|título=Storia sociale dell{{'}}arte|língua=it|local=Turim}}
*{{Citation|último=Hubala|ano=1990|primeiro=Erich|título=Die Kunst des 17. Jahrhunderts|língua=de|editora=Propyläen Kunstgeschichte|local=Frankfurt am Main e Berlim|página=207-211}}
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*{{Citation|último=Murat|ano=1966|primeiro=Augusto Cavallari|título=Forma urbana e architettura nella Torino barocca|língua=it|local=Turim}}
*{{Citation|último=Norberg-Schulz|ano=1980|primeiro=Christian|autorlink=Christian Norberg-Schulz|título=Architettura Tardobarocca|língua=it|local=Milão}}
*{{Citation|último=Norberg-Schulz|ano=1998|primeiro=Christian|título=Architettura Barocca|publicado=Electa|língua=it|local=Milão|isbn=88-435-2461-5}}
*{{Citation|último=Pane|ano=1939|primeiro=Roberto|título=Architettura dell{{'}}età barocca in Napoli|língua=it|local=Nápoles}}
*{{Citation|último=Paulsson|ano=1958|primeiro=Thomas|título=Scandinavian Architecture|língua=en|local=Londres}}
*{{Citation|último=Pevsner|ano=1981|primeiro=Nikolaus|autorlink=Nikolaus Pevsner|último2=Fleming|primeiro2=John|último3=Honour|primeiro3=Hugh|título=Dizionario di architettura|língua=it|publicado=Einaudi|isbn=88-06-13069-2|local=Turim}}
*{{Citation|último=Pevsner|ano=1998|primeiro=Nikolaus|título=Storia dell{{!}}architettura europea|isbn=88-420-3930-6|língua=it|publicado=Laterza|local=Bari}}
*{{Citation|último=Portoghesi|ano=2011|primeiro=Paolo|autorlink=Paolo Portoghesi|título=Roma barocca|língua=it|local=Roma|isbn=978-88-359-9084-0}}
*{{Citation|último=Tafuri|ano=1966|primeiro=Manfredo|título=L{{'}}architettura del manierismo nel cinquecento europeo|língua=it}}
*{{Citation|último=Vlasov|ano=2004|primeiro=Viktor Georgievich|título=Novo Dicionário Enciclopédico de Belas Artes|capítulo=Barroco|publicado=ABC-Classics|língua=ru|local=São Petersburgo}}
*{{Citation|último=Vlasov|ano=2012|primeiro=Viktor Georgievich|título={{lang|ru|Искусство России в пространстве Евразии}}|títulotrad=Arte da Rússia no espaço da Eurásia|capítulo=Власов В. Г. Итальянизирующий петербургский ампир К. Росси и архитектура дальних перспектив [Italianizando o estilo do Império de São Petersburgo de C.&nbsp;Rossi e a arquitetura de perspectivas distantes]|volume=2|publicado=Dmitry Bulanin|língua=ru|local=São Petersburgo}}
*{{Citation|último=Watkin|ano=2005|primeiro=David|título=A History of Western Architecture|língua=en}}
*{{Citation|último=Wittkower|ano=1985|primeiro=Rudolf|título=Art & Architecture in Italy 1600–1750|língua=en}}
*{{Citation|último=Wittkower|ano=2012|primeiro=Rudolf|título=Arte e architettura in Italia|língua=it|publicado=Einaudi|local=Turim|isbn=978-88-06-17708-9}}
*{{Citation|último=Wölfflin|ano=1888|primeiro=Heinrich|autorlink=Heinrich Wölfflin|título=Renaissance und Barock: eine Untersuchung über Wesen und Entstehung des Barockstils in Italien|língua=de}}. Tradução em italiano: {{Citation|título=Rinascimento e barocco|data=2010–2017|publicado=Aesthetica Edizioni|local=Milão|isbn=978-88-8416-776-7|ref=wolf}}
{{-fim}}


{{Commonscat|getwikidata}}
== Ligações externas ==
{{commonscat|Baroque architecture}}
{{História da Arquitetura}}
{{História da Arquitetura}}
{{Controle de autoridade|colapsar}}
{{Portal3|Arquitetura e urbanismo}}
{{Portal3|Arquitetura e urbanismo}}



Revisão das 21h54min de 7 de setembro de 2024

Fachada da Igreja de São Carlos, em Noto, Sicília
Série de artigos sobre
História da arquitetura

Arquitetura da Pré-História

Neolítica | Rupestre

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A arquitetura barroca (AO 1945: arquitectura barroca) é o estilo arquitectónico praticado durante o período barroco que, precedido pelo Renascimento e maneirismo, inicia-se a partir do século XVII, durante o período do absolutismo,[1] e decorre até à primeira metade do século XVIII. A palavra portuguesa “barroco” define uma pérola de forma irregular (pérola imperfeita).[2]

De facto, as características fundamentais da arquitectura barroca são as formas plásticas, com predilecção pelas linhas curvas, com movimentos sinuosos, como elipses, espirais ou curvas de construção policêntrica, por vezes com motivos que se entrelaçam, tanto que a sua geometria pode ser quase indecifrável. Tudo devia suscitar admiração e o forte sentido de teatralidade levou o arquitecto a procurar uma obra de arte unificada, fundindo pintura, escultura e estuque na composição espacial, e sublinhando tudo através de sugestivos jogos de luz e sombra. Contudo, esta definição não é aplicável a todos os países europeus; na França, na Inglaterra, em diversas regiões do norte da Europa e, posteriormente, até na Itália, o barroco foi revivido através de formas derivadas do Renascimento e da arquitetura antiga, no que se define como classicismo barroco.[1]

Muitos são os pontos que se relacionam como os princípios do desenho espacial das composições arquitectónicas: esta é uma arquitetura de “espaços abertos e vistas amplas”,[3] que dá a ilusão de espaço infinito, perspectivas infinitas. Se a arquitetura do classicismo é caracterizada pelo equilíbrio, proporcionalidade harmoniosa, composição fechada, tectónica: clareza das divisões e simetria das fachadas, então a arquitetura do estilo barroco, pelo contrário, é caracterizada pela abertura e dinamismo, interação ativa de volumes com o espaço envolvente ("introdução" do volume no espaço), a interação dinâmica do interior com o exterior da composição arquitetónica, o domínio da verticalidade em vez da horizontalidade clássica. No barroco, o ponto focal transforma-se numa força de desenho que traz ordem ao caos. O contraventamento do entablamento, o frontão quebrado, a disposição irregular das pilastras e colunas criam relevo das fachadas com efeitos de claro-escuro, especialmente em “perspectivas angulares", que servem os mesmos propósitos - teoria da perspectiva. Tudo isto confere à arquitectura um carácter pitoresco.[4]

Considerando que o Renascimento contou com a riqueza e o poder dos tribunais italianos e era uma mistura de forças seculares e religiosas, o estímulo mais importante para o surgimento e desenvolvimento do estilo barroco são as grandes descobertas geográficas e científicas dos séculos XVI e XVII, que ampliaram significativamente a compreensão das pessoas sobre o tempo e o espaço.

O vocabulário formal da arquitetura antiga, redescoberto e reinterpretado pelo Renascimento, é utilizado de uma nova maneira, mais retórica, mais teatral, mais ostensiva, para servir o projeto absolutista e triunfal da Igreja Católica e dos estados. Visando a piedade popular, o barroco nasce num ambiente em que a ideologia e a estética do catolicismo, o movimento ideológico da Contrarreforma e as decisões do Concílio de Trento da Igreja Católica[a] — em particular, no contexto das novas ordens religiosas, como os teatinos e os jesuítas — a pessoa que entra e permanece numa igreja ou palácio deve ficar impressionada com a beleza e o esplendor que simbolizam a glória de Deus ou do poder absoluto.[5]

Contexto histórico

O século XVII foi um período caracterizado por uma variedade de tendências nunca antes experimentadas. A concepção do cosmos tinha sido completamente revolucionada no século anterior, enquanto que as divisões desenvolvidas no interior da Igreja haviam-se tornado símbolo de uma desintegração de um mundo unificado e absoluto. No campo da arte, o sentimento de dúvida e a consequente alienação do indivíduo haviam encontrado expressão no maneirismo.

Entre finais do século XVI e princípios do século XVII poder-se-ia observar alterações na atitude humana. Descartes, tendo aprendido que de tudo se podia duvidar, chegara à conclusão de que a dúvida era a única certeza; separando o ato de duvidar de qualquer elemento desconhecido, ele acabou por escrutinar os fundamentos do cepticismo. O homem voltaria então a perseguir a certeza, escolhendo entre as alternativas que lhe eram oferecidas na época; o novo mundo tornou-se "pluralístico", oferecendo ao homem uma variedade de escolhas e alternativas, tanto de carácter religioso como filosófico, económico e político.[6]

Enquanto que o universo renascentista era reservado e estático, a atitude fundamental da época barroca tornou-se, por conseguinte, o de pertencer a um sistema absoluto e integrado, mas ao mesmo tempo abeto e dinâmico. Tal postura foi favorecida pelas grandes viagens de exploração, pela descoberta de um mundo mais amplo, pela colonização e desenvolvimento da pesquisa científica. Isto determinou um aumento da especialização da atividade humana, com a consequente rotura do binómio arte e ciência, combinação esta que havia criado as bases do homem universal do Renascimento.[7]

A destruição do velho mundo culminou com a Guerra dos Trinta Anos, que no início do século XVII paralisou parte da Europa Central. Neste período, a reforma protestante difunde-se por várias partes da Europa, dando início ao desenvolvimento de diversas igrejas reformadas. A consequente Contrarreforma, iniciada pela igreja católica com o Concílio de Trento, teve repercussões significativas nas artes: fomentou importância didáctica das imagens e foram definidas uma série de normas no campo das artes, acentuando a distinção entre o clero e os fiéis.[8] Esta postura estendeu-se a todas as religiões do mundo católico, graças ao trabalho dos jesuítas e, apesar do seu carácter rígido e defensivo, favoreceu o desenvolvimento da arte barroca. De facto, no século XVII, a Igreja Católica procurava um compromisso com o poder político, parando de lutar contra as intromissões da realidade histórica[9] e tentando conciliar as questões da fé com as inerentes à vida mundana; por esta razão o barroco tornou-se num estilo capaz de expressar tanto os dogmas da fé como as frivolidades da mundanidade.[8]

Esta dupla expressão da arte barroca pode ser encontrada no ordenamento urbano idealizado por Domenico Fontana em Roma, durante o pontificado de Sisto V: a melhoria das coligações entre as igrejas mais importantes da cidade conduziu à formação d amplas praças ornamentadas com obeliscos e fontes, tornando-se portanto, símbolo de uma vitalidade e de um dinamismo não apenas religioso.[10]

Periodização

A arquitetura barroca, que se prenuncia já em meados do século XVI nalgumas obras de Miguel Ângelo, desenvolveu-se em Roma e atingiu maior expressão entre 1630 e 1670; difundiu-se na restante península e no mundo ocidental, afirmando-se no século XVII e decorrendo até à primeira metade do século XVIII; quando Roma voltar-se-ia, de novo, para o classicismo, a exemplo de Paris.[11]

Em Itália, o primeiro período barroco corresponde à atividade de artista e arquitetos como Carlo Maderno, Annibale Carracci, Caravaggio, Peter Paul Rubens. Um segundo período surge a partir da terceira década do século XVII, com as obras de Gian Lorenzo Bernini, Pietro de Cortona e Francesco Borromini, que fizeram de Roma o maior centro de atrações artísticas de toda a Europa. Mais precisamente nos pontificados de Urbano VIII Barberini, de Inocêncio X Pamphili e Alexandre VII Chigi, o barroco torna-se num estilo internacional que da capital dos Estados Pontifícios e sede do papado católico, se difunde por todo o mundo ocidental.[10] O termo está relacionado com a decadência da Santa Sé, principalmente após a morte do papa Alexandre VII, em 1667;[12] a destituição de Gian Lorenzo Bernini do projeto de ampliação do Louvre coincide com o início do declínio de Roma como principal centro irradiador de influência artística, e a afirmação de Paris neste contexto.[13]

Em França, a periodização do barroco não está relacionada à obra individual de artistas, mas deve-se sobretudo à política cultural de Luís XIV que tratou de identificar este estilo com o nome do próprio soberano. Recorde-se, aliás, que em finais do século XVII, a revogação do Edito de Nantes provocou a migração de numerosos huguenotes franceses nos Países Baixos e na Inglaterra: o primeiro caso, representaria o fim da autonomia da comunidade local, desenvolvida há algumas décadas com a ascensão política e cultural de Amesterdão; no segundo caso, a migração francesa coincide com o ponto de viragem da arquitetura barroca na Inglaterra.[14]

A influência do barroco não se restringiu apenas ao século XVII; em bem verdade, no início do século XVIII, a afirmação do rococó, que embora não seja uma simples continuação do primeiro,[15] pode ser entendido como uma última fase do barroco.[16]

Características da arquitetura barroca

Contrariamente à tese de que o barroco teve origem no maneirismo,[b] diversos estudos sustentam que foi o classicismo tardio que deu início ao novo estilo. De facto, a arquitetura maneirista não foi suficientemente revolucionária ao ponto de alterar radicalmente, no sentido espacial e não apenas a nível ornamental, o estilo da antiguidade para fins populares e retóricos num ambiente contrarreformista;[17] por outras palavras, o maneirismo não correspondia às exigências artísticas da contrarreforma, por carecer de características relativas à clareza, realismo e intensidade emotiva requeridas pela Igreja do final do século XVI.[18]

Já no século XVI, Miguel Ângelo havia prenunciado o barroco nas formas colossais e maciças da cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma; as alternâncias de proporções e forças expressadas pelo mesmo arquiteto no vestíbulo da Biblioteca Medicea Laurenziana adicionadas à enorme cornija do Palácio Farnésio tinham despertado, à época, reações, justamente pela veemente alteração das proporções clássicas. Não obstante, noutras obras, Miguel Ângelo tinha cedido à influência da corrente maneirista. Entretanto, apenas quando o maneirismo chegava ao fim é que se redescobriria Miguel Ângelo como o pai do barroco.[11]

As principais características do barroco definem-se como uma reação à simetria e às formas rígidas do Renascimento: utilizam o dinamismo plástico, a suntuosidade e a imponência, reforçados por intensa emotividade conseguida através de sinuosidades, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos perspéticos e ilusórios, tanto nas fachadas quanto no desenho das plantas e dos interiores das edificações. A intenção da criação de ilusão do movimento; combinação e abundância de linhas opostas que reforçam o efeito cénico; o uso de jogos de claro-escuro pela construção de massas salientes e reentrantes (sinuosas ou lisas). Os elementos construtivos usados como elementos puramente decorativos: uso de colunas torsa, helicoidais, duplas ou triplas e escalonadas; os frontões são compostos ou interrompidos, que reforçam o movimento ascensional das fachadas; o uso de decorações naturalistas convertem-se em elementos característicos do estilo.[1]

O barroco, no entanto, não se limitou a reavaliar novas tendências dos antigos padrões, mas criou uma nova concepção espacial, com a interpenetração das partes resultantes de uma visão espacial unitária, da qual são exemplo as igrejas de São Carlos nas Quatro Fontes e de Santo Ivo em La Sapienza de Borromini, ambas em Roma, ou a Basílica de Vierzehnheiligen de Johann Balthasar Neumann, em Bad Staffelstein, Baviera.[19] Neste contexto, o historiador Bruno Zevi definiu o barroco como a libertação espacial, libertação mental das regras dos tratadistas, das convenções, da geometria elementar e da estática. É a libertação da simetria e da antitese entre o espaço e interior e o espaço exterior.[20]

O século XVII propusera, contudo, uma multiplicidade de sistemas religiosos, filosóficos e políticos; não é possível, portanto, determinar um conceito unitário da arquitetura barroca. Porém, todos os sistemas barrocos tinham em comum o facto de operarem através da "persuasão", da "participação", do "transporte", que se traduziram em termos de centralização, integração e extensão espacial.[21]

Temas da arquitectura barroca

Urbanismo

Em 1585, o papa Sisto V deu início aos trabalhos de transformação urbanística de Roma, contratando Domenico Fontana para vincular os principais edifícios religiosos da cidade por meio de grandes eixos estradais rectilíneos. O projecto, que tinha como propósito enfatizar o papel de Roma como "cidade santa", lançou premissas para uma série de transformações semelhantes em vários centros por toda a Europa.[22]

Assim, à planimetria centralizada e fechada das cidades ideais renascentistas,[23] contrapôs-se a concepção barroca da "cidade capital", mais dinâmica e aberta face os seus próprios confins, mas ao mesmo tempo um ponto de referência para todo o território. Em Roma, os pontos focais do panorama urbano foram demarcados com a utilização dos antigos obeliscos egípcios e altas cúpulas; por outro lado, em Paris, os nós do sistema rodoviário foram definidos por praças simétricas, centradas em torno da estátua do soberano.

Do ponto de vista geral, a praça barroca abandonou a sua tradicional função cívica e pública, para se tornar um meio de exaltação da ideologia política ou religiosa, como no caso do chamado "palace-royale" francês (como por exemplo, a Place Dauphine e a Place des Vosges) e da Praça de São Pedro em Roma.[24]

Igreja

Igreja de Santa Susana, Roma

Como ponto de partida da arquitectura barroca pode considerar-se a Igreja de Jesus de Roma, construída a partir de 1568 sob o projecto de Jacopo Vignola.[25] O edifício, que representa uma síntese entre a arquitectura renascentista, maneirista e barroca, satisfazia plenamente as novas exigências contrareformistas: a disposição longitudinal da planta permitia acolher o maior número de fiéis, enquanto a planta em cruz latina com numerosos absidíolos representava um retorno à tradição do Concílio de Trento.

Por outro lado, a presença de uma cúpula sublinhava a centralidade do espaço face o fundo da nave, e presagiava a busca por uma integração entre o planta longitudinal e o centralizado.[26] Além disso, a fachada, construída de acordo com o projeto de Giacomo della Porta, antecipava os elementos mais marcadamente barrocos, comparáveis com os alçados das igrejas de Santa Susana e de Santo André do Vale.[27]

O desenvolvimento da arquitetura da igreja barroca assenta nos mesmos princípios de integração entre plantas longitudinais e centralizados, bem como na vontade de integrar a igreja no espaço urbano envolvente. Se os arquitectos maneiristas alteram o traçado rigoroso das fachadas renascentistas acrescentando temas e decorações caracterizadas por um intelectualismo requintado e sombrio, sem modificar a lógica planimétrica e estrutural das fachadas dos edifícios, os arquitectos barrocos modificam essa arquitectura tanto nas plantas como nas partituras. fachadas, segundo um novo conceito espacial. As fachadas das igrejas não constituem mais a terminação lógica do corte interno, mas tornam-se um organismo plástico que marca a transição do espaço interno para a cena urbana. Assim, o espaço interno, muitas vezes definido por elipses, é modelado continuamente através do movimento dos elementos espaciais, diferenciando-se totalmente do conceito renascentista, que previa uma sucessão uniforme de elementos dispostos em simetria entre si.[25]

No que diz respeito aos desenhos planimétricos, além dos sistemas derivados da planta da basílica tradicional, a época barroca prevê dois tipos fundamentais de plantas centralizadas: as igrejas longitudinais centralizadas e as igrejas de planta central alongada.[25]

Palácio

Palácio Carignano, em Turim

Na arquitetura civil é necessário distinguir dois tipos de residência nobre: o palácio da cidade e a villa de campo.[25]

O palácio italiano, embora com algumas variações regionais, manteve-se fiel à tipologia residencial do Renascimento, com um edifício fechado em torno de um pátio interno. Geralmente as fachadas principais eram dotadas de corpos vanguardistas e decoradas com a utilização de colunas gigantes.[28] Notamos também o prolongamento do eixo de simetria no interior do edifício, onde se abrem o vestíbulo e o pátio central; por exemplo, o eixo longitudinal introduzido no Palácio Barberini, em Roma, contribui para a definição do plano e sublinha a sua relação com o ambiente externo. Além disso, este edifício constitui um ponto de viragem na tipologia das residências de estilo italiano: a planta é em forma de H, com um átrio profundo que diminui constantemente de largura até conduzir a uma sala elíptica, centro nodal de todo o edifício.[29]

Palácio do Luxemburgo, em Paris

Por outro lado, a residência urbana da nobreza francesa, chamada hôtel, lembrava a planta das cortes medievais;[28] de facto, o clima severo exigiu uma maior exposição solar das divisões e impôs a adopção de planos mais complexos, definidos pela construção de alas laterais pronunciadas.[30] O corpo principal está afastado da estrada e é precedido pelo cour d'honneur, espaço aberto ao exterior, mas que ao mesmo tempo separa a residência da cidade. Adequado a este esquema está o Palácio do Luxemburgo, construído por Salomon de Brosse a partir de 1617; aqui, ao contrário de outros edifícios, os pavilhões de esquina não se destinavam a abrigar salas de serviço, mas continham apartamentos reais em cada andar.[31]

Em França, foi também notável o desenvolvimento das casas de campo (palácios), o que levou à criação de complexos muito grandes, para os quais convergiam as principais vias rodoviárias.[32] Entre estes recordamos o Castelo de Maisons-Laffitte (1642–1646), desenhado por François Mansart, o de Vaux-le-Vicomte (1656–1661), desenhado por Louis Le Vau e, claro, o Palácio de Versalhes, símbolo do absolutismo francês, cujo trabalho de reconstrução foi iniciado pelo próprio Le Vau a mando de Luís XIV.[33]

Nascimento e difusão do barroco no século XVII

Igreja

No final do século XVI, Roma tornou-se o centro de desenvolvimento da arquitetura ligada à Contrarreforma e exerceu a sua influência em todo o mundo católico. As premissas para a afirmação do estilo barroco podem já ser encontradas nas obras de Giacomo Della Porta ( 1533 - 1602 ), que construiu a fachada da igreja de Gesù nas últimas décadas do século XVI.[27]

Poucos anos depois, em 1603, foi concluída a fachada da igreja de Santa Susana, desenhada por Carlo Maderno ( 1556-1629 ) e habitualmente considerada o "primeiro exemplar plenamente concretizado da arquitectura barroca";[35] embora a disposição espacial ainda seja maneirista,[36] Maderno reforçou o eixo central através da utilização gradual de pilares, semicolunas e colunas em direção à parte central do edifício, acentuando assim a plasticidade que já havia surgido na obra Della Da porta. Em comparação com Della Porta e a fachada da igreja de Gesù, a inovação substancial reside em ter alargado a utilização de colunas à primeira ordem de toda a zona central e tê-la substituído, no nível superior, por uma série de pilastras.[37] No geral, foi um salto notável em comparação com a frieza académica em voga até então e evidente, por exemplo, na fachada da Igreja de São Jerônimo dos Croatas, obra criada por Martino Longhi, o Velho, por volta de 1588-1589.[38]

Neste contexto, foram erguidas numerosas fachadas com o mesmo propósito propagandístico,[39] algumas com resultados muito particulares, como é o caso da Igreja dos Santos Vicente e Anastácio em Trevi, de Martino Longhi, o Jovem (1602–1660), onde numerosas colunas estão concentradas na parte central do prospecto. O próprio Maderno foi encarregado de ampliar um braço da Basílica de São Pedro, a fim de tornar a igreja adequada para acomodar um maior número de fiéis; também neste caso, a fachada ( 1608 - 1612 ), uma das obras mais comentadas da história da arquitectura,[40] apresenta uma maior intensidade plástica em direcção ao centro.[41]

Uma nova abordagem, baseada na transformação das formas e não na aplicação de elementos decorativos, ocorreu com o sucesso de Gian Lorenzo Bernini (1598–1680), Francesco Borromini (1599–1667) e Pietro da Cortona (1596–1669).[39]

Planta da igreja de Santo André no Quirinal

Bernini foi o dominador da cultura artística romana durante meio século.[42] O baldaquino de São Pedro (1624–1633), depois das limitações e incertezas que surgiram na restauração da Igreja de Santa Bibiana, constitui o verdadeiro início da sua carreira. No entanto, não representa um ponto de viragem repentino, mas sim um caminho gradual de autocrítica que se estende por quase uma década de trabalho. Bernini definiu os suportes do Baldaquino com quatro colunas torsas que, embora não sendo uma novidade absoluta no panorama arquitetónico romano, diferiam claramente do desenho dos pilares da basílica vaticana, fazendo do cibório o ponto focal de toda a construção. A principal novidade, porém, está no coroamento, para cuja definição também está documentada a contribuição de Borromini, com aquele leve emaranhado de volutas que, com razão, pode ser considerado o manifesto da arquitetura barroca.[43] Algumas décadas depois, a partir de 1658, o mesmo arquitecto construiu a pequena igreja de Santo André no Quirinal, de planta oval fortemente dilatada e caracterizada pela presença de numerosas capelas criadas na parede perimetral; uma cúpula, pouco visível do exterior, assenta no entablamento que serpenteia acima das aberturas laterais.[44]

O tema oval, adotado por Bernini também na desaparecida capela dos Três Reis (1634) e na Praça de São Pedro (concluída em 1667), também deveria ter sido retomado por Carlo Rainaldi (1611–1691)na Igreja de Santa Maria em Campitelli, mas, na altura da construção, a nave elíptica foi transformada num espaço biaxial, livre de curvas, com uma série de capelas que se estreitam até à zona da abside. Em particular, um santuário coberto por uma cúpula circular foi unido ao corpo frontal da igreja, segundo um esquema utilizado no norte da Itália que, no entanto, não foi seguido em Roma.[45] A forma recortada da nave, realçada pela presença de colunas e pilares sobre os quais se assenta o entablamento, repete-se também na fachada principal, onde ainda emergem colunas apoiadas em pilares numa sucessão de edículas.[46]

A procura de espaços criados dentro do muro perimetral é evidente na igreja da Colegiada de Nossa Senhora da Assunção, em Arícia, localidade situada perto de Roma.[46] O projeto, também de Bernini, foi implementado no início da década de 1660; em comparação com Santo André no Quirinal, a planta aqui é circular e é ladeada externamente por dois propileus localizados no final de um corredor que circunda a parte posterior do edifício. Se a figura da planta apresenta uma tablatura clássica, referente aos modelos de Bramante ou ao Panteão de Roma, no exterior a invenção barroca manifesta-se no traçado urbano do conjunto, com o corredor circular representando um exterior e um interior no ao mesmo tempo, e com o volume da igreja que “gera visivelmente a sua faixa espacial, que não é de contenção, como em Borromini, mas de expansão medida e controlada”.[47]

Planimetria da Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes com o convento e o claustro

Todavia, é na Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes (conhecida como San Carlino) de Borromini que a temática dos espaços criados no perímetro do edifício atinge o seu apogeu.[46] Esta igreja, tão pequena que caberia dentro de um pilar da basílica do Vaticano,[48] foi iniciada em 1638 num pequeno terreno onde, além do próprio local de culto, existia também o claustro e o adjacente convento. A planta de San Carlino remonta ao oval, com paredes côncavas e convexas que se alternam para formar capelas laterais. A cúpula tem base oval e está gravada com uma profunda estrutura em caixotões onde se alternam em diferentes formas; a ligação entre a cúpula e o corpo do edifício é feita por meio de quatro tímpanos que assentam no entablamento. O movimento ondulante das paredes e a alternância rítmica de formas salientes e recuadas dão origem a um organismo plástico pulsante, cuja forma é sublinhada pela ausência de decorações suntuosas. Na fachada, iniciada apenas nos últimos anos de vida de Borromini, ainda é evidente a procura de um intenso dinamismo, com superfícies sinuosas dispostas em duas ordens: a parte inferior é caracterizada por uma sucessão de superfícies côncavas - convexas - côncavas; a superior é dividida em três partes côncavas, das quais a central abriga uma edícula convexa.[49]

Interior da Arquibasílica de São João de Latrão
Igreja de Santa Inês em Agonia

Borromini esteve envolvido em vários canteiros de obras em Roma: criou o Oratorio dei Filippini (cuja fachada, rica em concavidades e convexidades, é uma feliz fusão entre um palácio e uma igreja),[50] a igreja de Nossa Senhora das Sete Dores (incompleta) e, a partir de 1642, iniciou o que pode ser considerado a sua obra-prima,[51] a igreja de Santo Ivo em La Sapienza. Diretamente ligada à igreja de São Carlos nas Quatro Fontes, a igreja de La Sapienza foi colocada para fechar um pátio preexistente projetado por Della Porta. A planta, gerada essencialmente pela intersecção de dois triângulos equiláteros opostos, é coroada em elevação por uma cúpula com lanterna terminando em espiral; o traçado de Sant'Ivo, mais uma vez moldado através da utilização de concavidades e convexidades, é um dos mais unitários da história da arquitectura, ainda que, precisamente pela sua audácia, não tenha encontrado aplicações semelhantes nas obras dos seus contemporâneos.[52]

O mesmo arquitecto, contratado pelo papa Inocêncio X, também interveio na restauração da grande Arquibasílica de São João de Latrão (San Giovanni in Laterano); Borromini manteve a estrutura original, incorporando as colunas das naves no interior de grandes pilares, enquanto a planeada cobertura abobadada não foi construída. Segundo os críticos, embora o projeto não tenha sido executado na íntegra, “San Giovanni in Laterano tem uma das mais belas naves que existem”:[53] a integração dos espaços é acentuada pelas grandes aberturas que percorrem a nave, enquanto as naves laterais são constituídas por pequenas unidades centralizadas, com cantos côncavos que também continuam nas abóbadas.[54]

Alguns anos depois trabalhou na igreja de Santa Inês em Agonia, iniciada por Girolamo Rainaldi (1570–1655) e pelo seu filho Carlo em 1652, criando uma das visões mais classicizantes da sua produção artística ; o edifício, cuja construção foi novamente assumida por Carlo Rainaldi, é uma das obras mais significativas da época, pois teve uma influência notável a nível internacional.[55] A planta é uma cruz grega que se funde com o espaço circular encimado por uma grande cúpula; é uma revisão barroca da planta central de São Pedro.[56] A invenção de Borromini reside na fachada, onde recuou a frente principal para obter uma forma côncava firmemente ligada ao tambor convexo da cúpula; estendeu então a fachada aos edifícios laterais, de modo a construir duas torres sineiras caracterizadas por uma orientação tendencialmente irregular em direcção ao topo. Invenções semelhantes também podem ser encontradas na torre sineira de Sant'Andrea delle Fratte (obra inacabada também de Borromini), que termina com uma espécie de lanterna circular.[57]

Igreja de Santa Martina e São Lucas

Carlo Rainaldi também se dedicou às duas igrejas gêmeas da Praça do Povo. A primeira, consagrada a Igreja de Nossa Senhora do Monte Santo, foi iniciada em 1662 e depois concluída por Carlo Fontana (1638-1714 ) com base em projetos de Bernini; a segunda, dedicada a Nossa Senhora dos Milagres, foi realizada a partir de 1675, sempre com a colaboração de Fontana. As duas igrejas, colocadas simetricamente em torno do tridente formado pela via del Corso, via di Ripetta e via del Babuino, parecem iguais, mas na realidade, para melhor se adaptarem à configuração do lote, foram diferenciadas em plantas: para Santa Maria dos Milagres adotou-se uma planta circular, enquanto para a adjacente Santa Maria em Montesanto, situada num lote maior, optou-se por uma forma elíptica, com dimensões transversais semelhantes à anterior, de modo a manter a aparente simetria da frente.[58] Outra obra notável de Rainaldi é o exterior da abside de Santa Maria Maior, colocado no eixo visual vindo da Trindade dos Montes ; o arquitecto cobriu a abside com uma superfície plástica, integrando-a perfeitamente com as partes laterais e criando uma das obra mais bem sucedidas de todo o barroco em termos espaciais.[59]

Se as obras de Carlo Rainaldi, embora apresentem soluções originais, remetem para os temas do início do barroco, sente-se em Pietro da Cortona uma maior integração plástica entre espaços, massas e superfícies.[60] A sua igreja de Santa Martina e São Lucas (1635), estruturada em planta em cruz grega, lembra os desenhos renascentistas da igreja de Nossa Senhora da Consolação em Todi, embora com diferenças significativas: de facto, um braço da nave é alongado, retomando a igreja à tipologia de plantas longitudinais, enquanto a fachada, embora convexa, não reflecte a curvatura das absides internas. Depois, há a recusa do uso da cor: o interior da igreja é totalmente branco, enquanto as abóbadas das absides são ricamente decoradas. Além disso, as colunas isoladas inseridas nas paredes constituem um tema tipicamente florentino (do Batistério de São João na Biblioteca Laurenziana) que reaparece noutras obras de Cortona, como o tambor da cúpula da basílica dos Santos Ambrósio e Carlos.[61]

O estilo de Pietro da Cortona surge com maior vigor na disposição da igreja de Santa Maria da Paz, onde, entre 1656 e 1657, esteve envolvido na construção de uma nova fachada. A intervenção não se limitou apenas à fachada do edifício religioso, mas estendeu-se também aos edifícios laterais, com a criação de uma pracinha cénica dominada ao centro pela colunata semicircular da igreja; além disso, a solução da êxedra na fachada influenciou profundamente Bernini na concepção do referido Santo André do Quirinal[44] e, na escolha da ordem dórica com entablamento jónico, antecipou a solução adotada pelo próprio Bernini para as colunatas da Praça São Pedro.[62]

Entre as igrejas de planta longitudinal derivadas da planta da Igreja de Jesus, devemos antes de mais recordar a de Santa Maria em Monti (1580), de Giacomo della Porta; a igreja tem dimensões modestas e transepto pouco desenvolvido, com cúpula no cruzamento com a nave principal.[63] Muito mais impressionante é a basílica de Santo André do Vale, também iniciada por Della Porta em 1591 e concluída por Carlo Maderno; a fachada, a mais barroca das fachadas romanas,[64] foi acrescentada por Carlo Rainaldi após meados do século XVII. A planta, embora baseada no modelo da igreja de Gesù, apresenta capelas laterais mais rasas e significativamente mais altas; a nave é articulada por pilares laterais que, juntamente com a cúpula, marcam o forte ritmo vertical do edifício.[65]

Praça

Quanto à abordagem do barroco romano é necessário recordar as principais transformações urbanas da cidade, atribuíveis à referida planta pretendida pelo Papa Sisto V, que reuniu também algumas intervenções já implementadas pelos seus antecessores. Em particular, o tridente da Praça do Povo (mesmo antes das transformações posteriormente levadas a cabo por Giuseppe Valadier) representa um dos elementos mais importantes e foi protótipo de um dos motivos básicos da cidade barroca;[66] a própria porta de entrada da cidade, tornou-se ponto nodal do sistema viário a partir de 1589 , com a construção de um obelisco, e a construção no século XVII das citadas igrejas gêmeas de Rainaldi.

Outro espaço importante é a Praça Navona, construída sobre as ruínas do antigo estádio erigido pelo imperador Domiciano e que, no século XVII, assumiu características de uma praça tipicamente barroca, tanto que pôde ser identificada com o verdadeiro centro de Roma do século XVII. Aqui foram lançadas as fundações da igreja de Sant'Agnese em Agone, elemento proeminente de uma parede cortina quase unitária, cuja cúpula é realçada pela forma ligeiramente côncava da fachada; o centro da praça é sublinhado pela Fonte dos Rios (o Nilo , o Ganges , o Danúbio e o Rio da Prata), na qual é possível perceber uma alusão ao poder da Igreja no mundo então conhecido.[67]

O auge desta série de praças barrocas encontra-se na famosa Praça de São Pedro, concluída por Bernini sob Alexandre VII entre 1657 e 1667. A solução final levou em conta problemas litúrgicos e simbólicos e emergências arquitetónicas pré-existentes: o espaço foi articulado por um quadrado oval ligado à fachada da basílica do Vaticano com dois braços oblíquos, colocados no limite de uma área trapezoidal . A ligação entre a oval e o trapézio, mais estreita que a largura da fachada de Maderno, modificou a perspectiva para a basílica, fazendo com que a grande massa da fachada parecesse menor. O quadrado oval, delimitado por imponentes colunas dispostas em várias filas, deveria ter sido fechado com um terceiro braço, o que no entanto nunca foi realizado; Apesar disso, Bernini criou um espaço bem definido, mas ao mesmo tempo aberto ao exterior e integrado com o resto da cidade graças à permeabilidade oferecida pelas grandes colunatas.[68] Além disso, Bernini colocou a porta de bronze que conduzia à Scala Regia, dentro da cidadela do Vaticano, alinhada com a Via de Borgo Nuovo (que desapareceu com a construção da Via da Conciliação); criou assim um caminho surpreendente que acompanhava o espectador desde as ruas estreitas e articuladas da "Spina di Borgo" até à grandiosa Praça de São Pedro, mas cortando-a assimetricamente no lado norte, de modo a oferecer vistas sugestivas e sempre novas em direção à fachada da basílica e à cúpula de Miguel Ângelo.[69]

Palácio

Galeria em perspectiva do Palácio Spada

Os principais arquitectos do barroco Romano também deixaram vestígios importantes na arquitectura civil. Em 1625, Carlo Maderno iniciou as obras do referido Palácio Barberini com a colaboração de Borromini, a quem é atribuída a escada helicoidal; após a morte de Maderno, quatro anos depois, o trabalho foi continuado por Bernini. É certo, porém, que o plano foi decidido antes de janeiro de 1629. Anteriormente foi destacado como a disposição do edifício, sem o clássico pátio interno, difere da tradição do palácio italiano; estando nos arredores da cidade propriamente dita, Maderno mudou o conceito original do palácio da cidade para uma espécie de villa suburbana. Até a fachada, parte mais clássica da obra, apresenta elementos inovadores nos arcos abertos de última ordem.[70]

A partir de 1650 Bernini também projetou o Palácio Montecitório, posteriormente finalizado por Carlo Fontana. A fachada, em que foi substancialmente mantida a marca do projecto inicial, apresenta uma forma convexa e apresenta, nas laterais do rés-do-chão, alguns penedos rústicos de pedra. Também de Bernini está o palácio Chigi-Odescalchi (1665–1667), construído em torno de um pátio projetado por Maderno. Apesar das alterações sofridas durante o século XVIII, a fachada acrescentada por Bernini pode ser considerada um verdadeiro modelo para as fachadas dos palácios barrocos: apresentava um destaque na parte central (que desapareceu durante as expansões do século XVIII), definida por pilastras gigantes e coroado pela balaustrada no topo.[71]

Outra importante obra seguida por Bernini foi a da construção da Scala Regia no Vaticano . Construída a partir de 1660, a escadaria, que deveria servir de ligação entre os Palácios do Vaticano e a fachada de São Pedro, foi construída num lote muito estreito e de formato irregular, situado entre a basílica e a residência papal. Bernini explorou essas características a seu favor. Numa espécie de pista de obstáculos, desenhou uma escada de largura decrescente, coberta por uma abóbada de berço. No entanto, as paredes convergentes entre as quais se inseria a escada teriam dado a impressão de maior profundidade; no entanto, neste sentido, a escala não tem nada de ilusionista. A correção da perspectiva foi obtida através da disposição adequada de uma série de colunatas nas laterais do corredor; as colunas parecem avançar nos degraus, sugerindo um sentido de movimento contrário ao vertical da escada.[72]

Borromini também deixou algumas contribuições significativas nesta área. É dele o efeito do Trompe-l'oeil na galeria em perspectiva do Palácio Spada (1652-1653 ), que sugere uma profundidade diferente da real. Além disso, por volta de meados do século XVII preparou os estudos para o palácio Pamphilj na Praça Navona, construído por Girolamo Rainaldi, mas as suas criações mais interessantes encontram-se nos palácios eclesiásticos, como o colégio de Propaganda Fide (dentro do qual está a capela dos Reis Magos ), onde ergueu uma fachada moldada por compressões e dilatações, com grande efeito dramático.[73]

Praça do povo em gravura de Piranesi antes das transformações de Giuseppe Valadier
Praça de São Pedro com o terzo braccio

Turim

No final do século XVI, Turim ainda estava presa na antiga estrutura romana do castrum; alguns anos depois, durante o reinado de Carlos Emanuel I, a cidade tornou-se um importante centro barroco, ponto de encontro das tendências romanas e francesas,[74] numa síntese singular entre aspectos contrarreformistas e seculares.[75]

Ascanio Vitozzi(1539–1615) foi o responsável pela disposição da Piazza Castello, em torno da qual se desenvolveram os novos bairros da cidade; as obras foram executadas por Carlo di Castellamonte (1560–1641), que a partir de 1621 deu continuidade ao desenvolvimento da cidade para o sul segundo um sistema de eixos ortogonais . O mesmo arquiteto foi o responsável pela formação da vasta Praça de São Carlos (na época Praça Real), espaço derivado da Place Royale francesa e centrado em torno de uma estátua equestre; no entanto, duas igrejas gémeas foram colocadas nas laterais da estrada principal, numa solução semelhante à implementada na Piazza del Popolo, em Roma. Este duplo valor, fruto da união entre elementos sagrados e seculares, encontra-se também no Palácio Ducal (depois Real), que estava posicionado em comunicação direta com a catedral.[76]

O plano de expansão de Turim foi continuado por Amedeo di Castellamonte (1610–1683), filho de Carlo, que planeou o desenvolvimento da cidade em direção ao leste. Em 1673, de acordo com o projeto do arquiteto, iniciou-se a construção de uma estrada que ligava a Piazza Castello à via Po, ao longo da qual foram erguidos edifícios com pórticos de desenho uniforme, enquanto em direcção ao rio a rua era concluída com uma êxedra (pórtico em local aberto, muitas vezes com lugares para sentar e conversar), uma referência simbólica à abertura da cidade para o território circundante.[76]

O próprio Amedeo di Castellamonte trabalhou em várias residências da Saboia; trabalhou no Palácio Ducal e por volta da década de 1660 foi contratado por Carlos Emanuel II de Saboia para projetar o palácio e a vila de Venaria Real, perto de Turim.[77]

No mesmo período, Guarino Guarini (1624–1683) concluiu a capela do Santo Sudário, iniciada perto de Castellamonte, nas traseiras da catedral de Turim. A capela devia ter três entradas (duas da catedral e uma do adjacente Palazzo Ducale) e isso influenciou a planta do edifício. A base, de planta circular, está dividida em nove partes e três arcos abertos nas entradas, sobre os quais está colocado o tambor da cúpula; a própria cúpula é definida por um extraordinário jogo de nervuras, realçado pela luz difundida através de numerosas janelas que curiosamente emergem do exterior da estrutura.[78]

Novamente Guarini, entre 1668 e 1680, construiu a igreja de São Lourenço. A planta remonta ao octógono, com lados convexos, mas um presbitério elíptico colocado transversalmente introduz um eixo principal na composição; o espaço, no nível inferior, é definido pela presença de grandes serlianas que delimitam as capelas laterais, enquanto, no topo, uma série de nervuras se entrelaçam formando o octógono sobre o qual assenta a lanterna.[79]

As extraordinárias invenções de Guarini também encontraram aplicação nos temas da arquitetura civil: o seu Palácio Carignano, baseado em planta em U, apresenta uma fachada convexa monumental que se projeta em ambos os lados do edifício. Esta configuração, embora de alguma forma atribuível aos projetos de Gian Lorenzo Bernini para o Palácio do Louvre e o Castelo de Vaux-le-Vicomte, faz do Palácio Carignano uma das residências mais interessantes do século XVII.[80]

Milão

Igreja de San Giuseppe, Milão

No início do século XVII, se persistiu durante muitos anos uma produção arquitectónica “de transição” onde os elementos maneiristas tardios foram timidamente afectados, como no caso da biblioteca Ambrosiana e do pátio palladiano do colégio Helvético de Fábio Mangone, o projeto que introduziu o barroco em Milão foi a igreja de Sant'Alessandro na Zebedia, do arquiteto barnabita Lorenzo Binago. A planta consiste na combinação entre uma planta central inspirada no projecto da Basílica de São Pedro de Bramante no Vaticano e uma longitudinal, com os arcos de cruzaria apoiados em pares de colunas gigantes isoladas das paredes perimetrais, solução que seria retomada em muitos projetos subsequentes, como a nova catedral de Brescia.[81][82]

Sant'Alessandro del Binago foi, portanto, a base para a construção da igreja de São José por Francesco Maria Richini(1584–1658), considerado o maior arquiteto do barroco milanês: a igreja marcou a superação da arquitetura maneirista na zona de Milão.[83] Richini introduziu uma planta combinada, composta por dois espaços com planta central para formar uma planta longitudinal: o primeiro espaço tem uma estrutura octogonal, inspirada na cruz de Sant'Alessandro, onde se obtém o octógono com o corte dos cantos da planta quadrada graças às colunas perimetrais isoladas. No que diz respeito à fachada, Richini procurou dar unidade através da fachada, até então considerada um ornamento independente da estrutura posterior e do corpo da igreja, projectando uma fachada com altura igual à da cúpula octogonal posterior e tendo o andar inferior altura igual ao corpo posterior da igreja: a decoração foi elaborada "com edículas sobrepostas", consagrando uma tipologia na fachada muito utilizada nos anos seguintes.[84]

Entre as obras civis mais famosas de Richini está o Colégio Elvético, onde procurou uma integração entre interior e exterior através de uma fachada côncava, talvez a primeira fachada curva de um palácio da época barroca;[85] a interessante solução, precursora de certos temas expressos por Borromini, confirma Richini como um dos principais arquitetos do início do barroco.[86] São dele também o pátio de honra do Palácio de Brera, organizado numa dupla ordem de colunas emparelhadas que sustentam arcos redondos que se tornaram o modelo do pátio barroco na região lombarda, e os elegantes portais do Palácio Durini e do seminário do arcebispo de Milão.[83][87]

Quando ele morreu, não houve mais ninguém do seu calibre em Milão: o principal canteiro do século XVII na cidade foi a construção da igreja de Santa Maria à Porta realizada pelo seu aluno Francesco Castelli:[85] a fachada, projectada a partir do desenho anterior do mestre, propõe de forma não original a fachada "com edículas sobrepostas" com decorações mais abundantes e complexas. Outra importante obra contemporânea foi a da fachada de Santa Maria da Paixão, criada por Giuseppe Rusnati, de formação romana.[88]

Veneza

Basílica de Santa Maria della Salute, Veneza

O barroco veneziano obedeceu aos costumes locais[89] e teve o seu expoente máximo em Baldassare Longhena.[90] Após a praga de 1630, iniciou-se a construção da igreja de Santa Maria della Salute, utilizando uma planta centralizada, com deambulatório, derivado de modelos antigos tardios (Mausoléu de Santa Costanza em Roma, São Vital em Ravena). Ao corpo octogonal da basílica, Longhena acrescentou um santuário delimitado nas laterais por duas absides; esta solução, semelhante à adotada por Andrea Palladio na igreja do Redentor, fortaleceu o eixo longitudinal do templo e transformou efetivamente o corpo central numa verdadeira nave. O tratamento da cor também deriva de Palladio, mas olhando mais de perto também de Brunelleschi, com pedra cinza para as partes estruturais e gesso para as paredes.[91] O carácter barroco do templo é evidente na conformação da massa externa, cenicamente colocada ao longo do Grande Canal: o corpo octogonal, coberto por uma grande cúpula (com dupla volta, a externa em chumbo sobre madeira segundo o uso veneziano), ladeado pela calota do santuário e duas torres sineiras. Além disso, o imponente arco da fachada, que corresponde à conformação dos espaços internos, reitera a presença do eixo longitudinal.[92]

As outras obras de Longhena não podem competir com a igreja Salute. Isto aplica-se à Catedral de Chioggia e à Igreja de Scalzi.[93] Pode surgir uma dúvida quanto à fachada da igreja do Ospedaletto, concluída nos anos setenta do século XVII e adornada com um design imaginativo e muito rico, composto por télamo, cabeças gigantes e máscaras de leão.[94]

Longhena também se aventurou na arquitetura civil: o seu Ca' Pesaro (1667) apresenta uma planta aparentemente convencional, mas o jogo de luz e sombra que se estabelece no rico aparato ornamental da fachada determina uma plasticidade tipicamente barroca.[89]

Palazzo Doria-Tursi, Génova

Génova

Em Génova, a arquitectura barroca traduziu-se, desde finais do século XVI, numa série de grandes palácios que os críticos consideram entre os mais importantes da cena italiana.[95] Entre estes lembramos o Palazzo Doria-Tursi, que pode ser considerado uma interessante combinação de palácio e villa; a frente na via pública, de fato, oferece a imagem dum edifício típico da cidade, enquanto o jardim interno, elevado e opticamente separado da viabilidade externa, cria uma proporção mais íntima. A configuração planimétrica do vestíbulo, unido ao jardim interno mais alto por meio de uma vasta escadaria, revela também a presença de um movimento em profundidade.[96]

Esta solução foi assumida por Bartolomeo Bianco (1590–1657), o maior arquitecto do barroco genovês,[97] no que pode ser considerado sua obra-prima: o colégio jesuíta, que mais tarde se tornou a sede da Universidade de Génova c. 1634. O edifício tem planta em U, mas, comparativamente ao anterior, apresenta maior permeabilidade entre o interior e o pátio; de facto, aproveitando a conformação muito íngreme do terreno, Bianco criou uma cenografia urbana extraordinária, com um vestíbulo tão largo como o pátio elevado e uma série de galerias e escadas sobrepostas. A continuidade espacial é infinitamente mais forte do que nos edifícios romanos da época.[96]

Nápoles

Interior da igreja de Santa Maria Egiziaca em Pizzofalcone, Nápoles

A arquitetura barroca no sul da Itália produziu os seus resultados mais significativos apenas no século XVIII.[89] No entanto, a partir de 1610 e nas décadas seguintes, numerosas igrejas barrocas foram construídas em Nápoles, muitas vezes adornadas com ricas decorações em mármore ou estuque (comparáveis aos interiores de Bernini), mas sem essas invenções espaciais e fusão entre a típica arquitetura barroca romana.[98]

As premissas devem ser buscadas na atividade de arquitetos como Francesco Grimaldi (1543–1613), autor de alguns importantes edifícios sagrados (como a basílica de Santa Maria degli Angeli em Pizzofalcone e a capela de San Gennaro) na qual a decoração barroca foi aplicada em estruturas ainda clássicas.[99]

A figura mais importante da cidade napolitana foi Cosimo Fanzago (1591–1678),[100] que trabalhou na Cartuxa de São Martinho, construiu a igreja de Santa Maria Egiziaca em Pizzofalcone, o Palácio Dona Anna e o Obelisco de São Januário. A planta de Santa Maria Egiziaca, a igreja mais bonita de Fanzago, refere-se a Santa Inês em Agonia, enquanto o desenho da cúpula deriva da Sant'Andrea al Quirinale por Bernini; ao contrário dos modelos romanos, porém, há uma extrema economia na definição dos detalhes e a ênfase colocada nas partes estruturais, pintadas de branco, que produzem um efeito de imponente simplicidade. O palácio Donn'Anna (nunca concluído) e o Pináculo de San Gennaro representam duas estranhas criações compostas, que testemunham a versatilidade de Fanzago em dominar o amplo leque de possibilidades oferecidas pela arquitetura do século XVII: desde a reinterpretação de motivos tradicionais, até a mistura de arquitetura maneirista e elementos barrocos.[101]

Somente no início do século XVIII, com Ferdinando Sanfelice (1675–1748), é que a arquitetura napolitana avançou para uma verdadeira sensibilidade barroca para formas espaciais complexas.[102] Sanfelice foi sobretudo o criador de uma arquitectura civil de elegância ímpar, baseada na interpenetração de espaços internos e externos, que atingiu níveis máximos nas grandiosas escadarias de abóbada dupla, como as do Palazzo dello Spagnolo e do Palácio Sanfelice, edifício que o arquiteto construiu para si próprio e para a sua família no Rione Sanità.[103]

Sicília

Francesco Sicuro, Igreja da Santíssima Anunciada dos Catalães em Messina, em Vistas e elevações da cidade de Messina, 1768

Na Sicília as intervenções mais interessantes foram implementadas após o sismo que atingiu a parte oriental da ilha em 1693, que atingiu garvemente várias cidades e vilas do Val di Noto (ver o parágrafo sobre arquitetura barroca tardia).[89]

Porém, entre 1660 e 1662, atuou em Messina Guarino Guarini, que construiu a Igreja da Santíssima Anunciada dos Catalães, introduzindo efetivamente o barroco na Sicília, entre as muitas perplexidades dos contemporâneos.[104] A fachada de formato piramidal e superfície ondulada serviria de modelo para muitas igrejas sicilianas do século XVIII. O interior totalmente branco com estuques contrastava com o gosto local, prevalecendo o mármore e foi outro exemplo muito seguido no barroco tardio da Sicília. O edifício, assim como a sede do Teatini, foram destruídos durante o sismo de 1908.[105]

Dado que as cidades orientais foram devastadas pelo sismo de 1693, só em Palermo é possível acompanhar uma evolução contínua ao longo do século XVII. Prova disso são, por exemplo, o Quattro Canti e o Arsenal (atualmente o Museu do Mar). As primeiras, construídas a partir de 1609, são edifícios monumentais de três andares, que, em analogia com as Quatro Fontes de Roma, definem a intersecção entre as duas principais artérias da cidade. O arsenal, construído segundo um projeto do homem de Palermo Mariano Smiriglio por volta de 1630, é bastante severo.[106]

Na segunda metade do século XVII, atuou o frade jesuíta Angelo Italia, influenciado por Guarini, que introduziu elementos plenamente barrocos tanto nas plantas quanto na concepção espacial (Igreja de São Francisco Xavier), tanto nas fachadas como nos aparatos decorativos (Igreja matriz de Palma de Montechiaro.[107]

No final do século XVII encontramos composições derivadas do barroco romano, também nas fachadas de igrejas desenhadas por Giacomo Amato.[108] A sua obra-prima é a fachada da igreja de Santa Maria de Pietà (Palermo)|igreja de Santa Maria della Pietà, em Palermo.[109]

Apúlia

Basílica de Santa Croce, Lecce

Em Lecce, em meados do século XVII, houve intensa atividade, num estilo muito distante do barroco romano, que se espalhou em Salento graças ao trabalho de arquitetos como Giuseppe Zimbalo (1617–1710) e Giuseppe Cino (1644–1722).[110]

O barroco de Lecce, em estreita relação com o barroco espanhol plateresco e churrigueresco, caracteriza-se por uma decoração exuberante, repleta de elementos florais e por vezes figurativo-escultóricos, aplicada a edifícios baseados em modelos bastante convencionais do século XVI.[111] Estas decorações estão possíveis graças ao uso de uma pedra amarela local chamada Pietra Leccese: este material recém-extraído é muito fácil de esculpir e depois endurece ao ar após a instalação.

Este estilo atingiu o seu apogeu na igreja de Santa Croce, com a sua fachada ricamente decorada, iniciada no final do século XVI e concluída, na ordem superior, uns bons sessenta anos mais tarde por Cesare Penna.[106]

França

Ao contrário de Roma, o desenvolvimento urbano de Paris não partiu da necessidade de unir pontos focais já existentes, mas surgiu da formação de uma série de praças centradas na figura do soberano.[112] O primeiro exemplo de place royale remonta à Place Dauphine (1599–1606), construída por Henrique IV entre a Pont Neuf e a Île de la Cité, no coração de Paris. De formato triangular e originalmente caracterizada por pórticos inspirados em modelos italianos, a Place Dauphine foi aberta à beira da antiga ponte, enquanto a estátua do soberano foi colocada no cruzamento da praça com a Pont Neuf, perto do rio Sena, quase a sublinhar o eixo do rio.[113]

Praça das Vitórias, Paris
Palácios da Place Vendôme

No início do século XVII, iniciou-se a construção da Place des Vosges (anteriormente conhecida como Place Royale), uma praça fechada em três lados e cercada por edifícios destinados a abrigar residências da classe burguesa; embora apresentem pórticos derivados da Piazza Grande de Livorno,[114] os edifícios, de desenho unitário, ainda apresentam um acentuado verticalismo gótico .[115]

Também a mando de Henrique IV, foi projetada mais uma praça, que no entanto não foi concluída devido à morte do rei; deveria ter tido um plano radial, o primeiro do género no planeamento urbano barroco, cujo modelo teve, no entanto, considerável sucesso nas transformações subsequentes da cidade.[115]

Durante o reinado de Luís XIII as obras envolveram alguns bairros da cidade e em particular a Île St-Louis e o bairro Richelieu; Na definição de novos gostos arquitectónicos, foi notável o contributo de Salomon de Brosse (1571–1626) e François Mansart (1598–1666), criadores de uma linguagem clássica inovadora destinada a ter intenso sucesso também nos anos seguintes.[116]

Na verdade, estas tendências encontraram a sua consagração definitiva sob Luís XIV, quando Jules Hardouin Mansart (1646–1708) criou a Place des Victoires , já não como um espaço fechado, mas como um centro dentro do sistema urbano.[117] Os edifícios ao longo da praça perderam o caráter ainda vagamente gótico das primeiras criações de Henrique IV; no perímetro da Place des Victoires surgiram edifícios de aspecto uniforme, com silhares no piso térreo e uma ordem gigante no piso superior.[118]

Este traçado também pode ser encontrado na segunda praça construída durante o reinado de Luís XIV, novamente desenhada por Hardouin Mansart: a Place Vendôme. O primeiro projecto, datado de 1685, previa a formação de um espaço delimitado por importantes edifícios representativos, mas o plano foi posteriormente desconsiderado. Curiosamente, por volta de 1696 o perímetro da praça era traçado utilizando apenas as fachadas dos edifícios: os próprios edifícios foram erguidos posteriormente, com a venda de lotes individuais. A praça assumiu formato retangular, com cantos arredondados para aumentar a superfície do edifício; Nas esquinas e no centro das laterais compridas dos edifícios foram criadas saliências, cuja presença foi sublinhada por meio de frontões clássicos.[118]

O barroco das transformações parisienses reside, portanto, numa forte aspiração à integração, à continuidade e à abertura. Enquanto Roma é a típica cidade santa do barroco, Paris é a sua contraparte secular.[119] Não é por acaso que a arquitetura francesa do século XVII encontrou seus maiores resultados em residências urbanas e evocativos castelos rurais.[120]

Igreja de Val-de-Grâce

De qualquer forma, foram produzidas obras de indubitável originalidade mesmo na arquitetura sacra. Em 1616 Salomon De Brosse ergueu a fachada altiva da igreja de Saint-Gervais-Saint-Protais de Paris, recorrendo ainda à tradicional sobreposição das ordens clássicas. De Brosse baseou-se no verticalismo gótico, mas com a profundidade que deriva do barroco, lançando as bases da arquitetura francesa do século XVII.[89]

Mais tarde, na década de 1730, François Mansart construiu a igreja da Visitação de planta central e capelas elípticas colocadas próximas do espaço circular principal de modo a com ele se interpenetrar.[41]

No mesmo período, Jacques Lemercier (1585–1654) construiu a capela da Sorbonne, baseada no modelo da igreja de São Carlos em Catinari em Roma. O traçado remonta a uma cruz grega alongada, com capelas laterais voltadas para a nave através de duas aberturas cada, conferindo ao edifício as características de uma igreja basílica.[121]

Palácio dos Inválidos

Entre as igrejas de planta longitudinal é importante recordar a de Val-de-Grâce, obra de François Mansart ( 1645 ). Tal como nas igrejas romanas, a planta está dividida em três tramos que terminam na cúpula ; nos pilares que sustentam a cúpula existem quatro capelas que, no entanto, não se abrem ao longo da nave, mas diretamente para a cúpula, reforçando a sua centralidade.[122]

Posteriormente, nas últimas décadas do século XVII, Jules Hardouin Mansart projetou a Dôme des Invalides, a mais importante igreja francesa de planta centralizada do período.[123] O edifício apresenta várias analogias com a igreja Salute em Veneza : ambas, apesar das diferenças formais na planta (um quadrado no caso da igreja Invalidi e um octógono em Santa Maria della Salute), mostram a adição de uma traseira corpo equipado com uma segunda cúpula. Mansart inspirou-se no projeto de São Pedro de Miguel Ângelo, mas, além de estender o braço em direção ao presbitério, criou passagens diagonais entre o deambulatório e o centro da igreja. No exterior, tudo estava escondido com superfícies muito simples e a fachada era adornada com duas ordens de colunas clássicas livremente espaçadas. A cúpula, caracterizada por robustos contrafortes ao longo do tambor, termina numa torre alta com verticalismo gótico. No interior, a estrutura da mesma cúpula é composta por três tampas sobrepostas: uma externa revestida de chumbo, uma intermediária com frescos e uma terceira equipada com um grande óculo para permitir a visualização das pinturas acima.[92]

Palácio do Parlamento da Bretanha em Rennes
Castelo Maisons-Laffitte

Na tipologia dos castelos e palácios, o ponto de partida da arquitetura barroca está nas obras do já citado Salomon de Brosse, que nas primeiras décadas do século XVII construiu algumas residências importantes, entre as quais o Palácio do Luxemburgo em Paris ( 1617 ). O edifício foi construído por ordem de Maria de' Medici e na sua planta não difere da tipologia do hotel francês, mas a disposição dos apartamentos completos nas alas laterais determinou uma melhoria no conceito de conforto face aos modelos do passado.[124]

No entanto, a primeira verdadeira obra do classicismo francês encontra-se na fachada do Palácio da Justiça de Rennes (conhecido como Palácio do Parlamento da Bretanha), também construído por Salomon de Brosse em 1618. Aqui as alas laterais assumem menor importância, enquanto o centro da fachada é sublinhado por dois pares de colunas emparelhadas sobre as quais assenta um frontão redondo.[31]

A arquitetura de De Brosse influenciou o trabalho de François Mansart; na sua ala de Gastão de Orleães do Castelo de Blois (1635–1638) ele projetou um pátio de honra de profundidade limitada, conectando as alas ao edifício principal por meio de elementos curvos. A principal obra de Mansart continua sendo o Castelo de Maisons-Laffitte.[125] Em planta tem forma rectangular, fechada nas laterais por duas alas pouco pronunciadas que na parte posterior do edifício se reduzem a simples saliências; em elevação, a parte central é sublinhada por um frontispício em três pisos, que retoma o tema das ordens sobrepostas (já presente em algumas criações de de Brosse) e confere ao complexo um dinamismo vertical ainda atribuível ao estilo gótico, mas equilibrado por a presença de elementos clássicos.[126]

Vaux-le-Vicomte

O outro grande protagonista da época barroca na França foi Louis Le Vau ( 1612-1670 ), autor do Castelo de Vaux-le-Vicomte, o edifício francês mais importante de meados do século XVII.[127] O castelo, construído entre 1657 e 1661, está imerso num grandioso parque desenhado por André Le Nôtre (1613–1700) e ergue-se no centro de um sugestivo fosso. No exterior emergem claramente as conformações dos ambientes internos e em particular é evidente o volume do grande salão elíptico coberto por uma cúpula; além disso, as alas laterais perdem a autonomia e passam a fazer parte integrante do corpo principal do palácio. A importância de Vaux-le-Vicomte reside não só na composição espacial, mas também na organização dos espaços interiores em apartamentos independentes (apartamento duplo). De facto, até então, as divisões dos prestigiados complexos residenciais estavam ligadas entre si directamente ou através de um corredor lateral com função de corredor; em Vaux-le-Vicomte os apartamentos foram dispostos de forma mais funcional em torno do corpo central do edifício.[128]

Reggia e jardins de Versalhes

Diretamente ligado a Vaux-Le-Vicomte está o Palácio de Versalhes, encomendado por Luís XIV a Le Vau, Le Nôtre e Charles Le Brun (1619–1690). As obras começaram em 1664 com a renovação e ampliação de um pavilhão de caça preexistente encomendado por Luís XIII; o palácio assumiu a forma de U e em 1668 foi ainda ampliado com a adição de duas alas que acentuaram a profundidade do cour d'honneur. Dez anos depois, Hardouin Mansart construiu dois blocos colocados transversalmente às alas e fechou o terraço do corpo central do palácio com a Galerie des Glaces (Galeria dos Espelhos); O próprio Mansart também foi o responsável pelo projeto da capela, iniciada em 1689 e concluída apenas em 1710, na qual se misturam elementos barrocos, clássicos e góticos. A monumentalidade do complexo é sublinhada por uma praça voltada para a cidade de Versalhes, na qual converge um tridente de ruas voltadas para Paris; na frente oposta existe um vasto parque que, com as suas avenidas ortogonais e radiais, as suas fontes e as suas bacias cruciformes, faz do Palácio o ponto focal simbólico de toda a nação.[129]

O classicismo francês atingiu o seu apogeu na fachada do Louvre de Claude Perrault (1613–1688), construída após a rejeição de um projecto proposto por Gian Lorenzo Bernini. O projeto de Perrault fechou a fachada leste do Louvre com uma longa galeria de colunas emparelhadas sustentadas por uma base maciça e delimitada no topo por um entablamento com balaustrada.[130]

Inglaterra

Catedral de São Paulo, Londres

Até ao início do século XVII, a arquitectura inglesa esteve longe das tendências desenvolvidas no resto da Europa.[131] Por volta de 1616, Inigo Jones (1573–1652) introduziu o estilo palladiano na Inglaterra, que viria a ter enorme sucesso no canal da Mancha e nas colónias americanas: entre as suas primeiras obras lembramos a Queen's House em Greenwich, um edifício com uma aparência italiana, mas equipada com inúmeras aberturas ao estilo nórdico.[132]

Na segunda metade do século, graças a uma forte imigração de protestantes franceses, a arquitetura inglesa voltou-se para o gosto barroco.[14]

A figura mais importante da última fase do século XVII foi Christopher Wren (1632–1723),[133] protagonista da reconstrução de Londres após o incêndio de 1666. Em particular, em 1673 apresentou um primeiro projecto de reconstrução da Catedral de São Paulo, baseado numa planta de cruz grega evidentemente influenciado pelos desenhos de Miguel Ângelo Buonarroti para a Basílica de São Pedro no Vaticano, mas que tinha capelas laterais abertas nas diagonais diretamente em direção à cúpula. O clero da Igreja Anglicana rejeitou a proposta e Wren foi forçado a fazer mudanças significativas no projeto, fazendo com que o complexo assumisse forma basilical.[134] O elemento mais barroco da catedral passou a ser a fachada principal, revestida por duas ordens de colunas de origem francesa e ladeada por duas torres sineiras inspiradas no estilo de Borromini. No cruzamento da nave com o transepto ergue-se uma grande cúpula, definida como "uma expressão bastante banal dos ideais da arquitetura inglesa";[135] visto do exterior parece decididamente clássico, enquanto no interior é estruturado com uma série artificial de calotas sobrepostas típicas da arquitetura barroca.[136]

Greenwich Hospital

Entre outras obras de Christopher Wren lembramos o Greenwich Hospital, construído no final do século XVII perto da Queen's House de Inigo Jones. A própria Casa da Rainha tornou-se o ponto conclusivo de um eixo definido por longas colunatas encimadas por duas cúpulas espelhadas. O tema das colunas gêmeas, que na época tinha grande destaque na fachada do Museu do Louvre de Perrault, foi proposto em todas as partes do edifício e até nas cúpulas, apesar de vagamente inspirada na da igreja dos Inválidos, de Jules Hardouin Mansart.[135]

Por sua vez, a arquitetura civil foi condicionada por Roger Pratt (1620–1684), que importou o appartement double da França e o cour d'honneur,[137] não se distanciando contudo da arquitetura de Inigo Jones. Outra figura notável foi Hugh May (1621-1684), que introduziu os temas do classicismo holandês e trabalhou no Castelo de Windsor, criando algumas das mais interessantes decorações barrocas do Norte da Europa (hoje perdidas).[138]

Flandres

O barroco no Condado da Flandres foi introduzido pelos jesuítas, visando contrariar a Reforma Protestante que já havia conquistado as Dezessete Províncias . Os primeiros jesuítas chegaram diretamente de Paris a Lovaina em 1542, apenas dois anos após a fundação da ordem, e construíram uma residência para estudantes da universidade católica da cidade. Mais tarde espalharam-se pela região e em 1562 chegaram a Antuérpia, onde em 1574 fundaram um pequeno colégio. Logo ganharam importância, tanto que, a partir de um projeto dos jesuítas Pieter Huyssens e François d'Aguilon, entre 1615 e 1621, construíram a igreja de San Carlo Borromeo, uma das primeiras igrejas da Flandres onde a influência barroca pode ser encontrada,[139] embora com referências claras ao Maneirismo.[140]

Igreja de São João Batista no Béguinage, Bruxelas

Deste trabalho, outros logo se seguiram; em Gante a ordem reconstruiu a antiga Abadia de São Pedro a partir de 1629, enquanto em Lovaina decidiram em 1650 construir uma igreja para o novo colégio, a igreja paroquial de São Miguel, na qual o estilo barroco se manifestou ainda mais explicitamente.[139]

O barroco começou a difundir-se por todas as outras cidades, combinando a forte tendência gótica da região voltada para o verticalismo. De facto, os edifícios, embora apresentem características provenientes da igreja de Gesù de Roma, adotaram formas alongadas e receberam uma certa bicromia a partir dos materiais de construção, como o arenito e os tijolos. Ao mesmo tempo, Lucas Faydherbe, discípulo de Pieter Paul Rubens, cuja obra foi de grande inspiração para a arquitetura barroca da região, estabeleceu-se em Malinas; foi o autor da igreja de Nossa Senhora de Hanswijk, bem como das igrejas de Nossa Senhora das Clarissas e de São João Batista no Béguinage em Bruxelas.[141]

Países Baixos

Palácio Real de Amesterdão

O barroco holandês foi influenciado pela sobriedade calvinista e desenvolveu-se sobretudo entre 1648, com a Paz de Vestfália, e em 1685, ano em que numerosos huguenotes se refugiram na Holanda, importando gostos e tendências francesas que efetivamente puseram fim à expressão autónoma do barroco local.[14]

Precisamente em 1648, com a independência da República das Sete Províncias Unidas, foi iniciada a construção da Câmara Municipal de Amesterdão, um vasto edifício com carácter severo, com fachadas caracterizadas por janelas enquadradas por uma série de pilares que unificam toda a fachada.[142]

A arquitetura civil também foi influenciada por um classicismo derivado do estilo de Andrea Palladio, encontrado por exemplo na Casa de Maurício de Jacob van Campen (1596–1657).[143] Na esteira de Van Campen, o trabalho de Pieter Post (1608–1669), cuja construção principal é a Câmara Municipal de Maastricht (1659–1664).[142]

O desenvolvimento da arquitetura sagrada foi de grande importância. As primeiras igrejas, ligadas ao culto protestantista, tinham uma planta da basílica bastante tradicional; algumas inovações ocorreram no Noorderkerk (1620–1623), um edifício em cruz grega com cantos arredondados, onde elementos da arquitetura gótica também convergem.[142]

As plantas centralizadas são a base de muitas igrejas holandesas; entre as soluções mais interessantes e originais vale lembrar o Marekerk de Leiden, de formato octogonal, o Nieuwe Kerk de Haia (1649), formada por duas praças com absides e encimadas por uma torre sineira central, e finalmente a Ronde Lutherse Kerk de Amsterdão (1668), de planta circular com um ambulatório que se estende apenas por metade do perímetro.[144]

Catedral de Kalmar
Palácio Real, Estocolmo

Norte da Europa

A arquitetura do Norte da Europa foi influenciada por uma combinação de tendências francesas, holandesas e italianas.[144]

Na Dinamarca, algumas atividades de construção foram desenvolvidas sob o rei Christian IV, que estava ansioso para transformar Copenhaga numa verdadeira capital. A cidade foi significativamente ampliada com a construção de vários edifícios de estilo maneirista, como o Edifício da Bolsa. Para a nova cidade o próprio soberano desenhou uma praça octogonal, que no entanto não foi construída. O seu sucessor não criou obras significativas no campo arquitetónico e somente em 1672 foi construído o Palácio de Charlottenborg, o primeiro edifício de estilo barroco em Copenhaga.[145]

Suécia

A arquitetura dinamarquesa do início do século XVII também influenciou a construção do Império Sueco, mas a nomeação do francês Jean de la Vallée (1620–1696) como arquiteto real favoreceu a afirmação do gosto barroco; seguindo o modelo do palácio italiano, construiu o Palácio Axel Oxenstiernas em Estocolmo (após 1650) e em 1656 construiu a Igreja de Catarina e o Palácio Bonde, este último caracterizado por um cour d'honneur e por uma articulação das superfícies derivada do estilo de Salomon de Brosse.[145]

A partir de 1649, o cargo de arquiteto real foi ocupado por Nicodemus Tessin, o Velho (1615–1681), a quem devemos, por exemplo, a Catedral de Kalmar (1660), o Mausoléu Caroliniano na igreja de Riddarholmskyrkan em Estocolmo (onde existem cantos convexos) e o Castelo de Drottningholm.[146]

O papel principal foi desempenhado pelo seu filho Nicodemos Tessin, o Jovem, arquiteto formado em Roma e que visitou a França diversas vezes.[145] Essas experiências, inspiraram-no na criação do projeto do Palácio Real de Estocolmo, reconstruído após 1697 após um incêndio. Tessin, atento aos desenhos de Gian Lorenzo Bernini para a ampliação do Louvre, construiu um bloco de aparência unitária; a poente foram colocados dois corpos curvilíneos para delimitar um pátio, enquanto a nascente foram inseridos dois blocos fortemente salientes. As relações com a arquitetura francesa podem ser encontradas no pátio, que foi pensado como um place royale parisiense, tanto que o arquiteto propôs ali erguer uma estátua do soberano; em vez disso, a influência do barroco romano é evidente na fachada do cour d'honneur, onde os temas do Palácio Barberini são retomados.[145]

Tessin, o Jovem, foi o autor de vários outros edifícios em Estocolmo e da sua residência na cidade, o Palácio Tessin; nas traseiras do edifício existe um jardim onde o espaço se estreita e se expande, acentuando a ilusão de profundidade tipicamente barroca.[147]

Europa Central

Catedral de Passauer

Na Alemanha, uma das primeiras arquiteturas ligadas à contrarreforma foi a Igreja de São Miguel em Munique, construída para o Jesuítas a partir de 1585 no modelo da igreja de Gesù de Roma como era habitual na maioria das criações da ordem. Na verdade, apresenta uma única grande nave abobadada apoiada diretamente nos grandes pilares perimetrais entre os quais existem capelas laterais, conseguindo uma maior integração dos espaços do que a da basílica romana.[148] Esta solução foi retomada por Hans Alberthal (1575–1657) noutras igrejas construídas em diferentes áreas do país.[149]

Este processo de penetração da linguagem classicista e do início do barroco foi interrompido com a Guerra dos Trinta Anos. Depois da guerra, que empobreceu enormemente as regiões do Sacro Império Romano, numerosos arquitetos italianos e suíços atuaram em boa parte na Europa Central e lançaram as bases para a afirmação da arquitetura barroca tardia (especialmente nas regiões católicas: Áustria e Baviera) entre finais do século XVII e o século XVIII; entre estes recorde-se Carlo Lurago (1615–1684), Francesco Caratti, Carlo Antonio Carlone, Domenico Martinelli (1650–1718), Agostino Barelli (1627–1679) e Enrico Zuccalli (1642–1724).[149] Houve também um afluxo notável de trabalhadores do Ticino e do norte da Itália.

Church am Hof, Viena
Palácio de Wilanów, perto de Varsóvia

Lurago trabalhou principalmente na Boêmia, inicialmente criando obras no estilo maneirista; mais tarde construiu a Catedral de Passávia, com uma nave primorosamente barroca, definida por uma sucessão de abóbadas elípticas.[149]

Francesco Caratti, falecido em 1679, foi o responsável por alguns dos edifícios mais imponentes de Praga, mas a chegada do francês Jean Baptiste Mathey (1630–1695) introduziu um estilo mais requintado, encontrado por exemplo no Castelo de Troja.[149]

O barroco chegou a Viena na segunda metade do século XVII e a primeira obra notável foi a fachada da Igreja am Hof, de Carlo Antonio Carlone, construída em 1662 e caracterizada por alas laterais que a ligam aos edifícios adjacentes. A arquitetura vienense só atingiu a sua plenitude com a chegada, em 1690, do lucano Domenico Martinelli, que construiu o Palácio de Liechtenstein inspirado no Palácio Chigi-Odescalchi de Bernini.[150]

O bolonhês Agostino Barelli introduziu o barroco italiano na Baviera. Em Munique projetou a Theatinerkirche, iniciada em 1663 inspirada na Basílica de Santo André do Vale; na mesma cidade iniciou a construção do Palácio Nymphenburg, depois continuado por Enrico Zuccalli.[151]

Mesmo na Polónia, a arquitetura sagrada foi influenciada por Roma. Em Cracóvia os jesuítas construiram a sua igreja baseada na de Gesù. Posteriormente apareceram plantas centralizadas em Klimontów, Gostyń e em Varsóvia, onde Tielman van Gameren (1632–1706) construiu a igreja de São Casimiro (1688–1689). Outra obra de van Gameren é a mais animada igreja de Santa Ana em Cracóvia (1689–1705), com planta longitudinal. Os castelos, no entanto, foram influenciados pelos franceses: por exemplo, o grande Palácio Wilanów, iniciado em 1681, está estruturado em torno de um cour d'honneur em forma de ferradura.[152]

Império Russo

Igreja de Nossa Senhora do Sinal (Dubrovicy), Dubrovicy, Podolsk, Moscovo
Conjunto das Igrejas da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria e da Natividade de Cristo ao estilo baroque Stroganof em Nijni Novgorod

Ainda antes do reinado de Pedro, o Grande, a arquitetura russa aproximou-se das tendências europeias com a adoção de motivos renascentistas e barrocos, ainda que pontuais. Ao mesmo tempo, a reconquista das zonas ocidentais e em particular da Ucrânia, levou ao desenvolvimento dum estilo com características próprias, mas sem uma relação autêntica com a arquitectura europeia contemporânea. Somente durante o século XVIII a Rússia aceitou, com maior vigor, os cânones estilísticos do mundo ocidental (ver o parágrafo sobre a arquitetura barroca tardia). Na verdade, uma transição mais decisiva para a arquitetura ocidental coincidiu com o barroco de Moscovo, no início do século XVIII, o que já mostra um uso consciente das ordens arquitetónicas. Um exemplo notável desta corrente ocorre no mosteiro Novodevičij de Moscovo.[153] Um papel decisivo no desenvolvimento deste barroco russo tardio foi desempenhado por arquitetos de origem italiana, nomeadamente Bartolomeo Rastrelli.

Com isto, o barroco russo passa a designar diferentes estilos barrocos que surgiram na arquitetura, no Império Russo, no final do século XVII e início do século XVIII. O Barroco Moscovita (das décadas de 1680 a 1700, anteriormente chamado de Barroco de Naryshkin) é um estilo duma época de transição entre um estilo renascentista com decorações simples com desenhos de ramagem, com as suas elegantes decorações de pedra branca nas paredes de tijolo vermelho, e outros ornamentos,[154] para um Barroco concebido de numerosos elementos da antiga arquitetura russa, retrabalhado sob a influência do barroco ucraniano. Este último também é chamado de "Barroco Mazeppa"[155] em homenagem ao hetman dos cossacos que mandou restaurar muitas igrejas. O “Barroco Stroganov” é uma versão conservadora e provinciana do Barroco Moscovita, que se encontra principalmente em quatro edifícios religiosos em Nizhny Novgorod e no Norte da Rússia.

Em Doubrovitsy, surge o barroco Golytsin, que está ligado aos príncipes Golitzin que construíram entre 1690-1697 a igreja e a residência da propriedade da família, perto de Moscovo. A igreja da aldeia de Doubrovitsy é um edifício único. A igreja está coberta, por dentro e por fora, com esculturas decorativas de execução toscana. Esta torre com lanterna cinzelada não atende aos padrões do Barroco de Moscovo; foi em vez disso uma extravagância boiarda, de um amante do ocidentalismo. Não há dúvida que o príncipe Vassili Golitsyn, que encomendou o edifício, recorreu a arquitectos estrangeiros.[156] Para Louis Réau, que compara a obra a um gigantesco "chocalho de marfim", não há nada de russo nem na forma nem na decoração desta igreja.[157] Segundo Véra Traimond,[158] o seu autor não é russo, como supunha Igor Grabar, mas sim sueco. Seria o arquitecto Nicodemos Tessin, o Jovem (1654-1728), familiarizado com a Itália, arquitecto do palácio real de Estocolmo. É provável que as esculturas sejam obra de artistas suíços. O estilo barroco de Golitsyn é predominante aqui e é caracterizado por uma arquitetura específica, muito diferente do estilo Naryshkin mais impessoal.

Quanto ao barroco Petrino, ou de Pedro I, o Grande, trata-se do estilo de todos os arquitetos ocidentais convidados por Pedro I, o Grande, e abrange o reinado deste último entre os anos de 1680 a 1720 e para a construção da sua nova capital, São Petersburgo. O barroco elisabetano (das décadas de 1730 a 1760, também conhecido como Barroco Rastrelliano) é um estilo híbrido entre o barroco petrino e o barroco moscovita misturado com elementos trazidos por arquitetos italianos, em homenagem ao arquiteto das czarinas Isabel Petrovna e Catarina II. São as grandiosas obras de Bartolomeo Rastrelli os melhores exemplos disso. Já o Barroco Siberiano distingue-se pela junção dos desenhos do Barroco Moscovita e do Barroco Ucraniano com elementos decorativos do Oriente.[159] O Barroco do norte e do leste da Rússia é caracterizado por uma simplificação de formas e uma tendência a conjugar volumes cada vez mais pequenos. O historiador de arte russo Anri Kaptikov considera que poderiamos falar de uma escola barroca tipicamente provincial em Totma, Veliki Ustyug, nos Urais e na Sibéria.[160]

A União Polónia-Lituânia presenciou, durante a era barroca, os seus últimos incêndios antes de ser desmembrada pelos seus poderosos vizinhos. É, um caso raro na história, um reino eletivo que reúne duas (Polónia e Lituânia) e depois três (Ucrânia Ocidental) nações. Na verdade, os magnatas da Szlachta são quase exclusivamente polacos e a Rzeczpospolita (República), uma oligarquia de grandes proprietários de terras que têm palácios e castelos construídos no estilo grandioso da época que se adequa às suas ambições. As ordens religiosas não ficam de fora nesta região fronteiriça entre os mundos ortodoxo (Ucrânia), católico (Polónia) e calvinista (Lituânia), onde também vive uma grande minoria judaica.[161][162]

Tal como no Sacro Império Romano, os arquitectos vêm principalmente da Itália e recordaremos os nomes dos Catenazzi: Andrea (1640 - 1701) autor de numerosas igrejas na Posnânia com o seu irmão Giorgio, e o seu filho Giovanni (1660 - 1724). Augustyn Wincenty Locci (ca. 1640 – 1737), também de origem italiana, foi o arquitecto do Palácio Wilanów . Devemos a Pompeo Ferrari (ca. 1660 - 1736), a colegiada de Notre-Dame-bu-Bon-Secours em Poznań .

Espanha

Catedral de Valladolid

Em Espanha, a afirmação do estilo barroco chocou-se com as dificuldades ligadas à decadência económica do reinado de Filipe III (r. 1598–1621).[130] Até então, sob Filipe II, surgiram importantes complexos fortemente influenciados pelo maneirismo italiano, como o Mosteiro do Escorial (segunda metade do século XVI), construído em grande parte por Juan de Herrera (1530–1597); O próprio Herrera foi o responsável pelo projeto da Catedral de Valladolid, na qual há um fortalecimento do eixo central e que serviu de modelo para o da Cidade do México.[131]

Posteriormente, a arquitetura espanhola do século XVII voltou-se para o barroco, favorecendo o desenvolvimento do aparato decorativo, especialmente nas igrejas, em vez da complexidade composicional e espacial. Esta linguagem, imediatamente compreensível mesmo para a população menos escolarizada, foi logicamente exportada para as colónias da América Latina.

No entanto, entre os edifícios sagrados mais interessantes da Espanha do século XVII, lembramos a Real Colegiada de Santo Isidro em Madrid (iniciada depois de 1629), a igreja de Santa Maria Magdalena em Granada (após 1677, com planta longitudinal derivada de construções romanas contemporâneas) e a Basílica de Nossa Senhora dos Desamparados em Valência (1652–1657), com planta elíptica).[131]

Portugal

Ver artigo principal: Arquitetura barroca em Portugal
Santa Maria da Providência desenhada por Guarino Guarini (1651), destruída no sismo de Lisboa de 1755

Em Portugal o barroco, que só chegou na última parte do século XVII com igrejas de planta octogonal ou circular, coexistiu com o estilo chão uma forma extremamente simplificada de arquitectura classicista, caracterizada por volumes claros, superfícies lisas e planas, e volumes nítidos, depurados do excesso decorativo do Barroco Internacional. Esse estilo, que surge no período Filipino, prevaleceu em cidades menores, também influenciou significativamente o Brasil.[163]

A arquitetura barroca em Portugal surge numa linha temporal diferente do resto da Europa e foi influenciada por vários fatores políticos, artísticos e económicos.[164] Começa num momento conturbado, com o esforço financeiro do reino canalizado para a Guerra da Restauração Portuguesa após 60 anos de União Ibérica.

Após o fim da guerra da restauração da independência, e passada a crise de sucessão entre Afonso VI e Pedro II, Portugal estava pronto para o Barroco internacional. Começou gradualmente, mudando o modelo maneirista, tentando animar e modernizar os novos edifícios, usando a planta centralizada e alguma decoração, como na Igreja de Santa Engrácia em Lisboa, projetada por João Nunes Tinoco e João Antunes. O barroco é inserido sobretudo como aparelho decorativo e só se consolidou plenamente no século XVIII durante o reinado de D. João V quando, especialmente nas áreas de Porto e Braga,[165] assistiu-se a uma renovação arquitetónica, também graças ao trabalho de Nicolau Nasoni.[166][167]

Além disso, trabalhou em Lisboa o famoso Guarino Guarini, que por volta de 1650 construiu a igreja de Santa Maria da Divina Misericordia, hoje desaparecida,[168] ou talvez nunca construída, mas que teve grande influência na arquitectura barroca tardia também pela utilização da Ordem salomónica que tanto sucesso fez sobretudo na zona ibérica, principalmente no interior de edifícios religiosos.

As várias vertentes da produção artística ao longo do reinado de D. João V receberam a designação genérica de barroco joanino. No reinado de D. João V, o Barroco conheceu uma época de esplendor e riqueza completamente nova em Portugal. Apesar da destruição causada pelo terramoto de 1755, vários edifícios sobreviveram. O Palácio da Ribeira, a Capela Real (ambos destruídos no terramoto) e o Palácio Nacional de Mafra, são as principais obras do Rei. Este foi marcado pela grandeza e ostentação das suas arquiteturas e pelo excesso dinâmico da turgidez decorativa, manifestou-se nos diversos empreendimentos arquitetónicos do Magnânimo, destacando-se a Igreja do Menino Deus e a magnífica Capela de S. João Batista de S. Roque, ambas em Lisboa, os surpreendentes Clérigos e a Misericórdia do Porto, a riqueza da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra e a emblemática e monumental obra do Palácio-Convento de Mafra.[169]

A talha dourada[170][171] assumiu características nacionais devido à importância e riqueza das decorações. A pintura, a escultura, as artes decorativas e a azulejaria também conheceram grande desenvolvimento.[172] Um dos exemplos mais opulentos de talha dourada deste período é a Biblioteca Joanina, nomeada em homenagem ao Rei D. João V e construída no antigo edifício principal da Universidade de Coimbra e na torre de desfile.[173] Numerosas obras menos conhecidas existem por todo o país, nomeadamente em Viseu, Santarém e Faro.[174]

América Latina e Ásia

Catedral da Cidade do México

Influenciada pelas tendências espanholas, a arquitetura das colónias da América e em particular do México, aproximou-se do barroco entre finais do século XVI e início do século XVII, resultando no Churriguerismo, estilo barroco tardio caracterizado pela decoração exuberante, concentrado nas fachadas, que se difundiu especialmente no século XVIII na Espanha e na América Latina, onde não faltou a influência de elementos simbólicos de origem indígena. Esta corrente pode ser encontrada nos campos e não nos grandes centros urbanos, entre as quais as grandes catedrais mais convencionalmente barrocas da Cidade do México (1573–1667) e de Puebla (1551–1664),[175] ou nos interiores ou em elementos secundários como a fachada do Sacrário Metropolitano, adjacente à catedral da capital mexicana.

No Brasil, dependente da cultura portuguesa, os primeiros a introduzir a arquitetura europeia foram os jesuítas que construíram igrejas no Nordeste segundo os modelos contrarreformistas desenvolvidos em Roma e os franciscanos. Na segunda metade do século XVII, os modelos barrocos foram introduzidos no Rio de Janeiro, em São Salvador da Bahia e em Minas Gerais.[176] Esta última cidade, recentemente povoada e próxima de jazidas de ouro, viu a construção de muitas novas igrejas também no início do século XVIII, agora num estilo rococó muito inovador.

Com o colonialismo, as formas da arquitectura europeia também foram introduzidas na Índia, nas Filipinas e Macau. Em particular, com as conquistas portuguesas na Índia, a arquitectura do estado de Goa foi influenciada pelo barroco português.[177]

Nas Filipinas, as principais igrejas barrocas foram recentemente incluídas no património artístico protegido pela UNESCO pelo seu valor histórico e pelo seu carácter sincrético.

Arquitetura barroca tardia e rococó

Embora o barroco esteja essencialmente ligado ao século XVII, na primeira metade do século XVIII verificaram-se a construção de numerosos edifícios nos estilos barroco tardio e rococó. Esta última fase diferencia-se da fase anterior pela adoção de uma decoração mais rica, pela leveza das superfícies das paredes, pela acentuação da complexidade espacial (no modelo de Borromini e Guarini) e finalmente pelo brilho intenso em antítese aos contrastes de claro-escuro do barroco.[16]

Abadia de Melk, na Áustria

O contexto histórico muda: se o barroco teve a função de exaltar o papel da monarquia e da Igreja, o rococó inaugurou um século em que ocorreram revoluções culturais que questionaram ideais e valores acumulados até então. então.[178]

Na França, o Versalhes deixou de ser o ponto fulcral da nação e a corte real voltou para Paris, mesmo que apenas por alguns anos; No entanto, o encanto de Versalhes resistiu em grande parte da Europa, onde surgiram inúmeras residências inspiradas no modelo francês.[178] Foi precisamente na França que o rococó (chamado Rocaille em francês) se desenvolveu e se espalhou pelo resto do continente. O estilo afetou principalmente as artes decorativas e o mobiliário; na arquitetura acentuou-se a diferença entre ambientes internos e externos, com distinção entre os ambientes em função do seu uso, enquanto as estruturas portantes foram aligeiradas sem abrir mão da plasticidade das superfícies que foi também confiado às formas curvas das paredes.[179]

Na arquitetura, o maior sucesso barroco da época na França ocorreu na Lorena, um ducado semi-independente no leste do país onde, na capital Nancy, o duque Stanislaus Leszczyński, ex-rei da Polónia, queria criar uma grande praça real em homenagem ao seu genro Luís XV de França, no modelo das praças reais de Paris. A chamada Praça Estanislau foi construída entre 1751 e 1755 pelo arquiteto Emmanuel Héré. O classicismo é temperado por elegantes contribuições rococó: em três lados da praça, Héré desenha as fachadas em estilo clássico da ordem coríntia, mas com graciosas varandas e coroações como balaustradas com querubins e vasos com flores. No último lado, sumptuosos portões rococó em ferro forjado e dourado de Jean Lamour unem os edifícios inferiores entre si. Por fim, nos cantos norte estão instaladas as duas fontes de Neptuno e Anfitrite, também em estilo rococó, obras de Barthélemy Guibal, criando um cenário teatral que rompe com o rigor das praças parisienses.[180]

Igreja de São Nicolau em Malá Strana em Praga

No entanto, a obra que pode ser considerada o ponto de viragem entre o barroco e o rococó é a Abadia de Melk, amplamente remodelado entre 1702 e 1736 por Jakob Prandtauer (1660–1726) que fez alterações nos edifícios ao longo dos pátios e construiu uma igreja com refinados detalhes rococó, mas ainda barroca devido à sua posição cénica. De facto, a abadia ergue-se imponente numa colina próxima do rio, com uma grande serliana que abre o adro para a zona envolvente.[181]

Uma fusão entre temas do barroco italiano e do rococó pode ser encontrada na Kollegienkirche de Salzburg, de Johann Bernhard Fischer von Erlach (1656–1723): o o interior é um espaço centralizado precedido por um átrio elíptico, enquanto a fachada é convexa com o destaque, típico de algumas igrejas italianas, de duas torres sineiras.[181]

Asamkirche, Munique

Também significativa é a igreja de São Nicolau em Malá Strana em Praga, construída por Kilian Ignaz Dientzenhofer (1689–1751) de 1703 . Externamente o edifício apresenta um volume compacto; o interior é de planta longitudinal, com capelas laterais separadas entre si por pilares girados 45 graus, dos quais partem arcos de dupla curvatura antes de serem cobertos por decoração pictórica. As capelas de San Nicola são encimadas por uma espécie de matroneu, típico da arquitetura medieval, mas moldado por uma plasticidade inteiramente barroca.[182]

Assim, na esteira da afirmação de novos gostos, surgiram inúmeras outras igrejas rococó em grande parte da Europa Central, entre as quais recordamos a igreja de St. Charles em Viena (1716–1740), a igreja de São João na Rocha em Praga (1727–1739), o Basílica de Vierzehnheiligen (1743–1772) e a Asamkirche de Munique (1733-1746).[183] Na região da Silésia, já parte do Sacro Império Romano e passando de 1741-42 para a Prússia, a influência da boémio-alemão; um exemplo notável da região é o complexo da Abadia de Krzeszów, próximo do estilo de Dientzenhofer e onde trabalhou o escultor Ferdinand Maximilian Brokoff.

Palácio de Blenheim, Woodstock

Nas mesmas regiões foram construídos palácios imponentes, o primeiro dos quais foi o Palácio de Schönbrunn em Viena, iniciado por Johann Bernhard Fischer von Erlach no final do século XVII. Pouco depois, ainda na capital austríaca, foi construído o Castelo Belvedere, de Johann Lucas von Hildebrandt; outros exemplos notáveis ocorreram em Dresden (Zwinger, por Matthäus Daniel Pöppelmann), em Inglaterra (Blenheim Palace, por John Vanbrugh, com a colaboração de Nicholas Hawksmoor) e em São Petersburgo (Winter Palace, por Bartolomeo Rastrelli).[184]

No Império Russo este estilo foi importado da Europa Central através do barroco ucraniano e deu origem, com a fundação de São Petersburgo, à sóbrio e equilibrado barroco petrino, no qual os cânones estilísticos do mundo ocidental foram substancialmente incorporados (Mosteiro Aleksandr Nevskij). Uma fase mais exuberante ocorreu durante o reinado de Isabel da Rússia, com o chamado barroco isabelino.

No entanto, a obra-prima do rococó é a Residência de Würzburg, de Johann Balthasar Neumann. O complexo abre-se em torno de um “cour d'honneur”, com duas alas cada uma com vista para dois pátios internos; as salas internas, entre as quais emergem a escadaria e o Kaisersall, apresentam um rico aparato decorativo, com afrescos de Giovanni Battista Tiepolo e estuques da escola italiana.[185]

Pavilhão de Caça Stupinigi

No Norte da Itália a arquitetura barroca tardia encontrou seus maiores expoentes em Filippo Juvarra (1678–1736) e Bernardo Antonio Vittone (1704–1770).[186] As obras de Juvarra incluem a Basílica de Superga e a Casa de Caça de Stupinigi, duas obras construídas na área de Turim na primeira metade do século XVIII. Em particular, a residência Stupinigi é considerada a obra mais original de toda a arquitetura barroca e rococó tardia.[187][188] O complexo é constituído por um conjunto de edifícios que se dilatam e comprimem plasticamente em direcção ao núcleo central, constituído por uma planta elíptica de onde partem duas alas em forma de cruz de Santo André.

Escadaria do Palácio de Caserta

Entre a vasta produção de Bernardo Vittone destaca-se a Capela da Visitação do Valinotto, perto de Carignano e a Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Grignasco, dois edifícios centralizados com conformações externas opostas: de facto, as superfícies convexas da capela são contrastadas pelas concavidades da igreja de Grignasco.[189]

Entre o final do século XVII e o início do século XVIII, antes da afirmação dos gostos neoclássico, o Grão-Ducado da Toscana rompeu com os modelos da arquitetura maneirista tardia, em voga até então (a única exceção plenamente barroca e notável foram algumas obras de Gherardo Silvani),[190] caminhando com maior vigor em direção a um estilo barroco comedido.[191] Ao lado de expoentes da escola local, como Giovan Battista Foggini (1652–1737),[192] Giovanni Baratta (1670–1747) e outros, o citado Filippo Juvarra também trabalhou no Grão-Ducado, com quem trabalhou na suntuosa Villa Garzoni de Collodi.

No mesmo período, em Roma a cultura do século XVIII levou à continuidade com as experiências barrocas, ao invés de uma evolução das mesmas. A fase final do Barroco Romano encontra suas conquistas mais importantes em algumas intervenções urbanas, como a Piazza di Spagna, a piazzetta di Sant'Ignazio, a Fonte de Trevi e o porto de Ripetta.[193] Após a construção da fachada da Arquibasílica de São João de Latrão, na qual Alessandro Galilei introduziu um modelo mais semelhante ao classicismo barroco de inspiração neo-quinhentista,[194] o último capítulo da temporada barroca em Roma coincidiu com a construção da sacristia da basílica de São Pedro no Vaticano, por Carlo Marchionni, obra infeliz, monótona e confusa,[195] em que vemos um retrocesso na linguagem académica estéril.[196]

Em Nápoles, a corte borbonica implementou um ambicioso plano de intervenções na capital do reino; daí surgiu uma mudança progressiva nos gostos arquitetónicos sob o signo mais "classicista" dos dois grandes protagonistas: o toscano Ferdinando Fuga[197] (1699–1782) e Luigi Vanvitelli (1700–1773), chamado para Nápoles por volta de 1750. Por exemplo, Ferdinando Fuga, aluno de Giovan Battista Foggini e autor da fachada da Basílica de Santa Maria Maior e do Palácio da Consulta em Roma, ergueu a fachada da Igreja dos Girolamini e do Real Albergo dei Poveri em Nápoles. A obra mais famosa de Vanvitelli é a Reggia di Caserta, definida como a última grande conquista do barroco italiano; porém se dentro da busca pela suntuosa cenografia de estilo barroco o exterior parece mais comedido, antecipando assim os temas da arquitetura neoclássica.[198]

A viagem pelas obras do barroco tardio da Itália do século XVIII termina na Sicília, e em particular com as cidades do Val di Noto. Ali, Giovanni Battista Vaccarini, que se formou em Roma nas obras de Bernini e Borromini, contribuiu para a reconstrução de Catania após o sismo de 1693, restaurou a catedral de Sant'Agata, construiu a igreja de Badia di Sant'Agata onde demonstrou o seu estilo exuberante.[199] O mesmo sismo levou à reconstrução de Noto, onde trabalhou Rosario Gagliardi (1698–1762), também ativo em Modica e Ragusa;[200] na capital siciliana construiu a igreja de San Giorgio (1739–1775), caracterizada por uma fachada elevada de notável efeito plástico, também realçada pela presença de uma escada que a liga à praça frontal.

Principais artistas e obras da arquitetura barroca

Os últimos edifícios romanos de Michelangelo, particularmente a Basílica de São Pedro, podem ser considerados precursores da arquitetura barroca. Seu discípulo Giacomo della Porta continuou esse trabalho em Roma, especialmente na fachada da igreja jesuíta Il Gesù, o que leva diretamente para a mais importante fachada da igreja do início do barroco, Santa Susanna (1603), de Carlo Maderno.[c]

Igreja de Santa Inês em Agonia, em Roma

Características distintivas de artistas da arquitetura barroca podem incluir:

  • Francesco Borromini, que entre muitas obras construiu em Roma a igreja de São Carlos nas Quatro Fontes. Surge aí a associação entre elementos retos e elementos curvos, utilizando formas ambivalentes. A fachada é visualmente dinâmica, o que não deixa os espectadores parados. Exibe uma complexidade em termos de organização, côncava, convexa e retas; é este dinamismo que o barroco impõe. Cria-se um portal monumental, que joga com várias formas, desloca-se o sino para a zona da fonte, em vez da zona central, destacando assim também a importância da fonte, como elemento criativo e funcional integrado na arquitectura. Borromini foi ainda o autor de igreja de Santa Inês em Agonia, na Piazza Navona, e de Santo André do Horto, ambas em Roma.
  • O francês François Mansart é um dos mais importantes arquitectos do barroco, com obras tão importantes como Château de Masons (hoje Château de Masons-Laffitte), a igreja do Val-de-Grâce'' e o Temple du Marais (estes dois últimos em Paris).
  • Louis Le Vau foi o autor do Château de Vaux-le-Vicomte, considerada como uma das influentes obras da época. A relação pátio-jardim é verdadeiramente revolucionária. Os jardins, projectados por André Le Nôtre, deixam de ser um mero complemento do edifício e ganham um prolongamento que vai para além da construção do château em si. Os jardins de Le Nôtre, sempre fortemente marcados pela axialidade, tocam, a partir do olhar do observador, no horizonte, realizando o que o autor C. Norberg Schulz chama de experiência de um espaço infinito.
  • Jules Hardouin-Mansart é outro importante arquiteto do barroco, cujas obras mais importantes são o Palácio de Versailles, em que a planta é elíptica e os jogos de luz criam contrastes visuais. A Catedral de Saint-Louis-des-Invalides e o Grand Trianon também são de sua autoria.
  • Claude Perrault é outro importante arquitecto francês, ainda que menos célebre. A fachada oriental que desenhou para o Palais du Louvre é um excelente exemplo da arquitectura barroca francesa. Em todo o espaço cria-se uma multiplicidade cenográfica. O muro não é entendido como um limite, mas como realidade espacial privilegiada para conter movimento.

Galeria

Ver também

Notas

  1. O Concílio de Trento (1545–1563) é geralmente considerado como o início da Contrarreforma.
  2. Esta tese, que afirma, em rigor, uma continuidade entre o classicismo (renascimento), maneirismo e barroco servem apenas como classificações convencionais e sintéticas (e, portanto, imprecisas) voltadas para a realidade e complexidade dos vários projetos arquitectónicos, que foi suportada por ilustres estudiosos. Veja-se, por exemplo, Bruschi 1978 e Tafuri 1966.
  3. Para a discussão da fachada de Maderno, ver Wittkower 1985, p. 111.

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