Avenida Luísa Todi
A Avenida Luísa Todi é considerada a principal artéria da cidade de Setúbal, em Portugal, que liga a zona ribeirinha das Fontainhas à zona residencial da Saboaria. A avenida leva o nome da cantora lírica portuguesa Luísa Todi, nascida em Setúbal.[1]
História
[editar | editar código-fonte]O período de ocupação da Avenida Luísa Todi pode, de acordo com Joseph Rodrigues (2012: 32), ser dividida em três períodos distintos[2]: um primeiro que remete para o início da ocupação humana até ao século XV, caracterizada pela pesca e agricultura; um segundo período, balizado entre os séculos XVII e XVIII, "relacionado com a defesa da cidade e a construção de baluartes"; um terceiro, desde a segunda metade do século XIX até à primeira do século XX, caracterizada por significativas transformações da área, com o desenvolvimento industrial.[2]
Inicialmente integrada numa zona de praia no século XIX, contando com estâncias de banhos como a do Cais da Trindade e a da Praia do Seixal, procuradas pela população local e estrangeira, a Rua da Praia (como era chamada) começou a ser objeto de reconstrução no Verão de 1848, sendo terraplanada, calcetada e arborizada, sob iniciativa do então Presidente da Câmara Municipal de Setúbal Jacomo Maria Ferro e continuada nas presidências de António Rodrigues Manito.[2][3] destacando-se a inauguração da linha férrea Setúbal – Barreiro.[4] O projeto viria a ser definitivamente concluída em 1895, quando ganhou o nome atual de Avenida Luísa Todi, que rapidamente se transformou num símbolo do desenvolvimento socioeconómico da cidade, na linha das grandes cidades europeias.[2]
Desde o início da construção até aos primeiros anos do século XX, a Avenida começou a contar com a presença de várias associações ligadas à burguesia,[2] como a Sociedade de Recreio Familiar (1850), o Sociedade de Recreio Família (1855), o Club Setubalense (1855),[5] o Grande Salão do Recreio do Povo (1907) ou o Casino Setubalense (1908), assim como de sociedades recreativas, destacando-se a Sociedade Musical e Recreativa União Setubalense (1899) e da Sede do Sindicato Nacional dos Operários da Industria de Conservas do Distrito de Setúbal (1911),[6] e zonas comerciais, destacando-se claramente o Mercado do Livramento, inaugurado em 1876 e alargado em 1930.[2][7] A zona a nascente contava com palacetes de art deco e neo-clássicas, o que contrastava com a zona a poente que contava com várias instalações industriais e bairros operários.[2] O Orfanato Municipal, atual Casa da Baía, já existia deste 1745.[2]
Nos anos que antecederam a Implantação da República, a Avenida, sobretudo o Teatro D. Amélia (atual Fórum Municipal Luísa Todi), inaugurado em 1897, entrou no imaginário republicano, tendo sido naquele teatro que se deu o Congresso Republicano de 1909, que teve local no dia 23 de abril, confirmando a via revolucionária para a instauração do regime republicano.[8][9] Esse Congresso contou com a presença de figuras nacionais do Partido Republicano Português como Manuel de Arriaga e Bernardino Machado, ativistas como Ana de Castro Osório, e figuras locais como Feio Terenas e Estêvão de Vasconcelos, deputados às Cortes por Setúbal.[8]
Durante as primeiras décadas do século XX, para além da atividade cultural e operária, a Avenida foi palco de festividades religiosas, como a procissão do Círio da Arrábida, e da Nossa Senhora da Anunciada,[10] da grande Feira de Santiago (já desde 1857) e da 1ª Exposição Regional de Setúbal, instalada em 1930, contando com a presença do então Presidente da República Portuguesa Óscar Carmona, por ocasião da inauguração do Porto de Setúbal e vista como um símbolo do desenvolvimento económico da cidade, que se transformara num importante pólo industrial do país,[11] com a exposição em particular a ser comparada em termos de área e visitantes com a Exposição Universal de Paris de 1900.[2]
Durante o Estado Novo, o espaço circundante da Avenida cresceu com o edifício do INATEL, o edifício da Alfândega, e o edifício da Doca de Setúbal, a Fonte Luminosa (1960), do escultor Fernando Fernandes, o Hotel Esperança, a Praça da República e o Jardim da Beira Mar. Para além disso, o Monumento a Luísa Todi, projetado por Abel Pascoal e esculpido por Leopoldo de Almeida, foi inaugurado em 1933, assim como a Biblioteca Municipal, inaugurada em 1945 e o novo Fórum Municipal Luísa Todi, substituindo o Teatro D. Amélia, em 1960.[2][12]
Com a Revolução dos Cravos, a Avenida continuou a ver inaugurados novos espaços, como o Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, inaugurado em 1977, e o alargamento do espaço circundante.
No início do século XXI, a Avenida Luísa Todi foi objeto de importantes obras de reestruturação, inseridas no Programa Polis, terminadas em 2012[13] e que contou com a requalificação do Baluarte de Nossa Senhora da Conceição (que se tornou na Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal), do Fórum Municipal Luísa Todi e do Mercado do Livramento, e a construção de novos espaços como o Auditório José Afonso, a Casa da Baía, a Praia da Saúde e a construção do Parque Urbano de Albarquel, estes últimos na zona circundante.[14]
Pontos de interesse
[editar | editar código-fonte]Monumentos
[editar | editar código-fonte]Na Avenida Luísa Todi existem vários monumentos e estátuas:
- Monumento a Luísa Todi
- Fonte das Ninfas
- Monumento a João Vaz
- Monumento à Resistência Antifascista, à Liberdade e à Democracia
- Fonte dos Golfinhos
- Estátua de Manuel Bola
Arquitetura
[editar | editar código-fonte]- Fórum Municipal Luísa Todi[15]
- Casa da Baía[16]
- Baluarte de Nossa Senhora da Conceição (antigo Quartel do 11, agora Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal)[17]
- Auditório José Afonso[18]
- Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal[19]
- Galeria Municipal do Banco de Portugal
- Coreto da Avenida[20]
Comércio e serviços
[editar | editar código-fonte]Transportes
[editar | editar código-fonte]A avenida é servida por 33 carreiras da Carris Metropolitana:[23]
- 4403 (terminal)
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- 4406 (terminal)
- 4407 (terminal)
- 4408 (terminal)
- 4412 (terminal)
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- 4419 (terminal)
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- 4433
- 4434 (terminal)
- 4436 (terminal)
- 4438 (terminal)
- 4439
- 4440 (terminal)
- 4441 (terminal)
- 4451
- 4453
- 4471 (circular)
- 4472
- 4541 (terminal)
- 4551 (terminal)
Referências
- ↑ «Avenida Luísa Todi - Setúbal | Guia para visitar em 2022 - oGuia». www.guiadacidade.pt. Consultado em 25 de agosto de 2022
- ↑ a b c d e f g h i j Rodrigues, Joseph (2012). «Avenida Luisa Todi, do rio á cidade». Consultado em 20 de agosto de 2022
- ↑ Alberto Pimentel (1992). Memória sobre a História e Administração do Município de Setúbal. [S.l.]: Câmara Municipal de Setúbal. p. 280
- ↑ Maria da Conceição Quintas (1988). Setúbal – Economia, Sociedade e Cultura Operária/1880–1930. [S.l.]: Editora Livros Horizonte. pp. 140–143
- ↑ «Club Setubalense ostenta 164 anos de distinção e classe». O Setubalense. 27 de julho de 2020. Consultado em 20 de agosto de 2022
- ↑ Maria da Conceição Quintas (1988). Setúbal – Economia, Sociedade e Cultura Operária/1880–1930. [S.l.]: Editora Livros Horizonte. pp. 212–216
- ↑ Pacheco, José Alves, Francisco Lopes, Edgardo. «Mercado do Livramento: histórias do espaço mais saboroso do país». PÚBLICO. Consultado em 20 de agosto de 2022
- ↑ a b Licciardello, Giovanni (1 de agosto de 2022). «A placa ilegível evocativa do Congresso Republicano de 1909». O Setubalense. Consultado em 20 de agosto de 2022
- ↑ Afonso, Albérico. O X Congresso Republicano de 1909 sob o signo da revolução (PDF). Col: O Republicanismo entre a revolução e a ordem. [S.l.: s.n.] pp. 57–75
- ↑ Duarte, Ana; Quintas, Maria da Conceição. Do sagrado ao profano na Setúbal dos inícios do Século XX: do Círio da Arrábida às Festas Bocageanas. Col: Actas – 1º Encontro de Estudos Locais – Distrito de Setúbal. [S.l.: s.n.] pp. 63–66
- ↑ Albérico Afonso Costa (2020). Setúbal no centro do mundo - 165 anos do jornal O Setubalense. [S.l.: s.n.] pp. 83–86
- ↑ «O Fórum». Fórum Luísa Todi. 24 de fevereiro de 2018. Consultado em 20 de agosto de 2022
- ↑ Veloso, Cláudia. «Polis prepara "revolução" na principal avenida de Setúbal». PÚBLICO. Consultado em 20 de agosto de 2022
- ↑ «SetúbalPolis abre concurso para parque urbano de Albarquel». www.ambienteonline.pt. Consultado em 20 de agosto de 2022
- ↑ «Fórum Luísa Todi». Fórum Luísa Todi. Consultado em 19 de agosto de 2022
- ↑ «Casa da Baía». Município de Setúbal. Consultado em 19 de agosto de 2022
- ↑ «″Combatentes do mundo″ lutam para preservar a história do Quartel do 11 em Setúbal». www.dn.pt. Consultado em 19 de agosto de 2022
- ↑ Veloso, Cláudia. «Polis de Setúbal inaugura auditório Zeca Afonso». PÚBLICO. Consultado em 19 de agosto de 2022
- ↑ «Museus e Galerias». Município de Setúbal. Consultado em 19 de agosto de 2022
- ↑ «Coreto da Avenida Luísa Todi». Município de Setúbal. Consultado em 19 de agosto de 2022
- ↑ «Biblioteca Pública Municipal». Município de Setúbal. Consultado em 19 de agosto de 2022
- ↑ «Mercado do Livramento». Município de Setúbal. Consultado em 19 de agosto de 2022
- ↑ «carris metropolitana - Mobilidade Coletiva». horarios.carrismetropolitana.pt. Consultado em 19 de agosto de 2022
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- RODRIGUES, Joseph. Avenida Luísa Todi, do Rio à Cidade. Dissertação de mestrado em Museologia e Museografia apresentada à Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa em 2012.