Clóvis Moura
Clóvis Moura | |
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Nascimento | 1925 Amarante |
Morte | 23 de dezembro de 2003 São Paulo |
Cidadania | Brasil |
Ocupação | jornalista, escritor, sociólogo |
Distinções |
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Clóvis Steiger de Assis Moura (Amarante, 10 de julho de 1925 – São Paulo, 23 de dezembro de 2003), mais conhecido como Clóvis Moura, foi um sociólogo, jornalista, historiador e escritor brasileiro. Nasceu na cidade de Amarante, no Piauí. No livro Argila da Memória, Clóvis Moura fala da sua infância no interior, do Rio Parnaíba e de mitos do folclore piauiense, como a lenda do cabeça de cuia. Influenciado pelo marxismo, desenvolveu a sociologia da práxis negra.[1]
Iniciou sua militância pelo Partido Comunista Brasileiro em 1945 e, em 1962, na cisão do partido, migrou para o PCdoB. Destacou-se pela militância pioneira no movimento negro brasileiro. Colaborou com artigos para jornais da Bahia e de São Paulo.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Moura iniciou-se muito jovem como aspirante a jornalista no pequeno jornal O Potiguar, publicação estudantil criada por ele como porta-voz do Grêmio Cívico Literário do Colégio Diocesano Santo Antônio, em Natal (RN), onde fez o curso secundário. Ali publicou em 1939, aos 14 anos de idade, o primeiro texto jornalístico de que se tem notícia, e já revelava na escolha do tema e do título interesse pela história nacional: Libertas que sera tamem abordava a Inconfidência Mineira.[2][nota 1]
Residiu em Salvador em 1941 por pouco tempo, mas o suficiente para que estabelecesse contatos e vínculos com jovens intelectuais, entre eles Vivaldo da Costa Lima, Aluísio Sepúlveda, Rui e Otto Soledad, Epaminondas da Costa (irmão de Vivaldo), Clóvis Amorim e Isaías Paim. Novo deslocamento da família por motivo de ocupação profissional do pai, funcionário da Receita Federal, o levou a outras paragens, desta vez para Juazeiro (Bahia), no interior da Bahia, provavelmente em 1942. A mudança de residência não rompeu, entretanto, os vínculos construídos com os intelectuais de Salvador, antes os intensificou mediante correspondência, atividade literária e política. Existem muitos indícios de que os 500 quilômetros de distância entre a capital baiana e a pequena cidade situada no extremo norte do Estado, na divisa com Pernambuco, não abalaram os contatos já estabelecidos. Foi provavelmente por essa época que ocorreu a aproximação de Moura com o PCB, fortalecida sem dúvida na conjuntura do pós-Guerra, quando o partido conseguiu existência legal e grande popularidade, e seu secretário-geral do partido, Luís Carlos Prestes, se sobressaía como grande liderança. Certo é que os contatos estabelecidos em Salvador com os intelectuais vinculados ou simpatizantes ao PCB lhe abriram portas para a publicação de artigos e poesias. Ou seja, ele principiou a ter “acesso reservado” ao mundo jornalístico e às páginas de revistas em que publicava resenhas literárias e poesias, como ocorreu com outros jovens escritores aspirantes ao reconhecimento de seus talentos.[3]
Anos depois, residindo na cidade de Juazeiro, Moura persistiu no encaminhamento de sua vida para o jornalismo e fundou em 1949 Jacuba , jornal efêmero, do qual não foram identificados exemplares; porém, indícios sugerem que resultava de contatos mantidos com o PCB. A aproximação do partido já havia motivado sua malsucedida e pouco conhecida candidatura às eleições para o legislativo estadual do Piauí, em 1947, a qual, no entanto, não se concretizou por esse partido, e sim pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), com apoio de Luís Carlos Prestes. Aproximara-se do PSB por ter vínculos familiares com um de seus fundadores, João Mangabeira, que afirmou ser seu tio em depoimento prestado ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) em São Paulo, décadas depois, mais precisamente em 11 de fevereiro de 1970, quando foi "chamado a esclarecer" suas atividades políticas. Naquela época das eleições ao legislativo estadual, diversas candidaturas de simpatizantes do PCB foram registradas sob outras siglas; e o PSB, fundado pela fusão de grupos estaduais de tendências de esquerda, abrigava tanto o reformismo cristão como adeptos do marxismo radical. Nas eleições para a Constituinte em 1945 já o partido alcançara grande representatividade ao eleger Prestes senador, além de 14 deputados, todos inscritos no processo eleitoral sob sua legenda.[4]
A Frente Cultural
[editar | editar código-fonte]Na dinâmica das atividades culturais comunistas no Brasil inseriu-se Clóvis Moura após o fim do Estado Novo, tentando conquistar espaço na imprensa partidária. Fracassada a tentativa de atuação parlamentar, em 1947 estabeleceu contato com a revista Literatura, fundada e dirigida por Astrogildo Pereira—que contava em seu conselho editorial com Álvaro Moreira, Aníbal Machado, Arthur Ramos, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira e Orígenes Lessa—, com periodicidade irregular embora se apresentasse como mensal. Seu propósito consistia em divulgar debates culturais e literários, levá-los ao povo e promover aliança entre intelectuais, tanto que abrigou escritores de diversas tendências, entre eles os filiados ao PCB, como Jorge Amado, além de outros sem clara filiação partidária.[5]
Em 1949, cada vez mais integrado a um grupo de intelectuais da capital baiana que atuavam no PCB, Moura trabalhou como redator em O Momento, jornal diário publicado em Salvador entre 1945 e 1957, com o objetivo de divulgar atividades do partido e chamar leitores para a militância, além de estampar notícias nacionais e internacionais, crônicas e temas destinados a alcançar um público amplo. Nele atuou após o empastelamento ocorrido em 1947, na esteira da repressão que se seguiu à situação do partido na ilegalidade; porém, não permaneceu para vê-lo extinto, pois se transferiu com a família para a cidade de São Paulo em 1950, por razões ainda não conhecidas, provavelmente em busca de inserção profissional.[6]
Ali estabelecido, deu continuidade à atuação na Frente Cultural, que nesta cidade era liderada por Caio Prado Júnior, Vilanova Artigas e Arthur Neves. Passou a trabalhar como redator do jornal Última Hora, periódico da chamada grande imprensa, fundado e dirigido por Samuel Wainer, onde permaneceu de 1952 a 1958. Paralelamente, atuou até 1955 como secretário de redação da revista Fundamentos, fundada por Monteiro Lobato e publicada trimestralmente pelo PCB em São Paulo de 1948 a 1955, sob a direção de Armênio Guedes, Vilanova Artigas e Caio Prado Júnior. Abordava temas culturais, os quais correspondiam ao anúncio de tratar-se de “revista de cultura moderna”, expressa em assuntos variados. Deixara de ser um principiante noviço, e iniciava um período consistente de inserção como profissional da imprensa nas publicações comunistas.[7]
Além de atuar na secretaria da redação, Moura encontrou em Fundamentos acolhida para sua própria produção e uma interlocução respeitosa, que reconhecia a contribuição que ele poderia dar ao periódico na captação de artigos, expectativa sem dúvida autorizada pelo seu dinamismo e pela rede de sociabilidades comunistas a que ele pertencia. Publicou entre 1952 e 1955 quatro artigos sobre literatura e história, os quais traduziam não apenas suas preocupações da época mas também, e principalmente, pautas do PCB em seu programa anticapitalista, anti-imperialista e de valorização das lutas populares.[8]
Trajetória intelectual
[editar | editar código-fonte]Sobre a resistência quilombola
[editar | editar código-fonte]Apoiando-se na teoria de Marx, analisou a luta de classes no sistema escravista.[9] Clóvis Moura questionou a visão de Gilberto Freyre sobre a passividade do negro no Brasil, destacando a resistência à escravidão dos quilombos.[9] Clóvis Moura opõe o negro acomodado—que aceita passivamente a escravidão — ao rebelde, quase-herói, quilombola, antípoda do primeiro e, por outro lado, as formas de resistência passiva (suicídios, fugas, formação de quilombos) e as ativas (revoltas abertas, assassinatos de feitores e ações de guerrilhas dos quilombolas).[10]
Para Clóvis Moura, a sociedade escravista brasileira era subdividida em duas classes antagônicas: os senhores de escravos (classe dominante) e os escravos (classe dominada). Os escravos produziam os bens materiais e as riquezas enquanto os senhores de escravos detinham a propriedade e os meios de produção. Após a abolição, os escravos, apesar de terem produzido as riquezas que alicerçaram a economia brasileira, não tiveram direito à propriedade.[carece de fontes]
Obras
[editar | editar código-fonte]- Rebeliões da senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas (1959)
- Argila da Memória (1962)
- O Negro: de Bom Escravo a Mau Cidadão? (1977)
- A sociologia posta em questão (1978)
- Diário da Guerrilha do Araguaia (1979)
- Os Quilombos e a Rebelião Negra (1981)
- Brasil: as raízes do protesto negro (1981)
- Sociologia do Negro Brasileiro (1988)
- As injustiças de Clio: o negro na historiografia brasileira (1990)
- Dialética Radical do Brasil Negro (1994)
- Dicionário da escravidão negra no Brasil (2004)
Notas
- ↑ Esta seção incorpora texto em licença CC-BY-4.0 da obra: Malatian, Teresa (1 de julho de 2019). «Um jornalista combatente: Clóvis Moura, Flama e a política cultural do PCB (1951-1952)». História (São Paulo). ISSN 0101-9074. doi:10.1590/1980-4369e2019008. Consultado em 14 de agosto de 2021
Referências
- ↑ Mesquita, Érika (2003). «Clóvis Moura e a sociologia da práxis». Estudos Afro-Asiáticos: 557–577. ISSN 0101-546X. doi:10.1590/S0101-546X2003000300007
- ↑ Malatian 2019, p. 3.
- ↑ Malatian 2019, pp. 3-4.
- ↑ Malatian 2019, p. 4.
- ↑ Malatian 2019, p. 5.
- ↑ Malatian 2019, p. 6.
- ↑ Malatian 2019, pp. 6-7.
- ↑ Malatian 2019, p. 7.
- ↑ a b Malatian, Teresa (Maio de 2019). Rebeliões da senzala, história do negro brasileiro e injustiças de clio: uma aproximação do percurso historiográfico de clóvis moura (PDF). 9º encontro escravidão e liberdade no Brasil meridional. Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2675-1429. Consultado em 13 de outubro de 2021
- ↑ Clóvis Moura e a sociologia da práxis negra (PDF) (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal Fluminense. 2009. p. 126. 153 páginas
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Malatian, Teresa (1 de julho de 2019). «Um jornalista combatente: Clóvis Moura, Flama e a política cultural do PCB (1951-1952)». História (São Paulo). ISSN 0101-9074. doi:10.1590/1980-4369e2019008. Consultado em 14 de agosto de 2021
- MESQUITA, Érika, Clóvis Moura: uma visão critica da historia social brasileira, Dissertação de Mestrado IFCH/UNICAMP, Campinas, 2002.
- OLIVEIRA, Fábio Nogueira. Clóvis Moura e a sociologia da práxis negra. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.
- PACHECO, Diego Ricardo. Clóvis Moura e Florestan Fernandes: O protesto escravo na derrocada do sistema escravista nas obras Rebeliões da senzala e Brancos e negros em São Paulo. Monografia, São Paulo, 2015.
- Ana Paula Procópio Silva (janeiro de 2017), O contrário de casa grande não é senzala. É quilombo! A categoria práxis negra no pensamento social de Clóvis Moura (PDF), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Wikidata Q108273695