Francesco Ingoli
Francesco Ingoli | |
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Nascimento | 21 de novembro de 1578 Ravena |
Morte | 24 de abril de 1649 (70 anos) Roma |
Ocupação | presbítero, advogado |
Religião | Igreja Católica |
Francesco Ingoli (Ravena, 21 de novembro de 1578 – Roma, 24 de abril de 1649) foi um sacerdote, advogado e professor de direito civil e canônico italiano.
Vida e formação
[editar | editar código-fonte]Nascido em Ravena, Itália, Ingoli aprendeu diversas línguas, incluindo árabe,[1] e graduou-se em direito civil e canônico na Universidade de Pádua em 1601, entrou na ordem dos Teatinos e estudou astronomia, escrevendo um ensaio sobre estrelas em 1604 e outro sobre cometas em 1607. Em 1606 entrou no serviço do cardeal Bonifazio Caetani (1567-1617), que era legado papal em romanha, acompanhando para Roma quando o cardeal foi indicado para a Congregação do Index. Em Roma frequentou a Accademia dei Lincei, fundada por Federico Cesi.[2] Quando Caetani morreu em 1617 entrou no serviço do cardeal Orazio Lancellotti.[1]
Disputa com Galileu
[editar | editar código-fonte]Seu nome está particularmente ligado à controvérsia sobre o heliocentrismo (sistema copernicano). Ele usou uma combinação de argumentos teológicos e científicos para apoiar a teoria astronômica de Tycho Brahe (sistema Tychonico) sobre a de Nicolau Copérnico. Galileu Galilei foi um dos que discordaram dele sobre este assunto. Ingoli enviou a Galileu uma carta em janeiro de 1616, listando dezoito objeções científicas e quatro teológicas ao copernicanismo, mas sugeriu que Galileu respondesse principalmente as científicas. Segundo Maurice Finocchiaro, Ingoli provavelmente havia sido contratado pela Inquisição para escrever uma opinião de especialista sobre a controvérsia, e esta carta forneceu a "principal base direta" para as ações da Inquisição contra o sistema copernicano em fevereiro e março de 1616.[3] É provável que Ingoli tenha escrito sua carta em janeiro de 1616; em março, a Congregação para a Doutrina da Fé emitiu seu decreto contra o copernicanismo e, em 10 de maio, Ingoli foi nomeado consultor da Congregação.[4] Uma tradução completa em inglês do ensaio de Ingoli para Galileu foi publicada em 2015.[5]
As dezoito objeções científicas listadas por Ingoli foram:[6]
- Uma discussão sobre a paralaxe do sol e da lua
- Um argumento da De sphaera mundi de João de Sacrobosco sobre as aparências das estrelas não mudarem como mudariam se a Terra se movesse
- Um argumento de Ptolomeu sobre a Terra estar no centro do universo, porque um observador sempre vê metade da esfera celeste
- Um argumento de Tycho Brahe de que as excentricidades de Vênus e Marte eram diferentes do que Copérnico assumiu
- Um argumento sobre as densidades relativas da Terra e do Sol
- Um argumento baseado no comportamento de pedaços de material em turbilhão como em uma peneira, onde os mais pesados se acumulam no centro
- Um argumento de Tycho Brahe sobre o comportamento de corpos em queda
- Um argumento de Tycho Brahe sobre o vôo de balas de canhão disparado para leste ou oeste
- Um argumento de Tycho Brahe sobre a posição das estrelas sendo alteradas se a Terra se mover
- Um argumento de Tycho Brahe sobre as posições do pólo celeste sendo alteradas se a Terra se mover
- Um argumento de Tycho Brahe sobre a duração do dia sendo alterada se a Terra se mover
- Um argumento de Tycho Brahe sobre os movimentos dos cometas quando opostos ao Sol no céu, não comportando o movimento da Terra
- Um argumento de Tycho Brahe de que o suposto "terceiro movimento" da Terra no sistema copernicano (os dois primeiros são a rotação diária da Terra e a órbita anual) - aquele pelo qual o eixo da Terra mantém a mesma orientação no espaço, paralela a si mesma todo o tempo, para que seja sempre apontada para a Estrela do Norte - não é necessária se a Terra se mover (atualmente entendemos que um corpo em rotação naturalmente mantém sua orientação no espaço giroscopicamente, mas na época isso era considerado um terceiro movimento real)
- Um argumento de Tycho Brahe de que o suposto "terceiro movimento" da Terra no sistema copernicano não é possível
- Um argumento de Tycho Brahe de que o "terceiro movimento" da Terra, em combinação com os outros movimentos, é muito complexo
- Um argumento de Tycho Brahe e outros de que corpos pesados são menos aptos a se movimentar e, como a Terra é o mais pesado de todos os corpos conhecidos, ela não deve se mover
- Um argumento de que os corpos têm movimentos naturais únicos
- Um argumento que Copérnico atribui movimento a todos os objetos brilhantes, exceto o Sol, mas que ele deixa o Sol brilhante imóvel e faz a Terra escura se mover
As quatro objeções teológicas listadas por Ingoli foram:[7]
- Um argumento baseado na linguagem do primeiro capítulo de Gênesis, descrevendo o céu como uma tenda e o Sol e a Lua sendo luzes nele
- Um argumento de Roberto Belarmino sobre a localização do inferno no centro ou no ponto mais baixo da Terra e do universo
- Um argumento baseado no décimo capítulo de Josué, onde o Sol é citado como temporariamente parado
- Um argumento de Bellarmino baseado em uma certa oração que faz referência a uma Terra estacionária
Galileu não respondeu imediatamente à carta de Ingoli; de fato, ele o fez somente depois de oito anos, em um ensaio que é essencialmente um primeiro rascunho de seu grande tratado Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo. No entanto, Johannes Kepler leu a carta de Ingoli e publicou uma resposta em 1618; Ingoli foi fundamental para colocar o Epitome Astronomiae Copernicanae de Kepler no Index em fevereiro de 1618. A Congregação também encarregou Ingoli da tarefa de corrigir o trabalho de Copérnico, de modo a remover as partes que a Igreja agora considerava inaceitáveis. Em 2 de abril de 1618 ele apresentou suas revisões, as quais foram aceitas.[4]
Ingoli morreu em Roma em 24 de abril de 1649. Foi enterrado em uma sepultura comum dos Teatinos na igreja de Sant'Andrea della Valle.[1]
Notas
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b c Pizzorusso, Giovanni. «Ingoli, Francesco». Dizionario Biografico degli Italiani. Treccani. Consultado em 19 de fevereiro de 2020
- ↑ Ingoli (2004)
- ↑ Graney (2012, 4)
- ↑ a b Maurice A. Finocchiaro (15 de janeiro de 2010). Defending Copernicus and Galileo: Critical Reasoning in the Two Affairs. [S.l.]: Springer Science & Business Media. pp. 72–. ISBN 978-90-481-3201-0
- ↑ Graney (2015)
- ↑ Graney (2012, 16-37)
- ↑ Graney (2012, 27-29, 37-39)
Referências
[editar | editar código-fonte]- Graney, Christopher M. (2012). «Francesco Ingoli's essay to Galileo: Tycho Brahe and science in the Inquisition's condemnation of the Copernican theory». Bibcode:2012arXiv1211.4244G. arXiv:1211.4244
- Graney, Christopher M. (2015). Setting Aside All Authority: Giovanni Battista Riccioli and the Science against Copernicus in the Age of Galileo. [S.l.]: University of Notre Dame Press
- «INGOLI, Francesco». Dizionario Biografico degli Italiani. 62. [S.l.: s.n.] 2004