Liébana
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Comarca | ||||
Potes, a sede comarcal | ||||
Gentílico | lebaniego/u, -ga; lebaniense[1][2] | |||
Localização | ||||
Localização de Liébana na Cantábria | ||||
Localização de Liébana na Espanha | ||||
Coordenadas | 43° 09′ N, 4° 37′ O | |||
País | Espanha | |||
Comunidade autónoma | Cantábria | |||
Província | Cantábria | |||
Administração | ||||
Capital | Potes | |||
Características geográficas | ||||
Área total | 574,8 km² | |||
População total (2021) [3] | 5 228 hab. | |||
Densidade | 9,1 hab./km² | |||
Outras informações | ||||
Nº de municípios | 7 | |||
Website | www |
Liébana ou La Liébana é uma comarca histórica do norte de Espanha, da província e comunidade autónoma da Cantábria. É constituída por sete municípios e a sede comarcal é Potes. Tem 574,8 km² e é uma das comarcas mais bem definidas da Cantábria em termos geográficos e culturais. Em 2021 tinha 5 228 habitantes.[3] Apesar de já existir uma lei para a divisão em comarcas da Cantábria desde 1999, esta ainda não foi regulamentada, pelo que a comarca, como as restantes da comunidade autónoma, não tem carácter administrativo oficial.[4]
A comarca limitada a norte pelas Astúrias e pelo cântabro de Peñarrubia (na comarca de Saja-Nansa), a oeste e sul com Castela e Leão (província de Leão e de Palência, respetivamente) e a leste com os municípios e vales de Lamasón e Polaciones (também da comarca de Saja-Nansa).[5]
Municípios
[editar | editar código-fonte]Município | Área (km²) |
População (2021)[3] |
Densidade (hab./km²) |
Notas |
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Cabezón de Liébana | 81,4 | 580 | 7,1 | |
Camaleño | 161,1 | 956 | 5,9 | Maior município em área |
Cillorigo de Liébana | 104,5 | 1 299 | 12,4 | É por ele que é feito o acesso à comarca |
Pesaguero | 70,0 | 294 | 4,2 | É um dos municípios mais isolados e despovoados de Liébana |
Potes | 7,6 | 1 322 | 173,9 | Além de ser a sede comarcal, é o único núcleo realmente urbano da comarca |
Tresviso | 16,2 | 59 | 3,6 | É o menos povoado e mais isolado |
Vega de Liébana | 133,2 | 718 | 5,4 | Segundo maior em área, mas com baixa densidade populacional |
Geografia
[editar | editar código-fonte]A comarca é uma região rural de difícil acesso, situada nas montanhas dos Picos da Europa, que ocupa uma grande cova entre vertentes escarpadas de calcário, o que faz dela a mais bem definida da Cantábria.[5] Está muito isolada do resto da comunidade autónoma e o principal acesso é feito pela estrada N-621, a qual liga a província de Leão, a sul, passando pelo desfiladeiro de La Hermida, no vale do Deva, a sul, e a norte atravessa parte das Astúrias antes de voltar a entrar na Cantábria. É constituída por quatro vales (Valdebaró, Cereceda, Valdeprao e Cillorigo), que confluem em Potes. Os principais rios são o Deva, o Quiviesa e o Bullón.
O seu relevo escarpado é constituído principalmente por calcário do período Carbonífero, afetado por processos cársticos. No fundo dos vales surgem ardósias e arenitos.[5]
A sua situação de grande vale fechado, com grandes diferenças de altitude e de encostas muíto íngremes, faz com que haja uma grande variedade de condições ambientais, que dão lugar a uma multitude de formações vegetais, nomeadamente azinheiras, sobreiros, faias, carvalhos-alvarinho, carvalhos-negral, pastagens e terras de cultivo. A região tem um microclima, de características mais mediterrânicas do que o resto da Cantábria, onde o clima é de tipo atlântico. O clima de Liébana é mediterrânico no fundo dos vales, torna-se progressivamente atlântico húmido à medida que se sobe, alcançando características subalpinas no cimos elevados dos Picos da Europa. As temperaturas médias anuais são 28 °C para as máximas e 8 °C para as mínimas. Chove menos do que noutras zonas da Catntábria (800 m anuais em vez dos 1 000–1 200 mm).[6]
História
[editar | editar código-fonte]A menção mais antiga a Potes data de 847. Um século depois, há registo de que a vila estava dependente do Mosteiro de São Turíbio de Liébana.[7] Em finais do século XII e início do século XIII figuram como senhorios de Liébana vários membros da Casa de Girón [es]: Rodrigo Gutiérrez Girón (m. 1193), Gonçalo Rodríguez Girón (m. 1231) e Rodrigo González Girón [es] (m. 1256).[8] Gonçalo deve ter sido o senhor mais poderoso da zona, pois também as tenências de Monzón, La Pernía, Gatón de Campos, Herrín de Campos, Peñas Negras, Cervera, Guardo e metade da importante tenência de Carrión, além de ter sido proprietário de vários outros lugares.[9] No final do século XIV, o rei João I de Castela outorgou o senhorio de Liébana ao seu primo João Teles de Castela [es], senhor de Aguilar de Campoo e filho do infante Telo de Castela [es].
Em meados do século XV, a posse do senhorio de Liébana deu origem a uma das frequentes guerras nobiliárias daquele tempo e, posteriormente, a um prolongado litígio judicial entre os marqueses de Aguilar de Campoo [es], herdeiros de João Teles de Castela, e os sucessores do segundo marido da sua esposa, Leonor da Vega (1365–1432), os duques do Infantado da Casa de Mendoza. O pleito terminou em 1576, quando os tribunais se pronuciaram a favor dos últimos, que tiveram a posse da região até ao fim do regime senhorial no século XIX.
Na Idade Moderna, a região foi chamada "Província de Liébana" e foi governada por um corregedor e juntas de província, em certa medida com algum nível de autogoverno. Em 1778 essas juntas foram cofundadoras da Província da Cantábria [es][10] Entre 1785 e 1833 essa província fez parte da Intendência de Burgos [es], antecessora da atual província de Burgos.
Em 1934, forças esquerdistas assaltaram o quartel da Guarda Civil de Potes durante a Revolução de outubro 1934, detendo os guardas e formando um comité revolucionário, até que, ante o avanço de forças governamentais pelo desfiladeiro de La Hermida, se viram forçados a fugir para as montanhas.[11]
Mosteiros
[editar | editar código-fonte]Há registo da existência de mosteiros em Liébana desde o século VIII, uma consequência da chegada de cristãos da Meseta Central ibérica durante o repovoamento impulsionado por Afonso I das Astúrias, após a expulsão dos muçulmanos. Foram criados mais de uma dezena de cenóbios no território da comarca, entre os quais se destaca o de São Martinho de Turieno, que mais tarde foi rebatizado Mosteiro de São Turíbio de Liébana.[12]
Dessas primeiros assentamentos monásticos estão documentados os de São Salvador de Vileña, na serra de Villeña, entre Pembes e Cosgaya, no município de Camaleño, já perto de Fuente Dé; Santa Maria em Cosgaya; São Facundo e São Primitivo em Tanarrio; São Salvador de Osina; São Pedro de Vión; Santa Maria de Baró, São Paulo e São Pedro de Naroba; Santo Adriano e Natália de Sionda em Argüébanes; Santa Maria de Naranco; Santo Estêvão de Mesaina em Mieres; e Santa Leocádia de Cebes.[12][13]
No século X foram fundados os mosteiros de Santiago em Colio, São Vicente em Potes, São Julião em Congarna e o de Santa Eulália em Lon. No mesmo século destacou-se o Real Mosteiro de São João de Naranco, situado no sopé da Peña Vieja, que é mencionado pela primeira vez em 932.[14] A maioria destes mosteiros tiveram uma existência efémera e pouca importância, tendo sido rapidamente absorvidos pelo crescimento do de São Turíbio de Liébana e, ainda no século X, pelo de Santa Maria de Piasca [es].[15]
Economia
[editar | editar código-fonte]A economia da região, tradicional baseada no setor primário, é atualmente baseada no turismo rural, devido à sua importância paisagística e à popularidade do Parque Nacional dos Picos da Europa, em cujo território se encontram os municípios de Camaleño, Cillorigo de Liébana e Tresviso. No entanto, o turismo concentra-se quase exclusivamente na localidade de Potes, pelo que o crescimento populacional ali verificado nos últimos anos não ocorre nas outras localidades, que têm taxas de crescimento demográfico negativas. Além do turismo, o setor primário continua a ser importante na economia local, especialmente o cultivo de vinha para produção de vinho e orujo[a] bem como a produção hortofrutícola. Praticamente não há indústrias na comarca.
Notas
[editar | editar código-fonte]- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em castelhano cujo título é «Liébana», especificamente desta versão.
Referências
- ↑ García González 2010, p. 185.
- ↑ García Lomas 1999, p. 404.
- ↑ a b c «Cifras oficiales de población resultantes de la revisión del Padrón municipal a 1 de enero» (ZIP). www.ine.es (em espanhol). Instituto Nacional de Estatística de Espanha. Consultado em 19 de abril de 2022
- ↑ «Ley 8/1999, de 28 de abril, de comarcas de la Comunidad Autónoma de Cantabria» (PDF) (em espanhol). Parlamento da Cantábria. Arquivado do original (PDF) em 12 de dezembro de 2009
- ↑ a b c Mazarrasa Mowinckel 2014, p. 11.
- ↑ Herrero Fernández 2006, pp. 94-96.
- ↑ «Potes. Historia». El Diario Montañés. www.eldiariomontanes.es (em espanhol). 16 de janeiro de 2020. Consultado em 25 de janeiro de 2022
- ↑ Ruesga Herreros, Valentín, Pernía: Ordenación territorial y mandatarios. Siglos X-XIII [ligação inativa]
- ↑ Barón Faraldo 2006, p. 181.
- ↑ «Fondo: Provincia de Liébana. Código de referencia: ES.39075AHPCAN/PL», Archivo Histórico Provincial de Cantabria (em espanhol), Gobierno de Cantabria. Consejería de Educación, Cultura y Deporte. www.culturadecantabria.com, arquivado do original em 15 de fevereiro de 2012
- ↑ Corman 2009, p. 43.
- ↑ a b Mazarrasa Mowinckel 2014, p. 11.
- ↑ «Historia. Cabezón de Liébana» (em espanhol). LiebanayPicosdeEuropa.com. Consultado em 25 de janeiro de 2022
- ↑ Mazarrasa Mowinckel 2014, pp. 5–10, 12.
- ↑ Montenegro Valentín 1993, pp. 20, 34.
- ↑ «orujo». Diccionario de la lengua española. dle.rae.es (em espanhol). Real Academia Espanhola
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Barón Faraldo, Andrés (2006), Grupos y dominios aristocráticos en la Tierra de Campos oriental, Siglos X-XIII, ISBN 8481731226 (em espanhol), Palência: Monografías
- Camus, Matilde (1977), Cancionero de Liébana (em espanhol)
- Corman, Mathieu (2009), Incendiarios de ídolos. Un viaje por la revolución de Asturias, ISBN 9788461307258 (em espanhol), Oviedo: Cambalache. Tradução do original Bruleurs d'idoles: deux vagabounds dans les Asturias en révolte (em francês), Paris: Tribord, 1935
- García González, Francisco (2010), «Vocabulario», El Dialecto Cabuérnigo, ISBN 9788496042896 (em espanhol), Torrelavega: Cantabria Tradicional, S.L.
- García Lomas, Adriano (1999), El lenguaje popular de la Cantabria Montañesa, ISBN 8487934765 (em espanhol), Santander: Estvdio
- Herrero Fernández, Manuel; et al. (2006), «Liébana: Antropología de un viejo Paisaje», Año Jubilar Lebaniego, ISBN 9788496042322 (em espanhol) 2.ª ed. , Torrelavega: Cantabria Tradicional, OCLC 433432090
- Mazarrasa Mowinckel, Karen (2014), «Introducción», Catálogo Monumental de Liébana, ISBN 978-84-942666-0-7 (em espanhol), Santander: Ediciones Turismo Altamira (Eturalt)
- Montenegro Valentín, Julia (1993), Santa María de Piasca. Estudio de un territorio a través de un centro monástico (857-1252), ISBN 84-7762-317-1 (em espanhol), Universidade de Valladolid, OCLC 435386321
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Liébana y Picos de Europa» (em espanhol). LiebanayPicosdeEuropa.com. Consultado em 25 de janeiro de 2022