Tito Labieno
Tito Labieno | |
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Nascimento | 98 a.C. Cingoli |
Morte | 17 de março de 45 a.C. Munda |
Cidadania | Roma Antiga |
Progenitores |
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Cônjuge | Desconhecido |
Filho(a)(s) | Quinto Labieno |
Ocupação | político da Antiga Roma |
Causa da morte | morto em combate |
Tito Labieno (em latim: Titus Labienus; Cingoli, ca. 100 a.C. — Munda, 17 de março de 45 a.C.) foi um soldado profissional romano, que serviu no período final da República Romana. Serviu como tribuno da plebe em 63 a.C., e é lembrado como um dos tenentes de Júlio César, mencionado frequentemente nos relatos de suas campanhas militares, que o traíram durante a guerra civil contra Pompeu.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Início da carreira militar
[editar | editar código-fonte]Com base no fato de que sua pretoria foi em 60 ou 59 a.C., Tito Labieno provavelmente nasceu em 99 ou 98 a.C.[1] Diversas fontes sugerem que ele teria vindo da cidade de Cingulum, no Piceno. Sua família possuía nível equestre. Ligou-se a Pompeu, durante seu período como patrono de Piceno, por seu desejo de subir de patente militar.[1] Seu primeiro serviço foi entre 78 e 75 a.C., na Cilícia, sob Públio Servílio Vácia Isáurico.[2]
Tribunato da plebe e julgamento de Caio Rabírio
[editar | editar código-fonte]Em 63 a.C., Tito Labieno era um tribuno da plebe, fortemente ligado a Pompeu. Caio Júlio César também estava aliado a Pompeu, e ocasionalmente auxiliaram-se mutuamente. Estas interações viriam a formar a semente do que seria a amizade entre Labieno e César.
Sob a instigação de César, Labieno acusou o senador Caio Rabírio por alta traição (perduellio), após o assassinato do tribuno Lúcio Apuleio Saturnino, em 100 a.C.. O propósito deste julgamento seria o de colocar em descrédito o senatus consultum ultimum, uma medida de emergência do senado utilizada habitualmente contra os populares e as assembleias da plebe. Labieno utilizou-se do antiquando processo dos duúnviros, utilizado no início da República Romana, contra Rabírio. O procedimento passava por cima das leis criminais normais e Rabírio passaria a ser julgado sem qualquer defesa. Como os tribunos eram sacrossantos, o ato de matar um deles era visto como um ato contra os deuses; a punição do culpado era vista mais como uma maneira de purgar o delito e apaziguar as divindades: a morte era vista como tamanha impureza que um julgamento normal era desnecessário, e a purgação imediata era necessária para se evitar a ira divina. Os duumviri recebiam o encargo de acusar, sob a alegação de culpa óbvia, e purgar o culpado através da flagelação.
Rabírio apelou e Cícero falou em sua defesa. No entanto, antes que o senado pudesse votar, Metelo Céler utilizou-se de seus poderes como áugures para alegar a visão de maus presságios e retirar a bandeira que voava sobre o Janículo, o que adiou o julgamento. Rabírio acabou sendo condenado ao exílio, já que não tinha meio de pagar a multa enorme à que fora condenado.[3]
No mesmo ano, Labieno realizou um plebiscito, que retornou às eleições dos pontífices ao povo; isto assegurou, indiretamente, a eleição de César para o cargo de pontífice máximo (pontifex maximus).[4]
Mais soldado que político, Labieno utilizou-se de seu cargo como o caminho para assegurar posições mais elevadas na escala de comando militar. Após seu mandato como tribuno, Labieno serviu como legado de César na Gália.
Tenente de César na Gália
[editar | editar código-fonte]Labieno atuou como o segundo-comandante de César durante a sua campanha na Gália, e foi o único legado mencionado pelo nome nos escritos que o general deixou sobre a primeira campanha.[5] Labieno foi considerado um gênio militar, que chegou à altura do próprio César em termos de comando tático. No entanto, César, como imperator, teria assumido o crédito por diversos feitos realizados por seus subordinados.[carece de fontes] Era também um hábil comandante de cavalaria.
Comandou os acampamentos de inverno em Vesôncio, em 58 a.C.. Também assumiu o controle completo das legiões da Gália durante a ausência de César, quando foi nomeado legado propraetor,[6] privilégio que recebeu quando César teve de administrar a justiça na Gália Cisalpina e durante a segunda campanha da Britânia (em 54 a.C.).[7]
Em 57 a.C., durante a campanha belga, numa batalha contra os atrébates e os nérvios, próximo a Batalha do Sábis|Sábis, Labieno, comandando as legiões IX e X, derrotou as forças dos atrébates e conseguiu conquistar o campo inimigo.[8] De lá, enviou a X Legião contra os flancos da linha de combate nérvia enquanto se juntou ao exército de César, conseguindo mudar o destino da batalha e assegundo a vitória para César.[9]
Labieno também recebe o crédito pela derrota dos tréviros, liderados por Induciomaro. Após dias acampado com suas tropas nas fortificações, sofrendo com as incursões diárias das tropas de Induciomaro, numa tentativa de intimidar e desmoralizar as tropas romanas, Labieno resolveu contra-atacar: ao perceber que as tropas inimigas retornavam a seus acampamentos de maneira desorganizada, enviou sua cavalaria por dois portões, dando-lhes a ordem de matar primeiro o próprio Induciomaro, e depois o resto de seus acompanhantes. A empreitada foi bem sucedida, e, com a morte de seu líder, o exército tréviro se dispersou.[10] Posteriormente se reagruparam, sob a liderança de parentes de Induciomaro, e atacaram Labieno, acampando do lado oposto do rio em que os romanos estavam, enquanto aguardavam reforços vindos dos germanos. Labieno então fingiu bater em retirada, atraindo os tréviros para o outro lado do rio; os romanos então atacaram inesperadamente, dizimando as forças inimigas. As notícias do massacre fizeram que o exército germano desistisse do ataque.[11]
A vitória de Labieno sobre os parísios, em Lutécia, é outro exemplo de sua genialidade tática. Ao enviar cinco coortes rumo a Agedinco, e cruzar ele próprio o rio Sequana com suas três legiões, conseguiu fazer o inimigo pensar que ele havia dividido seu exército e estava cruzando o rio em três locais diferentes.[12] O exército inimigo, então, se dividiu em três partes e foi atrás de Labiano; as legiões restantes então voltaram e cercaram o inimigo, massacrando-o com o auxílio da cavalaria.[13]
Em setembro de 51 a.C., César fez de Labieno governador da Gália Cisalpina.[14]
Deserção de César, aliança com Pompeu
[editar | editar código-fonte]Antes que César tomasse Roma, Labieno o abandonou na Gália e se juntou a Pompeu.[15] Foi recebido efusivamente pelo lado pompeiano, trazendo 3.700 cavaleiros gauleses e germânicos consigo.
Para Dião Cássio, os motivos desta atitude não teriam sido nobres; Labieno havia adquirido riqueza e fama na Gália, e acreditava merecer cargo igual ou melhor que o de César.[16] César, no entanto, não lhe dera um comando independente, e também não lhe apresentara perspectivas de um consulado, o que o deixou bastante ressentido pelo que viu como uma falta de reconhecimento, e ajudou a desenvolver um ódio muito forte por César,[17] que fez com que eventualmente ele se voltasse contra o seu antigo general e se juntasse ao lado que o combatia.
Embora a maioria dos historiadores descreva esta atitude de Labieno com relação a César como pura e simples deserção, há quem justifique a sua motivação como possível fruto de sua convicção em apoiar um governo legítimo em sua luta contra um procônsul revolucionário que havia colocado sua própria dignitas acima do seu país.[18]
Pompeu fez de Labieno seu comandante de cavalaria. Labieno tentou convencer Pompeu a enfrentar César na Itália, e que não recuasse para a Hispânia (Península Ibérica) para reagrupar suas tropas, afirmando que o exército de César estaria enfraquecido depois das campanhas na Gália.[19]
Seu azar sob o comando de Pompeu, no entanto, foi tão acentuado quanto o seu sucesso sob César. Depois da derrota na batalha de Farsalo, Labieno fugiu para Córcira, e, após ouvir as notícias da morte de Pompeu, seguiu para a África, onde formou um exército. Conseguiu a confiança dos seguidores de Pompeu através de mentiras; contou-lhes, por exemplo, que César teria recebido um ferimento mortal durante a batalha.[20] Foi capaz, apenas pela força numérica, de infligir um leve revés a César na batalha de Ruspina, em 46 a.C..[21] Condensando suas forças em formações aglomeradas, fez César acreditar que só tinha apenas infantaria, e conseguiu assim bater a cavalaria de César e cercar seu exército. Após a batalha de Tapso juntou-se a Pompeu, o Jovem na Hispânia.
A morte chegou a Labieno durante a batalha de Munda, um conflito disputado de maneira igualmente feroz entre os exércitos de César e os filhos de Pompeu. O rei Bogudes, aliado de César, aproximou-se dos aliados de pompeu pela retaguarda. Labieno, que comandava a unidade de cavalaria pompeiana e viu o ocorrido, removeu a cavalaria da linha de frente e levou-a em sua direção. As legiões pompeianas interpretaram isto como um recuo, perderam o ímpeto e logo foram debandadas.[22] Pompeu, o Jovem sofreu ferimentos graves durante o confronto, e Labieno morreu. Esta derrota pôs fim à guerra civil romana. Foi enterrado porém, de acordo com Apiano,[23] sua cabeça foi cortada e levada a César.
Referências
- ↑ a b Tyrrell(3)
- ↑ Tyrrell(4)
- ↑ Tyrrell (9)
- ↑ Dião Cássio xxxvii. 37
- ↑ Tyrrell(19)
- ↑ Dião (41.4.3)
- ↑ De Bello Gallico (5.8)
- ↑ BG (2.23)
- ↑ BG (2.26)
- ↑ BG(5.57)
- ↑ BG(6.8)
- ↑ BG (7.61)
- ↑ BG (7.62)
- ↑ BG (8.52)
- ↑ M. Túlio Cícero, Fam, 16.12
- ↑ Dião (41.4)
- ↑ De Bello Civili (3.9)
- ↑ Tyrrell, 36
- ↑ Tyrrell (31)
- ↑ Sexto Júlio Frontino: Livro de Estratagemas II
- ↑ De Bello Africo, Livro 41
- ↑ Dião 43.38
- ↑ BC (2.105)
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Cícero, Epistulae ad Familiares
- César, De Bello Africo
- César, De Bello Civili
- César, De Bello Gallico
- Dião Cássio, Historia Romana
- Frontino, Estratagemas
- Tyrrell, William B. Biography of Titus Labienus, Caesar's Lieutenant in Gaul. Diss. Michigan State Univ., 1970. 10 May 2007 <http://www.msu.edu/~tyrrell/Labienus.pdf >.